Lois Weber: a pioneira diretoracinema que chocou o mundo:
Esse argumento historicamente preciso pode ser aplicado à ascensão e quedaLois Weber. Uma vez uma força dominante na indústria, ela e outras mulheres foram apagadas quando os homens dominaram Hollywood.
"Eu cresciuma indústria onde todos estavam tão ocupados aprendendo seu ramo particular do novo mercado que ninguém tinha tempo para perceber se uma mulher estava conseguindo conquistar espaço", relembra Weber. Criada no Estado da Pensilvânia, nos EUA, ela cantava naigrejamissões evangélicas pelas ruas e, mais tarde, viu nos filmes uma maneirapregar uma mensagem social.
Mas ela sempre foi uma rebelde. Ela foi aos palcos quando isso ainda significava uma mancha na reputação e deixou o teatro ao se casar com o ator Phillips Smalley. Juntos, eles começaram a fazer filmes, mas logo ficou claro que Lois era a força criativa.
Umseus primeiros filmes, Suspense (1913) é visto, até hoje, como uma pequena obraarte. Com 11 minutosduração, é comparável ao melhorHitchcock. Weber interpreta "a esposa", que está sozinha com seu bebêuma casa remota quando um homem, chamado"o vagabundo", tenta invadi-la.
Com o impostor na porta, a esposa liga para seu marido, que está no escritório, e Weber divide a telatrês triângulos para que possamos ver os três personagens ao mesmo tempo. Há um close-up do olho do invasor observando através do buraco da chave.
Weber usa artifícios que estamos acostumados a ver hoje nos filmessuspense, como uma cenaum fiotelefone sendo cortado com uma faca. A tensão é enorme - graças às técnicas pioneirasedição cinematográfica. Mesmo se Suspense fosse a única obraWeber, ainda assim ela seria uma figura importante na história do cinema.
Nem todos seus filmes eram divertidosse assistir, como o Hipocrytes(Hipócritas, 1915), no qual ela usa várias alegorias para expor a hipocrisia social. Um pastor prega emcongregação e o filme volta no tempo para mostrá-lo sonhando que é um monge medieval talhando a Verdade Nua.
O ator interpretando o monge é altamente teatral, como muitos atores da época, e usa mais delineador que as mulheres do filme. Mas Hipocrytes é lembrado pela cenaque a estátua ganha vida como uma mulher nua, translúcidadupla exposição, brincando através da tela.
Historiadores ainda discordam sobre o fatoela ter usado ou não um collant, mas a nudez era convincente o suficiente para causar revoltaalguns conselhoscensura do governo americano. Weber disse que a nudez não era uma jogada publicitária e defendeu a delicadeza da imagem.
"Eu esperava que a foto agisse como uma força moral", afirmou. Em outra cena num comício político, por exemplo, a mulher nua segura um espelhomão e uma legenda aparece dizendo "a verdade faz a política se olhar no espelho". De maneira astuta, as obrasWeber ao mesmo tempo entretinham e pregavam para a audiência.
No ano seguinte, Weber estava no augesua fama, lançando trêsseus mais importantes filmes. Shoes (Sapatos), de1916, está entre os mais fortes e é a obra que provavelmente mais agradaria ao públicohoje. Já não há atuações exageradas na históriauma garota chamada Eva, que ajuda a sustentar seus pais indigentes e suas irmãs trabalhandouma loja. Seus sapatos são repletosburacos e estãopedaços e ela não tem dinheiro para comprar um novo par com seu salário minúsculo.
Ela fica tão desesperada que decide dormir com um lascivo cantorboate. Interpretando a atendenteloja, a atriz Mary Maclaren ainda parte nosso coração conforme a vemos tomandodecisão, vestindo-se para seu encontro com o cantor e transparecendo tristeza ao se olharum espelho quebrado. O filme fica escuro depois que ela o encontra na boate, mas no dia seguinte ela estásapatos novos.
O filme se torna excepcional por não julgar Eva. Um pôsterpropaganda do filme o descreveu como "três semanas cheiasacontecimentos na vidauma garota semiescrava que é levada ao pecado sem ter culpa disso". Weber atacava desigualdade social e ideias conservadoras, não as pessoas que eram vítimas dela.
A ousada
Seu filme mais controverso naquele ano, Where Are My Children? (Onde Estão Meus Filhos?), fala sobre anticoncepcionais e abortouma épocaque ambos eram ilegais nos EUA. A história começa com um promotor acusando um homempromover "literatura indecente" - um panfleto com informações sobre contracepção.
