Escola usa aulasblaze comorespeito e honestidade para combater violência:blaze como
Leitores disseram que a educação deveria merecer mais atenção por parte dos candidatos a cargos públicos e educadores compartilharam denúnciasblaze comoagressões que sofreram tantoblaze comonossas páginasblaze como<link type="page"><caption> Facebook</caption><url href="https://www.facebook.com/bbcbrasil/photos/a.305083412815.158425.303522857815/10152293247112816/?type=1" platform="highweb"/></link>, como <link type="page"><caption> Google+</caption><url href="https://plus.google.com/b/102439754730579948294/102439754730579948294/posts/DZzjXHFJvUL" platform="highweb"/></link> e <link type="page"><caption> Twitter</caption><url href="https://twitter.com/bbcbrasil/status/503195029847150592" platform="highweb"/></link>.
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Reflexoblaze comoconflitos
Localizadablaze comouma comunidade com altos índicesblaze comoviolência, a escola da zona oeste sofria o reflexo dos conflitos do ladoblaze comofora que iam parar dentro das salasblaze comoaula, com alunos agressivos e "sem limites", conforme definiram os próprios professores à BBC Brasil.
"É uma realidade fora do que você possa imaginar vivendo na classe média. O comportamento das crianças me assustou bastante, a agitação que eles tinham, a faltablaze comoconcentração", relatou uma das professoras, que já teve turmas do ginásio e do primário na escolablaze comoPirituba.
"A gente via muito desrespeito, faltablaze comotolerância, o aluno não consegue enxergar os erros dele, mas aí aponta no outro tudo o que temblaze comoruim e isso gera muitas brigas, agressões verbais, físicas, tudo isso aqui era muito constante", constatou.
Para combater essa "agressividade" dos alunos, as psicólogas que fazem parte do grupo Inteligência Emocional na Escola implementaram um projeto no colégio dando outro caminho – que não a violência – para os alunos extravasarem suas emoções.
"Esses alunos têm problemas assustadores, alguns sofrem abuso sexual do pai, outros apanham, eles vivem a violência dentro e forablaze comocasa e eles precisam falar isso, é um jeitoblaze comoextravasar. Mas isso normalmente acaba sendo pela violência. Se você dá outro caminho para eles extravasarem isso, eles entendem e param com a violência", explicou Andreia Carelli, uma das psicólogas que fazem parte do projeto implementado na escola municipalblaze comoPirituba.
O trabalho dela e das outras duas psicólogas que atualmente estão no projeto se dáblaze comotrês tiposblaze comoações: o ensino da inteligência emocional dentro da salablaze comoaula, por meioblaze comouma apostila que trata temas como respeito, honestidade, cidadania, diferenças, etc, conforme a faixa etária; o usoblaze comodinâmicas (brincadeiras) que têm como objetivo trabalhar as emoções dos alunos e o autocontrole; e o atendimento individual para os casos mais graves,blaze comoalunos muito agressivos ou que passam por problemas pessoais mais complicados (abuso sexual, violência doméstica, drogas, etc).
Aulas
Pelos abraços e o calor demonstrado pelos alunos já no caminho para a sala, a reportagem constatou que o projeto parece ter boa receptividade. "Qual vai ser a atividadeblaze comohoje, tia?", "O que a gente vai fazer hoje, prô?" – a agitação era inegável, mas os alunos da 4ª série pareciam empolgados para a 'lição emocional' do dia que a professora-psicóloga iria passar.
Andreia começa a aula questionando os alunos: "O que tem que estar sempre presente quando a gente estáblaze comogrupo?". Eles citam educação, amizade, respeito. "Respeito. E quando a gente perde o respeito é fácilblaze comorecuperar?" – um grandioso "não" ecoa pela sala. E a professora segue a explicação da brincadeira. "Hoje vocês vão ser cuidadores do respeito. Nós vamos deixar o respeito aqui na lousa e nós temos que cuidar para ele não ir embora."
A tarefa do dia era ouvir quatro histórias que a professora contaria e identificar, por meioblaze como"carinhas" desenhadasblaze comoum papel (feliz, triste, assustado e com raiva) qual emoção cada uma delas despertava. Tudo isso sem perder os cuidados pelo "respeito" guardado na lousa.
