'Vou ficar por aqui. Está muita ladroagem': os ilhados que se recusam a deixar suas casas no Rio Grande do Sul:brabet oficial

Homembrabet oficialcimabrabet oficialuma laje com um cachorro

Crédito, Fernando Otto/BBC

Legenda da foto, Fabio Meneghetti,brabet oficialEldorado do Sul, se recusou a deixarbrabet oficialcasa que está cercada pela água

O município foi proporcionalmente o mais afetado pelas chuvas que arrasam o Estado desde o fimbrabet oficialabril. A cidade chegou a ficar 98% alagada nos últimos dias, segundo o governo.

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A reportagem da BBC News Brasil conversou com Fábio enquanto acompanhava,brabet oficialum bote do Corpobrabet oficialBombeiros, o trabalho da equipe que tenta convencer os moradores que ainda resistem a deixar suas casas.

A previsão para os próximos dias é abrabet oficialque o nível da lagoa do Guaíba suba a pontobrabet oficialatingir um novo recorde e coloquebrabet oficialrisco a vida dessas pessoas. São ainda dezenas, talvez centenasde moradores que não querem abandonar o pouco que lhes sobrou.

A estimativa dos bombeiros é que cercabrabet oficial90% da população do municípiobrabet oficial40 mil habitantes tenha deixado suas casas e estão abrigadas na casabrabet oficialfamiliares oubrabet oficialalojamentos montados pelo poder público.

“Os caras entraram na casa da vizinha. Eu saí umas 7h para dar uma olhadinha e colocar comida do cachorro. Eu dei uns berros e os caras largaram. Agora vai saber se mexeram ou não”, conta Fábio.

Segundo o morador, à noite é o momento mais tenso.

“Um deserto. Só escuta bala passar. Só entrelaçadabrabet oficialbala. Os passarinhos cantando e as balas.”

Ele diz que tem água e alimentos suficientes para passar dias sem precisar sairbrabet oficialcasa. Conta também que improvisou uma bateriabrabet oficialcarro para carregar o celular duas vezes ao dia. A comida chegou graças a um helicóptero que levou cestas básicas para a zona, diz.

Legenda do vídeo, Inundações no Rio Grande do Sul: os moradores que se recusam a deixar casas alagadas

Rastrobrabet oficialdestruição e forte odor

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Fim do Que História!

O caminhobrabet oficialPorto Alegre a Eldorado do Sul, quebrabet oficialtempos normais leva menosbrabet oficialmeia hora, agora pode levar até 5 com todos os alagamentos.

Só usando uma estrada transformadabrabet oficialcorredor humanitário, usada majoritariamente pelas equipesbrabet oficialsocorro, é possível encurtar o tempo para uma hora.

No caminho, um rastrobrabet oficialdestruição, alémbrabet oficialum cheiro fortebrabet oficiallixo ebrabet oficialmaterial orgânicobrabet oficialdecomposição.

Onde antes havia uma cidade que se orgulhavabrabet oficialser banhada pelo rio Jacuí e pelo lago Guaíba, agora há veículos completamente embaixo d’água, animais mortos e casas abandonadas com móveis boiando.

Nos comércios, as portas exibem sinaisbrabet oficialarrombamentos, sugestãobrabet oficialque sofreram saques.

Na tarde friabrabet oficialsegunda-feira, com a temperatura por voltabrabet oficial15ºC, o completo silêncio só era quebrado pelo barulho do barco dos bombeiros e algumas motos aquáticasbrabet oficialvoluntários.

Durante as duas horasbrabet oficialque a reportagem acompanhou a equipe dos bombeiros, nenhum dos cercabrabet oficial20 moradores que receberam a ofertabrabet oficialajuda aceitou deixar suas casas.

O motivo é sempre o mesmo: cuidar do que restoubrabet oficialseus móveis e objetos pessoais.

Entre as pessoas ilhadas que se recusam mudar para um abrigo estava um casalbrabet oficialidosos. Os bombeiros contam que já insistiram diversas vezes para que eles saíssem, mas foibrabet oficialvão.

Rudinei Silva dos Santos, comandante dos bombeiros voluntáriosbrabet oficialEldorado do Sul, se levanta do mesmo bote onde está a reportagem, sobe na pilastra do portão e se identifica aos idosos que estão abrigados no fundobrabet oficialuma casa.

Aos gritos para que o casal possa ouvir, ele oferece ajuda para que eles deixem o localbrabet oficialsegurança. Os idosos negam, dizem que estão bem e vão permanecerbrabet oficialcasa.

