Calor afeta mais pretos, pardos, idosos e mulheres no Brasil, aponta estudo:estrela bet login entrar agora

"Pela questão fisiológica, sabemos que os mais velhos são os mais vulneráveis, por terem corpos com menor capacidadeestrela bet login entrar agoraregulação térmica e por apresentarem mais comorbidades", explica Renata Libonati, professora do Institutoestrela bet login entrar agoraGeociências da UFRJ e coautora da pesquisa.

A maior vulnerabilidade das mulheres também se justifica por razões fisiológicas, segundo o estudo.

Pessoas pardas, pretas e menos escolarizadas também estão entre os grupos considerados mais vulneráveis, conforme a pesquisa.

"Os eventos climáticos extremos não são democráticos, eles atingem muito mais aqueles que não têm acesso a recursosestrela bet login entrar agoraadaptação", comenta o físico Djacinto Monteiro dos Santos, que liderou o estudo, como parteestrela bet login entrar agorasua pesquisa no Departamentoestrela bet login entrar agoraMeteorologia da Universidade Federal do Rioestrela bet login entrar agoraJaneiro (UFRJ).

"Situações socioeconômica precárias, que atingem as faixas mais pobres, levam a acesso também precário a condiçõesestrela bet login entrar agoramoradia, sistemaestrela bet login entrar agorasaúde e meiosestrela bet login entrar agoraprevenção."

Santos afirma que as condições urbanas também costumam fazer com que regiões mais pobres das cidades sejam mais vulneráveis.

"Quando a sensação térmica éestrela bet login entrar agora45ºC na Zona Sul do Rioestrela bet login entrar agoraJaneiro [onde estão bairrosestrela bet login entrar agorafamílias mais ricas], aí éestrela bet login entrar agora58ºCestrela bet login entrar agoraBangu, na Zona Oeste [área mais pobre]", exemplifica o pesquisador.

Para calcular as vítimas das ondasestrela bet login entrar agoracalor, os pesquisadores analisaram maisestrela bet login entrar agora9 milhõesestrela bet login entrar agoraregistrosestrela bet login entrar agoraóbitosestrela bet login entrar agoraperíodosestrela bet login entrar agoraque ocorreram esses fenômenos no Brasil.

"Seguimos uma sérieestrela bet login entrar agorapadrõesestrela bet login entrar agoratratamentosestrela bet login entrar agoradados para evitar alterações nos resultados", afirma Libonati.

Os cálculos levaram à conclusãoestrela bet login entrar agoraqueestrela bet login entrar agoratornoestrela bet login entrar agora48 mil brasileiros morreram por consequênciaestrela bet login entrar agoraondasestrela bet login entrar agoracalor entre 2000 e 2018.

As mortes se deram por razões como problemas circulatórios, doenças respiratórias e por condições crônicas agravadas pela alta temperatura.

Ondasestrela bet login entrar agoracalor mais frequentes e prolongadas

Para definir o que são ondasestrela bet login entrar agoracalor, usou-se um padrão conhecido como Fatorestrela bet login entrar agoraExcessoestrela bet login entrar agoraCalor (EHF, na siglaestrela bet login entrar agorainglês), que levaestrela bet login entrar agoraconsideração a intensidade, duração e frequênciaestrela bet login entrar agoraaumentos na temperatura para prever níveis considerados nocivos à saúde humana.

"Os eventosestrela bet login entrar agoraondasestrela bet login entrar agoracalor aumentaramestrela bet login entrar agorafrequência e intensidade", diz Monteiro dos Santos, da UFRJ.

A pesquisa analisou dados das 14 áreas metropolitanas mais populosas do Brasil, onde vive 35% da população nacional, um totalestrela bet login entrar agora74 milhõesestrela bet login entrar agorabrasileiros.

Foram assim consideradas as seguintes cidades: Manaus e Belém, no Norte; Fortaleza, Salvador e Recife, no Nordeste; São Paulo, Rioestrela bet login entrar agoraJaneiro e Belo Horizonte, no Sudeste; Curitiba, Florianópolis e Porto Alegre, no Sul; e as regiões metropolitanasestrela bet login entrar agoraGoiânia, Cuiabá e do Distrito Federal, no Centro-Oeste.

Alémestrela bet login entrar agoraaumentaremestrela bet login entrar agoravolume, as ondasestrela bet login entrar agoracalor também estão cada vez mais prolongadas.

Nas décadasestrela bet login entrar agora1970 e 1980, esses eventos adversos duravamestrela bet login entrar agoratrês a cinco dias. Entre os anosestrela bet login entrar agora2000 e 2010, entre quatro e seis dias.

O climatologista Carlos Nobre, pesquisador sênior do Institutoestrela bet login entrar agoraEstudos Avançados da Universidadeestrela bet login entrar agoraSão Paulo (USP) e copresidente do Painel Científico para a Amazônia, ressalta que estes impactos do calor extremo têm sido evidenciados por pesquisas científicas.

"Já há dados globais que mostram que as ondasestrela bet login entrar agoracalor são os eventos climáticos extremos que mais vitimam no planeta, à frente, por exemplo,estrela bet login entrar agoraenchentes, e que há grupos mais vulneráveis a essas tragédias", diz Nobre.

Membro da Academia Brasileiraestrela bet login entrar agoraCiências, Nobre é hoje um dos mais renomados nomes no campoestrela bet login entrar agoraestudos das mudanças climáticas. Ele não tem ligação com o estudo da UFRJ e o leu a pedido da BBC News Brasil.

"A pesquisa é interessante por trazer dados inéditos e por mostrar como as ondasestrela bet login entrar agoracalor tem efeitos no Brasil que já foram vistosestrela bet login entrar agoraoutras regiões do planeta", opina o climatologista.

