Javier Milei: quem é a irmã do presidente argentino, que anulou regranepotismo para nomeá-la a cargo:

Mas aqueles que conhecem Milei dizem que ela é a "grande arquiteta" por trás do projeto do libertário antissistema. Ela éprincipal estrategista, conselheira e a figura centralseu agrupamento político, La Libertad Avanza.

Sabemos também que ela estará oficialmente no governo, como secretária-geral da Presidência, cargo para o qual foi empossada este domingo.

Isso foi possível graças ao fatoo presidente ter modificado um decreto – assinado por Mauricio Macri2018 – que impedia a nomeaçãofamiliares para cargos públicos.

Javier Milei chama a irmã"O Chefe" (no masculino) e repetiu várias vezes que "sem ela, nada disso existiria". A seguir, veja três fatos sobre ela.

1. A 'arquiteta' do fenômeno Milei

Karina Milei é a única irmã do economista libertário. Ela é dois anos e meio mais nova que ele (ela tem 50 anos e ele, 53).

Cresceram no bairroVilla Devoto, na cidadeBuenos Aires,uma famíliaclasse média.

Seu pai, Norberto, era motoristaônibus, emãe, Alicia, donacasa. Frequentaram o ensino fundamental e médio no Instituto Cardenal Copello, uma instituiçãoensino católica, e desde crianças tiveram uma relação muito próxima.

Suas vidas se entrelaçaram no ambiente profissional há maisuma década, quando ela decidiu começar a trabalhar com ele durante suas palestras como economista.

Há quase três anos, Karina Milei está totalmente dedicada à carreira políticaseu irmão e ao fortalecimentoLa Libertad Avanza, a coalizão fundada2021 e com a qual Javier Milei chegou ao poder.

De acordo com Juan Luis González, jornalista e autorEl Loco, la vida desconocidaJavier Milei y su irrupción en la política argentina (O Louco, a vida desconhecidaJavier Milei eirrupção na política argentina,tradução livre), ela é quem está por trás da maioria das decisões tomadas pelo presidente.

"Em qualquer outro partido, os assuntos que Karina monopoliza são divididos entre sete ou oito pessoas. A agenda, as alianças, com qual jornalista Milei fala e com quem não, quem entra no bunker, quem tem acesso à intimidadeJavier Milei e quem não tem", disse à BBC News Mundo. "Ela é quem tem a palavra final", acrescenta.

O próprio Javier Milei reconheceu que "presta contas" à irmã. E ela,umasuas raras aparições públicas, disse que ele "é muito aplicado e obedece".

Karina Milei também é a mentoraideias consideradas bem-sucedidas entre os seguidores do presidente, como o sorteio do salário que recebia como deputado ou as aulas públicaseconomia que percorreram o país.

"Para ele, Karina é muito importante, é quem o sustenta, conduz e incentiva. E diz a ele o que deve fazer", explica o cientista político argentino José Natanson, autorPor qué? La rápida agoníala Argentina kirchnerista y la brutal eficaciauna nueva derecha (Por quê? A rápida agonia da Argentina kirchnerista e a brutal eficácia da noba direita). No entanto, antestudo isso acontecer, Karina Milei era uma pessoa alheia à política.

FormadaRelações Públicas pela Universidade Argentinala Empresa (UADE), ela se dedicava aos seus negócios (teve uma oficinaconsertopneus e uma confeitaria) e à arte.

"É impressionante o crescimentoKarina Milei. Há 2 anos e 8 meses, ela nunca havia se envolvido com política. Hoje, ela diz a todos: se quiserem fazer parte deste espaço, já sabem a quem ligar", afirma Juan Luis González.

2. Sua protetora na infância

Para os analistas, o papel crucial que Karina Milei desempenha hoje na vida e na carreira políticaseu irmão pode ser parcialmente explicado por seu papelapoio no passado. Javier Milei já compartilhou publicamente que teve uma infância e adolescência muito difíceis, e a companhiasua irmã foi essencial nesse período.

