Humanidade conquistou 'poderes divinos', mas pode acabarh2bet confiavelArmagedom, diz autor futurista:h2bet confiavel

Metzl é considerado um autor futurista — alguém que monitora o estado atual das tecnologias e busca tendências que vão orientar o progresso da humanidade.

Segundo ele, o futuro descrito acima pode parecer utópico e distante, mas está mais próximo do que imaginamos, já que muitas tecnologias estão perto do alcance da geração atualh2bet confiavelcientistas.

Para Metzl, a humanidade está alcançando o feitoh2bet confiavelPrometeu — figura da mitologia grega que roubou o fogo dos deuses do Olimpo e o presenteou aos mortais.

Segundo essa ideia, uma sérieh2bet confiavelrevoluções tecnológicash2bet confiavelcurso — na genética, na biotecnologia, na inteligência artificial — estão dando à humanidade um poder que antes era considerado "divino":h2bet confiavelusar engenharia para redesenhar a vida e para interferir no planetah2bet confiaveluma escala inimaginável antes.

No entanto, apesarh2bet confiavelseu entusiasmo com as revoluções tecnológicas, Metzl se mantém cético e às vezes até mesmo horrorizado com alguns avanços.

Em seu livro, ele diz que se a humanidade não aprender a controlar a tecnologia, sobretudo com cooperação internacional e transparência, “iremos nos desviar para o Armagedom”.

Um exemplo desse perigo, segundo ele, aconteceu há seis anos.

Em 2018, o cientista chinês He Jiankui anunciou ter alterado o DNA dos embriõesh2bet confiavelduas bebês para torná-las resistentes ao HIV, caso elas entrassemh2bet confiavelcontato com o vírus.

A edição genética tem o potencialh2bet confiavelprevenir que doenças hereditárias sejam transmitidash2bet confiavelpais para filhos.

Mas especialistas temem que modificaçõesh2bet confiavelgenomash2bet confiavelembriões não apenas causem danos aos indivíduos, mas levem futuras gerações a herdar essas modificaçõesh2bet confiavelefeito ainda pouco conhecido.

O caso chocou a comunidade científica internacional. Um estudo posterior apontou que pessoas com a mutação genética que He tentou recriar têm probabilidade significativamente maiorh2bet confiavelmorrer ainda jovens.

He Jiankui foi condenado a três anosh2bet confiavelprisão na China.

Jamie Metzl participou do comitê consultivoh2bet confiavelespecialistas da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre edição do genoma humano que analisou o caso.

Para ele, esse episódio ilustra o perigo envolvidoh2bet confiavelnovas tecnologias: a faltah2bet confiaveltransparência internacional e governança pode levar laboratórios a desenvolverem tecnologias perigosas e forah2bet confiavelcontrole. Isso pode acontecerh2bet confiavelqualquer indústria — da engenharia genética a armash2bet confiaveldestruiçãoh2bet confiavelmassa.

Jamie Metzl tem experiência no mundo da política. Formadoh2bet confiavelHistória e Direito, ele trabalhouh2bet confiaveldiversos órgãos dos EUA: Conselhoh2bet confiavelSegurança Nacional dos EUA, Departamentoh2bet confiavelEstado e Comitêh2bet confiavelRelações Exteriores do Senado — alémh2bet confiavelter servido como Oficialh2bet confiavelDireitos Humanos da ONU no Camboja. Seu livro anterior — Hackeando Darwin — foi publicado no Brasil.

Para ele, boa parte das soluções necessárias hoje para a humanidade não são mais tecnológicas, e sim políticas.

Preocupado com a faltah2bet confiaveldebate público sobre as tecnologias, ele criou o OneShared.World, um movimento global que propõe ações coletivas para lidar com o que chamah2bet confiavelos desafios mais urgentes do mundo.

Nesta entrevista, ele conversou com a BBC News Brasil sobre os diversos riscos e oportunidades envolvendo as revoluções tecnológicas. E comentou sobre temas que vão desde as vacinas para covid até o desmatamento do Cerrado brasileiro.

h2bet confiavel BBC News Brasil: Você diz que hoje, para a maioria das pessoas, é a melhor época para se estar vivo e esse é um tema central do seu livro. Por que você está tão otimista com o momento atual e com o que está por virh2bet confiavelseguida?

h2bet confiavel Jamie Metzl: Se pegarmos qualquer medidah2bet confiavelbem-estar humano, estamos melhores do que nossos ancestraish2bet confiavelpraticamente qualquer momento da história.

