20 anos da Guerra do Iraque: como invasão liderada por EUA e Reino Unido levou o país ao caos:conta na betano
Eles eramconta na betanoZile-li, um vilarejo próximo à pedreira, para onde 1,8 mil homens foram levados e assassinadosconta na betano3conta na betanoagostoconta na betano2014.
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Fim do Matérias recomendadas
Os yazidis reverenciam tanto o Alcorão quanto a Bíblia;conta na betanoreligião é influenciada tanto pelo cristianismo quanto pelo islamismo.
O Estado Islâmico os considera infiéis e realizou um ataque genocida contra eles. O ataque aconteceu depois do fim da ocupação americana e britânica. Mas uma linha direta liga o massacre à invasão e aos anos desastrosos que se seguiram.
Entre os que assistiram à escavação do local estava Naif Jasso, o Sheikhconta na betanoKocho, uma comunidade Yazidi que sofreu um ataque ainda pior do que Zile-li. Ele disse queconta na betanoKocho, 517 pessoasconta na betanouma populaçãoconta na betano1.250 foram mortas pelos jihadistas do EI, também conhecido como Isis ou Daesh.
Em Zile-li, homens foram separadosconta na betanosuas famílias sob a miraconta na betanoarmas e mortos a tiros na pedreira. Sofian Saleh, que tinha 16 anos na época, estava entre a multidão na escavação. Ele é um dos dois únicos homensconta na betanoZile-li que sobreviveram ao massacre.
Enquanto esperava pela morte com seu pai e irmão, e 20 a 30 outros homens, ele viu outro grupo sendo morto a tiros. Seus corpos caíramconta na betanoum penhasco na pedreira. Até que chegou aconta na betanovez.
"Eles amarraram nossas mãos por trás. Eles nos pegaram e nos jogaram no chão", disse ele.
O pai e o irmãoconta na betanoSofian foram mortos, mas ele sobreviveu porque os corpos caíram sobre ele e o cobriram.
O Estado Islâmico estava usandoconta na betanotática favorita. Primeiro, eles mataram os homens, depois levaram as mulheres como escravas. As crianças foram retiradasconta na betanosuas mães para serem doutrinadas como recrutas do EI.
Uma mãe sentada perto do local onde acredita-se que está o túmulo e chorou ao se lembrar do bebê arrancado dela e entregue a uma família jihadista.
Ao lado da cercaconta na betanoarame ao redor do túmulo, Suad Daoud Chatto, uma mulherconta na betano20 anos, estava com um cartaz.
Nele estavam os rostosconta na betanonove homensconta na betanosua família que foram mortos econta na betanoduas parentes desaparecidas. Ela disse que os jihadistas do EI a sequestraram — junto com muitas outras mulheres e meninas —conta na betano2014 quando ela tinha 16 anos e as mantiveram na Síria.
Ela permaneceu lá até 2019, quando foi resgatada quando o "califado" entrouconta na betanocolapso.
"Eles agiam como bárbaros, nos mantiveram algemadas por muito tempo. Nossas mãos ficavam amarradas até durante as refeições", disse ela.
"Eles me casaram muitas vezes... eles estavam se casando com escravizadas. Eles não pouparam ninguém. Fomos todas estupradas. Eles estavam matando pessoas dianteconta na betanonossos olhos. Eles mataram todos os homens Yazidi — eles mataram oito dos meus tios. Eles destruíram muitas famílias."
Apenas alguns sacos com ossos humanos foram encontrados no local.
Quando o EI invadiu o Iraque no verãoconta na betano2014, os EUA e o Reino Unido haviam encerradoconta na betanoocupação. A ideologia jihadista já existia muito antes da invasão e inspirou os ataques do 11conta na betanoSetembro.
Mas, longeconta na betanodestruir a ideologiaconta na betanoOsama bin-Laden e dos extremistas jihadistas, os anosconta na betanocaos e brutalidade aumentaram ainda mais a violência jihadista. A Al-Qaeda — que vivia há anos dividida por causaconta na betanouma aliança entre os americanos e as tribos sunitas — se fortaleceu e se transformouconta na betanoum grupo ainda mais bárbaro.
