Como o México está gerando energia limpa a partircactos:
Em 2009, o empresário local Rogelio Sosa Lopez, já bem-sucedido no ramofabricaçãotortilhas a partirfarinhamilho, fez uma parceria com Miguel Angel Ake para fundar a Nopalimex, empresa que cultiva cactos como uma alternativa mais barata ao milho.
Eles descobriram que as plantaçõesnopal produzem entre 300 e 400 toneladasbiomassa por hectareterras menos férteis e até 800 a 1.000 toneladassolos mais ricosnutrientes. O nopal também requer uma quantidade mínimaágua, e seus resíduos, se processados adequadamente, podem ser transformadosbiocombustível.
“Estamos semeando nopal por três razões. A primeira é social: ele gera empregos e evita a emigração. Em segundo lugar, do pontovista econômico, reduz o custo do processamento industrialprodutos à basenopal. Por último e mais importante, há a razão ambiental”, explica Ake.
A expectativa é que o biocombustívelnopal possa ser uma alternativa viável aos combustíveis fósseis na região.
Como funciona a produção
Ake começou a explorar biocombustíveis há mais40 anos, mas a experimentação com cactos teve início2007. Agora,empresa está produzindo combustível suficiente para abastecer os edifícios que processam todas as partes do nopalmaneira sustentável.
Mas ele planeja ir além. Já assinou um termocompromisso com o governo localZitacuaro, no EstadoMichoacán, para fornecer combustível à basecacto para veículos oficiais,carrospolícia a ambulâncias.
“Com a quantidadenopal que temos no México e uma produtividademais100 toneladasgás por acre, acreditamos que (o nopal) pode acabar substituindo o uso tradicionalgás e combustívelfontes não renováveis”, diz ele.
O processo é relativamente simples. Primeiro, os cactos são cortados e processados para extração da farinha, que é usada na fabricaçãotortilhas.
Os resíduos não comestíveis da planta que restam são então misturados com estercovacaum bioprocessador, tanquefermentação que aquece a polpa do cacto desperdiçada. Em seguida, o combustível é destilado a partir do líquido restante e coletado por meiotubosum tanque.
É provável que o usoresíduos agrícolas desempenhe um papel cada vez maior na produçãocombustíveis, diz a pesquisadora Teresa Domenech Aparisi, professoraecologia industrial e economia circular do InstitutoRecursos Sustentáveis da University College London (UCL), no Reino Unido.
"Temos que ampliar os biocombustíveis sem aumentar o consumoágua", afirma. "O futuro deve se voltar especialmente para os resíduos agrícolas e industriais."
Esse métodoproduçãocombustível a partircactos é um exemplo muito bom, acrescenta Domenech Aparisi, porque qualquer tipoproduto agrícola geralmente gera uma quantidade enormeresíduos após a colheita.
Um dos atrativos desse processo é que ele não caiuma grande armadilha da produção convencionalbiocombustíveis.
As culturasmilho, cana-de-açúcar, soja e dendê, que representam 97% dos biocombustíveistodo o mundo, são frequentemente cultivadasgrandes monoculturas.
Isso quer dizer que ocupam terras que poderiam ser usadas para produzir alimentos, destroem habitats e levam a ecossistemas menos equilibrados, alémfazerem uma forte pressão sobre os recursos hídricos e serem associadas à seca.
O diferencial do sistemacactosAke é que ele utiliza resíduosoutra indústria,vezcultivar uma lavoura especificamente para produzir combustível.
"Você tem o produto, mas também o subproduto, que pode ser uma fonteenergia", explica Domenech Aparisi.
Economia circular
A mudançadireção ao biocombustívelcacto é parteum esforço para acabar com a ideia"resíduo" como algo inútil que você deve descartar.
“Atualmente, temos um sistema muito linear. Você extrai produtos da natureza, os transforma e,um período muito curtotempo, às vezes um pouco mais, eles acabam virando resíduos”, diz Domenech Aparisi.
"Em uma economia circular, você tenta manter os recursos e produtos no sistema pelo maior tempo possível, e depois você tem os resíduos para regenerar esses recursos e recuperá-los para o sistema.”
