'Venezuelanos buscam mudança no sistema', diz líder da oposição a Maduro:caça nicks

Maria Corina Machado

Machado diz que ela, assim como os venezuelanos, mudaram a formacaça nickscompreender o país e renovaram os métodos que consideram adequados para gerar uma transição.

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María Corina Machado Parisca tem 56 anos e três filhos. Ela é a mais velhacaça nicksquatro irmãscaça nicksuma família liderada por um renomado empresário do setor metalúrgico que teve suas empresas expropriadas por Chávez. Sua mãe é uma renomada psicóloga e tenista.

Engenheira industrial com especializaçãocaça nicksfinanças, Machado trabalhoucaça nicksdiversas empresas do setor industrial antescaça nicksatuarcaça nicksorganizaçõescaça nickscombate à pobreza ecaça nicksfiscalização eleitoral.

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A política, que várias vezes fez campanha pelo boicote das eleições, ganhou,caça nicks22caça nicksoutubro, uma das primárias feitas pela oposição para para ser a candidata às eleições presidenciascaça nicks2024.

Entretanto, Machado está impossibilitadacaça nicksconcorrer a cargos públicos após decisão judicial. Ela segue confiando que as negociações com os Estados Unidos, paíscaça nicksque dependem os chavistas para a exportaçãocaça nickspetróleo, acabem por lhe dar oportunidadecaça nicksconcorrer nas urnas com o presidente Nicolás Maduro.

Perguntada sobre o que fará caso não seja autorizada a disputar o pleito, ela respondecaça nicksimediato que não acredita nesta possibilidade.

Em novembro, Machado se manifestou também sobre um referendo organizado pelo governo Maduro sobre a anexaçãocaça nicksEsequibo, uma região hoje pertencente à Guiana. O referendo está previsto para este domingo (03).

Ela pediu a suspensão do referendo, que nacaça nicksvisão não é o melhor meiocaça nicksdefender a reivindicação pelo território.

"Se o regime não sabe ou não quer defender Esequibo, nós sim", disse, afirmando que o referendo pode deixar a Venezuela vulnerável aos tribunais internacionais.

Ela aposta nessas cortes para defender a posição venezuelana, mascaça nicksoutra situação, devinculada ao referendo. A oposicionista defende que o país apresente documentos e uma argumentação bem sustentada para defender o interesse venezuelano diante dos tribunais.

Há uma década, Machado tem sido um dos rostos mais visíveis da oposição. Agora, é muito mais do que isso.

Maria Corina Machado

Crédito, Getty Images

caça nicks BBC News Mundo: Por qual momento a senhora acredita que a Venezuela está passando?

caça nicks María Corina Machado: A Venezuela está pasando por uma mudança profunda. Em 22caça nicksoutubro se encerrou um ciclo político e social e houve o iniciocaça nicksuma nova era.

Talvez não percebemos a magnitude das mudanças necessárias no país.

Nesta data houve uma ruptura, um reconhecimento mútuo dentro e fora do país. E isto nos dá uma enorme confiançacaça nicksnossas próprias forças.

caça nicks BBC: Não é a primera vez que você falacaça nicksruptura. O que hácaça nicksdiferente agora?

caça nicks Machado: É verdade, já houve otras grandes oportunidadescaça nicksque havia muita vontade ecaça nicksque havia muita atenção da comunidade internacional. Acredito que agora há coisas bem importantes também. O regime passa por um momentocaça nicksgrande tensão iterna. A Venezuela tem sido saqueada, e é claro que um sistema gerido por máfias é voraz e insaciável e quando acaba o dinheiro para ser desviado, o choque entre eles mesmos é brutal.

Por outro lado, acho que passaram a perceber que seus sistemascaça nicksrepressão e controle social têm perdido eficácia. Atualmente, as pessoas te dizem que não têm muito mais a perder: "o que vão me tirar, vão me a comida, se já me tiraram meus filhos?", dizem.

As bases das Forças Armadas e dos órgãoscaça nickssegurança civis estão pasando pelos mesmos problemas que o restante da sociedade e também desejam mudanças políticas.