Não demorou muito para os alunos se agitarem e começarem a falar ao mesmo tempo. A professora relembra: "Olha o respeito indo embora!", e a aluna da primeira carteira endossa o pedido apontando para o colega: "É, Kauã, respeita, cala a.." e ela mesma percebeblaze como'quase' faltablaze comorespeito, colocando a mão na boca antesblaze comocompletar a frase.
No meio da brincadeira eblaze comoalgumas provocações direcionadas, outro incidente chamou a atenção da turma. Victor*, um garoto sentado no fundo da sala, levantablaze comorepente e pega a cadeira na mão. Com um olhar transbordandoblaze comoraiva, ele andablaze comodireção ao colegablaze comotomblaze comoameaça. "Ele tá doido, ele quer matar ele" (sic), avisa um dos meninos à professora, que vai até Victor, abraça o garoto e,blaze comotom sereno, faz as perguntas que eles já se acostumaram a ouvir nos últimos anos.
"Por que você queria jogar a cadeira nele? Você acha que ele ia ficar feliz se você fizesse isso? Você ia ficar feliz? Resolveriablaze comoraiva? Lembra que quando a gente perde o respeito, a gente não ganha o respeito dos outros" – aos poucos, o Victor vai se acalmando e volta a sentar no seu lugar.
Ao fim da aula, quando a professora pergunta se a classe "cuidou bem do respeito", o próprio Victor admite: "Vixe, o respeito quase foi embora".
Andreia Carelli faz parte do projeto há um ano e meio e explica que o grande mérito dele é mudar a visãoblaze comomundo dos alunos. "Quando eles chegam aqui, a única referência delesblaze comomundo é a violência, mas a gente conseguiu dar pra eles outra referência, como conversar. Se você não gostablaze comoapanhar, por que você vai bater? E com o tempo eles vão mudando essas atitudes."
Professores
As aulasblaze comointeligência emocional são ministradas semanalmenteblaze como1ª à 5ª sérieblaze comoquatro escolas do país, duasblaze comoSão Paulo (uma municipal e a outra estadual) e duasblaze comoManaus (as duas estaduais). O sucesso do projeto é percebido facilmente pelos professores.
"Ao longo desses dois anos é nítida a mudança, a convivência entre os alunos mudou demais. E a gente sabe que mudou o comportamento aqui dentro da escola, porque essa não é a realidade deles lá fora", contou uma das professoras.
Os professores, inclusive, também passaram por um treinamento com as psicólogas para poderem aprimorar a relação que tinham com os alunos na escola. "No início, eles (professores) tinham bastante resistência, achavam que estávamos ali para criticar o trabalho que eles estavam fazendo e tal. Depois eles foram aceitando e sentindo o resultado das aulas", explica Taíssa Lukjanenko, outra psicóloga que está no projeto desde o início.
Em geral vistos como vítimas, os professores muitas vezes também são 'agentes da violência' pelo modo como tratam os alunos, conforme pontuou Taíssa. "Aquela violência nunca é só do aluno. Ela vem do meio que ele vive, da forma como o professor o aborda, mas nunca é só dele."
Ela diz que o autoritarismoblaze comoalguns professores assim como a adoçãoblaze comomedidas extremas como a expulsãoblaze comosalablaze comocasos pequenosblaze comoindisciplina – um assovio durante a aula, por exemplo – podem contribuir para um ambiente violento na escola, alémblaze comoprejudicar a relação professor-aluno. "Essa relação é muito importante, o respeito vem daí".
De acordo com os números do grupo Inteligência Emocional na Escola, 86% dos professores que dão aula nas escolas que participam do projeto consideram que a disciplina dos alunos melhorou e 89% acreditam que a relação com os alunos também deu um salto após a aplicação das aulas.
Além do projeto com as psicólogas, a escolablaze comoPirituba também apostablaze comoprogramas extra-curriculares – banda escolar, mostra cultural, etc. – e na integração com a comunidade – a escola é aberta no fimblaze comosemana para atividades da comunidadeblaze comoPirituba – para combater a violência.
*Os nomes usados são fictícios