O ‘voto’ dos vizinhos do Brasil na eleição:betano 1

Debate (EPA)

Crédito, EPA

Legenda da foto, Por não conhecerem Aécio e Marina, governos da região preferem a continuidadebetano 1Dilma
  • Author, Marcia Carmo e Claudia Jardim
  • Role, De Buenos Aires e Caracas para a BBC Brasil

betano 1 A eleição presidencial no Brasil é observada com atenção pelos países vizinhos, e analistas apontam para possíveis mudanças nas relações a partir do resultado das urnas.

Governos da América do Sul têm preferência à reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT) por não saberem o que esperar dos outros principais candidatos, Marina Silva (PSB) e Aécio Neves (PSDB), disseram observadores regionais ouvidos pela BBC Brasil.

"[O argumento predominante] é que é melhor lidar com quem se conhece do que com o desconhecido", disse Mariana Pomies, analista política uruguaia e diretora do instituto Cifra,betano 1Montevidéu.

"Dilma é uma figura conhecida, muito respeitada aqui e braço direitobetano 1Lula, que é muito conhecido entre os uruguaios. Marina Silva, por exemplo, é para nós um sinalbetano 1interrogação".

Alianças regionais também poderiam sofrer um impacto com a vitória dos rivaisbetano 1Dilma, segundo analistas. Seria o caso, por exemplo, do Mercosul, bloco que reúne cinco grrandes economias da região.

"(Eles poderiam) rever a consistência do Mercosul. Especialmente Aécio, para quem o Mercosul é um bloco anacrônico. Nesse sentido, acho que para a região (uma vitóriabetano 1Aécio ou Marina) não ajudaria muito", disse Mariel Fornoni, do instituto Managment&FIT,betano 1Buenos Aires.

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Para Diego Guelar, ex-embaixador da Argentina no Brasil, qualquer que seja o resultado da votação, haverá um impacto direto na política para os países vizinhos.

"Seja Dilma, Aécio ou Marina, entendo que o Brasil deverá ter uma política externa diferente com a região", disse. "Porém, o governo Dilma esteve muito centrado na Argentina e na Venezuela, deixando outros paísesbetano 1lado, como Chile e Colômbia e Peru. Seja Dilma ou quem for, algo novo nesta política vai surgir depois desta eleição".

Para outros especialistas, a escolhabetano 1um novo presidente poderia trazer "um ar fresco" para a relação bilateral entre o Brasil e seus vizinhos.

Veja quais são os intereses dos principais países da região sobre o próximo presidente do Brasil.

Argentina

Presidente da Argentina Cristina Kirchner (AFP)

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Legenda da foto, Relação com a Argentina, da presidente Cristina Kirchner, está afetada com crescimento baixo e queda no comércio

Em Buenos Aires, a percepção é abetano 1que, com Dilma, a relação bilateral já é "conhecida", apesarbetano 1muitos analistas acreditarem ser improvável haver grandes alterações na política entre os dois países com a vitóriabetano 1qualquer outro candidato.

O ex-vice-ministro das Relações Exteriores Andrés Cisneros disse que não acreditabetano 1"mudanças bruscas" na relação, já que o Brasil conta com políticasbetano 1Estado nabetano 1política externa. "Não acreditamosbetano 1mudanças vindas do Brasilbetano 1um dia para o outro", disse.

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Nesta semana, o jornal La Nación,betano 1Buenos Aires, publicou que a atual relação entre a Argentina e o Brasil não estábetano 1seu melhor momento, afetada pelo menor crescimento econômico dos dois países e a queda acentuada no comércio bilateral.

Segundo o jornal, "a relação dos dois países está afetada, seja quem for o próximo presidente brasileiro. Mas para analistas, o Mercosul perderia ainda mais força se Marina for eleita".

Para o analista político Rosendo Fraga, do Centrobetano 1Estudos Nova Maioria,betano 1Buenos Aires, "com a relação entre Dilma e Cristina deteriorada pelos conflitos comerciais, nada mudará se a atual presidente vencer a eleição".

"Mas com uma eventual vitóriabetano 1Marina, por exemplo, talvez essa relação seja ainda mais difícil", disse Fraga à BBC Brasil.

Bolívia

Presidente da Bolívia, Evo Morales (Reuters)

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Legenda da foto, Exportaçãobetano 1gás para o Brasil escora a relação bilateral com a Bolívia, do presidente Evo Morales

A relação econômica entre o Brasil e a Bolívia está baseada principalmente nas exportações do gás boliviano para o mercado brasileiro.

Este setor inclui a forte presença da Petrobras na Bolívia, como observou o analista Javier Gomez, do Centrobetano 1Estudos para o Desenvolvimento Trabalhista e Agrário (Cedla, na siglabetano 1espanhol).

"Marina Silva disse que se eleita vai dar transparência à Petrobras e ao BNDES. São dois setores com forte ligação com a Bolívia. E mesmobetano 1um curto período,betano 1política poderia afetar o curso desta relação bilateral", disse Gomez,betano 1La Paz.

Para ele, hoje, há "maior previsibilidade" à relação bilateral com Dilma na Presidência. "Hoje a relação entre os dois países não é a ideal, mas já sabemos como é".

Chile

Presidente do Chile, Michelle Bachelet (Reuters)

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Legenda da foto, Segundo analistas, relação com o Chile, da presidente Michelle Bachelet, foi distante no governo Dilma

Analistas políticos e diplomatas chilenos observaram que a relação política entre Brasil e Chile foi distante durante o governo Dilma, mas que, apesar disso, o Brasil passou a ser o principal destino dos investimentos diretos chilenos no exterior.

