População preta cresce 42% e outras 4 novidades sobre perfil étnico-racial dos brasileiros no Censo 2022:betano empresa

Crédito, Agência Brasil

Legenda da foto, Pardos se tornam maior grupo populacional do país, enquanto autodeclarados brancos e amarelos recuam

Entre 2010 e 2022, a população brasileira cresceu 6,5%, passandobetano empresa190,8 milhões para 203,1 milhões.

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A mudança do perfil étnico-racial dos brasileiros confirma tendência já conhecida através da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostrabetano empresaDomicílios Contínua), pesquisa amostral realizada mensalmente pelo IBGE nos domicílios.

Ela também dá continuidade a um processo já observadobetano empresa"escurecimento" da população brasileira, com número crescente daqueles que se autodeclaram pretos e pardos, o que, segundo analistas, é frutobetano empresaquestões demográficas, mas também do avanço da valorização da negritude na sociedade.

Essas são algumas das novidades divulgadas pelo IBGE, que nesta sexta-feira (21/12) publica o material Censo Demográfico 2022: Identificação étnico-racial, por sexo e idade - Resultados do universo. Trata-se da quinta divulgaçãobetano empresadados coletados pelo último Censo.

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Outras tendências reveladas pelo instituto são a queda no númerobetano empresaautodeclarados brancos (-3,1%) e o envelhecimento desta parcela da população.

Uma mudança metodológica também levou a recuo acentuado da parcela da população que se declara amarela (-59,2%), termo usado pelo IBGE para as pessoasbetano empresaorigem oriental (japonesa, chinesa, coreana etc).

Confira cinco novidades sobre o perfil étnico-racial dos brasileiros reveladas pelo Censo 2022.

1. Pardos superam brancos e se tornam maior grupo

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"Nos censos demográficos, é a primeira vez que temos essa inversão ", observa Marta Antunes, responsável pelo projetobetano empresaPovos e Comunidades Tradicionais do IBGE.

"Essa é a grande mudança da estrutura [étnico-racial do país] que apresentamos com esses dadosbetano empresa2022."

O IBGE trabalha desde o Censobetano empresa1991 com cinco categoriasbetano empresacor ou raça: branca, preta, amarela, parda e indígena.

O instituto considera como parda a pessoa que se declara assim ou que se identifica com a misturabetano empresaduas ou mais opçõesbetano empresacor ou raça, incluindo branca, preta, parda e indígena.

O movimento negro brasileiro costuma agrupar pretos e pardos na categoria "negros". Trata-sebetano empresauma estratégia histórica para fortalecer a luta por direitos para esse grupo, apoiada na visãobetano empresaque pardos também são vítimas do racismo.

O IBGE, no entanto, não utiliza a nomenclatura "negro", tratando pretos e pardos como categorias separadas.

Antunes observa que essa opção se deve ao fatobetano empresaque, para o IBGE, os pardos não são apenas pessoas com ascendência africana, mas também descendentesbetano empresaoutros grupos étnico-raciais existentes no Brasil, como os indígenas.

A luta do movimento negro por direitos e contra o racismo está, no entanto, diretamente relacionada ao aumento do númerobetano empresapessoas que se autodeclaram pretas e pardas, observa Mario Theodoro, autor do livro A sociedade desigual: Racismo e branquitude na formação do Brasil (Zahar, 2022).

"Nos últimos anos, com o advento do movimento negro, da militância negra e com uma certa valorização da imagem do negro que foi dada a partir dos anos 1980 e 1990, uma sériebetano empresapessoas que antes se declaravam brancas passaram a assumirbetano empresanegritude ao se declararem como pardas", observa o economista.

O especialista destaca ainda que muitos que antes se declaravam pardos passaram a se declarar como pretos,betano empresafunção da maior valorização do negro dentro da história e da cultura do país, um resultado também da militância negra, no entendimento do especialista.

Theodoro observa que há também um componente demográfico nesse "escurecimento" da população brasileira.

Isso porque pretos e pardos tendem a ter mais filhos do que os brancos, por questões culturais, mas principalmente pelo fator renda.

Pretos e pardos são maioria entre os mais pobres e menos escolarizados, e essa parcela da população tem taxabetano empresafecundidade maior do que os mais ricos.

"Mas esse crescimento [no númerobetano empresaautodeclarados pretos e pardos] nos últimos anos é muito maior do que a questão demográfica, então a explicação precisa levarbetano empresaconta essa mudançabetano empresamentalidade,betano empresaas pessoas cada vez mais admitirembetano empresanegritude."

Michael França, coordenador do Núcleobetano empresaEstudos Raciais do Insper e autor do livro Números da discriminação racial (Jandaíra, 2023), acrescenta que a miscigenação também é um fator relevante para o aumento da população que se declara parda.

O avanço dessa parcela da população se reflete ainda na composição étnico-racial dos municípios.

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Em 3.245 municípios brasileiros (58,3% do total), pardos são o grupo étnico-racial predominante, com destaque para as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, além do norte dos Estadosbetano empresaMinas Gerais e Espírito Santo.

Outros 2.283 municípios (41%) têm predominância branca, notadamente no Sul e Sudeste.

Indígenas predominambetano empresa33 municípios (0,6%) e pretosbetano empresaapenas 9 (ou 0,1% do total). Não há municípios com predominânciabetano empresapessoasbetano empresacor ou raça amarela.