Do pontocaça nicksvista da situação internacional, visivelmente Maduro já é visto como uma figura tóxica. Avançam as investigações no Tribunal Penal Internacional; se isola neste litígio com a Guianacaça nicksque ameaça anexaçãocaça nicksgrande parte do território daquele país, o que é uma loucura, e temos levado sofrimento e problemas a diversos países da região com a migração forçada pela situação da Venezuela. Estes países, como Colômbia, Perú, Chile e Estados Unidos, já começam a entender que, para seu próprio bem, é necessário que haja uma mudança política na Venezuela.

Mas a mudança mais importante é a que tem sido promovida na própria sociedade. O chavismo perdeu completamentecaça nicksbase social e o desejo da sociedade agora não é somente que haja a mudançacaça nicksuma figura, mas sim uma mudançacaça nickssistema, uma mudançacaça nicksvalores.

caça nicks BBC: Depoiscaça nicksmaiscaça nicks20 anoscaça nicksmilitância, agora você é a líder da oposição. Em que você mudou para quecaça nicksliderança fosse reconhecida?

caça nicks Machado: Acredito que o mais importante são as coisas que não mudaram, Sempre nadamos contra a corrente. Eu criticava o socialismo quando aquí o socialismo era quase uma religião. Eu adverti sobre a natureza criminosacaça nicksChávez quando ele tinha um grande controlecaça nicksimportantes setores da sociedade.

Falei sobre a necessidadecaça nicksabrirmos mercados,caça nicksprivatizarmos, quando isto era considerado pecado. E me mantive defendendo estas posições porque estou convencida que esta é a única maneiracaça nickstrazer prosperidade ecaça nickscriar uma nação e uma sociedade realmente livres com o Estado a seu serviço.

Em segundo lugar, acredito que o país quer uma nova formacaça nicksse fazer política, que o país rechaça tremendamente o populismo e a mentira, venhacaça nicksonde vier.

Eu já atravessei sozinha muitos grandes desertos mas eu acredito que essa coisacaça nicksmanter uma visão,caça nicksdefender o que se acredita, é seguir o que a sociedade tem dito que "é chegado o momento". Se vê que os mitos estão efetivamente sendo derrubados.

Enrique Capriles, María Corina Machado e Leopoldo López

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Enrique Capriles, María Corina Machado e Leopoldo López

caça nicks BBC: Acredita que as pessoas cansaramcaça nickstomar posições mais moderadas?

caça nicks Machado: Muita gente insiste que "temos que ser moderados, equidistantes". E eu pergunto, equidistante entre a justiça e a corrupção? Entre a mentira e a verdade? Entre o bem e o mal?

Não podemos cair nesta chantagem que diz: se você for firme é porque você é violento. Essa é a grande chantagem do chavismo. Submissão ou violência. Ou voê aceita e se curva diante dos termos da tirania, ou se revela e aí é considerado um ser violento.

O melhor da espetacular manifestação do dia 22caça nicksoutubro foi não ter sido promovida por um lado ou por outro. Foi a antítese da submissão, foi um atocaça nicksrebeldia,caça nicksdesafio,caça nicksfirmeza ecaça nicksdizer "não me deixarei amedronta".

Sem envolvimentocaça nicksdinheiro, sem ter sido via meioscaça nickscomunicação, sem contar com a presença militar, sem financiamento do Estado, sem o sindicato, sem os centroscaça nicksvotação. Foi um ato eminentemente cívico e pacífico.

Machado e George W. Bush.

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, O início da carreira políticacaça nicksMachado se baseou nacaça nickssintonia com Washington. Na foto com o ex-presidente George W. Bush.

caça nicks BBC: Sabemos que é difícil manter a unidade da oposição. Inclusive alguns acham que a senhora é um fatorcaça nicksdivisão. Como manter essa unidade?

caça nicks Machado: Acho que temos que começar perguntando a quem devemos unir e para que devemos fazer essa união, porque se for para manter o status quo entre a liderançacaça nicksalguns partidos políticos, isto é bem diferente do que deseja a sociedade venezuelana.