"Seja Dilma, Marina ou outro candidato, o principal é que o próximo presidente recupere a relação que no passado foi intensa com o Brasil", disse o analista internacional e cientista político Ricardo Israel, da Corporaçãobetano 1Universidades Privadas do Chile.

O professorbetano 1ciências políticas da Universidadebetano 1Valparaíso Guillermo Holzmann disse que a reeleiçãobetano 1Dilma significa "estabilidade" na região e que outro presidente significaria "incerteza".

Paraguai

Presidente do Paraguai, Horacio Cartes

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Legenda da foto, Relação com o Paraguai, do presidente Horacio Cartes, ficou mais intensa a partir do governo Lula

Assim como na Bolívia, a relação com o Brasil passou a ser "mais intensa" depois que o ex-presidente Lula chegou ao Planaltobetano 12003, com a maior presençabetano 1empresas brasileiras e investimentosbetano 1setores como obetano 1infraestrutura ligando a vizinhança ao Brasil.

Na opiniãobetano 1políticosbetano 1diferentes tendências e analistas, o Brasil é o irmão maior e o principal sócio do país, como costumam afirmar.

Mas para o analista Francisco Capli, da consultoriabetano 1pesquisasbetano 1opinião First Analisis, "a relação atual passa por um momento frio, distante". E seja qual for o próximo presidente, espera-se uma maior aproximação. Ele observou, porém, que Dilma já é conhecida dos paraguaios.

Tradicionalmente a relação entre os dois países esteve centrada na hidrelétricabetano 1Itaipu e nos chamados 'brasiguaios' - brasileiros e seus descendentes que vivem no Paraguai. Mas, nos últimos anos, a presençabetano 1empresas brasileiras no país vem chamando atenção. Algo que,betano 1acordo com os especialistas, não se traduzbetano 1"maior aproximação politica" com o Brasil.

Uruguai

Mujica (AFP)

Crédito, AFP

Legenda da foto, Uruguai, do presidente José Mujica, teria preferência à reeleiçãobetano 1Dilma, segundo analistas

O maior conhecimento sobre as políticas e trajetóriasbetano 1Lula e Dilma é apontado como "fator essencial" para que os uruguaios "votem" na continuidade do PT na Presidência, disse a analista Mariana Pomies, socióloga e diretora do instituto Cifra,betano 1Montevidéu.

"Aqui sabemos muito pouco sobre os outros candidatos. O que gera dúvidas, naturalmente. Dilma é a continuidade. E hoje a relação entre o Uruguai e o Brasil é muito boa", disse.

Segundo ela, no caso do Uruguai há ainda outro fator que pesa "contra o voto"betano 1Marina:betano 1figura estar associada àbetano 1religiosidade.

O Uruguai é um país laico desde o início do século 20, quando crucifixos foram retiradosbetano 1gabinetes, organizações públicas e hospitais, por exemplo, para oficializar a separação da políticabetano 1Estado da religião.

"Para nós, é impensável saber a opção religiosabetano 1um candidato,betano 1um político. Política é política. Mesmo quando eles vão à missa, por exemplo, é algo muito pessoal", afirmou.

Venezuela

Governo brasileiro teve papel importante para dirimir crise durante governobetano 1Maduro

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Legenda da foto, Governo brasileiro teve papel importante para dirimir crise durante governobetano 1Maduro

A imprevisibilidade da votação no Brasil colocabetano 1alerta o governo venezuelano, que viu crescer e fortalecer as relações econômicas e políticas com Brasília durante os governos Lula e Dilma.

Com o PT na Presidência, o ex-presidente Hugo Chávez contou com o apoio brasileiro para solucionar as principais crises políticas. Durante os violentos protestos contra o governo do presidente Nicolás Maduro no início do ano, a diplomacia brasileira também teve um papel importante para dirimir a crise.

"Uma (eventual) derrotabetano 1Dilma seria um fator adicionalbetano 1instabilidade internacional para o governo venezuelano porque perderia um apoio regional fundamental", afirmou o analista político Javier Biardeau, professorbetano 1sociologia da Universidade Central da Venezuela.

<link type="page"><caption> Leia mais: Após Ficha Limpa, precisamosbetano 1reforma política, diz idealizador da lei</caption><url href="http://www.bbc.co.ukhttp://vesser.net/noticias/2014/10/141003_marlon_reis_lab.shtml" platform="highweb"/></link>

Outro elementobetano 1preocupação para o chavismo está na continuidade do processobetano 1integração regional no âmbito da Unasul, Celac e Mercosul.

"O Brasil foi fundamental para a integração regional nos últimos anos (do governo) Dilma e ela representa a continuidade desses processos" afirmou o deputado do partido governista PSUV Yul Jabour, presidente da Comissãobetano 1Relações Exteriores da Assembleia Nacional.

A oposição venezuelana, porbetano 1vez, não esconde seu anseiobetano 1ver o PT derrotado. A relação entre o partido e o governo venezuelano é visto pela direção anti-chavista como um elementobetano 1desequilibrio e,betano 1determinados momentos, favorece o projeto bolivariano.

Aécio Neves recebe a maior torcida no interior da aliança opositora MUD, apoio herdado pela proximidade do PSDB aos grupos opositores ao longo do governo Chávez.

O analista internacional Carlos Romero afirma que a maioria dos partidos opositores "desejam" uma aliança com um programa conhecido e com ideais compartilhados, como é o caso do PSDB, à incógnita que representa a candidatura e o projetobetano 1Marina.

"A oposição seria feliz com uma vitóriabetano 1Neves, porque não está convencida da posturabetano 1Marinabetano 1relação à Venezuela", disse Romero.