A caminhada que está reescrevendo a história do Egito:bet nhl
Por muito tempo, as tribos beduínas acompanharam peregrinosbet nhltodos os cantos pelo Sinai, desde muçulmanos rumo à Meca a cristãos para Jerusalém. Cada guia percorria um trecho e entregava os visitantes à tribo da fronteira seguinte. "Daí vieram os carros e aviões, e as pessoas esqueceram esse caminho", lamentou Mahmoud.
Como não puderam continuar trabalhando como guias, muitos beduínos buscaram emprego na cidade. A Trilha do Sinai, uma fusãobet nhlrotas antigasbet nhlperegrinação, comércio e contrabando, combate essa migração.
O picobet nhlgranito do Monte Sinai é o marco mais icônico da trilha, pois foi onde Moisés recebeu os Dez Mandamentos, segundo o Livro do Êxodo, do Antigo Testamento. Foi também onde, muito tempo depois, Ben Hoffler encontrou Mahmoud. O primeiro era um jovem e determinado geógrafo britânico ansioso por desbravar a região; o segundo, um um montanhista mal-humorado décadas mais velho, assistentebet nhldocumentário da BBC, que conhecia o Sinai como ninguém.
Sem perceber, a improvável dupla abriria caminho para a criação da Trilha do Sinai.
A história do encontrobet nhl2008 é contada pelos dois como imagens sobrepostas. "Num dia, estou no topo do Montebet nhlMoisés (como também é conhecido o Monte Sinai) esperando o sol nascer", começa Mahmoud. "Percebo um homem tirando várias fotos e sinto que ele tem algo, como algo perdido. E sinto que posso ajudá-lo".
Mudançabet nhlrumo
Não era algo perdido, e sim achado. Pós-graduado pela Universidadebet nhlOxford, do Reino Unido, Hoffler trabalhara por um ano no Cairo e, mas decidira mudarbet nhlrumo, não atraído pelo caminhobet nhlcomprar uma casa e formar uma família. Daí entra a epifania do Monte Sinai.
"Assim que eu via o sol nascendo, algo despertavabet nhlmim", contou Hoffler. "Precisava voltar e escalar uma montanha diferente. E toda vez que chegava a um novo cume, via outras três montanhas que queria escalar".
Naquele dia, o guiabet nhlHoffler parecia não querer fazer muito esforço, por isso Mahmoud respondeu a várias perguntas do inglês sobre a paisagem ao seu redor. Trocaram telefones e passaram a se encontrar para caminhar quando Hoffler vinha do Cairo. Depois Hoffler se mudou para Santa Catarina, cidade egípcia que se formou no entorno do mosteirobet nhlmesmo nome, o que cimentou a amizade entre os dois.
O que era apenas um interessebet nhlmontanhas se transformoubet nhlfascínio pelos caminhos nômades dos beduínos, e Hoffler passou uma década percorrendo 10 mil quilômetros pela península (o que resultou no livro-guia da região Sinai - The Trekking Guide). Mahmoud fez boa parte do percurso embet nhlcompanhia ou indicou conhecidos para orientá-lo. "Não sei bem por que Faraj me ajudou", confessa Hoffler, com vergonhabet nhlperguntar. "Talvez ele tenha achado que éramos parecidosbet nhlalguma forma".
Após a Primavera Árabe, iniciadabet nhl2011, o turismo do Sinai entroubet nhlcolapso, o que preocupou a dupla. Mahmoud sentiu que os guias beduínos deveriam se unir para sobreviver. E Hoffler lembrou do sucessobet nhltrilhasbet nhllonga distância, como a Trilha da Jordânia, uma rotabet nhl650 quilômetros pela nação árabe. Eles então decidiram reunir esforçosbet nhlum único percurso, agregando as comunidadesbet nhlseu entorno.
