Arquitetura: o que aconteceu com os monumentos fascistas após o fascismo:aposta ganha fc
A arquitetura é linear, monótona e dominante, com pórticosaposta ganha fccolunas altas e retangulares e arcos estranhos que se repetem pelas avenidas como viadutos para lugar nenhum.
Em meio a este conjunto sombrio, duas estruturas se destacam.
A primeira é o prédio do Departamento Fiscal da cidade, um enorme bloco cinza adornado com um baixo-relevo gigantesco que representa - por meioaposta ganha fc57 painéis esculpidos - a ascensão do fascismo italiano, desde a Marcha sobre Roma até as conquistas coloniais na África.
No centro, há uma representaçãoaposta ganha fcMussolini a cavalo, com o braço direito estendidoaposta ganha fcuma saudação romana.
É uma peça notável da arquitetura fascista - imponente, odiosa e desconcertante ao mesmo tempo.
A segunda é o Monumento da Vitória, um impressionante arco feitoaposta ganha fcmármore branco, com colunas esculpidas para lembrar fasces, o feixeaposta ganha fcbastões que simbolizava o movimento fascista.
Tem uma presença etérea, quase fantasmagórica, se erguendo como uma miragem próximo aos prédiosaposta ganha fcapartamentos cinzentos e às árvores verdes que o cercam.
Ao longoaposta ganha fcseu friso, uma inscriçãoaposta ganha fclatim diz: "Aqui, na fronteira da pátria, estabelecemos a bandeira. A partir deste ponto, educamos os outros com a língua, a lei e a cultura".
Erguidoaposta ganha fc1928, atualmente é envolto por uma cerca altaaposta ganha fcmetal. Foi pontoaposta ganha fcencontro para passeatasaposta ganha fcextrema-direita e objetoaposta ganha fcvárias tentativasaposta ganha fcexplosão.
O historiador Jeffrey Schnapp o descreveu como "o primeiro monumento verdadeiramente fascista".
Hoje, no entanto, estas duas peças arquitetônicasaposta ganha fcpropaganda fascista são o elemento centralaposta ganha fcum experimento ousado que aborda o debateaposta ganha fctornoaposta ganha fcmonumentos contestados - e que oferece um modeloaposta ganha fcsolução para outras comunidades divididas entre derrubar ou manter monumentos com conotações racistas, imperialistas ou fascistas.
Antes da Primeira Guerra Mundial, Bolzano (ou Bozen como é conhecidaaposta ganha fcalemão - ambos os nomes são oficiais) era a maior cidade do Tirol do Sul, uma província montanhosa dentro do Império Austro-Húngaro.
Tanto a cidade quanto a Província eram predominantementeaposta ganha fclíngua alemã, mas na Conferênciaaposta ganha fcPaz,aposta ganha fc1919, foram concedidas à Itália por motivosaposta ganha fcsegurança.
O Tirol do Sul proporcionaria à Itália uma fronteira natural ao norte ao longo dos Alpes e o controle da estratégica Passagemaposta ganha fcBrennero.
Como uma cidadeaposta ganha fcfronteira com população majoritariamente não italiana, foi submetida a uma políticaaposta ganha fcintensa italianização sob o regimeaposta ganha fcMussolini.
Os nomes dos lugares foram alterados, as instituições culturais tirolesas foram fechadas, e o alemão - a língua nativaaposta ganha fc90% da Província - foi efetivamente banido.
Um novo bairro enorme e uma zona industrial foram construídos do outro lado do rioaposta ganha fcBolzano, e milharesaposta ganha fcitalianos foram incentivados a se instalar.
A nova cidade foi adornada com inúmeros monumentos e edifícios dedicados à "glória" do fascismo.
Após a guerra, o governo italiano tentou se redimir das políticas fascistas, concedendo aos habitantes do Tirol do Sul um alto nívelaposta ganha fcautonomia.
Os direitos culturais e linguísticos seriam respeitados, os empregos públicos seriam alocados proporcionalmente com base no idioma e 90% da receita tributária permaneceriam dentro da região.
