Por que cérebro dos humanos há 3 mil anos era maior que o nosso:betspeed
A agricultura surgiu entre 5 e 10 mil anos atrás, mas existem evidênciasbetspeedque o cultivobetspeedplantas pode ter começado até 23 mil anos atrás. E logo se seguiu a expansão das civilizações, repletasbetspeedarquitetura e máquinas.
A escrita surgiu inicialmente mais ou menos na mesma época. Mas por que, durante essa erabetspeedextraordinário desenvolvimento tecnológico, os cérebros humanos começaram a diminuirbetspeedtamanho?
Essa pergunta tem deixado os pesquisadores coçando a cabeça. E também levanta questões sobre o que o tamanho do cérebro realmente revela sobre a inteligência dos animais oubetspeedcapacidade cognitivabetspeedgeral.
Os cérebros dos animais
Muitas espécies têm cérebros muito maiores que o nosso e, mesmo assim,betspeedinteligência - da forma como a compreendemos - é muito diferente. Por isso, a relação entre o volume cerebral e como os seres humanos pensam não pode ser direta. É preciso haver também outros fatores.
Muitas vezes, é difícil saber exatamente o que faz com que os cérebros fiquem maiores ou menores ao longo do tempobetspeeduma dada espécie.
DeSilva e seus colegas observam que os corpos humanos ficaram menores ao longo do tempo, mas não o suficiente para justificar a redução do volume do cérebro. De forma que a questão sobre o motivo dessa mudança ainda segue sem resposta.
Em um estudo recente, eles buscaram inspiraçãobetspeeduma fonte quase impensável: a pequena formiga.
À primeira vista, o cérebro das formigas pode parecer completamente diferente do nosso. Com volumebetspeedcercabetspeedum décimobetspeedum milímetro cúbico (um terço do tamanhobetspeedum grãobetspeedsal), ele abriga apenas 250 mil neurônios, enquanto o cérebro humano possui cercabetspeed86 bilhões deles.
Mas algumas sociedadesbetspeedformigas são surpreendentemente similares às nossas. É assombroso observar que algumas espéciesbetspeedformigas chegam a praticar uma formabetspeedagricultura, cultivando imensos canteirosbetspeedfungos dentro do formigueiro. Essas formigas recolhem folhas e outros materiais vegetais para usar nas suas fazendas antesbetspeedcolher o fungo que irão comer.
Quando a equipebetspeedDeSilva comparou os tamanhos dos cérebrosbetspeeddiversas espéciesbetspeedformigas, eles observaram que, às vezes, as formigas com sociedades maiores evoluíram para ter cérebros maiores - exceto quando também evoluíram essa propensão para cultivar fungos.
A pesquisa sugere que, pelo menos nas formigas, ter um cérebro maior é importante para se sair bembetspeedsociedades grandes, mas sistemas sociais mais complexos, com maior divisãobetspeedtrabalho, poderão fazer com que seus cérebros diminuam. Isso pode ocorrer porque as capacidades cognitivas ficam divididas e distribuídas entre muitos membros do grupo, que desempenham papéis diferentes.
Em outras palavras, a inteligência torna-se coletiva e a prática cotidiana compartamentalizada.
"E se aconteceu o mesmo com os seres humanos?", pergunta DeSilva. "E se os seres humanos atingiram um limiar do crescimento populacional,betspeedque os indivíduos estão compartilhando e exteriorizando informações nos cérebros dos demais?"
O surgimento da escrita
Outra possibilidade é que o surgimento da escrita - que ocorreu cercabetspeed2 mil anos antes do início da redução do tamanho do cérebro humano - também tenha influenciado.
Existem relativamente poucas coisas que nos distinguembetspeedtodas as outras espécies e a escrita é uma delas. DeSilva questiona se isso poderá ter influenciado o volume do cérebro devido à "exteriorizaçãobetspeedinformações pela escrita e [à] capacidadebetspeedcomunicar ideias tendo acesso a informações fora do nosso próprio cérebro".
As muitas diferenças entre o cérebro das formigas e dos seres humanos indicam que devemos ser cautelosos e não traçar paralelos muito apressados. Por isso, DeSilva defende a possibilidadebetspeedque este seja um pontobetspeedpartida útil para estudar o que causou a notável - e relativamente recente - redução do volume do cérebro humano.
Por enquanto, essas ideias seguem sendo hipóteses. Existem muitas outras teorias que tentam explicar a redução do tamanho do cérebro humano. Mas várias delas deixambetspeedser plausíveis se a contração cerebral realmente começou apenas 3 mil anos atrás.
Um bom exemplo é a domesticação. Dezenasbetspeedanimais que foram domesticados, incluindo os cães, têm cérebros menores que seus ancestrais selvagens. Mas estima-se que a autodomesticação dos seres humanos tenha ocorrido há dezenas, talvez centenasbetspeedmilharesbetspeedanos - muito antes da grande retração do cérebro.
