A história por trásum rosto: O mineiro que virou garoto propaganda do comunismo soviético:

"Ele amava seu emprego, e tudo que conquistou foi atravésseu próprio trabalho árduo, talento e perseverança", diz Violetta Stakhanova, filhaAlexei Stakhanov.

O trabalhador era parteuma equipe que atuava na minaDonbass, uma região produtoracarvão localizada na Ucrânia, então parte da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).

Sob o sistema soviético, todas as minas eram controladas pelo Estado, que estabelecia metasprodução mensais – e a mina onde Stakhanov trabalhava apresentava na época uma das piores performances da região.

'Solução brilhante'

"Ele era extremamente competitivo, e pensava semprecomo aumentar a produtividadesua mina, até que eventualmente criou uma solução brilhante", diz a filha, Violetta.

O mundo da mineração da década1930 era muito diferente do atual.

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Na época, os mineiros usavam picaretas para extrair o carvão, que era então colocadocarrinhos e puxado para fora dos túneis por pôneiscarga.

A ideiaStakhanov para agilizar o processo consistiamontar uma "linhaprodução".

Um mineiro ficaria constantemente extraindo o carvão, enquanto outro ficaria encarregadosomente colocar o carvão no carrinho. Um terceiro garantiria a sustentação do teto do túnel e um quarto conduziria o pônei ao entrar e sair do túnel, escoando a produção.

Ao invés da picareta tradicional ele também quis introduzir uma brocaperfuração, que na época pesava 15 kg e requeria treinamento específico.

14 vezes a meta

Após um votoconfiançaseus superiores, que decidiram testar a ideia, no dia 30agosto1935, às 22h, Alexei Stakhanov e três colegas entraram na mina, acompanhadosum dirigente local do Partido Comunista e um jornalista.

Seis horas mais tarde, eles saíram, triunfantes, tendo produzido 120 toneladascarvão, mais14 vezes a meta.

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Reconhecido imediatamente, o trabalhador foi presenteado com flores entregues por uma delegaçãomulheres da região, o jornal local publicou a história e o ministro da Indústria levou o fato ao conhecimentoJoseph Stalin, então líder da URSS.

Publicado no jornal central do partido, o Pravda, o feito do mineiro já havia sido batizado"método Stakhanov", e com a aprovaçãoStalin, foi adotadotoda a União Soviética.

Na minaDonbass, no entanto, nem todos ficaram felizes com a novidade. Alguns chegaram a ameaçar Stakhanov com facas, dizendo que agora tinham que trabalhar muito mais.

Enquanto isso, ele passou a viajar por todas as repúblicas soviéticas divulgando suas ideias.

Vida amorosa

Sua namorada na época, Yevdokia, uma cigana da etnia Roma, não conseguiu lidar com seu novo statuscelebridade nacional e o abandonou, deixando com ele seus dois filhos.

Pouco depois, numasuas viagens, ele se encantou com Galina Bondarenko, estudante que tinha a metadesua idade e que se tornoumulher. De família pobre porém bem educada, Galina terminou os estudos após o casamento.

"Meu pai adorava minha mãe. Ela não o amava, exatamente, mas o respeitava, como um homem mais velho. Eu não acho que ela era loucamente apaixonada por ele, como algumas mulheres são por seus maridos", diz a filha do casal, Violetta.

'Stakhanovistas'

Nos meses que se seguiram,diversas viagens ao redor da URSS, Stakhanov recrutou milharestrabalhadoresdiversos ramos da agricultura e da indústria soviéticas.

Um repórter da revista Time cobriu a Primeira Conferência do 'Movimento Stakhanovista'Moscou, e a partir daí uma nova palavra surgiu. Em russo, os stakhanovets, einglês, os stakhanovites, ou stakhanovistas,português – o termo descreveria para sempre as pessoas que trabalham arduamente,acordo com o métodoStakhanov.

Na conferência, Stalin saudou a novidade. "A vida ficou mais fácil, camaradas, a vida ficou mais feliz. E quando se está feliz, o trabalho flui bem. Se nossa vida fosse difícil, triste e sem alegria, nós não teríamos tido o movimento Stakhanovita", disse à multidão.

Aplaudido na época, o discurso do líder soviético sobre a "vida se tornando mais feliz" foi visto com sarcasmo pelos russos décadas depois, já que para a grande maioria dos cidadãos da URSS a década1930 acabou sendo uma épocafome e repressão estatal brutal.

Moscou, comenda e alcoolismo

Apesar do sucesso e do statusgrande celebridade soviética, os anos seguintes tiveram um sabor agridoce na vidaStakhanov. Emprego na máquina burocráticaMoscou e diversas regalias, mas um fim triste e amargo.

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Após o discursoStalin o Partido Comunista deu a Stakhanov um apartamentoelite na capital da URSS e um emprego no ministério do Carvão. Por outro lado,linda e jovem mulher, Galina, o ajudava a navegar os meandros maquiavélicos da política soviética.

Mas20 anos vivendoMoscou, Stakhanov por vezes ressaltava não ter o preparo educacional para lidar com a máquina burocrática, nunca se acostumoufato comnova e complicada vida na capital e sentia faltaseus colegas na minacarvão.

Em 1957, quatro anos depois da morteStalin, o novo líder soviético, Nikita Khruschev, não viu necessidademanter StakhanovMoscou e ordenou que ele voltasse a Donbass.

Para o criador do método revolucionário, o retorno foi interpretado como uma espécie"exílio virtual" – sobretudo porquefamília ficouMoscou – e seus últimos 20 anosvida acabaram sendo marcados pelo alcoolismo.

Sua filha, Violetta, diz que o pai sempre comentava a decepção com o fatoter esperado 35 anos para receber do Partido Comunista a maior comenda soviética, a"Herói do Trabalho Socialista", concedida a ele somente1970.

Alexei Stakhanov morreu após um infartoDonbass, no leste da Ucrânia,1977. Uma cidade da região leva seu nome emhomenagem.