Estamos vivendoh2bet confiavelforma mais saudável, por mais tempo, somos mais educados, temos maior acesso a ferramentas e habilidades que nos permitem fazer mais. E essas tendências estão quase que todas se movendo na direção certa.

Estamos desenvolvendo essas capacidades quase divinash2bet confiavelfazer coisas ainda melhores. Nem tudo melhorou, mas a maioria está melhorando.

Mas esse otimismo também requer um poucoh2bet confiavelpessimismo – eh2bet confiavelansiedade com o que pode dar errado caso não acertemos com a transição. Ninguém deve ser um otimista ou um idealista cego. Isso seria perigoso.

Se acertarmos nas nossas decisões, poderemos ter um futuroh2bet confiavelgrande abundância, sem bilhõesh2bet confiavelpessoas vivendoh2bet confiavelextrema pobreza, onde todos têm acesso à educação, saúde e nutriçãoh2bet confiavelqualidade — essas ferramentas que podem construir um planeta mais sustentável para humanos e para a vida como um todo.

Por outro lado, se errarmos, temos agora a capacidadeh2bet confiavelprovocar dano incrívelh2bet confiaveluma escala planetária.

h2bet confiavel BBC News Brasil: No livro, você fala sobre os benefícios da biotecnologia para o futuro. Mas você fala bastante sobre o casoh2bet confiavelcientistas chineses queh2bet confiavelnovembroh2bet confiavel2018 anunciaram que tinham conseguido editar genes humanos. Nesse caso, você não achou que isso era uma boa coisa. Por que você criticou esse episódio, que parece um pouco o futuro que você prevê no seu livro?

h2bet confiavel Metzl: Meu livro anterior, Hackeando Darwin, falava sobre o futuro da engenharia genética humana, o que inclui ediçãoh2bet confiavelgenes. E eu sempre acreditei que os humanos poderãoh2bet confiavelalgum ponto do futuro editar os genomash2bet confiavelembriões pré-implantados para eliminar os riscosh2bet confiaveldoenças terríveis e potencialmente fatais. E talvez fazer até mais do que isso. Mas isso não significa que estamos prontos para fazer isso agora.

Em 2018, quando o cientista chinês He Jiankui anunciou que tinha editado o genomah2bet confiaveldois bebês, eu fiquei horrorizado. Só porque temos a capacidadeh2bet confiavelfazer algo, não significa que devemos fazer.

Acho que o que Jiankui fez equivale a uma espécieh2bet confiavelexperimento no estiloh2bet confiavelNuremberg [em referência a experiências científicas feitas por nazistas com humanos que foram condenadas nos julgamentosh2bet confiavelNuremberg, após a Segunda Guerra], o que é completamente inaceitável. Precisamos ser extremamente críticosh2bet confiavelpessoas que estão assumindo riscos desnecessários, e isso é ainda mais sensível quando é feito com pessoas.

h2bet confiavel BBC News Brasil: Mas quem pode dizer quando estaremos prontos para fazer isso?

h2bet confiavel Metzl: Sim, é uma questão essencial. O maior desafio do mundo é que nossos maiores problemas são globais e comuns, incluindoh2bet confiavelgovernança das tecnologias revolucionárias. Não temos estruturas suficientesh2bet confiavelgovernança, e isso é fundamental. Temos alguns processos e temos a ONU. Temos padrões estabelecidos por cientistas.

Mas se você olha para o caso da China, o que He Jiankui fez foi inicialmente apoiado pelo governo chinês. He Jiankui foi saudado como um herói pela imprensa chinesa.

Mas quando começou uma ondah2bet confiavelrepercussão internacional, o governo e a imprensa da China mudaramh2bet confiavellado, ele acabou preso por três anos como resultado das suas ações.

Precisamos fazer tudo que for possível para estabelecer padrões nacionais e internacionaish2bet confiavelgovernança dessas tecnologias.

Está claro que o mundo está cheioh2bet confiavel“buracos negros”h2bet confiavelregulação, o que vemosh2bet confiavelvários tratamentos não-licenciados com células tronco que são banidos na Europa e nos Estados Unidos. As pessoas estão indo para o Caribe e para a Ásia Centralh2bet confiavelbusca desses tratamentos. E acho que muitas pessoas estão sendo prejudicadas por isso.

