'Meu filho morreu após comer lixo': a tragédia que virou símbolo da miséria na Venezuela:euro casino bonus

“Aqui não tem trabalho”, diz Rudyeuro casino bonusentrevista à BBC Mundo (serviçoeuro casino bonusespanhol da BBC).

“Depoiseuro casino bonuscoletar lixo, vim para casa e meus filhos ficaram lá. Pouco depois, minha filha veio correndo e gritando: ‘Papai, acho que o Manuel está envenenado porque está no chão sem conseguir se mexer’”, contou.

O casoeuro casino bonusManuel comoveu a Venezuela.

A morte dele simboliza a pobreza extrema vivida por muitas famílias venezuelanas desde o começo da crise econômica que assola o país há uma década.

Entre 2013 e 2021, a economia da Venezuela encolheu maiseuro casino bonus75% e ao menos 7 milhõeseuro casino bonuspessoas emigraram para outros países, uma cifra que representa um quarto da população total do país.

“Antes, havia pobreza, mas nunca tinha visto gente comendo lixo”, comenta uma vizinha do menino que morreu.

“A gente se mantinha com agricultura e com trabalho. Agora, na Venezuela atual, é mais rentável ir ao lixão e vender plástico do que trabalhar por um salárioeuro casino bonus45 bolívares (US$ 2) por mês”, acrescenta.

Rudy conta que há pouco tempo tentou um emprego na prefeitura, mas não aceitou ao se dar contaeuro casino bonusque ganharia mais recolhendo lixo do que os US$ 2 (R$ 10) que oferecerameuro casino bonussalário.

Embora a economia venezuelana tenha crescido no último ano, a melhora não chegou aos setores mais pobres da sociedade. Segundo economistas, o crescimento que se viueuro casino bonus2022 não é sustentável e algumas cifras recentes embasam esse argumento.

Segundo o Observatório Venezuelanoeuro casino bonusFinanças, a atividade econômica do país encolheu 8,3% no primeiro trimestre deste anoeuro casino bonusrelação ao mesmo períodoeuro casino bonus2022.

'Sou pai e mãe'

Rudy eeuro casino bonusfamília dizem que têm sentido na pele o colapso econômico e se lembrameuro casino bonustempos melhores.

“Eu tenho terras. Antes, eu plantava e às vezes comíamos o que colhíamos, mas agora não tenho nada. Não tenho dinheiro para comprar sementes nem fertilizantes”, diz Rudy.

O ex-agricultor explica que agora está mais difícil mantereuro casino bonusfamília, porque ultimamente tem atuado como “pai e mãe” dos filhos, que têm entre 8 e 24 anos e também comem restos encontrados no lixão, como fez o menino Manuel.

“Minha esposa, Katiuska, morreu há um ano e quatro meses por complicações na vesícula. Provavelmente, também morreu por culpa desse lixão”, afirma Rudy.

Ana García,euro casino bonus24 anos, é enteadaeuro casino bonusRudy e se recorda que durante um tempoeuro casino bonusmãe trabalhou na colheitaeuro casino bonusalimentos, tinha um salário eeuro casino bonusfamília vivia melhor.

“Mas a situação do país foi piorando, ela perdeu o trabalho e passamos a viver do lixão.”

Depois da morte da mãe, Ana passou a ajudar a criar os irmãos mais novos.

'Os médicos o ignoraram'

Foi Ana que encontrou Manuel passando mal no lixão e o levou ao Hospitaleuro casino bonusCaicara, onde fizeram uma lavagem estomacal no menino.

Os médicos pediram a transferência dele ao Hospital Manuel Núñez Tovareuro casino bonusMaturín, com uma orientação médica para que fizessem outra lavagem estomacal “urgente”. Ele estava com batimentos fracos eeuro casino bonusconvulsão.

“Pedi que fizessem outra lavagem e não fizeram, apesareuro casino bonuseu ter passado as orientações dos médicos. Só o puseram numa cama e ele morreu quatro horas depois”, relata a jovem.

“Meu irmãozinho estaria vivo se o tivessem atendido (bem). Não foram rápidos”.

Rudy também afirma que houve negligência médica. “Meu filho morreu após comer lixo, mas também porque os médicos o ignoraram”, diz.

No hospital, disseram a Rudy que o menino morreu devido a uma intoxicação alimentar.

A BBC Mundo contatou a Prefeituraeuro casino bonusMaturín e o Hospital Manuel Núñez Tovar para saber se haviam investigado a morteeuro casino bonusManuel, mas até a publicação desta reportagem não recebeu resposta.

Ana lembraeuro casino bonusseu irmão como um menino alegre, com vontadeeuro casino bonusestudar e crescer na vida.

“Manuel gostavaeuro casino bonusir à escola. Lá ele podia brincar, apesareuro casino bonusàs vezes ir sem comer.”

Fome na Venezuela

Yolanda Pérez, vice-presidente da Fundação Cuidarte, uma organização que se dedica a ajudar criançaseuro casino bonussituaçãoeuro casino bonusrua na Venezuela, garante que a pobreza extrema no país aumentou “enormemente” nos últimos quatro anos, quando a fundação foi fundada.

“A pobreza extrema, especialmente na regiãoeuro casino bonusLas Deliciaseuro casino bonusCaicaraeuro casino bonusMaturín (onde vive a famíliaeuro casino bonusRudy), é impressionante. Há uma rua inteira onde a maioria dos que moram lá vivem do lixão”, disse ela à BBC News Mundo.

“As famílias vão ao lixão para coletar plástico e vidros. E um caminhão passa por lá para coletar o material. O caminhão vai embora e volta quinze dias depois para pagar o que deve às pessoas. Os coletores não recebem o dinheiro imediatamente.”

O relatório “Panorama regionaleuro casino bonussegurança alimentar e nutricional da América Latina 2022”, publicado pela ONU no ano passado, destaca que ao menos 6,5 milhõeseuro casino bonuspessoas padecemeuro casino bonusfome na Venezuela.

Segundo a mesma fonte, 4,1% das crianças menoreseuro casino bonuscinco anos no país apresentam desnutrição aguda.

Após a morteeuro casino bonusseu filho, Rudy passou a contar com o apoio da Fundação Cuidarte e do governo local. A família diz que agoraeuro casino bonussituação é melhor que aeuro casino bonusalgumas semanas atrás.

Mas querem que a mudança seja duradoura para que a históriaeuro casino bonusManuel não se repita.

“Agora queremos apoiar Rudy, conseguindo um emprego, para que ele possa se sustentar e manter seus filhos”, explica Yolanda Pérez.

Ana também gostaria que o governo ajudasse o padrasto a cultivar suas terras para poder “pelo menos” cultivar alimentos que possam depois consumir e, assim, deixareuro casino bonusprocurar restoseuro casino bonuscomida no lixão.