No entanto, a paisagem dos monumentos fascistas permaneceu uma fonteaposta ganha fcatrito.
"Para os falantesaposta ganha fcalemão, eram um símbolo do processoaposta ganha fcitalianização fascista que tentou aniquilaraposta ganha fccultura e língua. Eles queriam que os monumentos fossem derrubados", diz Andrea Di Michele, professoraposta ganha fcHistória Contemporânea da Universidadeaposta ganha fcBolzano.
"Enquanto os italianos, agora maioriaaposta ganha fcBolzano, mas cercados por uma Província predominantementeaposta ganha fclíngua alemã, se apegaram ao Monumento da Vitóriaaposta ganha fcparticular como um símbolo não do fascismo, masaposta ganha fcsua identidade italiana na região".
O vandalismo persistente e as tentativasaposta ganha fcbombardeio resultaramaposta ganha fcum grande portãoaposta ganha fcmetal erguido ao redor do Monumento da Vitória, enquanto o Departamento Fiscal teve que ser vigiado 24 horas por dia por policiais militares.
As duas construções foram usadas como pontoaposta ganha fcencontro para marchas rivais entre gruposaposta ganha fcextrema-direitaaposta ganha fclíngua italiana e alemã.
Tentativas frequentesaposta ganha fcresolver o conflito acabaram fracassando, resultandoaposta ganha fcincompreensão mútua.
A Itália não é o único país que luta com o legado arquitetônicoaposta ganha fcsua era fascista.
Na Espanha, um "pactoaposta ganha fcesquecimento" fez com que os monumentos fascistas da era franquista permanecessem praticamente intocados até 2007, quando a Lei da Memória Histórica forneceu um marco legal paraaposta ganha fcremoção.
Em 2010, uma inscrição glorificando Franco foi retirada do friso do Conselho Nacionalaposta ganha fcPesquisa da Espanha, deixandoaposta ganha fcgrande parte uma telaaposta ganha fcbranco.
E a última estátua públicaaposta ganha fcFranco foi removidaaposta ganha fcfevereiroaposta ganha fc2021, uma iniciativa contestada pelo Vox, o terceiro maior partido político da Espanha.
Edifícios grandes demais para serem removidos continuam a representar um desafio.
A Universidadeaposta ganha fcGijon é o maior edifício da Espanha, construído durante os primeiros anos do regimeaposta ganha fcFrancoaposta ganha fcestilo neoherreriano, e descrito como tendo "valor arquitetônico excepcional".
Mesmo assim, o conselhoaposta ganha fcesquerda da região vetou repetidamente as tentativasaposta ganha fcindicá-lo para ser reconhecido pela Unesco, argumentando que "um edifício ligado ao franquismo não pode ser um Patrimônio da Humanidade".
O patrimônio arquitetônico mais notórioaposta ganha fcFranco é o Vale dos Caídos - um complexo gigantesco que contém uma basílica, uma hospedaria, vários monumentos, uma enorme cruz e um mausoléu contendo os restos mortaisaposta ganha fcmaisaposta ganha fc30 mil pessoas.
Franco pretendia que fosse um monumentoaposta ganha fcreconciliação nacional, eaposta ganha fccripta foi consagrada pelo Papa João 23aposta ganha fc1960.
Mas outros o consideram uma exaltação do franquismo e o compararam a um campoaposta ganha fcconcentração nazista.
Em 2019, os restos mortaisaposta ganha fcFranco foram exumados e removidos e,aposta ganha fc2020, o governo propôs transformar o localaposta ganha fccemitério civil.
Mas o debate permaneceuaposta ganha fcgrande parte binário - remoção ou preservação, com pouco meio termo.
O legado contestado da Guerra Civil Espanhola e do regime franquista é o que torna o debate tão polarizado e complexo.
Na Alemanha, enquanto isso, você teria dificuldade para encontrar qualquer arquitetura nazista.
A maior parte foi destruída durante a guerra, ou pouco depois, como parte do processoaposta ganha fcdesnazificação do país.
Edifícios fascistas sobreviventes foram simplesmente redefinidos, removendo suásticas e outros símbolos fascistas -sobretudo no Estádio Olímpicoaposta ganha fcBerlim.
