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Açúcar esaúde: comer muitas coisas doces realmente faz mal para você?:
Hoje, o açúcar se tornou o inimigo número um da saúde pública: é taxado por governos, removido por escolas e os hospitais daquelas máquinasvenda automáticacomida e excluído das dietas recomendadas por especialistas.
Mas, até agora, os cientistas tiveram dificuldadeprovar como isso afeta a nossa saúde, independenteuma dieta ser muito ricacalorias.
É possível encontrar só um culpado?
Uma pesquisa realizada nos últimos cinco anos e publicada no Jornal EuropeuNutrição mostrou que uma dietamais150gfrutose por dia reduz a sensibilidade à insulina - e, portanto, aumenta o riscodesenvolver problemassaúde como pressão alta e elevar os níveiscolesterol.
Mas os pesquisadores também concluíram que esse provável impacto na saúde não ocorre apenas pela alta ingestãoaçúcar, mas por ele levar ao excessocalorias. Seria esse combo o problema.
Há também um argumento ganhando espaçoque demonizar um único alimento é perigoso - e causa uma confusão que nos leva a cortar nutrientes vitais.
O açúcar, também conhecido como "açúcar adicionado", inclui aquele açúcarmesa, adoçantes, mel e sucosfrutas, é extraído, refinado e colocadoalimentos e bebidas para melhorar o sabor.
Mas carboidratos complexos e simples são compostosmoléculasaçúcar que, porvez, durante a digestão se transformamglicose, usada pelas células do corpo para gerar energia e alimentar o cérebro.
Os carboidratos complexos incluem cereais integrais e vegetais. Os carboidratos simples são mais facilmente digeridos e liberam açúcar rapidamente na corrente sanguínea. Eles incluem açúcares encontrados naturalmente nos alimentos que ingerimos, como frutose, lactose, sacarose e glicose, e outros, como xaropemilho com alto teorfrutose, que são feitos pelo homem.
Antes do século 16, somente os ricos podiam comprar açúcar. Mas essa oferta se expandiu com o comércio colonial.
Então, na década1960, o desenvolvimento da conversãolarga escalaglicosefrutose levou à criação do xaropemilho com alto teorfrutose, que é um concentradoglicose e frutose.
Essa potente combinação, acimaqualquer outro tipoaçúcar, é a que muitos defensores da saúde pública consideram a mais letal - e é no que muitas pessoas pensam quando se fala"açúcar".
Corrida do açúcar
O consumoxaropemilho com alto teorfrutose nos Estados Unidos aumentou dez vezes entre 1970 e 1990, mais do que qualquer outro grupoalimentos. Pesquisadores apontaram que isso tem relação com o aumento da obesidadetodo o país.
Enquanto isso, bebidas açucaradas, que geralmente usam xaropemilho ricofrutose, têm sido fundamentais para a pesquisa que examina os efeitos do açúcarnossa saúde.
Uma meta-análise88 estudos encontrou uma ligação entre o consumobebidas açucaradas e o peso corporal. Em outras palavras, as pessoas não compensam totalmente a obtençãoenergiarefrigerantes consumindo menosoutros alimentos - possivelmente porque essas bebidas aumentam a fome ou diminuem a saciedade.
Os pesquisadores concluíram que, embora a ingestãorefrigerantes e açúcares adicionados tenha aumentado junto com a obesidade nos EUA, os dados representam apenas amplas correlações. E nem todos concordam que o xaropemilho ricofrutose é o fator determinante na crise da obesidade.
Alguns especialistas apontam que o consumo do açúcar tem diminuído nos últimos dez anospaíses como os EUA, mesmo com o aumento dos níveisobesidade. Há também epidemiasobesidade e diabetesáreas onde há pouco uso ou nenhumxaropemilho ricofrutose, como na Austrália e na Europa.
O xaropemilho com alto teorfrutose não é o único tipoaçúcar considerado problemático. O açúcar adicionado, particularmente a frutose, é acusadouma variedadeproblemas.
Alguns especialistas dizem que ele causa doenças cardíacas. Isso porque quando as células do fígado quebram a frutose, um dos produtos finais é o triglicerídeo - uma formagordura -, que pode se acumular nas células do órgão com o tempo. Quando o triglicerídeo é liberado na corrente sanguínea, pode contribuir para o crescimentoplacasgordura dentro das paredes das artérias.