Precisamos estabelecer fundamentosh2bet confiavelsistemash2bet confiavelgovernança que nos ajudem a administrar essas tecnologiash2bet confiavelPrometeu que temos.

h2bet confiavel BBC News Brasil: Sua posição sobre as origens da covid se tornou famosa: você foi um dos primeiros a sugerir que o vírus pode ter surgidoh2bet confiavelum laboratório, e não ocorrido naturalmenteh2bet confiavelum mercadoh2bet confiavelalimentos. É um assunto ainda polêmico entre cientistas e mesmo dentro da Organização Mundial da Saúde (OMS). Qual éh2bet confiavelvisão sobre isso?

h2bet confiavel Metzl: Tenho uma visão bastante forteh2bet confiavelque existem evidências avassaladoras que apontam para uma origem da covid relacionada a pesquisas. Ainda não temos uma resposta completa para isso. E o único motivo é que o governo da China fezh2bet confiaveltudo para evitar uma investigação científica e forense completa.

Na minha opinião, houve um acidenteh2bet confiavelpesquisa, e não uma tentativa deliberadah2bet confiavelcriar uma arma biológica. Acredito que deveríamos estar cobrando sem parar do governo chinês maior acesso para uma investigação completa sobre as origens da covid.

A revista The Economist estima que houve 28 milhõesh2bet confiavelmortesh2bet confiavelexcesso por causa da covid, dezenash2bet confiaveltrilhõesh2bet confiaveldólaresh2bet confiavelprejuízo econômico, centenash2bet confiavelmilhõesh2bet confiavelpessoas, se não mais, que caíram na pobreza. Se dissermos “ah, é só a China sendo a China, vamos deixar isso para lá”, a China ou qualquer outro Estado autoritário terá todo incentivo para repetir isso.

h2bet confiavel BBC News Brasil: Nos dois casos – da covid e da ediçãoh2bet confiavelgenomas – estamos falandoh2bet confiavelum mesmo país: a China. Você acredita que a forma como a China lida com ciência e pesquisas é um obstáculo para ah2bet confiavelideiah2bet confiavelsuperconvergência?

h2bet confiavel Metzl: Sim. Acredito que a comunidade científica chinesa está fazendo contribuições incríveis para o mundoh2bet confiavelsaúde, agricultura e muitas outras áreas. E sou grato por essas contribuições. Mas acredito que o Partido Comunista Chinês (PCC) está usando a ciência e a tecnologia como meio para seu fimh2bet confiavelultrapassar os outros países rumo à liderança mundial.

A combinação da ideologia do PCC com o tremendo poder da ciência chinesa é uma ameaça fundamental para a comunidade global e toda a humanidade.

A China, por contah2bet confiavelseu tamanho e ambições, está se tornando uma ameaça à humanidade. E não precisa ser assim. Acho que é fácil imaginar um mundoh2bet confiavelque a China desempenha um papel bem mais construtivo.

Sou um grande crítico da China, mas também sou muito crítico do meu próprio governo, os Estados Unidos.

h2bet confiavel BBC News Brasil: Qual éh2bet confiavelcrítica aos EUA?

h2bet confiavel Metzl: Os EUA são a maior superpotência científica do mundo. Os Institutos Nacionaish2bet confiavelSaúde (NIH,h2bet confiavelinglês) fazem um trabalho incrívelh2bet confiavelfinanciar ciênciah2bet confiavelbase. E essa ciência se difunde pelo mundo. No caso dos bebês CRISPR [caso do geneticista chinês He Jiankui], se você olhar para a ciênciah2bet confiavelbase que está por trás disso, muito dela foi financiada pela NIH. No caso da covid também.

O problema é porque vivemosh2bet confiavelum mundo onde a ciência é aberta, essas capacidades são difundidas por todo o planeta, e essas tecnologias são repassadas intencionalmente ou não.

Para cientistas que são éticos mas podem estar trabalhandoh2bet confiavelEstados autoritários, é inevitável que a política desses Estados se misture com a pesquisa científica.

h2bet confiavel BBC News Brasil: Então se no caso da China, você diz haver pouca transparência, no caso dos EUA haveria transparência demais, que pode prejudicar o mundo?

h2bet confiavel Metzl: É difícil responder a isso porque vivemosh2bet confiavelum mundoh2bet confiavelciência aberta. Nós nos beneficiamos disso. É por isso que temos esses incentivos para os cientistas. No momentoh2bet confiavelque eles descobrem algo, eles publicam um artigo que é submetido a revisão por pares para avaliar se aquilo é válido ou não.

