Cilacap, a cidade indonésia onde a morte é o principal assunto:
ÉNusakambangan que está o paranaense Rodrigo Gularte,42 anos, preso2004 com mais6kgcocaína escondidospranchassurfe, e condenado à morte no ano seguinte.
Sua família quer que ele seja transferido para um hospital, pois foi diagnosticado como pacienteesquizofrenia paranoide. Eles aguardam o resultadouma segunda avaliação médica, feita na semana passada.
Foi tambémNusakambangan que Marco Archer Cardoso Moreira tornou-se o primeiro brasileiro a ser executado no exteriortempospaz,janeiro.
Há mais130 prisioneiros no corredor da morte na Indonésia e a iminente execução10 condenados por tráficodrogas, nove deles estrangeiros – inclusive Rodrigo - , trouxe familiares, advogados e jornalistas para Cilacap, 270 quilômetros a leste da capital Jacarta.
Fumando um cigarro e bebendo cerveja no barum hotel, um parenteum dos condenados ignora o celular quando ele toca com a mensagemum repórter.
<link type="page"><caption> Leia mais: Grupos na Indonésia fazem petição contra execuçãobrasileiro</caption><url href="http://www.bbc.co.ukhttp://vesser.net/noticias/2015/03/150305_indonesia_protesto_brasileiro_fn" platform="highweb"/></link>
"Tem um que só quer ver sangue. E tudo o que a gente vem tentando fazer é salvar vidas".
"Passamos horas aqui. E as conversas são só sobre isso", diz, evitando o quanto pode pronunciar a palavra "execução".
Ao nosso redor, gruposrepórteres e advogados – e uma barulhenta cantora que certamente receberia aplausospé se decidisse ficar calada.
Os principais hotéisCilacap estão lotados há dias, segundo funcionários, com a notíciaque as execuções seriam iminentes.
Na sexta-feira, no entanto, o porta-voz da Procuradoria disse que o recursoum dos condenados – uma mulher filipina – ainda estava sob análise, o que atrasaria as execuções. Nenhuma data foi anunciada.
Desde então, os dias foramespera e mais indefinição.
<link type="page"><caption> Leia mais: Brasileiro tem última avaliação médica na Indonésia; execuções são 'iminentes'</caption><url href="http://www.bbc.co.ukhttp://vesser.net/noticias/2015/03/150302_indonesia_brasileiro_hb" platform="highweb"/></link>
A forte presença da imprensa pode incomodar alguns, mas muitos familiares acreditam que a cobertura intensa tem, na verdade, os ajudado.
"É uma vantagem ter toda essa atenção da mídia", disse a advogadaum dos presos.
"Mas é um pesadelo ter que passar todo este tempo aqui. Não se tem nada para fazer".
Ela não é a primeira a reclamar do tédio da cidade – e das opçõescomida, ou da falta delas. "Eu só como no KFC aqui", diz, entre gargalhadas.
Aproveitando a oportunidade
Sukirman,52 anos, é só sorrisos. Sua lanchonete, instalada no portoonde partem os barcos para Nusakambangan, vendetudo,água mineral a garrafas com gasolina.
"Geralmente, os negócios são tranquilos por aqui. Mas graças a Deus a cidade está lotada e as vendas estão aumentando".
Os dias mais movimentados sãosegunda a quinta, diz ela, quando visitantes com autorização têm acesso à prisão.
Cada família tem direito a dois diasvisita por semana. ARodrigo tem acesso às terças e quintas. Os visitantes dos autralianos Andrew Chan e Myuran Sukumaran, transferidos à prisão na semana passada, entram às segundas e quartas.
Autoridadesimigração também têm trabalhado duro, verificando passaportes e vistos e já deportaram jornalistas que trabalhavam com vistosturistas por aqui, inclusive a equipeuma TV brasileira.
Não demorou muito para que a própria equipe da BBC tivesse seus documentos checados.
Do ladofora da lojaSukirman, há uma filacaminhõesTV e câmeras voltadas para a entrada do porto. Sob a sombra das árvores, equipes passam o tempo jogando cartas e tomando café.
Além da imprensa local, a mídia australiana tem acompanhado o casoperto e jornalistas do país são vistos opr todos os lados, andando pelas ruas ao redor do porto.
Um repórter da TV indonésia disse estar "exausto" no quarto diaplantão diante do porto. E, mais uma vez, sem nenhuma notícia.
Também no hotel, as execuções são o único assunto.
Apoio popular
A vendedora Santi,26 anos, também quer aproveitar o movimento, e há um dia abriutendacomes e bebes.
"Há uma chance para se fazer dinheiro. Este lugar está lotado".
Perguntoopinião sobre as execuções. Ela diz ser uma medida acertada. "Impede que as pessoas destruam o futuro das gerações mais novas".
Esta opinião é amuitos na Indonésia, e a penamorte para tráficodrogas parece ter grande apoio popular.
O presidente Joko Widodo rejeitou pedidosclemênciacondenados por tráficoentorpecentes e tem repetido que o seu país enfrenta uma situaçãoemergência causada pelas drogas.
Ele tem resistido à pressão internacional, sobretudo do Brasil e da Austrália, para rever a sentença dos condenados.
A Indonésia tem uma das penas mais durasrelação ao tráfico. As execuções foram retomadas2013 após uma moratóriaquatro anos. Em janeiro, seis traficantes – inclusive cinco estrangeiros – foram executados. Entre eles, o brasileiro Marco Archer.
Nusakambangan foi apelidada"ilha da morte", mas também é um destino turístico famoso entre moradores da região, por suas praias e porfloresta.
"É um lugar lindo", disse o nosso tradutor após passar algumas horas ali no domingo.
Eu não pude ir até lá. Uma autoridadeCilacap me disse que o acesso a estrangeiros está proibido devido aos últimos fatos no lado mais sombrio da ilha.
Autoridades ainda devem anunciar quando – e se – as próximas execuções serão realizadasNusakambangan.
Até lá, não há dúvidas sobre qual será o assunto que continuará dominando as conversasCilacap.