Mas cérebros menores significam que, como indivíduos, os seres humanos agora são menos inteligentes? Na verdade, não, a menos que você esteja falandobetspeeddiferenças sutisbetspeeduma grande população.
Tamanho não é o único fator
Em 2018, uma equipebetspeedpesquisadores analisou um enorme volumebetspeeddados do UK Biobank, um vasto bancobetspeeddados biomédicos do Reino Unido que contém, entre outras coisas, varreduras cerebrais e resultadosbetspeedtestesbetspeedQIbetspeedmilharesbetspeedpessoas.
Com 13,6 mil pessoas, essa amostra é maior que todos os estudos anteriores sobre o tamanho do cérebro e QI combinados, segundo um dos autores do estudo, Philipp Koellinger, geneticista comportamental da Universidade LivrebetspeedAmsterdã, na Holanda.
O estudo concluiu que ter um cérebro maior,betspeedmédia, correspondeu a resultados levemente melhores nos testesbetspeedQI, mas, fundamentalmente, a reação não era determinante. Isso significa que algumas pessoas foram muito bem nos testes, mesmo tendo cérebros relativamente pequenos, e vice-versa.
"Na verdade, não existe uma relação muito forte", segundo Koellinger. "É inconsistente." E isso é importante,betspeedparte, porque as pessoas historicamente tentam classificar os indivíduos com basebetspeedcaracterísticas como o tamanho ou o formato dabetspeedcabeça.
"Existe uma história muito feia no mundo ocidental, o movimento eugênico e esse tipobetspeedcoisas baseadas nessa ideiabetspeedbiodeterminismo", ressalta Koellinger. "As correlações que relatamos não indicam nenhum tipobetspeedbiodeterminismo."
Como as varreduras cerebrais também revelaram algumas informações sobre a estrutura do cérebro das pessoas e não apenas seu tamanho, o estudo foi capazbetspeeddetectar algo mais que poderá acontecer. Ele encontrou relação entre o volume da massa cinzenta - a camada externa do cérebro, que contém uma quantidadebetspeedneurônios particularmente alta - e o desempenho nos testesbetspeedQI.
Na verdade, diferenças estruturais como esta são provavelmente mais significativasbetspeedtermosbetspeedcapacidade cognitiva geral da pessoa que o mero tamanho do cérebro.
"Seria uma loucura pensar que o volume pode explicar toda a diferença", afirma Simon Cox, que estuda o envelhecimento do cérebro na UniversidadebetspeedEdimburgo, no Reino Unido. Ele acrescenta que o volume do cérebro poderá até ser um dos fatores menos importantes.
Isso faz sentido. O volume do cérebro dos homens é geralmente cercabetspeed11% maior que o das mulheres, devido ao seu maior tamanho corporal. Mas estudos comprovaram que,betspeedmédia, as mulheres têm vantagensbetspeedalgumas capacidades cognitivas e os homens,betspeedoutras.
Cox indica que outras pesquisasbetspeedque ele participou revelam que o cérebro das mulheres pode compensar seu menor tamanho com diferenças estruturais. O córtex cerebral - a camada que contém massa cinzenta - das mulheres, por exemplo, geralmente é mais espesso que o dos homens.
Existem muitas facetas e características do cérebro que parecem afetar a capacidade cognitiva. Outro exemplo é a mielinação. Ela designa a coberturabetspeedmaterial que rodeia os axônios - os "cabos" finos e longos que permitem a conexão dos neurônios a outras células, formando a rede neural.
Quando as pessoas envelhecem,betspeedmielina se decompõe, reduzindo a eficiência do cérebro. É possível detectar essa alteração estudando a facilidade da difusãobetspeedágua através do tecido cerebral. Com a redução da mielina, o líquido flui com mais facilidade, o que é um sinalbetspeeddeclínio cognitivo.
O cérebro permanece "fenomenalmente complexo", segundo Cox, e é difícil saber exatamente qual diferença terá a composição estruturalbetspeedum cérebro específico sobre a inteligência da pessoa.
É importante também notar que algumas pessoas não têm o cérebro completo, devido a lesões ou característicasbetspeeddesenvolvimento, e, surpreendentemente, parecem não apresentar alterações.
Foi descoberto na França um homem que não tinha 90% do cérebro. Mesmo assim, ele teve uma carreira bem sucedida como funcionário público e seu QI foi avaliadobetspeed75 (QI verbalbetspeed84) - pouco abaixo da média francesabetspeed97.
Mas as exceções nunca podem ser interpretadas como sendo a regra. Recentemente, diversos estudos indicam relações estatisticamente significativas, embora sutis, entre o volume e a estrutura cerebral e a inteligência.
Tudo isso fica ainda mais interessante considerando os diferentes cérebros do reino animal. Já exploramos uma comparação entre o cérebro humano e o da formiga, mas e quanto às outras espécies? O que incentiva os cérebros, grandes ou pequenos, a evoluir?
