Yves Saint Laurent: como um estilista mudou a moda para sempre:
A loja parisiense Colette, por exemplo, lançou uma linhacamisas com o slogan "Não é Laurent sem Yves".
Museus
A vida e obraSaint Laurent foram imortalizadas pela aberturadois museusoutubro. Um deles na capital francesa - o Museu Yves Saint Laurent -, localizado no mesmo prédio onde funcionava a maison do estilista1974 a 2002.
O outro? Fica no Marrocos. Mais precisamenteMarrakech,um edifício novo, com 4 mil metros quadradosárea, bem próximo ao Jardin Majorelle, comprado pelo casal1980.
Saint Laurent, cuja carreira começou sob a tutelaChristian Dior, outro ícone da moda, foi o primeiro estilista a arquivar seu trabalhoforma sistemática, o que proporcionou aos museus um rico acervo para a exposição.
A instituiçãoParis, por exemplo, conta com mais5 mil peçasroupa, 15 mil acessórios e milharesdesenhos, amostrastecido e vídeosdesfiles.
"Nossa ideia é dar aos visitantes uma compreensão do processo criativo por trás do designuma peça", explica Olivier Flaviano, diretor do museu.
Tudo sobre Yves
O museu também oferece um olhar mais pessoal sobre a vida do estilista. Apresenta fotos dele com Bergé e imagenssuas casas, que sempre atraíram quase tanta atenção quanto os figurinos.
O ateliê originalSaint Laurent foi recriado minuciosamente. "Temos a mesaque ele trabalhava, por exemplo", explica Flaviano.
"Outros objetos incluem um parleõesbronze que Saint-Laurent, muito supersticioso, comprou porque seu signo era Leão. Há fotosseus cachorros e uma bengala usada por Dior."
A primeira exposiçãoParis retrata a coleção lançada por Saint Laurent1962. Naquele ano, o estilista apresentou um caban - modelocasaco que costumava ser usado por marinheiros europeus para enfrentar as baixas temperaturasalto-mar.
Esse é um exemploumasuas ideias mais geniais - a incorporaçãoroupas masculinas ao guarda-roupa feminino.
O espaço da exposição foi configurado pela cenógrafa Nathalie Crinière e pelo decorador Jacques Grange, que assinou a eclética e vanguardista decoração, nos anos 1970,um dos apartamentosSaint Laurent e BergéParis.
Já o museuMarrakech conta com mil peças criadas pelo estilista, emprestadas da fundaçãoParis, que fazem parteuma exposição permanente idealizada pelo cenógrafo Christophe Martin. Há também uma biblioteca com livros sobre a história da arte eMarrocos, um auditório para palestras e um café.
O edifício não tem janelas, mas o projeto não foi feito por acaso pelo escritório francêsarquitetura Studio KO. Segundo o sueco Björn Dahlström, diretor do museu, é uma formamitigar os efeitos do calor sobre a coleção do museu.
"Não há janelas para proteger as roupas da incidência direta da luz do sol", explica.
"Em Marrakech, a diferençatemperatura entre o dia e a noite é grande. A temperatura ambiente deve ficar entre 20°C e 25°C."
Marrocos, fonteinspiração
Paris e Marrakech são locações apropriadas para museus sobre Saint Laurent. Ele passou a maior partesua vida entre as duas cidades.
Em 1966, o estilista conheceu Marrakech, que passou a ser um refúgio da vida atribulada e disciplinada que ele tinha na capital francesa.
Foi na cidade marroquina, por exemplo, que Saint Laurent decidiu no fim da década1960 deixar o cabelo crescer e fazer farra com os amigos, fumando maconha e usando batas indianas.
"No Marrocos, descobri uma variedadecoresmosaicos, pinturas e nas roupas locais. Devo a este país a ousadia do meu trabalho. Às suas audaciosas combinações", disse ele uma vez.
Vanguarda e rebeldia
Foi esse aspecto também que deu início à obsessão do estilista, nos anos 1970, com trajes mais suntuosospaíses exóticos e que inspiraram algumassuas mais emblemáticas coleções - uma sobre a Rússia (1976), influenciada por temas cossacos (povo que vivia nas estepes da Europa oriental), e outra sobre a China (1977), que apresentou chapéus laqueados e ombreiras inspiradaspagodes.
O que hoje parece retrógrado foi extremamente rebelde e vanguardista na época. Na maison Dior, por exemplo, Saint Laurent desprezou o "padrão ampulheta", notoriamente usado pelos estilistas, ao criar,1958, um vestidoformatrapézio. Em 1960,última coleção pela Dior foi dominada pelo preto.
Em 1966, foi a vezapresentar um "smoking unissex", destinado a ajudar as mulheres a se libertarem dos estereótiposgênero no vestuário. Foi naquele mesmo ano que Saint Laurent se tornou o primeiro estilista a lançar uma coleção pret-à-porter.
Ele também buscou inspiração nos protestos estudantis que sacudiram Paris1968 e, ao posar nu como parte da campanha publicitáriaseu primeiro perfume,1971, fez um pronunciamento pela liberação sexual.
Parte do apelo que o estilista tem hoje se deve também a parcerias com íconesestilo, como Paloma Picasso, que produziu acessórios paragrife, assim como a modelo britânica Louloula Falaise,musa.
Acervo
Segundo Flaviano, Saint Laurent decidiu arquivar seu trabalho pela primeira vez1962.
"Conversei com Bergé sobre isso e ele me disse que tudo começou quando Saint Laurent gostou tantoum vestidofesta marrom que decidiu guardá-lo."
"Com o passar dos anos, ele ficou com mais e mais peças. Inicialmente, eram guardadasbaús, já que nos anos 60 não havia a ideiater um espaço para armazenar as roupasmaneira adequada", explica.
A partir da década1980, Saint Laurent adotou o costumeescrever a palavra "museu" ou simplesmente "m" para mostrar que queria arquivar determinados itens. E, a partir1997, as peças passaram a ser guardadasum armazém especial, no subúrbio parisienseLa Villette.
Depressão e timidez
Saint Laurent era tímido e sofriadepressão, mas tinha uma autoconfiança inabalável e acreditava que seu trabalho deveria ser preservado para a posteridade. Talvez fosse um reflexosua paixão pelas artes - ele e Bergé tinham uma coleção impressionante. E seus desenhos foram frequentemente inspirados por artistas - o que fez o estilista acreditar que seu trabalho extrapolava as fronteiras da moda.
Bergé era quem promovia o marido. Foi ideia dele a retrospectiva no Metropolitan Museum,Nova York (1983), por exemplo. Ele também convidou literáriospeso, como Marguerite Duras e Bernard Henri-Levy, a escreverem sobre Saint Laurent, o que rendeu ao estilista status intelectual.
Os dois museus representam agora o auge dessa ambição.
Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site BBC Culture.