Este ano, o Iraque está mais estável do que se viuconta na betanomuito tempo. Bagdá, Mosul e outras cidades são muito mais seguras. Mas os iraquianos sentem os resultados da invasão todos os dias. Suas consequências moldaram e arruinaram milhõesconta na betanovidas e mudaram profundamente seu país.
É uma ironia triste que a invasão não faça parte hojeconta na betanodia do debate político nos EUA, que a concebeu e liderou, e no Reino Unido, seu aliado mais próximo na coalizão. Os americanos e britânicos carregam uma grande responsabilidade pelo que aconteceu após a invasão, e suas consequências também os afetam.
Saddam Hussein era um tirano que merecia ser derrubado. Ele havia aprisionado e matado milharesconta na betanoiraquianos, até mesmo usando armas químicas contra curdos rebeldes.
O problema foi como isso foi feito — a maneira como os EUA e o Reino Unido ignoraram a lei internacional — e a violência que tomou conta do Iraque depois que o governo Bush fracassouconta na betanopreencher o vácuoconta na betanopoder criado pela mudançaconta na betanoregime.
Os últimos 20 anos desde a invasão somados à ditaduraconta na betanoSaddam totalizam quase meio séculoconta na betanotortura para o povo iraquiano.
Nos diasconta na betanohoje, é difícil recriar a atmosfera febrilconta na betano"medo, poder e arrogância", como disse recentemente um historiador, que tomou conta dos EUA nos 18 meses entre os ataquesconta na betano11conta na betanosetembroconta na betano2001 e a invasão do Iraque.
Eu estavaconta na betanoNova York alguns dias depois que as Torres Gêmeas do World Trade Center foram destruídas, enquanto jatos F-15 patrulhavam Manhattan. Era uma tentativaconta na betanodemonstraçãoconta na betanopoder da força americana, enquanto a maior potência militar do planeta ainda tentava descobrir como responder.
Bush declarou "guerra ao terror" contra a Al-Qaeda e seus aliados jihadistas. O primeiro-ministro do Reino Unido, Tony Blair, viajouconta na betanoConcorde aos EUA para oferecer apoio. Ele acreditava que a melhor garantiaconta na betanoinfluência do Reino Unido no mundo seria se aproximar da Casa Branca.
Eles agiram rapidamente contra a rede da Al-Qaeda no Afeganistão. Antesconta na betanoo ano acabar, uma coalizão liderada pelos EUA removeu o regime talibã do poder, depois que o grupo se recusou a entregar o líder da Al-Qaeda, Osama Bin Laden, aos americanos.
Mas Cabul não foi o suficiente para os EUA.
O presidente Bush e seus assessores achavam que os Estados que se opunham a eles poderiam fazer alianças com a Al-Qaeda e outros grupos. O maior alvoconta na betanoBush era o Iraque e seu ditador, Saddam Hussein.
Ele era uma pedra no sapato dos EUA desde que enviou seu exército ao Kuwaitconta na betano1990. Sem nenhuma prova, os americanos tentaram fabricar uma ligação entre Saddam e a Al-Qaeda quando não existia nenhuma. Na realidade, o líder iraquiano, um ditador secular, também via os extremistas religiosos como uma ameaça.
Em 1991, o pai do presidente, George HW Bush, decidiu não remover Saddam do poderconta na betanoBagdá depois que os iraquianos foram expulsos do Kuwait por uma coalizão internacional liderada pelos EUA. Eles não tinham autorização da ONU para derrubar o regime.
Eu estavaconta na betanoBagdá quando o cessar-fogo foi declarado. Oficiais do regime que eu conhecia não conseguiam acreditar que a ditaduraconta na betanoSaddam havia sobrevivido.
Doze anos depois,conta na betano2003, a raiva e a arrogânciaconta na betanopoder dos EUA cegaram o segundo presidente Bush para as realidades que haviam constrangido seu pai.