A evolução é um processo dispendioso
Amy Balanoff, que estuda a evolução cerebral, na Universidade Johns HopkinsbetspeedBaltimore, nos Estados Unidos, afirma que o crescimento e a manutenção do tecido cerebral exigem muita energia,betspeedforma que uma espécie não evolui para ter um cérebro grande, a menos que precise dele.
Ela cita as criaturas parasitas que dependembetspeedambientes e recursos relativamente estáveis. As lampreias, por exemplo, possuem cérebros notoriamente pequenos, com apenas alguns milímetros. "Elas realmente não precisam gastar toda essa energia com tecidos neurais, que,betspeedfato, são metabolicamente caros", afirma Balanoff.
Além disso, com o passar do tempo, alguns animais parecem ter desenvolvido cérebros maiores com relação ao tamanho do corpo - mas seus cérebros, na verdade, não mudaram, apenas seus corpos ficaram menores. Isso se aplica a algumas espéciesbetspeedaves, segundo explica Balanoff.
E existem animais que parecem ter evoluído para criar regiões cerebrais especializadas, que ampliaram o tamanho geral do cérebrobetspeedcomparação com espécies similares. É o caso do peixe-elefante, que tem cérebro bastante grandebetspeedcomparação com o tamanho do corpo - na verdade, proporcionalmente similar aos seres humanos.
Esses peixes usam cargas elétricas para comunicar-se entre si e detectar as presas. Em 2018, pesquisadores descobriram que uma parte específica do seu cérebro - o cerebelo - tem peso acima do normal. Ninguém sabe ao certo qual a razão, mas os autores do estudo especulam que ele poderia ajudar o peixe a processar informações eletrossensoriais.
Nos seres humanos, uma área do cérebro que nos diferencia é o neocórtex, envolvidobetspeedfunções cognitivas superiores - o pensamento consciente, o processamento da linguagem e assim por diante. Sem dúvida, nós dependemos muito desse tipobetspeedcoisa e faz sentido que nossos cérebros sejam moldados às nossas necessidades.
Considerando que muita energia é necessária para manter as engrenagens girando, é interessante observar que os animais com cérebros grandes evoluíram ao pontobetspeedadquirir muita energia no início da vida, segundo Anjali Goswami, paleobióloga do MuseubetspeedHistória NaturalbetspeedLondres.
Pense no reforço nutricional dos pássaros quando ainda estão nos ovos, ou dos mamíferos através da placenta e do leite materno. Na verdade, os bebês humanos nascem com neurôniosbetspeedexcesso (100 bilhões), que vão diminuindo conforme o seu desenvolvimento.
Isso acontece porque o cérebro se sintonizabetspeedacordo com o desenvolvimento e o ambiente do indivíduo. Apenas as partes realmente necessárias da rede neural são mantidas quando envelhecemos, mas é um cérebro com bom estoque inicialbetspeedneurônios que torna isso possível.
A influência do ambiente
Os mamíferos evoluíram à sombra dos dinossauros, segundo Goswami. Eles precisavambetspeedexcelentes capacidades sensoriais para sobreviver e, provavelmente, foi por isso que eles desenvolveram hábitos e visão noturna.
Esse desenvolvimento quase certamente teve impacto sobre o desenvolvimento neural, da mesma forma que a necessidade dos primatas, incluindo nossos ancestrais,betspeeddesenvolver as habilidades motoras necessárias para movimentar-se pelas árvores.
Desta forma, o ambiente pressionou o cérebro dos mamíferos a evoluir e criar capacidades que os ajudassem a sairbetspeedsituações difíceis. Muitos animais tiveram benefícios similares ao desenvolverbetspeeddestreza cognitivabetspeedum mundo cheiobetspeeddesafios.
Um estudo concluiu que as aves que colonizaram as ilhas oceânicas (e, por isso, precisaram adaptar-se a um território novo e imprevisível) tinham cérebros maiores que seus parceiros do continente.
Mas é preciso deixar claro que não é possível apenas medir o tamanho do cérebrobetspeedum animal, compará-lo com o tamanho do corpo e tirar conclusões definitivas sobre abetspeedinteligência. O tamanho é apenas uma peça do quebra-cabeça.
De qualquer forma, o que é mais inteligente, pensar ou sobreviver? Os seres humanos adoram fazer cogitações, mas, como afirma Goswami, nossa capacidadebetspeedplanejar parece muito fraca, considerando a luta atual para lidar com problemas existenciaisbetspeedlongo prazo, como a crise climática.
Simon Cox acrescenta outra questão: "existem muito mais coisas na vida alémbetspeedter uma avaliaçãobetspeedcapacidade cognitiva superior, ou alto QI."
Ele quase nos faz desejar que nossos cérebros fossem ainda menores.
Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site BBC Future.
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