Outras construções, como a sede dos congressosaposta ganha fc1935aposta ganha fcNuremberg, foram escolhidas para abrigar centrosaposta ganha fcdocumentação nazistas, seu monumentalismo visto como símbolo da arrogância e megalomania das ambições arquitetônicasaposta ganha fcHitler.
Na Itália, o bairro EURaposta ganha fcRoma foi concebido por Mussolini como uma celebração arquitetônica do fascismo.
Ao vagar poraposta ganha fcpaisagem misteriosa, você se depara com o Palazzo della Civiltà Italiana (também conhecido como Coliseu Quadrado), cuja fachada é estampada com uma citação retirada do discursoaposta ganha fcMussolini anunciando a invasão da Etiópia.
Ao norte do centro da cidadeaposta ganha fcRoma fica o complexo esportivo Foro Italico, cuja entrada apresenta um obeliscoaposta ganha fc17,5 maposta ganha fcaltura com as palavras Mussolini Dux gravadas.
Dentro do Foro Italico, está A Apoteose do Fascismo, uma pintura que retrata Mussolini como uma espécieaposta ganha fcDeus-Imperador.
Foi coberto pelos Aliadosaposta ganha fc1944 por ser muito grotesco e, depois, descoberto pelo governo italianoaposta ganha fc1996.
"Na Itália, que permitiu que seus monumentos fascistas sobrevivessem inquestionáveis, o risco é outro", escreve a historiadora Ruth Ben-Ghiat.
"Se os monumentos são tratados meramente como objetos estéticos despolitizados, então, a extrema direita pode se aproveitar da ideologia cruel enquanto todo mundo se habitua."
Espaços contestados
Em 2014, um grupo intercomunitárioaposta ganha fchistoriadores e artistasaposta ganha fcBolzano se reuniu para discutir como resolver o que estava se tornando uma disputa cada vez mais fragmentada e emocionalmente desgastante.
A dinâmica social da cidade transformou os edifíciosaposta ganha fcespaços contestados, criando uma necessidade e um sensoaposta ganha fcurgência para que uma solução fosse encontrada.
"A escolha binária era destruir os monumentos ou deixá-losaposta ganha fcpé", diz Hannes Obermair, professoraposta ganha fcHistória Contemporânea da Universidadeaposta ganha fcInnsbruck e um dos especialistas encarregadosaposta ganha fcencontrar uma solução para a questãoaposta ganha fcBolzano.
"Mas, se você remover os monumentos, você remove as evidências e evita lidar com as camadas complexasaposta ganha fchistória e identidade que impulsionam essa disputa. Alternativamente, manter os monumentos sem desafiá-los simplesmente normalizaaposta ganha fcretórica fascista."
No final, foi encontrada uma solução criativa, que conseguiu unir a cidade e aliviar a tensão entre as duas comunidades.
A solução foi "recontextualizar" os monumentos, mantendo aaposta ganha fcintegridade artística e importância histórica, ao mesmo tempo que neutralizam e subvertem aaposta ganha fcretórica fascista.
"Foi uma oportunidade para a cidade ter uma conversa honesta sobreaposta ganha fchistória", avalia Obermair.
"As disputas são menos sobre o passado do que sobre o presente. Então, que tipoaposta ganha fcsociedade somos agora? Somos uma sociedade dividida por ideologias do passado ou somos uma sociedade democrática e pluralista que acredita nos valoresaposta ganha fcparticipação, tolerância e respeito pela humanidade?"
Vamos começar pelo Monumento da Vitória, que despertou fortes emoçõesaposta ganha fcambos os lados. É explicitamente fascista, exaltando a conquista e colonização do Tirol do Sul e a suposta superioridade da civilização latina.
Mas também é visto como uma celebração da vitória italiana na Primeira Guerra Mundial e um memorial aos soldados italianos mortosaposta ganha fccombate.
