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Como políticos usam obrasarte para transmitir mensagens a seus eleitores:
Não adianta apenas ouvir o que políticos dizem. Para realmente entender o que eles pensam, repare nos quadros pendurados atrás deles. O usoretratos silenciosos olhando por sobre os ombroslíderes como o premiê britânico, David Cameron, ou o presidente russo, Vladimir Putin, é muito mais carregadosignificado e intenção do que se pode imaginar.
A boa notícia é que essas mensagens são fáceisdecodificar.
Considere, por exemplo, uma visita do presidente da França, François Hollande, no Museu do Louvre,Paris, no início do ano. Posandofrente a dois quadros do mestre holandês Rembrandt adquiridos pelo museu depois130 anos nas mãoscolecionadores particulares, Hollande foi transformado num promotor da cultura pública, por conta da percepçãoresgatara arte vista anteriormente apenas por ricos.
Tampouco foi difícil entender por que a chanceler alemã, Angela Merkel, quis ser fotografadajaneirofrente a um pequeno quadro mostrando duas meninasvestidos florais coloridos. A peça, pintada1943 por Nelly Toll - judia à época com oito anos, vindaum gueto judeu no Polônia -, fez parte da maior exibiçãoarte ligada ao Holocausto já realizada foraIsrael.
No momentoque o antissemitismo voltou a crescer na Europa, a imagemMerkelfrente à representação do que uma criança considerava um mundo pacífico foi mais eloquente do que qualquer discurso. Ainda mais depoisa líder trazer para frente das câmeras a própria Toll, hoje com 80 anos e a única artista viva que fez parte da exibição.
Ainda que líderes indubitavelmente estejam a par das mensagens que o que está avolta possa transmitir, a coisa estáoutro nível nos EUA: os responsáveis pela imagem do presidente capricham. A recente visitaBarack Obama a Cuba foi a primeiraum líder americano88 anos e um grande passo na reaproximação entre os dois países.
Mas foi a pinturaum artista cubano que roubou a cena.
Entre os momentos mais diplomaticamente delicados da passagemObama por Cuba esteve uma reunião com um grupodissidentes políticos, muitos deles receososque melhores relações entre Havana e Washington sirvamendosso para o regimeRaúl Castro.
Os participantes sentaram-se dianteuma pintura do artista contemporâneo Michel Mirabal, Meu novo amigo, que colocou lado a lado as bandeiras cubana e americana, ambas feitas com impressões da palmamãodezenaspessoas anônimas. Uma escolha inteligente para ressaltar as intençõesObamaconciliar a pressão por abertura democráticaCuba com a intençãolevantar o embargo comercial americano ao país caribenho,vigor desde os anos 60.
Não foi a primeira vez que Obama mostrou desenvoltura nesse quesito. Um mês antes, o presidente anunciara mais uma vez seu planofechar a notória prisãoGuantánamo, símbolo do tratamento controverso que as autoridades americanas dispensam para suspeitosatividades extremistas. Esforços iniciais enfrentaram a resistência dos que argumentam que o fechamento seria visto por radicais islâmicos como um enfraquecimentoWashington.
Obama, então, decidiu realizar uma entrevista coletiva sobre o temaum salão da Casa Branca contendo uma pinturaumseus antecessores, Theodore Roosevelt, montadoforma imponenteum cavalo. Roosevelt,1898, comandou uma forçacavalaria que derrotou tropas espanholas na regiãoCuba onde fica a prisãoGuantánamo. O presidente pegou carona na imagem "durona"Roosevelt.
Claro que o expediente já tinha sido usado por outros ocupantes da Casa Branca:2003, quando os americanos pressionavam a ONUbuscaaval para a segunda invasão do Iraque, oficiais americanos colocaram uma cortina azul sobre uma tapeçaria pendurada na entrada do ConselhoSegurança da entidade, justamente o local onde representantes do presidente George W. Bush seriam filmados.
E qual era a tapeçaria? Nada menos que uma réplicaGuernica, a icônica pintura antifascistaPablo Picasso que representa os horroresum bombardeio a uma cidade histórica espanhola1937, durante a Guerra Civil do país.
Para os americanos, o caos retratado por Guernica não combinava muito com o lobby junto à ONU por justamente um bombardeioterras iraquianas.
O relacionamento intenso entre a política presidencial e as artes visuais nos EUA vai ganhar um novo ângulo depois das eleiçõesnovembro. Se Hillary Clinton for a vencedora, será que ela vai "resgatar" no Instituto Smithsonian o retrato oficialseu marido e antecessor, Bill? Sua primeira medida deverá ser uma "faxina visual" na Casa Branca?
A resposta não é simples: no ano passado, o autor da pintura, Nelson Shanks, confessou ter feito a "travessura"colocar na tela uma referência ao affair do ex-presidente com umasuas estagiárias, Monica Lewinsky.
E se Donald Trump vencer? Umasuas promessascampanha é construir um muromais1000 kmextensão na fronteira entre os EUA e o México. Um sonho para grafiteirosambos os lados...
- Leia versão original dessa reportagem (em inglês) no site BBC Culture .
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