"Outro aspecto que quero destacar é como a análise foi feitaestrela bet login entrar agoratornoestrela bet login entrar agoracentros urbanos, nos quais os efeitos do aquecimento global são ainda mais sentidos, por efeitos como o da ilhaestrela bet login entrar agoracalor [fenômeno caracterizado pela maior temperaturaestrela bet login entrar agoracidades,estrela bet login entrar agorarelação às áreas rurais]."

Nobre ressalta que, na cidadeestrela bet login entrar agoraSão Paulo, a temperatura média é 4ºC acima do queestrela bet login entrar agoraáreas menos urbanizadas do Estado.

Quando há aumentos bruscos, com as ondasestrela bet login entrar agoracalor, os efeitos são ainda mais drásticosestrela bet login entrar agoraregiões urbanas.

"Já se tem ciênciaestrela bet login entrar agoraque populações com menos acesso a recursos, como os mais pobres, sofrem mais. Afinal, ter um ar condicionado, por exemplo, já soluciona o problema", complementa o pesquisador da USP.

"Essa nova pesquisa, contudo, faz associações socioeconômicas e traz dados inéditos que podem ajudar a guiar políticas públicas."

Os autores da pesquisa avaliam que, apesarestrela bet login entrar agorater matado maisestrela bet login entrar agora48 mil brasileirosestrela bet login entrar agoraduas décadas, as ondasestrela bet login entrar agoracalor tem menos visibilidade e recebem menos atençãoestrela bet login entrar agoracomparação com outros eventos climáticos catastróficos.

"Mesmo com a alta mortalidade, as ondasestrela bet login entrar agoracalor são desastres negligenciados no Brasil", diz Renata Libonati, da UFRJ e coautora do estudo.

"Em comparação a deslizamentos e enchentes, que apresentam grande impacto visual, o aumentoestrela bet login entrar agoratemperatura pode ser tido como invisível."

O levantamento calculou que ocorreram mais mortes por efeitoestrela bet login entrar agoraondasestrela bet login entrar agoracalor no Brasil do que por deslizamentosestrela bet login entrar agoraterra, que costumam ocorrer por efeitoestrela bet login entrar agoratempestades.

A referência para a comparação é uma pesquisa do ano passado do Institutoestrela bet login entrar agoraPesquisas Tecnológicas (IPT) que chegou à conclusãoestrela bet login entrar agoraque,estrela bet login entrar agora1988 a 2022, houve cercaestrela bet login entrar agora4,1 mil mortesestrela bet login entrar agorabrasileiros por deslizamentosestrela bet login entrar agora269 municípiosestrela bet login entrar agora16 Estados.

O climatologista Carlos Nobre acrescenta outro motivo para desastres como alagamentos terem recebido maior atenção midiática do que as ondasestrela bet login entrar agoracalor.

"Outros desastres climáticos causam mortes imediatamente, comoestrela bet login entrar agoraenchentes. Já o aumento da temperatura por vezes leva dias, semanas ou até meses para matar."

Medidas urgentes

Segundo os autores do novo estudo brasileiro, o interesse global pelas consequências das ondasestrela bet login entrar agoracalor aumentou após 2003. Carlos Nobre concorda com a conclusão, que é um consenso entre pesquisadores do campo.

Naquele ano, uma ondaestrela bet login entrar agoracalor atingiu a Europa,estrela bet login entrar agoraparticular a França, vitimando cercaestrela bet login entrar agora70 mil pessoas durante o verão.

Desde então, segundo os cientistas escrevem no artigo publicado na Plos One, "a mega ondaestrela bet login entrar agoracalor do verão europeuestrela bet login entrar agora2003 foi estudada profundamente".

Segundo um relatório conjunto da Organização Mundialestrela bet login entrar agoraSaúde (OMS) e da Organização Mundialestrela bet login entrar agoraMeteorologia (OMM), divulgado no ano passado, o calor mata 15 milhõesestrela bet login entrar agorapessoas ao anoestrela bet login entrar agoratodo o mundo.

"Após o traumaestrela bet login entrar agora2003, os países europeus passaram a adotar protocolos transversaisestrela bet login entrar agoraprevenção e combate, unindo defesa civil, meteorologia, sistemasestrela bet login entrar agorasaúde e esforçosestrela bet login entrar agoracomunicação, o que tem mostrado resultados positivos", diz Libonati, da UFRJ.

Carlos Nobre, que também é ex-diretor do Centro Nacionalestrela bet login entrar agoraMonitoramento e Alertasestrela bet login entrar agoraDesastres Naturais (Cemaden), indica que seria preciso começar pela implementaçãoestrela bet login entrar agorasistemasestrela bet login entrar agoraalertasestrela bet login entrar agoraondasestrela bet login entrar agoracalor.

"Mortes por deslizamentos e alagamentos ocorrem, mas diminuem ano a ano, pelo sucessoestrela bet login entrar agoraforçasestrela bet login entrar agoraprevenir e combater que o Brasil tem implementado, com maisestrela bet login entrar agora4 mil pluviômetros espalhados por 1,2 mil cidades, monitorando pontosestrela bet login entrar agoramaior risco."

Uma das medidas apresentadas pelo estudo lançado na Plos One é a instalaçãoestrela bet login entrar agorasistemas similares para alertar a população sobre a chegadaestrela bet login entrar agoraondasestrela bet login entrar agoracalor.

"Se nada for feito nesse sentido, mortes por efeito das altas temperaturas, que poderiam ser prevenidas, vão aumentar ano a ano", conclui Nobre.