O problema é que integramos a China no mundo da ciência aberta como se fosse o Canadá ou a Suíça.

h2bet confiavel BBC News Brasil: A covid parece ser um bom exemplo dos desafios que a humanidade temh2bet confiavelcontrolar seus “poderes quase divinos”, que você menciona no livro. Por um lado, a humanidade produziu vacinash2bet confiaveltempo recorde, mas do outro lado surgem esses problemash2bet confiavelgovernança, confiança pública e transparência. Como você avaliaria a humanidade nesse teste?

h2bet confiavel Metzl: É o ponto centralh2bet confiaveltudo. Mesmo no nível pessoal das nossas vidas, nossas melhores e piores qualidades são duas facesh2bet confiaveluma mesma moeda.

A covid mostrou os benefícios milagrosos das nossas habilidades. Fomos capazesh2bet confiaveldesenvolver, a partir do genoma sequenciadoh2bet confiavelum vírus, uma vacinah2bet confiavelmRNA completamente funcionalh2bet confiavelapenas 11 meses. Foi inacreditável.

Isso abriu caminho para vários outros tratamentos, seja contra câncer ou muitas outras coisas. Deveríamos estar gratos que, enquanto humanidade, conseguimos fazer isso juntos. E, ao mesmo tempo, essas tecnologias nos permite fazer coisas com consequências terríveis.

A questão que fica é: como otimizamos as coisas que queremos e minimizamos os riscos para evitar o que não queremos. É esse o jogo. E não é impossível. Mas requer que muito trabalho seja feito agora.

h2bet confiavel BBC News Brasil: No caso da covid, foi um sucesso?

h2bet confiavel Metzl: Acho que não fomos bem. Fomos no caso do desenvolvimento das vacinas. Mas na distribuição das vacinas, não fomos bem. Certamente os EUA precisariam ter feito mais para compartilhar as vacinas.

Também não empoderamos a OMS, que poderia ter tido um papel mais ativo. Não construímos uma OMS assim. E não é culpa dos líderes da OMS, é culpa nossa. Eu acredito que toda a pandemiah2bet confiavelcovid poderia ter sido completamente evitada.

Acredito que essa foi uma pandemia política, e fracassamosh2bet confiavelreagir à crise.

h2bet confiavel BBC News Brasil: No seu livro, você fala sobre bem-estar animal e vegetarianismo, dizendo que a tecnologia pode ajudar mais pessoas a ter acesso à comidah2bet confiaveluma forma mais sustentável e eficiente. Você acha que a agricultura está mesmo se tornando mais sustentável e ecológica?

h2bet confiavel Metzl: Temos mais consciência ambiental do que no passado. Temos maior noção das implicações negativas do aquecimento global e mudanças climáticas. Mas comoh2bet confiaveltodas as áreas, estamos tendo dificuldadesh2bet confiaveltomar as medidas necessárias para mudar nossa trajetória.

Muito mais precisa ser feito. Temos 8 bilhõesh2bet confiavelhumanos,h2bet confiavelbreve seremos 10 bilhões. Todos precisam ser alimentados. Todos têm direito a alimentaçãoh2bet confiavelqualidade, para si e suas famílias. Cabe a nós fazer isso. Mas precisa ser feitoh2bet confiaveluma forma ecológica e sustentável.

E não estamos fazendo isso. Para isso, as ferramentas da genética e biotecnologia podem nos ajudar a aumentar a produtividade da nossa agricultura.

Vivemosh2bet confiavelum mundo com aumento contínuo na produtividade da agricultura e uma produção globalh2bet confiavelalimentosh2bet confiavelmassa, que triplicouh2bet confiavel70 anos.

O Brasil fez um excelente trabalho, mas também estamos vendo no Brasil as consequênciash2bet confiavelprecisarmosh2bet confiaveltanta terra, tanta água e tantos fertilizantes.

A questão é como podemos melhorar, conseguir alimentosh2bet confiavelalta qualidade mas com menos necessidadeh2bet confiavelterra, água e fertilizantes.

Um caminho é continuar desenvolvendo melhores variedadesh2bet confiavelsementes. Podemos reduzir nossa dependênciah2bet confiavelfertilizantes sintéticos pensandoh2bet confiavelformas diferentesh2bet confiaveldar nutrientes às plantas e manipulando microbiomas.