O monumento também tem um valor histórico significativo - como o primeiro monumento fascistaaposta ganha fcqualquer lugar do mundo - e mérito artístico, sendo um exemplo eminente do Racionalismo Italiano, movimento agora visto como importante para o desenvolvimento da arquitetura moderna, assim como a Art Déco francesa e a Escolaaposta ganha fcBauhaus alemã.
Alguns dos mais importantes arquitetos e artistas italianos da época trabalharam no monumento, incluindo Marcello Piacentini e Adolfo Wildt.
A primeira intervenção foi colocar um anelaposta ganha fcLEDaposta ganha fctornoaposta ganha fcuma das colunas, sufocando simbolicamente a retórica fascista sem prejudicar a integridade artística do monumento.
Em seguida, um museu foi construídoaposta ganha fcuma cripta embaixo do prédio, detalhando a turbulenta história modernaaposta ganha fcBolzano, contextualizando a criação do monumento e explorando o debateaposta ganha fctorno dele.
Depois, veio o baixo-relevo. A tarefa coube a dois artistas locais, Arnold Holzknecht e Michele Bernardi.
A ideia deles era simples: pegar um prédio com retórica explicitamente fascista e recontextualizá-lo como um monumento antifascista.
Os artistas decidiram estampar a fraseaposta ganha fcHannah Arendt "Ninguém tem o direitoaposta ganha fcobedecer"aposta ganha fctodo o frisoaposta ganha fcalemão, italiano e ladino — as três línguas oficiais da região.
A citação é ainda mais subversiva quando você lembra que o prédio abriga atualmente a Receita Federal da cidade.
"Deixar os monumentos in situ permite contemplar o contextoaposta ganha fcque foram criados", explica Di Michele, que também foi membro da força-tarefa intercomunitária.
"Cria um diálogo sobre eles e sobre o fascismoaposta ganha fcgeral, e nos permite entender melhor o forte impacto urbano da arquitetura fascista e as dimensõesaposta ganha fclongo alcance das intervenções artísticas. Se você os transfere para uma salaaposta ganha fcmuseu, não consegue entender o impacto que pretendiam ter e tiveram na cidade, no traçado urbano e simbólico."
As intervenções artísticas foram um enorme sucesso, elogiadas por políticos e membros da sociedade civilaposta ganha fcambas as comunidades.
Ainda há tensões ocasionais, mas não sobre as construções. Este capítulo foi encerrado. Eles conseguiram até neutralizar os comícios extremistas que estavam contaminando a cidade.
"A extrema-direita italiana costumava se reunir todos os anosaposta ganha fcfrente ao baixo-relevo e fazer a saudação fascista", diz Obermair.
"Mas com a citaçãoaposta ganha fcArendt lá, eles se sentem humilhados. Então, pararamaposta ganha fcvir. Da mesma forma, os gruposaposta ganha fcextrema direita da comunidadeaposta ganha fclíngua alemã costumavam se reuniraposta ganha fcfrente ao Monumento da Vitória para dizer: 'Veja como a Itália está nos oprimindo ', mas agora eles não podem mais dizer isso. Nós destruímos seus brinquedos, por assim dizer."
Obermair está entusiasmado com o fatoaposta ganha fco modeloaposta ganha fcBolzano poder ser replicado com sucessoaposta ganha fcoutras partes da Itália, assim comoaposta ganha fcoutros países que lutam com legados fascistas divisivos e complexos, como a Espanha.
O modelo deles também oferece uma solução para o debate sobre estátuas no Reino Unido e nos EUA.
"Claro que o contexto socialaposta ganha fcBolzano é importante, e cada comunidade precisa imaginaraposta ganha fcprópria intervenção artística", explica Obermair.
"Mas a ideia básica,aposta ganha fcque não devemos destruir monumentos, mas transformá-los radicalmente, é poderosa. Isso fornece à população ferramentas para refletir sobre a história, questionar ideologias e analisar criticamente o ambiente construído ao seu redor. Nenhuma arquitetura é neutra. Em última análise, somos nós, não os monumentos, que devemos ter a palavra final."
aposta ganha fc Leia a versão original aposta ganha fc desta reportagem (em inglês) no site BBC Culture aposta ganha fc .
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