'Comecei a gravar vídeos para o TikTok após ficar sem trabalho na quarentena e hoje vivo disso':
O retorno à regiãoque cresceu representou um passo para trás para o ator e bailarino, que no passado havia saídoPoá ao conseguir se sustentar com o seu trabalho artístico.
Desempregado e sem perspectivas no começo da pandemia, ele baixou o TikTok, rede social que nos últimos anos se tornou febretodo o mundo. "Mas eu nunca tive a intençãovirar influencer. Só queria começar a criar vídeos", comenta.
Logo na primeira publicação,21março, o jovem viralizou. Um vídeoque ele dubla a rapper norte-americana Cardi B teve um grande alcance — atualmente, a publicação acumula mais1,1 milhãovisualizações apenas no TiKTok.
A partirentão, o artista criou diversos vídeos para a rede. Ele começou a fazer esquetes sobre o cotidiano.
"Tudo começou a dar muito mais certo do que eu imaginava. No começo, eu fazia brincando e não me via como criadorconteúdo. Mas tudo mudou muito rápido. Os vídeos foram viralizando cada vez mais", relata Vittor
Hoje, o ator e bailarino tem mais3,7 milhõesseguidores no TiKTok, onde acumula mais128 milhõescurtidasseus vídeos. No Instagram, atualmente é acompanhado por 1,5 milhãoseguidores.
O que parecia ser apenas uma distração durante a quarentena se tornou a fonterenda do jovem.
Em setembro, ele passou a ser agenciado pela Play9, uma empresaconteúdo especializadoplataformas digitais, que tem como sócios o influenciador Felipe Neto, o jornalista João Pedro Paes Leme e o empresário Marcus Vinícius Freire.
A carreira artística
Desde pequeno, Vittor escutou que dificilmente conseguiria ser ator ou bailarino, por morar na periferia. "Não havia nenhuma referência por perto. Ninguém acreditava que havia muito futuro na arte", diz.
Na infância, a arte esteve presente na vida dele por meio televisão. O aparelho eletrônico era uma importante companhia para ele e para as suas duas irmãs — o ator é o filho do meio. A mãe acordava por volta das 4h para pegar conduçõesdireção a um edifício do centro da capital paulista, onde trabalhava como faxineira. Ela retornava às 23h.
Os paisVittor se separaram quando o ator tinha sete anos. Ele conta que o pai nunca foi presente emvida. "Ele nunca nos ajudounenhuma forma. Mais um no Brasilzão", ressalta,referência às milhõeshistóriasabandono paterno no país. Segundo ele, o pai nunca respondeu na Justiça pela faltaassistência aos filhos.
Na adolescência, Vittor começou a trabalhar como jovem aprendiz na prefeitura. No mesmo período, passou a fazer aulasbalé clássico. "No início, meus parentes não viam muito futuro na dança, porque não enxergavam que poderia ser uma profissão", relata.
Aos 18 anos, ele foi aprovado para integrar uma companhiateatro musical. "Tive contato com muitos artistas que viviam da dança", comenta. Desde então, ele passou a integrar musicais, atuoucomerciais para a televisão e fez um filme, Divaldo: OMensageiro da Paz. "A arte era o meu único caminho a seguir. Não tinha como fugir disso", comenta.
Quando os trabalhos artísticos começaram a surgir, ele passou a viver da arte. "O que na nossa cabeça era impossível, se tornou verdade e passei também a ajudar a minha família", diz Vittor.
Ele se orgulha ao falar que conseguiu ajudar a mãe a concluir o ensino superior. "Ela se formouPedagogia e se especializouEducação Especial", comenta.
A pandemia
O artista acreditava que o ano2020 seria como os anteriores: faria uma peça atrás da outra. "O que mais me mantinha financeiramente era estarcartaz", diz. Mas os planos mudaram a partirmarço. "Eu não tinha conseguido pegar nenhum trabalho, por causa da pandemia. Até quem tinha conseguido pegar algo não estava recebendo. Foi um choque."
Vittor, assim como milharesartistas brasileiros, se viu perdidomeio à pandemia. "Muitos amigos passaram por situações bem difíceis, principalmente os que trabalhamteatros, porque estavam completamente fechados. Algumas pessoas começaram a cozinhar e vender comida, outras passaram a dar aulas online... muitos passaram dificuldades", relata.
De volta a Poá, Vittor buscou formas para passar o tempo. "Pensei: o que vou fazer presocasa?", relata. A princípio, postou vídeos engraçados nos stories, do Instagram, para os amigos. "Vi uma possibilidademe distrair e focaroutras coisas", diz. Na época, ele tinha pouco maismil seguidores.
"Nunca fui seguido por muitas pessoas nas redes sociais. Eram mais familiares e amigos. Postava uma coisa ou outra no Instagram,vezquando. Mas sempre eram publicações para os meus conhecidos", comenta.
Ao perceber que os amigos gostavam dos vídeos cômicos dele, Vittor decidiu começar a usar o TiKTok, um dos aplicativos mais baixados durante a quarentena. A rede social, que atualmente tem mais800 milhõesusuários pelo mundo, se tornou febre entre jovens nos últimos anos.
Depois do sucesso do vídeo dublando a rapper Cardi B, Vittor ganhou milharesseguidores nas redes sociais. As publicações seguintes também agradaram o público. A partirentão, os números do jovem nas redes subiram cada vez mais.