Precisamoscaça nicksum grande acordo nacional, e é isso que pretendo conseguir,caça nickstornocaça nicksalguns consensos fundamentaiscaça nickscomo concebemos a sociedade, a relação do Estado com seus cidadãos e como realmente pode se dar a convivência entre nós.

Mas isto para ser feito entre nós, não um acordocaça nickscúpulas para se repartir quotas.

O regime é muito mais hábil: divide, corrompe, extorque, aterroriza, desmoraliza.

Mas no dia 22caça nicksoutubro isto tudo foi demolido e se revelou a visãocaça nicksuma estratégia para combater esse sistema, uma visão que não é nada frágil, que não é branda, que é firme e coesa e inclui a todos.

caça nicks BBC: Então qual é a estratégia para manter a unidade?

caça nicks Machado: O povo me deu um mandato que assumi com humildade mas também com responsabilidade. O que temos a fazer é identificar essas coisas que compartilhamos, esses consensos, o país que queremos. Afinal, ouvicaça nickstodos, por todo o país, a mesma coisa: "María Corina, quero meus filhoscaça nicksvolta, quero unir minha família ".

E para isso temos que transformar o país, pois a migração não vai parar até que você não tenha mais esperançacaça nicksum futuro na Venezuela.

Essa não é uma batalha eleitoral convencional. Existe algo acontecendo socialmente, culturalmente, espiritualmentecaça nickscada venezuelano,caça nickscada família venezuelana. Esse é um desejo por dignidade, dignidade humana,caça nickssermos capazcaça nicksnos reconhecer ecaça nicksviver bemcaça nicksnosso país. Temos que estar à alturacaça nicksresponder a esses anseios e chegar a cada venezuelano, a cada rincão deste país onde ninguém aparece por décadas.

Quando fui a Delicias, um vilarejocaça nicksTáchira, as pessoas saíram às ruas agitando bandeiras como se fosse um atocaça nickssoberania. Me disseram que: "faziam como um atocaça nicksreciprocidade porque eu tinha lembrado que o vilarejo deles existia ".

Então, isto vai muito alémcaça nickssimplesmente uma contagemcaça nicksvotos, isso sim é unir uma nação.

Machado

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caça nicks BBC: O chavismo já esteve muito mais encurralado por conta das sanções do que agora. Por que acredita que agora eles estariam dispostos a ceder?

caça nicks Machado: Não podemos ver o chavismocaça nicksuma forma homogênea, ou como uma ditadura convencional. Ele é muito mais complexo. É um sistema que se adapta, que possui diversos grupos e que vem passando por mudanças.

Alguns desses grupos têm interesses econômicos importantes, outros fazem partecaça nicksdinâmicas criminosas e outros possuem vínculos geopolíticos. E esses grupos se relacionam com partes distintas.

Uns setores te dizem, "claramente perdemos todo o apoio social, se tentamos forçar isso representaria níveiscaça nicksrepressão que não seriam factíveis". E aí eles nos dizem: "vamos pela via do processo eleitoral, podemos ficar um tempo na oposição, e assim como aconteceu com Lula, no Brasil, regressarmos depois". E outros setores te falam, "não, nós não cederemos nem nos arriscaremos".

Esta tensão está sendo vivida dentro do chavismo e acredito que devemos incentivar todos esses atores, dentrocaça nicksfora, atores convencionais e não convencionais.

Incluindo os que foram e têm sido aliados ideológicos do chavismo e hoje percebem que para seu próprio interesse é mais conveniente que haja uma solução pacifica e rápida para o conflito venezuelano, e aí estou falando claramente dos governos da Colômbia, Brasil, México, Chile e Argentina.

caça nicks BBC: Vamos supor que a senhora seja restituídacaça nicksseus direitos, possa concorrer e que saia vitoriosa das eleições. O que vai acontecercaça nicksseguida?

caça nicks Machado: Vamos encontrar uma Venezuela devastadacaça nickstodos os níveis. Aqui não há uma única instituição democrática que estejacaça nickspé. Nossa economia foi destruída, a infraestrutura. Temos uma crise financeira, uma crisecaça nicksserviços, uma crisecaça nickssoberania, uma crisecaça nickssegurança, crisescaça nickstodo tipo, e além disso, uma crise humanitária.

