O filmemelhores apostasHitchcock que era chocante demais para ser feito:melhores apostas

Caleidoscópio foi considerado tão transgressor que nem mesmo o homem por trásmelhores apostasPsicose pôde produzi-lo.

Após dois fracassos, um projeto 'perturbador demais'

Hitchcock esperava que o filme começasse a ser feitomelhores apostas1967. Ele já havia recebido um Oscar honorário, o prêmio Irving G. Thalberg, e o livromelhores apostasentrevistas do cineasta francês François Truffaut (1932-1984) com ele havia sido recém publicado. Portanto, seu lugar no panteão dos grandes diretores estava garantido.

Por outro lado, seus últimos dois lançamentos, Marnie - Confissõesmelhores apostasUma Ladra (1964) e Cortina Rasgada (1966), haviam sido uma decepção.

Cortina Rasgada, o 50º filmemelhores apostasHitchcock, foi excepcionalmente mal recebido. "Há um quêmelhores apostasdistração no filme", escreveu Richard Schickel na revista Life, "como se o mestre não estivesse realmente prestando atenção no que estava fazendo."

Schickel continuoumelhores apostascrítica dizendo que era um filme "mecânico", obramelhores apostasum diretor "cansado" que repetia "triunfos passados". Algo deveria ser feito.

Em 1964, Hitchcock havia registrado um esboçomelhores apostasroteiro com o Writers' Guild, o sindicato americanomelhores apostasroteiristas. Inspirado por dois assassinosmelhores apostassérie ingleses que foram enforcados na décadamelhores apostas1940, Neville Heath e John George Haigh, a ideia era fazer uma história a partirmelhores apostasA Sombramelhores apostasUma Dúvida (1943).

Nesse filme, Joseph Cotten interpreta o chamado Assassinomelhores apostasViúvas. Não vemos ele assassinando nenhuma viúva, mas Hitchcok sentiu que poderia ser mais explícito nos permissivos anos 1960. Ele não apenas poderia mostrar um serial killer seduzindo e assassinando suas vítimas, mas fazer com que ele fosse o protagonista.

O diretor pediu a Robert Bloch, autormelhores apostasPsicose, para escrever um romance baseado namelhores apostasideia, que ele então adaptaria para o cinema.

Bloch teria achado o material "perturbador demais"melhores apostas1964. Hitchcock pediu então ao seu antigo amigo Benn Levy para escrever um roteiromelhores apostas1966, e ele não fez objeções.

Suas primeiras anotações começam com o macabro comentáriomelhores apostasque "a históriamelhores apostasNeville Heath é um presente dos céus". Ele afirma que uma das sequênciasmelhores apostassedução "deveria ser a cena mais horripilante já vista nas telas" e que a perseguição pela polícia deveria ser vista "mais do pontomelhores apostasvista do perseguido do que dos perseguidores".

Assassinatos, homossexualidade e nudezmelhores apostascena

Mas Hitchcock foi mais longe. Ele escreveu seu próprio rascunho para o roteiro, a primeira vez que o fez desde Agoniamelhores apostasAmor (1947). Passadamelhores apostasNova York,melhores apostasversãomelhores apostasCaleidoscópio reimaginou Heath como um filhinhomelhores apostasmamãe bonitão chamado Willie Cooper.

Seu lado homicida vem à tona com água, por isso as locações das três cenas principais do roteiro: uma cachoeira onde ele mata um funcionário da ONU, um naviomelhores apostasguerra enferrujadomelhores apostasum porto emelhores apostasuma refinariamelhores apostaspetróleo ondemelhores apostasvítima é uma detetive policial que arriscamelhores apostasvida para prendê-lo.

Anos antesmelhores apostasHalloween - A Noite do Terror (1978) emelhores apostasO Massacre da Serra Elétrica (1974), essas cenas foram consideradas terrivelmente sangrentas. Diz o roteiromelhores apostasHitchcock: "A câmera chega no abdômen da garota, onde vemos riosmelhores apostassangue".

E isso não foi tudo. Willie tem revistasmelhores apostasmusculação espalhadas por seu quarto, como sugestãomelhores apostasque era gay, e ele é pego pormelhores apostasmãe masturbando-se.

Havia também nudez: cercamelhores apostasuma horamelhores apostastestesmelhores apostasfilmagem foi feitamelhores apostasNova York e boa parte dela mostrava modelos seminuas. Até Truffault ficou preocupado. "Parece claramente haver uma insistênciamelhores apostassexo e nudez", disse elemelhores apostasuma carta a Hitchcock após ler o roteiro.

Mas ele estava disposto a dar o benefício da dúvida ao mestre. "Eu sei que você filmou essas cenas com uma grande carga dramática e que você nunca gasta muito tempo com detalhes desnecessários".