Logo, Vittor passou a ser chamadotiktoker, como são conhecidos os criadoresconteúdos famosos na rede social. "Foi tudo muito rápido", resume o artista.
A brincadeira ganhou arestrabalho. Desde então, publica vídeos quase diariamentediferentes redes: TikTok, Instagram e Twitter.
Para conseguir interpretar diferentes personagens, ele utiliza adereços como blusas ou toalhas na cabeça, bonés e toucas. Nos vídeos, o jovem usa um filtro que distorce aimagem e avoz.
Grande parte dos vídeos retratam situações relacionadas ao cotidianoadolescentes ou jovens adultos, faixas etárias que formam a maioria do público que segue e comenta os conteúdos dele nas redes.
Em um dos vídeos, Vittor abordaforma cômica as alterações feitas por muitas pessoassuas próprias fotos por meioaplicativos. "É o meu filho?", questiona a mãe, interpretada pelo ator, após ver uma imagem que o filho acabaracompartilhar nas redes sociais, com diversas mudanças estéticas.
Em outra esquete, o jovem vivido por Vittor lembra do aniversário da amiga. "Vou mandar parabéns", ele pensa. No entanto, a mente, interpretada também pelo ator, o aconselha a mandar mais tarde, pois ele tem até meia-noite para enviar a felicitação. Três meses depois, o rapaz se dá contaque não parabenizou a amiga. "Meu Deus, os parabéns", se desespera.
O ator conta que a quarentena foi fundamental para que surgissem várias ideiasvídeos. "O períodoque voltei a morar com a minha família me fez reviver muitas situações que eu havia esquecido", relata. "Também escrevo sobre os perrenguesmorar sozinho", acrescenta.
Muitos dos vídeosVittor retratam situações que ele vivenciou. "Eu penso: não é possível que só eu passe por isso", diz.
Ele afirma que o que faz mais sucesso é quando retrata sobre situações vividasfamília. "As pessoas sempre se identificam quando interpreto a mãe, porque a gente brinca que mãe é tudo igual, só muda o endereço", comenta. Segundo Vittor, muitos paisseus seguidores costumam rir com os vídeos.
Os temas dos vídeos costumam ser definidos pelo ator. "É algo muito intuitivo", comenta. Recentemente, ele passou a contar também com o apoiosua agênciaseus conteúdos. "Postoacordo com o que sinto, mas também analiso as informações das redes sociais e tenho a assistência da Play9", explica.
O artista compara a produção dos vídeos com o trabalho no teatro. Para ele, o conteúdo na internet é mais incerto. "No teatro há um tempopreparação, muitas pessoas assistem e dão dicas antes da estreia. Na internet, o risco é maior, porque só descubro se uma coisa vai bombar depois que posto", avalia.
A vidatiktoker
O sucesso nas redes sociais mudou completamente a vidaVittormeio à quarentena. A fama nas redes melhorou a situação financeira do jovem. Com isso, ele conseguiu deixar a casa da famíliaPoá novamente e se mudou para a Vila Olímpia, área nobre da capital paulista.
Os vídeos não trazem retorno financeiro diretamente ao influenciador, pois não são monetizados — diferente, por exemplo, do YouTube, que costuma definir uma remuneração com basecritérios como as visualizações do conteúdo. Assim, o influenciador recebe por trabalhos externos conquistadosrazão da visibilidade que tem nas redes, como publicidades para diferentes marcas.
Nos últimos meses, Vittor fez diversas propagandassuas redes sociais. Ele divulgou marcaroupas, aplicativorelacionamentos, curso preparatório para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), banco, entre outras empresas.
"Hojedia estou vivendo do meu trabalho na internet. Nunca imaginei isso. Estou amando me aventurar nisso", comenta Vittor.
"Muitas empresas têm entradocontato comigo para fazer publicidades. Mas eu faço uma peneira. Há muita coisa que não é interessante para a minha imagem. Não gostofazer campanhacoisas que eu não acredito", diz. Atualmente, a Play9 auxilia o jovem a escolher as publicidades que fará.
Junto com a fama, Vittor também teve que aprender a lidar com os comentários negativos. Na semana passada, ele decidiu responder algumas críticas que havia lido no Twitter, nas quais algumas pessoas disseram que não conseguem achar graça nos vídeos dele.
"Ninguém agrada todo mundo. Acha que eu vou chorar? Eu choraria se eu não estivesse conseguindo me sustentar e ajudar a minha família na pandemia com o meu novo trabalho na internet", escreveu no Twitter.
A resposta foi uma das raras vezesque o ator comentou publicamente sobre os comentários negativos. Ele considera que recebeu poucas críticas desde que começou a fazer sucesso nas redes. "Acredito que recebo poucos comentários ruins porque meu conteúdo é leve. Mas se a crítica fizer algum sentido, dependendo do modo como for feita, posso absorvê-la", diz.
Ele confessa que ainda está aprendendo a lidar com o sucesso nas redes. Em breve, planeja começar a fazer terapia. "Quero me organizar melhor e dormir melhor. Às vezes é tanta coisa para fazer que atrapalha o sono", diz.
Ao avaliar os últimos meses, Vittor ressalta que alémter conseguido mudar a própria vida, também tem cumprido seu papel como artista, por proporcionar um momentoalíviomeio à pandemia. "Tô felizão fazendo as pessoas que curtem o meu trabalho rirem", diz.
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