Outro bom exemplocomo os biocombustíveis poderiam funcionaruma economia circular é o café. Quase 500 mil toneladasresíduoscafé são jogados fora todos os anos só no Reino Unido.
Na Escócia, dois empresários estão usando borracafé para extrair óleo como uma alternativa sustentável ao dendê. Em outras partes do Reino Unido, a empresatecnologia limpa Bio-bean coleta resíduoscafé e os transformacombustível.
Desde 2017, pesquisadores da UniversidadeCoventry, também no Reino Unido, estudam como iniciativas inovadoras relacionadas ao café podem nos ajudar a avançardireção a sociedades sustentáveis.
Em um dos projetos, eles descobriram que, do pontovista da economia circular, os grãoscafé torrados podem ser reutilizados como basealguns adubos e são uma boa base para o cultivocogumelos. No entanto, também constataram que ainda há pouco gerenciamentoresíduostodo o setor.
Para as indústriasbiocombustíveis se tornarem realmente circulares, ainda há alguns obstáculos significativos.
“Um dos problemas é a infraestrutura para coletar e depois extrair energia da biomassa", diz Domenech Aparisi.
E isso se refere tanto ao gerenciamentoresíduos a nível doméstico, quanto industrial.
"A expansão não acontece porquemuitos lugares as pessoas não se preocupam com o desperdício. Então, como você realmente define a estrutura e a gestão para que isso aconteça?”
Ouro verde
No México, Juan Francisco Perez pesquisa há maisuma década como produzir biocombustível a partirdiferentes plantas. Ele agora lidera projetos no Cinvestav, centro nacionalpesquisa, analisando diferentes tiposresíduosalimentos para produçãoenergia.
“Quando se tratacacto nopal, eles são muito úteis para produzir combustível, porque são ricosaçúcar, o que é realmente importante para produzir biocombustível e gás biometano. Também é muito conveniente porque no México há muitas terras áridas e semidesérticas, por isso é impossível ter outros tiposlavouras”, diz Perez.
"O nopal precisamuito pouca água", acrescenta.
As múltiplas propriedades do nopal levaram Ake a descrever esse tipocacto como "ouro verde". Até agora, a Nopalimex funciona com a energia que produz a partir do biogás.
"Já estamos produzindo entre sete e oito toneladastortilhas com nopal e energia a partirnopal todos os dias, mas pesquisadores e agricultores ainda estão desenvolvendo usos diferentes para este cacto, por exemplo, como uma alternativa às embalagens, tecidos e resinasplástico", conta Ake.
E não para por aí. Segundo ele, cientistas estão estudando usar resíduosabacate no EstadoMichoacan e Sargasso como possível fontebiocombustível.
Embora todos compartilhem o otimismoque os biocombustíveis podem desempenhar um papel importante na substituição dos combustíveis fósseis, Domenech Aparisi acredita que é preciso alinhar as expectativas com a realidade.
"Eles não vão substituí-los completamente. Teremos tecnologias renováveis, e as biomassas terão uma porcentagem dentro dessas tecnologias na substituição dos combustíveis fósseis", diz ela.
“Já estamostransição para economiasbaixo carbono, mas os biocombustíveis não serão a única solução. Terão que ser combinados com outras formasgeraçãoenergia a partirrecursos renováveis.”
Isso é particularmente importante porque os biocombustíveis à baseresíduos estão entre os tipos de combustível mais sustentáveis que existem, acrescenta Danay Carrillo, pesquisador do Instituto TecnológicoMonterrey, no México.
“Para que os biocombustíveis sejam sustentáveis, é muito importante que pelo menos seu primeiro uso seja para consumo humano,vezcultivar matéria orgânica apenas para produçãocombustível, o que apenas aumentaria o consumoágua e o uso da terra”, explica.
Portanto, não devemos nos surpreender ao encontrar cada vez mais resíduos sendo reaproveitados como fontecombustível, sejamcactos ougrãoscafé. Na verdade, se pretendemos fazer dos biocombustíveis uma parte essencial da matriz energética, precisamos deles.
Com o auxílioestratégias como essas, Carillo estima que,uma década, os biocombustíveisresíduos orgânicos poderão substituir as energias não renováveis no México.
- Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site BBC Future .
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