'Só queria uma vida digna para ela': pai lamenta mortepoker 7filhapoker 77 anospoker 7tentativapoker 7travessia para o Reino Unido:poker 7

"Eu só queria que aquele homem se movesse para que eu pudesse pegar meu bebê", explica Ahmed.

Ele se refere a um jovem sudanês que fazia partepoker 7um grupo maior que embarcou na última hora, quando o barco já estava longe da costa. O homem o ignorou, e depois o ameaçou, diz.

"Isso foi como a própria morte. Vimos pessoas morrerem. Vi como aqueles homens se comportavam. Eles não se importavampoker 7quem pisassem, se fosse uma criança ou a cabeçapoker 7alguém, jovem ou velho. As pessoas começaram a sufocar", diz Ahmed com rancor.

Embora Ahmed seja iraquiano, apoker 7filha nem sequer conhecia o país. Ela nasceu na Bélgica e passou a maior partepoker 7sua curta vida na Suécia.

No total, cinco pessoas morreram no mesmo incidente.

Eu estava na praia na época com uma equipe da BBC e vi o caos enquanto os contrabandistas, escoltando seus passageiros pela praiapoker 7direção a um pequeno barco, usavam fogospoker 7artifício e empunhavam paus para afastar um grupopoker 7policiais franceses que tentou, sem sucesso, impedir o embarque do grupo.

"Ajuda!"

Enquanto o barco avançava rumo ao mar, ouvimos alguém gritando a bordo. Mas na escuridão da madrugada era impossível saber o que estava acontecendo.

De madrugada, a polícia já estava deixando o litoral juntamente com um suposto traficante e alguns dos migrantes que não conseguiram embarcar.

Ahmed confirmou mais tarde que era ele mesmo o homem que ouvimos gritar por ajuda, implorando desesperadamente às pessoas ao seu redor para salvar a vidapoker 7Sara.

A esposapoker 7Ahmed, Nour AlSaeed, e seus outros dois filhos, Rahaf,poker 713 anos, e Hussam,poker 78, também ficaram presos entre as pessoas, mas conseguiram respirar.

"Sou um trabalhador da construção civil. Sou forte. Mas nem eu consegui tirar a perna, presa no meio da multidão. Não admira que a minha filha também não tenha conseguido. Ela estava sob os nossos pés", diz Ahmed.

Quarta tentativa

Essa foi a quarta tentativa da famíliapoker 7atravessar da França para o Reino Unido desde que chegou à região, há dois meses.

A polícia os impediu duas vezes na praia, enquanto tentavam acompanhar o resto dos migrantes que corriampoker 7direção ao barcopoker 7um contrabandista.

Ahmed diz que desta vez os traficantes — que cobravam US$ 1,6 mil (cercapoker 7R$ 9 mil) por adulto e metade desse valor por cada criança — tinham prometido que apenas 40 pessoas embarcariam no seu barco, mas outro grupopoker 7migrantes apareceu na praia e insistiupoker 7embarcar.

Sara estava calma no início. Ela segurava a mão do pai enquanto saíam da estação ferroviáriapoker 7Wimereux na tarde anterior. Durante a noite, eles se esconderampoker 7algumas dunas ao norte da cidade.

Pouco antes das 6h da manhã, o grupo já havia inflado o barco. Os traficantes deram a ordem para que os migrantes levassem o barco para a praia e corressem com elepoker 7direção ao mar antes que a polícia os interceptasse.

Ahmed diz quepoker 7repente uma bombapoker 7gás lacrimogêneo da polícia explodiu perto deles e Sara começou a gritar.

Assim que embarcaram, Ahmed segurou Sara nos ombros por cercapoker 7um minuto, mas depois a colocou no chão para ajudarpoker 7outra filha, Rahaf, a embarcar.

Foi quando ele perdeu Sarapoker 7vista.

Só depois, quando as equipespoker 7resgate francesas os interceptaram no mar e desembarcaram algumas das maispoker 7100 pessoas amontoadas no barco, Ahmed finalmente conseguiu alcançar o corpo dapoker 7filha.

"Vi a cabeça dela no canto do barco. Estava toda azul. Ela já estava morta quando a tiramos. Ela não respirava", explica, entre soluços.

Agora as autoridades francesas estão cuidando da família enquanto esperam para enterrar o corpopoker 7Sara.

'A única opção que tínhamos'

Ahmed diz estar ciente das fortes críticas que tem recebido nas redes sociais por partepoker 7pessoas que o acusampoker 7colocar apoker 7famíliapoker 7riscos desnecessários. Ele parece estar dividido entre aceitar e rejeitar essas acusações.

"Nunca vou me perdoar. Mas o mar era a única opção que eu tinha. Tudo o que aconteceu foi contra a minha vontade. Fiquei sem opções. As pessoas me culpam e dizem: 'Como você colocou suas filhaspoker 7risco?' Mas estou na Europa há 14 anos e fui rejeitado", diz Ahmed, detalhando anospoker 7tentativas fracassadaspoker 7garantir a residência na União Europeia depoispoker 7fugir do Iraque após alegar ter recebido ameaçaspoker 7grupospoker 7milícias.

A Bélgica aparentemente negou asilo alegando que Basra, apoker 7cidade natal no Iraque, era classificada como zona segura.

Ele diz que os seus filhos passaram os últimos sete anos com um parente na Suécia, mas foi recentemente informadopoker 7que seriam deportados, juntamente com ele, para o Iraque.

"Se eu soubesse que havia 1%poker 7probabilidadepoker 7ficar com as crianças na Bélgica, na França, na Suécia ou na Finlândia, ficaria lá. A única coisa que queria para os meus filhos é que eles frequentassem a escola. Não quero qualquer tipopoker 7assistência social. Minha esposa e eu podemos trabalhar. Eu só queria protegê-los,poker 7infância epoker 7dignidade", continua ele.

"Se as pessoas estivessem no meu lugar, o que fariam? Aqueles que (me criticam) não sofreram o que eu sofri. Esta foi a minha última opção", afirma, apelando ao governo britânico por solidariedade e apoio.

Eva Jonsson, professorapoker 7Sarapoker 7Uddevalla, na Suécia, descreve a menina como "gentil e boa"poker 7uma mensagempoker 7vídeo enviada à BBC.

"Ela tinha muitos amigos na escola. Eles brincavam juntos o tempo todo... Em fevereiro, descobrimos que iriam deportá-la e que seria rápido. Eles nos avisaram com dois diaspoker 7antecedência", explica.

Ao saberpoker 7sua morte, a turma se reuniupoker 7círculo e fez um minutopoker 7silêncio.

"É muito lamentável que isso aconteça com uma família tão simpática. Já ensinei (outras) crianças desta família e fiquei muito surpresa com a deportação", afirma a professora.

"Ainda temos a foto da Sara na salapoker 7aula e vamos mantê-la aqui durante o tempo que as crianças quiserem."