Um texto introdutório diz: "todas as pessoas inteligentes sabem que a contracepção é um assuntointeresse público". Nem todas. Seu Estado natal, Pensilvânia, baniu o filme dizendo que "não é apropriado para pessoas decentes o assistirem". Outros Estados foram mais permissivos e o filme se tornou o mais bem-sucedido da Universal Pictures daquele ano.
Por mais avançado que fosse o pensamentoWeber,alguns pontos, Onde Estão Meus Filhos? perde o sentido hoje. O filme é sobre a esposa do promotor, que leva suas amigas frívolas a um médico que faz aborto, Dr. Malfit, e ela mesma aborta. As legendas do filme mudo moralizam seu egoísmo por não ter criança, o que era considerado dever da mulherclasse média - o único filhoWeber e Smalley havia morrido ainda criança cinco anos antes.
Seja como for, Weber ousou pelo simples fatotrazer à luz a discussão sobre contraceptivos.
Talvez ela tenha sido a primeira mulher a dirigir grandes cenasação, no filme The Dumb Girl of Portici(A Garota EstúpidaPortici),1916. A bailarina russa Anna Pavlova estrela nessa obra, que se passa na Itália no final do século 17, quando a região era governada por representantes do rei da Espanha. Pavlova interpreta uma pescadora muda seduzida por um homem nobre. Ela não dança nem se move muito no filme.
Um dos filmes mais caros da época, The Dumb Girl of Portici inclui várias cenas com multidões perfeitamente orquestradas. Fileirassoldados montadosseus cavalos tomam o centro da cidade. Uma demonstração massiva acontece no ladofora do palácio do governador. Quando soldados atacam os plebeus, ocorre um grande tumulto.
Na época, Weber era citada ao ladoD.W. Griffith entre os mais importantes diretorescinemaatuação. Em termosperíodo histórico, montagens elaboradas e escopo, The Dumb Girl of Portici é o seu filme que mais se assemelha aosGriffith. É também o seu filme menos típico, mas marca outra quebraparadigmas. Diretorasfilmesação que só agora estão ganhando espaço na indústria podem não saber que Weber chegou lá antes.
Mas nos anos 1920, o mundo mudou muito, e depressa. O público perdeu o gosto por filmes com consciência social. Os filmes com som chegaram. E, principalmente, segundo vários historiadoresfilmes como Cari Beachamp, os homens perceberam que esse negóciofazer filmes poderia realmente dar dinheiro. Quando os filmes se tornaram um grande negócio, diz Beauchamp, "os homens queriam os empregos" - e os conseguiram.
Mas Weber continuou fazendo filmes, incluindo um com som - seu último -1934. Ela se divorciou e depois se casou com um homem que roubou seu dinheiro e a deixou.
Recentemente, ela foi redescoberta. Seus filmes foram apresentadosfestivais e exibições especiaistodo o mundo. Vários estão disponíveisDVD e serviçosstreaming. Uma caixaDVDs intitulada Pioneers: First Women Filmmakers(Pioneiras: As Primeiras Diretoras Mulheres) inclui vários filmes seus. Eles também estão na Netflix, incluindo Suspense.
A Milestone Films lançou DVDs dos filmesWeber nos EUA e no Reino Unido, incluindo The Dumb Girl of Portici e Shoes. Enquanto muitos filmes sem som tinham trilhaspastelões do grupo Keystone Cops, essa versãoSapatos inclui uma nova partituraDonald Sosin e Mimi Rabson que é tão eloquente e contida quanto a atuaçãoMary Maclaren.
E recentemente foi lançado um livroentrevistas com e artigos sobre a cineasta, intitulado Lois Weber: Interviews(Lois Weber: Entrevistas, editado por Martin F, Norden e publicado pela editora University Press of Mississippi).
É uma pena que levou um século para Weber voltar, mas talvez ela não se surpreendesse com isso. Em 1928, ao ver Hollywood mudar, ela escreveu um artigojornal exigindo mais oportunidades para diretoras mulheres. "As mulheres entrando na indústria agora a encontram praticamente fechada", escreveu. "Um homem começando não teria tantos obstáculos". Ela estava muito à frenteseu tempochamar atenção para isso também.
- Leia a versão original desta matéria (em inglês) no site da BBC Culture
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