E precisamos pensar a pecuáriah2bet confiavelforma diferente. Nós humanos, assim como a espécie anterior a nós, temos comido carne por muito tempo e isso é parte da nossa identidade e nossa cultura. Mas eu acho que seria saudável para os humanos comermos menos alimentos baseadosh2bet confiavelanimais. Seria bom para o clima se todos virassem vegetarianos.

Eu mesmo não sou vegetariano e não estou pedindo aos brasileiros para serem. Mas podemos conseguir produtos animaish2bet confiaveloutras formas, sem continuar desmatando a floresta amazônica para pecuária.

A taxah2bet confiavelconversão calóricah2bet confiavelplantas para gado para humanos éh2bet confiavel30. Uma vaca precisa consumir 30 caloriash2bet confiavelplantas para produzir uma caloriah2bet confiavelbife. Isso não é eficiente. Por isso, as novas ferramentash2bet confiavelculturah2bet confiavelcélula ouh2bet confiavelcarne cultivada vão utilizar células-troncoh2bet confiavelanimais saudáveis, crescê-las, expandir essas células e criar produtos animaish2bet confiavelbiorreatores.

Pode não parecer algo natural para muitas pessoas, mas a pecuária industrial também não é normal, se olharmos para a nossa experiência histórica.

Estamos nos primórdios deste tipoh2bet confiaveltecnologia. A maioriah2bet confiavelnós nem se importa com o que está na carne que comemos. Mas poderíamos ter um produto biologicamente idêntico que usa menos água, menos fertilizantes, menos energia, menos impacto ambiental e talvez sendo até mais seguro, saudável e nutritivo.

Ainda poderíamos ter o produto premium e pagar mais por ele — como carneh2bet confiavelmaior qualidade ou outros produtos animais.

Eu não acho que as pessoas estejam preparadas para uma mudança radical,h2bet confiavelsairh2bet confiavelcomo vivemos hoje para amanhã estarmos vivendo como os Jetsons.

Mas acho que é possível mudar os sistemas que usamos agora.

No casoh2bet confiavelcombustíveis fósseis, eles foram um tremendo sucesso para humanos no passado e nos permitiram fazer coisas incríveis, possibilitando que se pusesse fim a abusos horríveis, como a escravidão.

O aquecimento global é,h2bet confiavelcerta forma, uma consequência do sucesso da humanidade. Mas ele criou outros problemas. Se resolvermos esse problema, talvez isso gere outros problemas.

h2bet confiavel BBC News Brasil: No caso do Brasil, muitas pessoas são céticas quanto aos benefícios da tecnologia na agricultura. Por um lado, é inquestionável o ganhoh2bet confiavelprodutividade que se teve no campo. Mas por outro, a tecnologia permitiu que se plantasse no Cerrado, e hoje ele se tornou um dos biomas mais desmatados no Brasil. A tecnologia parece ter piorado a situação do Cerrado.

h2bet confiavel Metzl: Muitos dos brasileiros que estão infelizes com o papel da tecnologia no desmatamento só existem por causa da revolução verde. O motivo que temos 8 bilhõesh2bet confiavelhumanos é a revolução verde.

Quando ela aconteceu no México nos anos 1950, o país estava passando por fome, que afetava milhõesh2bet confiavelpessoas. O país não tinha comida para alimentarh2bet confiavelpopulação eh2bet confiavelpoucas décadas havia tanta comida que o México começou a exportar grãos.

Mas a tecnologia nos ajuda a resolver problemas e acaba criando novos problemas. Por isso, quando cometemos erros, precisamos ter sistemas para identificar o que aconteceuh2bet confiavelerrado e nos responsabilizar pelos erros.