2. População preta cresce 42%

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Em agosto, quando divulgou os resultados do Censo 2022 para a população indígena, o IBGE reportou um saltobetano empresa89% das pessoas que se autodeclaram indígenas,betano empresarelação a 2010.

Isso é resultadobetano empresauma mudança metodológica, mas também do movimentobetano empresarecuperação da identidade indígena que tem se fortalecido nos últimos anos.

Agora, o instituto divulga um forte crescimento tambémbetano empresaoutro grupo étnico-racial: os autodeclarados pretos, com avançobetano empresa42%.

Os motivos aqui são similares aos que explicam o avanço no númerobetano empresapardos, ou seja, fatores culturais e demográficos combinados.

Além disso, segundo especialistas, há uma ressignificação nas últimas décadas do termo "preto". Antes visto como pejorativo por parte da sociedade brasileira, o termo tem sido abraçado por muitos na esteira do movimentobetano empresavalorização da negritude.

França, do Insper, cita a instituição da Leibetano empresaCotasbetano empresa2012 — que estabeleceu a reservabetano empresavagas no Ensino Superior para pretos, pardos, indígenas e estudantesbetano empresaescolas públicas — e o assassinato por policiais do afro-americano George Floydbetano empresa2020, como marcos do debate racial no Brasil.

"Há a formaçãobetano empresauma massa crítica nas universidades, que está produzindo livros e ampliando o debate racialbetano empresaforma considerável nos últimos anos", diz França.

"Em meio a isso tudo, há a formaçãobetano empresavárias novas lideranças negras,betano empresanegros com grande visibilidade no debate público. Isso impacta também o que chamamosbetano empresamodelos sociais: agora muitas crianças e jovens passam a ter mais referências negras para se espelhar, o que ajuda no processobetano empresaformação da identidade ebetano empresaautodeclaração como negro", observa o pesquisador.

"No passado,betano empresaalguns setores da sociedade, ser chamadobetano empresapreto era algo até pejorativo, mas com o passar do tempo há essa valorização da identidade negra, que estimula as pessoas cada vez mais a não só se verem como negras, mas valorizarem a própria identidade."

3. Metodologia muda e população amarela diminui

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Se as parcelas preta e parda da população aumentaram entre os censosbetano empresa2010 e 2022, a parcela amarela foi na contramão, diminuindobetano empresa2,1 milhões (ou 1,1% do total), para 850 mil (0,4%).

Trata-sebetano empresauma reduçãobetano empresa59,2% e isso se deve a uma mudança na metodologia do Censo, explica Marta Antunes, do IBGE.

"O IBGE identificoubetano empresaestudos um descolamentobetano empresaparte da população que se declarava amarela,betano empresarelação à definição oficial do instituto do que é a cor ou raça amarela", observa a técnica.

Para endereçar esse problema, no Censobetano empresa2022, o IBGE adotou uma mensagem automática que passou a ser lida pelos recenseadores a todas as pessoas que se declarassem amarelas.

Crédito, IBGE

Legenda da foto, Mensagem lida pelos recenseadores às pessoas que declararam serbetano empresacor ou raça amarela no Censo 2022

A mensagem dizia: "Considera-se como cor ou raça amarela a pessoabetano empresaorigem oriental: por exemplo: japonesa, chinesa, coreana. Você confirmabetano empresaescolha?"

Com isso, muitas pessoas acabaram mudandobetano empresaautodeclaração para outras categorias, o que levou à redução observada nessa parcela da população.

4. Brancos estão mais concentrados entre idosos

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A parcela da população brasileira que se declara branca diminuiubetano empresa3,1%,betano empresa99,1 milhões para 88,3 milhões entre 2010 e 2022.

Mas, além desta queda, outro dado chama a atenção: a parcela branca da população é maior entre pessoas acimabetano empresa60 anos, enquanto pardos e pretos são mais prevalentes entre os mais jovens.

"A retração da população branca [entre 2010 e 2022] ocorre principalmente nas faixas etárias mais jovens, enquanto o aumento da população parda e preta acontecebetano empresatodas as faixas etárias", observa Antunes.

"Essas diferenças precisam ser pensadas a partirbetano empresauma multiplicidadebetano empresafatores: podem misturar questões demográficas, como natalidade, fecundidade, mortalidade, migração e arranjos familiares, mas também uma multiplicidadebetano empresacritériosbetano empresapertencimento étnico-raciais ", pondera a técnica.

Mario Theodoro observa ainda que, para além da questão demográfica, o discurso da negritude e da valorização do negro tem sido mais absorvido pelas camadas mais jovens da população, que têm mais facilidadebetano empresaassumir essa nova mentalidade do que as camadas mais velhas.

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O Censo 2022 também traz os dados da população por raça ou cor para a Amazônia Legal, região que compreende 772 municípios e quase 59% do território brasileiro.

"Vemos que, na Amazônia Legal, há uma composição étnico-racial muito diferentebetano empresarelação ao conjunto da população brasileira", observa Leonardo Athias, analista do IBGE.

Enquanto na população brasileirabetano empresageral, há 45,3%betano empresapessoas pardas, na Amazônia Legal esse percentual chega a 65,2%.

Ainda na Amazônia Legal, brancos são 22,3%, pretos 9,9%, amarelos 0,2% e indígenas 2,4% — uma participação bem mais significativa do que na população nacional (0,6%).

Segundo o IBGE, os números são fundamentais, diante da relevância ambiental desse território e da importância das estatísticas étnico-raciais para a elaboraçãobetano empresapolíticas públicas.