Quando os EUA e o Reino Unido não conseguiram persuadir o Conselhoconta na betanoSegurança da ONU a aprovar uma resolução autorizando explicitamente a invasão e a mudançaconta na betanoregime, Bush e Blair alegaram que resoluções anteriores lhes davam a autoridadeconta na betanoque precisavam.
Entre muitos que não acreditaramconta na betanoseu argumento estava o secretário-geral da ONU, Kofi Annan. Em uma entrevista à BBC 18 meses após a invasão, ele disse que "não estavaconta na betanoconformidade" com a Carta da ONU -conta na betanooutras palavras, ilegal. A França e outros aliados da Otan se recusaram a participar da invasão. Tony Blair ignorou grandes protestos no Reino Unido. Sua decisãoconta na betanoir para a guerra perseguiu o restoconta na betanosua carreira política.
Nenhum presidente ou primeiro-ministro enfrenta uma decisão maior do que aconta na betanodeclarar guerra. George Bush e Tony Blair embarcaramconta na betanouma guerra que matou centenasconta na betanomilharesconta na betanopessoas.
As justificativas para a invasão logo se mostraram falsas. As armasconta na betanodestruiçãoconta na betanomassa que Tony Blair insistiu, eloquentemente, que faziamconta na betanoSaddam um perigo claro, acabaram não existindo. Foi uma falha não apenasconta na betanointeligência, masconta na betanoliderança.
Os americanos chamaram os enormes ataques aéreos que iniciaramconta na betanoofensivaconta na betano"choque e pavor". Os neoconservadoresconta na betanotornoconta na betanoGeorge W. Bush se iludiramconta na betanoque a democracia e a estabilidade regional poderiam ser impostas à força. A força dos EUA não só protegeria os americanos como também estabilizaria o Oriente Médio. A democracia se espalharia pela Síria, Irã e além, como se fosse um vírus.
Saddam foi derrubadoconta na betanoquestãoconta na betanosemanas. Os iraquianos não estavam agradecidos. Na última décadaconta na betanoSaddam como líder, a grande maioria deles havia empobrecido por sanções autorizadas pela ONU, mas fortemente impulsionadas pelos EUA e Reino Unido.
Os americanos, os britânicos e seus aliados não conseguiram levar a paz às ruas. Anosconta na betanopesadelo começaram com saquesconta na betanomassa, ataquesconta na betanovingança e crimes.
A insurgência contra a ocupação se transformouconta na betanouma guerra civil sectária. Os iraquianos se voltaram uns contra os outros enquanto os americanos impunham um sistemaconta na betanogoverno que dividia o poderconta na betanolinhas étnicas e sectárias — entre os três principais grupos do país, muçulmanos xiitas, curdos e muçulmanos sunitas. Milícias armadas lutaram entre si e mataram os civis uns dos outros.
Grupos jihadistas aproveitaram o caos para matar estrangeiros. Antes que os americanos conseguissem matá-lo, um brutal extremista sunita da Jordânia, Abu Musab al-Zarqawi, lançou ataques para transformar a insurgência contra a ocupaçãoconta na betanouma guerra civil sectária. Os esquadrões da morte xiitas retaliaram com seu próprio reinadoconta na betanoterror.
Ninguém sabe exatamente quantos iraquianos morreram como resultado da invasãoconta na betano2003. As estimativas estão todas na casa das centenasconta na betanomilhares. A ondaconta na betanoviolência sectária continua no Oriente Médio.
O legado geopolítico da invasão ainda está moldando os acontecimentos. Sem querer, os americanos viraram o equilíbrioconta na betanopoder no Iraque a favor do Irã ao derrubar Saddam Hussein, que era considerado um baluarte sunita contra a República Islâmica. Sua saída deu poder aos políticos xiitas próximos a Teerã. As milícias armadas e treinadas pelo Irã estão entre as forças mais poderosas do Iraque e têm representantes no governo.