Um estudo que durou 15 anos pareceu confirmar isso: descobriu-se que as pessoas que consumiram 25% ou maissuas calorias diárias na formaaçúcar adicionado tinham duas vezes mais probabilidademorrerdoenças cardíacas do que aquelas que consumiam menos10%.
O diabetes tipo 2 também é atribuído ao consumoaçúcar adicionado. Dois grandes estudos na década1990 descobriram que as mulheres que consumiam maisum refrigerante ou sucofrutas por dia tinham duas vezes mais chancesdesenvolver diabetes do que aquelas que raramente o faziam.
Vício
Mas, novamente, não está claro se isso significa que o açúcar realmente causa doenças cardíacas ou diabetes.
Luc Tappy, professorfisiologia na UniversidadeLausanne, na Suíça, é um dos muitos cientistas que argumentam que a principal causadiabetes, obesidade e pressão alta é a ingestão excessivacalorias, e que o açúcar seria apenas um componente disso.
"Mais energia ingerida do que gasta irá, a longo prazo, levar à deposiçãogordura, à resistência à insulina e a um fígado gorduroso, independentemente da composição da dieta", diz ele. "Em pessoas com uma alta produçãoenergia combinada com uma também alta ingestãoenergia, até mesmo uma dieta ricafrutose/açúcar será bem tolerada."
Tappy aponta que os atletas, por exemplo, muitas vezes consomem mais açúcar, mas têm menores taxasdoença cardiovascular: a alta ingestãofrutose pode ser metabolizada durante o exercício para aumentar o desempenho.
No geral, são escassas as evidênciasque o açúcar adicionado causa diretamente diabetes tipo 2, doenças cardíacas, obesidade ou câncer. Sim, ingestões mais altas estão associadas a essas condições. Mas os ensaios clínicos ainda precisam estabelecer que elas são causadas por esse alimento.
O açúcar também tem sido associado ao vício, mas também não há uma conclusão científica sobre isso.
Uma análise publicada no British Journal of Sports Medicine,2017, citou descobertasque camundongos podem experimentar a abstinênciaaçúcar e argumentam que a substância produz efeitos semelhantes aos da cocaína, como o desejo.
Mas o jornal britânico foi amplamente acusadointerpretar erroneamente as evidências. Uma das principais críticas foi aque os camundongos tinham o consumoaçúcar restringido por duas horas por dia. Se você permitisse que eles consumissem açúcar sempre que quisessem, o que refletiria a maneira como nós humanos o consumimos, eles não mostrariam comportamentos semelhantes aos do vício.
Ainda assim, estudos demonstraram outras maneiras pelas quais o açúcar afeta nossos cérebros.
Felicidade instantânea
Matthew Pase, pesquisador do CentroPsicofarmacologia HumanaSwinburne, na Austrália, examinou a associação entre o consumobebidas açucaradas e os marcadoressaúde cerebral determinados por examesressonância magnética.
Aqueles que bebiam refrigerantes e sucosfrutas com mais frequência exibiam menores volumes cerebrais e menos memória.
Quem consumia duas bebidas açucaradas por dia tinha o cérebro envelhecido por dois anoscomparação ao daquelas pessoas que não bebiam nada. Mas Pase explica que, uma vez que ele mediu apenas o consumosucofrutas, não pode ter certezaque apenas o açúcar é o que afeta a saúde do cérebro.
"As pessoas que bebem mais sucofrutas ou refrigerantes podem compartilhar outros hábitos alimentares ouestilovida relacionados à saúde do cérebro. Por exemplo, eles também podem se exercitar menos", diz Pase.
Um estudo recente descobriu que o açúcar pode até ajudar a melhorar a memória e o desempenhoadultos mais velhos. Pesquisadores deram aos participantes uma bebida contendo uma pequena quantidadeglicose e pediram que realizassem várias tarefasmemória. Outros participantes receberam uma bebida contendo adoçante artificial. Eles mediram os níveisengajamento dos participantes, a capacidadememória e a própria percepçãoo quanto tiveram que se esforçar para a atividade.