Eu escrevo no meu livro como os humanos quase acabaram com várias espéciesh2bet confiavelbaleia porque aperfeiçoamos tanto as formash2bet confiavelmatar. Se não fosse a ONU dizer que precisamosh2bet confiavelmecanismosh2bet confiavelcontrole, muitas dessas espécies teriam sido extintas.

h2bet confiavel BBC News Brasil: No caso do Cerrado, qual seria uma boa solução? É possível aumentar ainda mais a produtividade sem expandir o usoh2bet confiavelterras?

h2bet confiavel Metzl: Se diminuirmos nossa dependênciah2bet confiavelprodutos animais, precisaremosh2bet confiavelmenos gado. Digamos que consigamos substituir 50% da carne que os humanos consomem hoje. Ou seja, 50% viriamh2bet confiavelcarne cultivada (em laboratório) e 50%h2bet confiavelanimais abatidos. Ainda teríamos acesso a bifesh2bet confiavelqualidade, mas precisaríamosh2bet confiavelmuito menos gado e terras. A Terra quer se repovoar com vida selvagem, são os humanos que estão colocando pressão no planeta através do desmatamento.

Duas coisas são necessárias: uma é essa parte da demanda. A outra é a governança.

Governos precisam fazer um trabalho melhor na proteçãoh2bet confiavelespaços naturais.

h2bet confiavel BBC News Brasil: Você acha que as pessoas já estão prontas para consumir carne artificial? Me parece que é algo que os consumidores ainda não estão preparados.

h2bet confiavel Metzl: A tecnologia para se criar carne cultivada existe e está avançando rapidamente, mas não estáh2bet confiavelum estágioh2bet confiavelque possa competir com produtos animais “naturais”. Nãoh2bet confiaveltermosh2bet confiavelcusto e escala. Acho que ainda é preciso investir muito para se ganhar escala.

Precisamos lidar com o sucesso que foi a agricultura industrial. A boa notícia é que essa agricultura não é a que praticamos desde sempre. Nessa escala, ela existe há menosh2bet confiavelcem anos. E podemos mudar isso.

h2bet confiavel BBC News Brasil: Em seu livro, você pinta um cenárioh2bet confiavelum futuroh2bet confiavelque a humanidade controla poderes quase como deuses. Qual é o cenário ideal que você vê para a humanidade,h2bet confiavelque os desafios foram vencidos?

h2bet confiavel Metzl: Quando eu estava escrevendo o livro, meu pai foi diagnosticado com câncer neuroendócrino, o mesmo que matou Steve Jobs. Ao contrárioh2bet confiavelJobs, eu fui atrásh2bet confiaveltudo que é tecnologia que pudesse combater esse câncer. Eu insisti que fizéssemos um sequenciamento das célulash2bet confiavelcâncer e acabamos encontrando uma mutação.

E encontramos um tratamento para bloquear a habilidade desta célulah2bet confiavelse reproduzir, um tratamento que praticamente nunca tinha sido usado neste câncer. Isso funcionou por um ano e meio, mas parouh2bet confiavelfuncionar porque o câncer evoluiu.

Sequenciamos as célulash2bet confiavelnovo e achamos outra mutação.

Meu pai, pelo diagnóstico que recebeu, deveria ter seis mesesh2bet confiavelvida. Desde então ele já viu o Kansas City Chiefs ganhar dois Super Bowls. Ele foi ao bat mitzvah [comemoração judaica]h2bet confiavelsua neta. Ele e minha mãe estavam no lançamento do meu livroh2bet confiavelNova York.

É um exemplo pequeno. As pessoas têm medoh2bet confiavelum apocalipse com inteligência artificial. Esses medos não são necessariamente sem fundamento. Mas vivemosh2bet confiavelum mundo mediado pela tecnologia. A agricultura é uma formah2bet confiavelbiotecnologia.

Qual é minha visão para um futuro melhor? Viver com mais saúde, talvez por mais tempo, com vidas mais robustas, onde transformamos nosso sistema saúde baseadoh2bet confiavelsintomash2bet confiaveldoença para algo preventivo e proativo.

Onde cultivamos comida para que todos no planeta tenham acesso a maior qualidadeh2bet confiavelnutrição, utilizando menos terra e água e coisas que dilapidam grande parte do nosso planeta.

Onde transformamos nosso modeloh2bet confiaveltransformaçãoh2bet confiavelmateriais industriais,h2bet confiavelque cortamos ou cavamos coisas da natureza, e passamos a cultivá-los.

Nossa espécie consegue viverh2bet confiavelpartes do universo que são inóspitas para nós.

O principal desse momento da humanidade nesse planeta é que depoish2bet confiavelquatro bilhõesh2bet confiavelvida, uma espécie finalmente consegue usar engenharia para criar inteligência e redesenhar a vida. O que vai definir se fomos bem-sucedidos ou não é se saberemos usar sabiamente essas capacidadesh2bet confiavelPrometeu.