As empresas chinesas que estão usando o México como portaentrada para os EUA:

Legenda da foto, A fabricação no México permite que a empresa chinesa Man Wah evite a taxação dos EUA

A Man Wah é uma das dezenasempresas chinesas que se mudaram para parques industriais no norte do México nos últimos anos, com o intuitoaproximar a produção do mercado dos EUA.

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Alémpouparem no frete, seu produto final é considerado completamente mexicano — o que significa que as empresas chinesas podem evitar as tarifas e sanções impostas pelos EUA aos produtos chinesesmeio à guerra comercial entre os dois países.

Enquanto o gerente geral da empresa, Yu Ken Wei, me mostra as vastas instalações da fábrica, ele afirma que a mudança para o México fez sentido do pontovista econômico e logístico.

“Esperamos triplicar ou até mesmo quadruplicar a produção aqui”, diz eleespanhol.

“A intenção aqui no México é elevar a produção até o nível da nossa operação no Vietnã."

Legenda da foto, O gerente geral da companhia, Yu Ken Wei, planeja pelo menos triplicar a produção no México
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A empresa só chegou à cidadeMonterrey2022, mas já emprega 450 pessoas no México. Yu Ken Wei afirma que espera empregar mais1.200 funcionários, para operar novas linhasprodução na fábrica nos próximos anos.

“As pessoas aqui no México são muito trabalhadoras e aprendem rápido”, diz Yu.

"Temos bons operários, e a produtividade deles é alta. Então, do pontovistamãoobra, acho que o México também é estrategicamente muito bom."

Não há dúvidaque o nearshoring proporciona um importante impulso à economia mexicana —junho do ano passado, as exportações totais do México haviam aumentado 5,8%relação ao ano anterior, chegando a US$ 52,9 bilhões (R$ 275 bilhões).

A tendência está mostrando poucos sinaisdesaceleração. Em apenas dois meses deste ano, os anúnciosinvestimentocapital no México corresponderam a quase metade do total no ano2020.

A fábricasofás Man Wah está localizada dentro do Hofusan, um parque industrial chinês/mexicano. A demanda pelos lotes é altíssima: todos os espaços disponíveis foram vendidos.

Na verdade, a AssociaçãoParques Industriais do México afirma que todas as instalações previstas para serem construídas no país até 2027 já foram adquiridas. Não ése admirar que muitos economistas mexicanos digam que o interesse da China no país não é uma moda passageira.

“As razões estruturais que estão trazendo capital para o México vieram para ficar”, avalia Juan Carlos Baker Pineda, ex-vice-ministro do Comércio Exterior do México.

“Não tenho nenhuma indicaçãoque a guerra comercial entre a China e os EUA vai arrefecer tão cedo.”

Baker Pineda fez parte da equipenegociação do México envolvida no estabelecimento do acordolivre comércio USMCA (que substituiu o antigo Nafta).

"Embora a origem chinesa do capital que entra no México possa ser desconfortável para as políticasalguns países,acordo com a legislação comercial internacional, estes produtos são, para todos os efeitos, mexicanos", diz ele.

Isso ofereceu ao México uma posição estratégica clara entre as duas superpotências: o México substituiu recentemente a China como principal parceiro comercial dos EUA, uma mudança significativa e simbólica.

Legenda da foto, A direção da Man Wah elogia as habilidades dos trabalhadores mexicanos

O crescimento das relações comerciais do México com os EUA também aconteceu,parte, por meioum segundo aspecto fundamental do nearshoring no país: empresas americanas também se instalaram no México, muitas vezes depoistransferirem a produçãofábricas na Ásia.

Talvez o anúnciomaior destaque tenha sido o do empresário Elon Musk, que revelou planos no ano passadoconstruir uma nova Tesla Gigafactory nos arredoresMonterrey. Mas a empresacarros elétricos ainda não iniciou a construção da fábricaUS$ 10 bilhões.

E, embora a Tesla aparentemente ainda esteja comprometida com o projeto, ela desacelerou seus planosmeio a preocupações com a economia global e às recentes demissões na montadora.

Mas no que diz respeito ao investimento chinês, alguns especialistas pedem cautela pelo fatoo México ter sido arrastado para a luta geopolítica mais ampla entre os EUA e a China.

“O velho rico da cidade, os EUA, está tendo problemas com o novo rico da cidade, a China”, diz Enrique Dussel, do CentroEstudos China-México da Universidade Nacional Autônoma do México.

“E o México — sob a gestãogovernos anteriores e nesta [gestão] — não tem uma estratégia face a esta nova relação triangular.”

Com as eleições se aproximandoambos os lados da fronteira entre os EUA e o México, pode haver novos aspectos políticos pela frente. Mas quer seja Donald Trump ou Joe Biden no comando da Casa Branca nos próximos quatro anos, poucos esperam que haja qualquer avanço nas relações entre os EUA e a China.

Dussel acredita que o nearshoring é melhor definido pelo que ele chama“security-shoring”, uma vez que Washington colocou as preocupaçõessegurança nacional acimatodos os outros fatores narelação com a China.

O México, argumenta ele, deve ter cuidado para não ser pego no meio deste fogo cruzado.

“O México está levantando um grande cartaz para a China dizendo: 'Bem-vinda ao México!'. Não é preciso ter doutorado para saber que isso não vai acabar bem para as relações bilaterais entre os EUA e o México no médio prazo”, acrescenta Dussel.

Legenda da foto, As empresas chinesas correm para comprar terreno para construir fábricas no México

Outros são mais otimistas. “Na minha opinião, a questão não é se esta tendência vai continuar — mas, sim, o quanto podemos tirar proveito desta tendência”, afirma Juan Carlos Baker Pineda.

"Tenho certezaque as pessoas estão tendo essas mesmas discussões na Colômbia, no Vietnã, na Costa Rica. Por isso, precisamos garantir no México que essas condições que estão alinhadas andemmãos dadas com as decisões corporativas e governamentais para sustentar essa tendência no longo prazo."

De volta a Monterrey, as talentosas costureiras mexicanas da Man Wah Furniture dão os últimos retoquesoutro sofá antesser despachado para os EUA.

Quando uma família americana comprar o sofáuma loja do Walmart perto dela, pode não fazer ideia da complexa geopolítica por trás daprodução.

Mas quer o nearshoring seja uma saída inteligente para os EUA, ou parteuma guerra onerosa entre superpotências, é atualmente a principal vantagem do México nestes tempos hostis para o comércio global.