Os resultados sugerem que consumir açúcar pode tornar as pessoas mais motivadas a realizar tarefas difíceisplena capacidade - sem que se sintam como se tentassem com mais afinco. O aumento dos níveisaçúcar no sangue também fez com que eles se sentissem mais felizes durante a tarefa.
Adultos mais jovens apresentaram aumentoenergia após consumir bebida com glicose, mas isso não afetou o humor ou a memória deles.
Embora as diretrizes atuais indiquem que os açúcares adicionados não devem representar mais5%nossa ingestão diáriacalorias, a nutricionista Renee McGregor diz que é importante entender que uma dieta saudável e balanceada não é igual para todo mundo.
"Eu trabalho com atletas que precisam tomar mais açúcar quando têm um trabalho duro porque é facilmente digerível. Mas eles se preocupam com o fatoestarem passando os limites do que é recomendado", diz ela.
Sem vilanizar
Para a maiorianós, não-atletas, é verdade que o açúcar adicionado não é essencial para uma dieta saudável. Mas alguns especialistas alertam que não devemos identificá-lo como tóxico. McGregor, cujos clientes incluem aqueles com ortorexia, fixação com uma alimentação saudável, diz que não é saudável rotular os alimentos como "bons" ou "ruins".
E transformar o açúcarum tabu só pode torná-lo mais tentador. "Assim que você diz que não pode ter algo, você quer", diz ela. "É por isso que eu nunca digo que nada está fora dos limites. Eu direi que um alimento não tem valor nutricional. Mas às vezes os alimentos têm outros valores."
Alan Levinovitz, professor associado da Universidade James Madison, nos EUA, estuda a relação entre religião e ciência. Ele diz que há uma razão simples para considerar o açúcar como um mal: ao longo da história, nós demonizamos as coisas que achamos mais difíceisresistir (pense no prazer sexual nos tempos vitorianos). Hoje, fazemos isso com o açúcar para ganhar controle sobre os desejos.
"O açúcar é intensamente prazeroso, então temos que ver isso como um pecado fundamental. Quando vemos as coisas com uma dicotomia simples, entre bom e mau, torna-se impensável que essa coisa maligna possa existir com moderação. Isso está acontecendo com o açúcar", diz ele.
Levinovitz argumenta que ver os alimentostais extremos pode nos deixar ansiosos sobre o que estamos comendo - e acrescentar um julgamento moral a algo que é necessário e diário: decidir o que comer.
Tirar o açúcar das nossas dietas pode até ser contraproducente: pode significar substituí-lo por algo potencialmente mais calórico, como se você substituísse uma gordura por um açúcaruma receita. Emeio ao crescente debatetorno do açúcar, arriscamo-nos a confundir esses alimentos e bebidas com o açúcar adicionado que não têm outros nutrientes essenciais, como refrigerantes, com alimentos saudáveis que contêm açúcares, como frutas.
Uma pessoa que lutou com essa distinção é Tina Grundin,28 anos, da Suécia, que diz que costumava pensar que todos os açúcares não eram saudáveis.
Ela seguiu uma dieta vegana ricaproteínas egorduras, que, segundo ela, a levou a um distúrbio alimentar não diagnosticado.
"Quando comecei a vomitar depoiscomer, sabia que não poderia continuar por muito mais tempo. Eu cresci com medoaçúcartodas as formas", diz ela. "Então percebi que havia uma diferença entre o açúcar adicionado e o açúcar como um carboidrato e adotei uma dieta ricafrutose e alto teoramido com açúcares naturais encontradosfrutas, legumes, amidos e legumes."
"Desde o primeiro dia, foi como se a névoa tivesse se dissipado e eu pudesse ver claramente. Eu finalmente dei combustível às minhas células, encontrado na glicose dos carboidratos, dos açúcares."
Embora haja discordância sobre como os diferentes tiposaçúcar afetam nossa saúde, talvez seja melhor pensarmos menos nisso.
"Nós realmente complicamos a nutrição porque, fundamentalmente, o que todo mundo está procurando é a necessidadese sentir completo,se sentir perfeito e bem-sucedido", diz McGregor. "Mas isso não existe."
Leia a versão original desta reportagem (em inglês ) no site BBC Future .
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