O medo dos EUA e do Reino Unidoconta na betanocausar outro desastre prejudicouconta na betanoresposta aos levantes árabesconta na betano2011 e, especialmente, à guerra contra seu próprio povo lançada pelo presidente Bashar al-Assad na Síria.
A desordem no Iraque, onde a população está crescendo rapidamente, alimenta o tráficoconta na betanopessoas para a Europa. Segundo o Ministério do Interior britânico, os iraquianos são o quarto maior grupo nacional que cruza o Canal da Manchaconta na betanopequenos barcos. O Conselhoconta na betanoRefugiados do Reino Unido diz que a grande maioria das pessoas recebeu asilo como refugiados.
Os líderes americanos e britânicos não debatem mais a invasão, mas outros não a esqueceram. Uma razão pela qual grande parte do sul global permaneceu neutro depois que a Rússia invadiu a Ucrânia, ignorando os apelos para defender a lei internacional, foi a memóriaconta na betanocomo os EUA, o Reino Unido e seus aliados ocidentais que se juntaram à coalizão a ignoraram enquanto esmagavam a oposição à invasão do Iraque.
Hojeconta na betanodia existe uma nostalgia no Iraque pelos temposconta na betanoSaddam até mesmo fora da comunidade sunita — um sinalconta na betanoquão ruins os últimos 20 anos foram. As pessoas reclamam que pelo menos se entendia como o país funcionava com o antigo ditador. Ele era um assassinoconta na betanooportunidades iguaisconta na betanoqualquer um que ele via como inimigo, incluindo seu próprio genro.
Em uma fila para comprar dieselconta na betanoum acampamento pertoconta na betanoMosul, um sunitaconta na betano48 anos chamado Mohammed esbraveja contra o governo liderado pelos xiitasconta na betanoBagdá e contra os anosconta na betanomatança sectária que se seguiram à invasão.
"Queríamos que o governoconta na betanoSaddam voltasse, mesmo que por um dia. Saddam era um ditador, e era o governoconta na betanoum só homem. Mas ele não estava matando as pessoas com base no fatoconta na betanoserem xiitas, sunitas, curdos ou yazidis."
O Iraque dá sinaisconta na betanoesperança. Algumas cidades e vilas ainda estãoconta na betanoruínas, mas parecem mais seguras, embora os iraquianos ainda enfrentem ameaças que seriam consideradas uma crise nacional no Ocidente.
Unidades antiterroristas bem treinadas estão contendo células jihadistas do EI, que ainda conseguem realizar bombardeios e emboscadas. Mesmo assim, os lojistas esperam um Ramadã abundante, a época mais movimentada do ano.
A longo prazo, o maior legado da invasão do Iraque talvez seja o sistema político instigado pelos americanos, que divide o poderconta na betanolinhas étnicas e sectárias. Desenvolvido por políticos iraquianos, esse sistema gera muita corrupção.
As estimativas da quantia roubada desde 2003 variamconta na betanoUS$ 150 bilhões a US$ 320 bilhões. A maioria dos iraquianos,conta na betanotodas as seitas, que não se beneficiou da bonança do roubo, enfrenta constantes cortesconta na betanoenergia, água ruim e atendimento médico inadequadoconta na betanohospitais que já foram considerados tão bons quanto os da Europa.
Caminhe pela maioria das ruas e você verá crianças trabalhando ou mendigando,conta na betanovezconta na betanoirem para a escola. O Iraque costumava ter um dos melhores sistemas educacionais do Oriente Médio.
O último primeiro-ministro do Iraque, Mohammed Shia al-Sudani, prometeu um novo começo. Seu maior desafio é cumprir a promessaconta na betanocombater a corrupção, o câncer que está devorando o país por dentro. Ele até fez uma transmissão cercado por pilhasconta na betanonotas confiscadas que estavam sendo devolvidas ao tesouro do Iraque.
Mas as pessoas que mais importam são as vítimas inocentes. Não apenas os mortos, mas milhõesconta na betanoiraquianos e outros no Oriente Médio cujas vidas ficaram muito piores por causa da invasão e suas consequências.
- Este texto foi publicadoconta na betano