Mas "Caleidoscópio" não estava destinado a ser uma produção típicamelhores apostasHitchcock. O cineasta queria fazer filmar com um elenco desconhecido, câmeras na mão, luz natural e filmagem local - qualquer coisa para provar que não estava 'cansado' ou 'distraído'.

Ele contratou dois escritores, Hugh Wheeler e Howard Fast, para finalizar o roteiro, sendo que o último lembrariamelhores apostasseu revitalizado propósito na biografiamelhores apostasPatrick McGilligan chamada Alfred Hitchcock: A Life in Darkness and Light (2003, Alfred Hitchcock: Uma Vida Na Escuridão e na Luz).

"Meu Deus, Howard", disse Hitchcock a Fast. "Eu acabeimelhores apostasver a explosãomelhores apostasAntonioni. Esses diretores italianos estão um século na minha frentemelhores apostastermosmelhores apostastécnica. O que eu fiz esse tempo todo?"

O filme mais Hitchcockmelhores apostasHitchcock

No entanto, os executivos da Universal não compartilhavam desse entusiasmo. Hitchcock foi a uma reunião armado com fotos, filmagens e um roteiro detalhado que incluía 450 posições específicasmelhores apostascâmera.

Ele estava "mais avançado no desenvolvimentomelhores apostasseu projeto do que qualquer outra produção", escreve Dan Auilermelhores apostasseu livro Hitchcock Lost (2013, Hitchcock Perdido). Mas foi tudomelhores apostasvão. "Eles rejeitaram o roteiromelhores apostasum segundo e disseram a Hitchcock que não permitiriam que ele filmasse", diz Fast.

Raymond Foery, autormelhores apostasAlfred Hitchcock's Frenzy: The Last Masterpiece (2012, O Frenesimelhores apostasAlfred Hitchcock: a Última Obra-Prima), bota a culpamelhores apostasLew Wasserman, dono do estúdio.

"Wasserman conhecia Hitchcock desde o fim dos anos 1940 e havia sido seu agente", diz Foery. "Mas ele queria que a Universal deixasse para trásmelhores apostasantiga reputação como criadoramelhores apostasfilmesmelhores apostasterrormelhores apostasmau gosto. Esse projeto parecia sermelhores apostasmuito mau gosto para ele e não era o que esperava que Hitchcock fizesse".

Qualquer que fosse a razão, Hitchcock ficou arrasado. "Eles fizeram pouco casomelhores apostassua tentativamelhores apostasfazer exatamente o que eles o pressionavam a fazer", diz Fast, "tentar algo diferente, acompanhar os novos tempos".

Alguns desses conceitos acabaram indo pararmelhores apostasFrenesi (1972), mais uma vez sobre um assassinomelhores apostassérie, com um elenco sem estrelas, alguma nudez e uma cena horripilantemelhores apostasestupro seguidamelhores apostasassassinato.

O filme, que se passamelhores apostasLondres, foi comparado ao que Hitchcock havia imaginado para Caleidoscópio. Mas o cinema americano já havia adotado as inovações europeiasmelhores apostasmeadosmelhores apostas1970, então ele perdeumelhores apostaschancemelhores apostasmostrar a Hollywood quão avant-garde ele poderia ser.

"Se o filmemelhores apostas1967 [Caleidoscópio] tivesse sido produzido", escreve Aulier, "sua brutalidade e estilo cinematográfico estariam muito à frente dos filmes desta época que romperam com a violência estilizada do estúdio: Bonnie e Clyde (1967) e até mesmo Sem Destino (1969)."

John William Law, que fala sobre Caleidoscópio em seu novo livro, The Lost Hitchcocks (2018, Os Hitchcocks Perdidos), acredita que Wasserman não estava apenas preocupado com os efeitos do filme sobre a reputação da Universal, mas com a própria indústria que cresceumelhores apostastornomelhores apostasHitchcock.

"Você precisa entender que ele era uma marca", diz Law, "com direitos televisivos, um catálogomelhores apostasfilmes valioso, livros, revistas e uma persona conhecida no mundo inteiro."

Talvez seja verdade, mas se Wasserman e outros executivos da Universal queriam proteger a marca Hitchcock, eles claramente não a entenderam.

Eles o viam, aparentemente, como uma versãomelhores apostasautoparódia do apresentador da série Alfred Hitchcock Presents TV, com suas antologias literárias.

Porém, ao longomelhores apostasuma carreiramelhores apostascinco décadas, ele sempre catalogou os impulsos mais misóginos e violentos da humanidade e brincou com novas e ousadas estratégiasmelhores apostascinema.

Se ele houvesse recebido permissão para fazer Caleidoscópio, teria sido o filme mais Hitchcockmelhores apostasHitchcock.