O mais imediato é atender às emergências e dar início a um processocaça nicksreconstrução institucional capazcaça nicksdar ao país governabilidade democrática. A chave é a confiança. Temos que construir confiança desde já.

diosdado cabello jorge rodriguez maduro

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Legenda da foto, O chavismo não é um bloco homogêneo, diz Machado. Com alguns, diz ela, uma transição terá que ser acordada.

caça nicks BBC: Agora,caça nicksum outro cenáriocaça nicksnão tenha seus direitos reconstituídos. O que pretende fazer?

caça nicks Machado: Aceitar que seja possível um cenário no qual não sou reconstituída é aceitar uma derrota e isso jamais vou aceitar, muito menos após a vitória que acabamoscaça nicksconquistar.

Assim como o futuro, os cenários são construídos, não são determinados e não são estáticos, É você que os constrói, é obra da sociedade.

Quantas vezes ouvi que as primárias não seriam possíveis, "que acontece se não te deixam concorrer às primárias?", e minha resposta sempre foi que "vamos ter primárias, vou concorrer e vou ganhar".

caça nicks BBC: Nestes últimos 10 anos houve cicloscaça nicksmaior ecaça nicksmenor esperança. Quando há um picocaça nicksesperança ecaça nicksseguida um desânimo a queda vai cada vez mais embaixo. Como evitar outra decepção?

caça nicks Machado: Há cercacaça nicksum ano um rapaz me que sentia medocaça nicksvoltar a acreditar. Aquilo me sacudiu, porque ele tinha razão, dá medo, realmente dá medo. Mas se pensarmoscaça nickstanto que temos sofrido, e percebemos que não somos os mesmos, veremos que somos melhores.

Temos sofrido perdas irrecuperáveis e temos conseguido levantar. Hoje, a Venezuela é uma sociedade muito mais sólida, muito mais robusta, muito mais firme, muito melhor do que fomos.

Percebemos que temos que cuidar da liberdade e da democracia. Pensávamos que a democracia vinhacaça nicksgraça. Aprendemos a duros golpes, golpes que nos fizeram questionar, mas aprendemos.

Maria Corina Machado

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Machado tem sido um dos principais promotores da mobilização social nos últimos anos na Venezuela.

Ver que parte da sociedade está inserida no mundo e que somos todos unidos pela música, pela comida, pela cultura e pela história, nos damos conta do que é realmente ser venezuelano. Somos gente generosa. Somos gente solidária. Somos gente alegre. Somos gente que não queremos mendigar, queremos ser autônomos. Não nos calamos quando nos impõem, queremos empreender. Amamos nossas famílias.

Claro, temos que ver como fazer para que isto funcione, para que nunca voltemos a ter um processocaça nicksfragmentação ecaça nicksenfrentamento como o que foi tentado ecaça nickscerta forma conseguido pelo chavismo, que quis nos dividir sob todos os critérios: ricos e pobres, negros e brancos, esquerda e direita, leste e oeste, quarta e quinta, oscaça nicksfora e oscaça nicksdentro.

caça nicks BBC: E o que mudou na senhora?

caça nicks Machado: Acho que todos nós aprendemos muito. Cometemos muitos erros, e quando os erros são cometidos baseados no que você crê que seja correto ou porque você não possui toda informação ou porque você subestima o que tem enfrentado, você tem que aprender com eles. E acabamos nos dando contacaça nicksque "epa, eu sou capazcaça nicksfazer isto". Acontece com todos nós. Eu passei por certas coisas nestes meses que depoiscaça nickssuperá-las, depoiscaça nicksresistir, eu penso: "se fosse um ano atrás eu não teria aguentado". Acredito que tudo isso nos tem tornado mais generosos, mais humildes no sentido que podemos aprender com outros, mas também mais firmes, porque como te disse anteriormente, não podemos confundir tolerância com fraqueza.

caça nicks BBC: Então, a María Corina é hojecaça nicksdia mais humilde?

caça nicks Machado: Eu penso que aprendi e que sou uma pessoa melhor,caça nicksmuitas coisas, não somente nisso.