Mahmoud, um respeitado líder Jebeleya na península, abordou as duas tribos próximas à Trilha do Sinai e selecionou representantes para fazer as coisas andarem. "Ele é o herói desconhecido da Trilha do Sinai", disse Hoffler, que é cofundador (mas não recebe o crédito) do site da Trilha do Sinai. Mahmoud tem o crédito, mas é reticente sobre seu papel.
Eu tive que pressioná-los a contar a história da fundação da trilha, pois ela não aparecebet nhllugar algum.
A trilha foi inauguradabet nhl2015, semanas antesbet nhlterroristas abaterem um avião russo sobre o Sinai, o que acabou aumentando os problemas já existentes ali (a região ainda figura na lista vermelha da maioria dos governos). Mas os prêmios trouxeram esperança - impulsionada pelos aventureiros do Cairo, que com suas fotosbet nhlviagem abriram uma trilha virtual que acabou gerando um tráfego realbet nhlandarilhos.
Juntar-me aos 16 excursionistas, quebet nhlcomum só tinham bolhas nos pés, era desorientador para mim. Mas logo fui absorvido pela paisagem rochosa implacável que começava a também se chocar com meus sapatos. A primeira noite, a 1.670 metros, nos reunimos ao redorbet nhluma fogueirabet nhlum vale varrido pelo vento e cobertobet nhlestrelas.
A rotina rapidamente foi estabelecida para os três dias seguintes: acordar ao nascer do sol, caminhar por quatro horas ou mais, encolher-se sob as escassas sombras para o almoço - comíamos wrapsbet nhlqueijo feta e salada, enquanto gotasbet nhlazeite e suco pingavam sobre as pedras escaldantes - e,bet nhlseguida, tirar um cochilo.
Histórias e fogueira
Após várias horas extenuantesbet nhlcaminhada, nós nos aproximávamos dos camelos que carregavam nosso materialbet nhlacampamento, jantávamos e ouvíamos histórias ao redor da fogueira contadas pelo carismático guia da tribo Jebeleya, Nasser Mansour. Fechávamos nossas tendas quando ainda eram 20h.
Há 20 anos que Mansour tem mostrado a visitantes o quintal da Jebeleya (seus antepassados chegaram na região no século 6º para proteger o mosteiro). Ao tirar a responsabilidade logísticabet nhlsuas mãos, seu trabalho na trilha ficou bem mais fácil. "Queria que isso tivesse sido feito há dez anos", disse.
Com a cultura beduína se perdendo, os contos noturnosbet nhlMansour, transmitidos por seus antepassados, pareciam testemunhos. "As pessoas precisam conhecer nossa história", disse Mansour. "Apenas ver não é suficiente; você tembet nhlouvir".
Embora pudesse identificar outras tribos à distância, eles pouco se comunicavam antes da Trilha do Sinai. Agora, correm como um timebet nhlrevezamento. "Quando trabalhamos juntos, somos mais fortes", comentou.
"Yalla bina", Mansour chegou gritando enfadonhamente pela manhã. "Vamos".
Num almoço, acampamos próximo à Baciabet nhlElias e nos banhamosbet nhlum dos poucos poços da área usando uma latabet nhlazeitebet nhlCreta (Grécia). Naquela noite, acimabet nhlnossas tendas, minha tocha iluminou um parbet nhlolhos. Congeleibet nhlhorror, mas foi o camelo que me encarou sem entusiasmo com seus longos cílios: a cena não era novidade para ele.
Mas ninguém desdenhou, horas antes, quando três cabras selvagens apareceram no meio trajeto dos 750 torturantes "Passos do Arrependimento", no final do Monte Sinai, inaugurados por um monge pecador do século 6º. Andávamos na ponta dos pés até que elas fugiram, e logo fomos consolados pelo cume, que formava sobre nós uma sombrabet nhlformabet nhlToblerone.
Caminhando rumo ao Monte Santa Catarina, pegamos uma antiga rota deixada pelos bizantinos - os primeiros patronos do mosteiro - que queriam pagar suas dívidas à santa. A construção supostamente abriga a Sarça Ardente - o arbustobet nhlchamasbet nhlonde Deus se revelou a Moisés.