Ela sempre o apoiou e foimaior torcedora quando ele era goleiro no Club Atlético Chacarita Juniors, da segunda divisão do futebol argentino.

Além disso, Karina foi fundamental na conturbada relação do presidente com seus pais, a quem ele criticou severamente, alegando ter sofrido abuso físico e psicológico.

Em uma entrevista com o jornalista Agustín Gallardo realizada há cinco anos, Milei lembrou que, aos 11 anos, expressou ao pai que achava "um delírio" a decisão do governoLeopoldo Galtierianunciar o desembarquetropas argentinas nas Ilhas Malvinas/Falklands, sob controle do Reino Unido.

"Meu pai teve um acessofúria. Começou a me bater com socos e pontapés. Ele continuou me chutando por toda a extensão da cozinha", afirmou Milei.

"Quando cresci, ele paroume bater para infligir violência psicológica", relatou. "Sempre me disse que eu era um lixo, que morreriafome, que seria um inútil".

Entre 2010 e 2020, Javier Milei rompeu relações com seus pais e, segundo o jornalista Juan Luis González, foi Karina quem conseguiu reconciliá-los antes da pandemia.

"Milei tem uma vida muito complexa, com um pai que o agredia, com uma mãe cruel, sem amigos... a única pessoa que esteve ao seu lado a vida toda é Karina Milei", explica González.

Uma visão semelhante é compartilhada pelo cientista político José Natanson: "Javier Milei é um cara que está muito sozinho, com um círculo social muito pequeno, teve uma vida pessoal difícil. E a irmã sempre o acompanhou".

O economista libertário não escondeuadmiração por ela e expressouvárias ocasiões que "ela é o ser humano mais maravilhoso do planeta".

Ainda mais: o presidente comparou o vínculo que os une ao do profeta mais importante para o judaísmo, Moisés, e seu irmão Aarão: "Moisés era um grande líder, mas não um grande comunicador. Deus enviou Aarão para se comunicar. Eu sou para a Kari o que Aarão foi para Moisés".

"Tirei a sorte grande com a Kari. Ela é a protetora. É a grande responsável por isso. Eu sou o comunicador", dissedeclarações à Crónica TV.

3. Perfil discreto

Embora seja reconhecida como a "alma" do projeto libertário, é bastante difícil saber o que Karina Milei realmente pensa.

A irmã do "leão" - como seus seguidores a chamam devido àjuba - raramente concede entrevistas ou costuma falareventos públicos.

Também não se relaciona com jornalistas e tem um círculo próximo restrito. Um dos poucos lugares onde fez declarações foi no documentário Javier Milei, a revolução liberal.

Nele, a irmã apresenta algumas ideias que foram fundamentais na campanha do presidente. Entre elas, o cansaço com a política tradicional eluta contra a "casta".

"Eles não pensam nas pessoas, acredito que só pensam neles mesmos. Não vejo que tenham empatia com as pessoas. Porque realmente não se importam", ela diz no filme.

Ela também afirma que "admira" o irmão e que quanto mais o criticam, mais ele se fortalece. "

Não sei se muitos sabem, mas Javier é um dos melhores alunos da faculdade (...). Eu admiro meu irmão. O que as pessoas veemJavier é que ele é genuíno", destaca.

Javier Milei disse que quando eram crianças ela era extrovertida e ele introvertido, mas agora "trocampapéis". Segundo Juan Luis González, seu baixo perfil também se deve ao fatoque "não é uma pessoa muito ligada ao restante do espaço político; mantém distância".

"Ela é a grande incógnita e merece um livro mais do que Javier Milei", disse o jornalista à BBC.

No domingo, após a posse, o presidente – visivelmente entusiasmado e com a voz embargada – fez um juramento à irmã ao nomeá-la secretária-geral da Presidência.

Com isso, foi formalizado o papel fundamental que ele desempenhará na gestão.