“É muito complexo e muito complicado, porque as pessoas estão com muito receiobrabet oficialdeixar as suas residências, deixar os seus animaizinhos, seus pets", analisa Santos.

"E também tem a questão do receiobrabet oficialque alguém entre e ainda leve o pouco que sobrou”, segue ele.

Foto colorida mostra sobrado comercial com a porta estouradabrabet oficialuma rua alagada

Crédito, Fernando Otto/BBC

Legenda da foto, Na cidade alagada, as forças das águas deixaram um rastrobrabet oficialdestruição, alémbrabet oficialum cheiro fortebrabet oficiallixo e material orgânico

O comandante-geral da Brigada Militar do Rio Grande do Sul, coronel Cláudio dos Santos Feoli, que lidera as operaçõesbrabet oficialsegurança durante a tragédia, diz à BBC News Brasil que reconhece que foram registrados crimes no início da crise. Mas afirma que hoje não há mais motivo para os moradores continuarembrabet oficialáreas inundadas por medo da violência.

“Num primeiro momento, nós tivemos alguns saques, sim, porque nós tivemos cidades ilhadas. Em Eldorado do Sul, só se chegavabrabet oficialhelicóptero e nós colocamos o efetivo do Batalhãobrabet oficialChoque lá no Black Hawk (helicóptero)”, diz.

Ele afirma que nos últimos dias o patrulhamento foi reforçado nas áreas alagadas e que hoje estão seguras.

“A partir do momentobrabet oficialque nós tivemos acesso por barco e também por via asfáltica, nós conseguimos retomar a normalidade dessa cidade. Hoje, nós temos um patrulhamento bastante robusto nas áreas alagadas, com a utilizaçãobrabet oficialembarcações.”

Segundo o comandante-geral da Brigada Militar gaúcha, hoje muitas ocorrências registradasbrabet oficialáreas alagadas são trotes dos próprios moradores para atrair a presençabrabet oficialpoliciais para o seu bairro.

“O que se vêbrabet oficialalgumas zonas é o chamado para alguma tentativabrabet oficialsaque pelo 190 e não se confirma. As pessoas, me parece, colocam essa situação para que abrabet oficialzona também seja patrulhada”, afirma.

Senhor idoso ilhadobrabet oficialuma casa

Crédito, Fernando Otto/BBC

Legenda da foto, João Batista diz que está abastecido e que não sairábrabet oficialcasa: “Tenho comida, tenho bolacha, tenho sopa, tenho tudo”.

“Só se subir mais 5 metros”

No segundo andarbrabet oficialseu imóvel, João Carlos Velasquez Batista diz que deixará o localbrabet oficialapenas uma hipótese: se a água subir até o teto do segundo andar da casa, que não tem janelas e está inacabada.

Trajando um sobretudo - a previsão para os próximos dias é que a temperatura mínima chegue a 5ºC durante a madrugada -, João diz que o pé direito da casa dele é mais alto que o da vizinhança e garante que a água não alcançará a área onde ele está.

Para garantir que dormirá sem ser atingido pela enchente, ele diz ter construído um cavaletebrabet oficialmadeira para erguer o colchão onde dorme.

“Só se subir 5 metros [o rio]. Daí, eu tenho um cavaletebrabet oficial2,5 metros, estouro o telhado e saiobrabet oficialhelicóptero. [Hoje], não vão me levar”, diz à reportagem.

João também conta que está cuidandobrabet oficialgatos e um cãobrabet oficialgrande portebrabet oficialum vizinho vizinho. Ele diz que no início da crise chegou a beber água do alagamento, mas afirma que hojebrabet oficialsituação está confortável.

Ele recebe doações, tem água potável estocada e tem ração para dar aos cães e gatos.

João conta que joga saquinhos com raçõesbrabet oficialoutros telhados para que os bichos se alimentem.

No momentobrabet oficialque a reportagem estava no local, a comida lançada era devorada por ratos que corriam pelos telhados.

No fim da conversa, ele até oferece um café à reportagem.

“Vocês querem uma água? Querem tomar um café? Eu passo um cafézinho para vocês”, oferece.

O bombeiro Rudinei oferece ajuda mais uma vez, antesbrabet oficialseguir na operação.

“Seu João, qualquer coisa que precisar, se mudarbrabet oficialideia, liga. Um abraço”.

O morador agradece e diz que não há motivo para tamanho cuidado.

“Tenho comida, tenho bolacha, tenho sopa, tenho tudo”.

Casa e ônibus alagados

Crédito, Fernando Otto/BBC

Legenda da foto, Eldorado do Sul foi severamente afetada pelas cheias sem precedentes, com maisbrabet oficial90% da cidade invadida pelas águas