"As pessoas dizem que não há mais lugares como este no mundo", orgulha-se Mansour. Novamente caminhando pelas ardentes encostas atrás dos camelos, chegamos e nos empilhamosbet nhlum estreito cume, o mais altobet nhltodo o Egito.
Uma cabanabet nhltijolos vazia com um telhadobet nhlmetal semiaberto para as estrelas abrigou nosso último jantar: sopabet nhllentilhas quente, massa com vegetais e um queijo inesquecível. Depoisbet nhluma história da santa sobre cuja montanha nos sentamos (monges encontraram seu corpo após um sonho), uma pessoa do grupo perguntou a Mansour se ele tinha um sonho. "Sim", respondeu, sem elaborar. E finalmente: "De continuar a viver nas montanhas, da mesma forma que hoje".
E parece que seu sonho se tornará realidade. Três semanas depois, no iníciobet nhlmaio, a Trilha do Sinai foi expandidabet nhl220 para 550 quilômetros, com outras cinco tribos beduínas se unindo à cooperativa. Os fundadores quiseram ampliar os benefícios do projeto e fazer justiça aos lendários pontos turísticos do Sinai. Ao reviver a chamada Aliança Towarah, uma milenar uniãobet nhloito tribos ao sul do Sinai, a trilha abriu uma rotabet nhlviagem que não era percorrida há maisbet nhlum século, segundo Hoffler. E reforçou a herança beduína, mudando a perspectiva negativa que o visitante tinha da região.
Nossa caminhada seria a última na trilha original; agora, é possível cruzarbet nhl42 dias toda a Península do Sinai, do Golfobet nhlAqaba a Suez. O primeiro grupo organizado para percorrer a nova rota - que é a opção mais viável para quem viaja sozinho - está programado para a próxima sexta-feira (26/10). O programa terá duraçãobet nhl24 dias, com a opçãobet nhlcomeçar na metade da rota. Já a caminhada da trilha completa está prevista para 2019.
"As pessoas parecem diferentes quando chegam do deserto", Hoffler tinha me dito atentamente, e aquela romântica proposição se instalou na minha cabeça. Agora, como um eco, ouço Mahmoud: "Para algumas pessoas, o Sinai é como remédio, pode resolver seus problemas", afirmou. "Quarenta e dois dias no deserto não são fáceis (é mais tempo do que Moisés passou embet nhljornada), mas algumas pessoas precisam disso, eu acho".
Para mim, quatro dias não foi suficiente. Eu voltaria e, na próxima vez, faria a trilha longa.
As opçõesbet nhlpercursos
Forabet nhlgruposbet nhlcaminhada organizados, indivíduos podem caminhar qualquer trecho dos 550km,bet nhlum a 42 dias,bet nhlqualquer período. Um guia é obrigatório. Estas três caminhadas são as que guardam paisagens mais belas da trilha:
bet nhl -Jebel Serbal (3-4 dias; 25km)
Com cumes imponentes e depressões profundas, Jebel Serbal tem a reputaçãobet nhlser a montanha mais bonita do Sinai - e, há muito tempo, foi considerado o verdadeiro Monte Sinai descrito na Bíblia.
bet nhl -Serabit el-Khadem e El Ramla (4-5 dias; 65km)
Uma trilha acidentadabet nhluma antiga áreabet nhlmineraçãobet nhlturquesas - que abriga o único templo faraônico remanescente do sul do Sinai - ao maior desertobet nhlareia da região.
bet nhl -Jebel el-Gunna e Jebel Hazeem (4-5 dias; 75km)
Estes dois planaltos altos e varridos pelo vento são ideais para observaçãobet nhlestrelas e fazem partebet nhluma terra remota onde, como diz no Êxodo, Moisés e seu povo se perderam por 40 anos.
- bet nhl Leia a versão original desta reportagem (em inglês bet nhl ) no site da BBC Travel.