Por que Hollywood evita falar sobre Gaza?:
- Author, Jaime González
- Role, Da BBC MundoLos Angeles
Ao longo das décadas, muitas estrelasHollywood não hesitaramexpressar publicamente suas posições políticas ou emprestarimagem para apoiar diversas causas humanitárias.
Mas, nos últimos dias, quando o mundo debate a operação militarIsrael na FaixaGaza, durante a qual morreram até agora mais900 palestinos e 35 israelenses, o silêncio impera no templo das celebridades americanas.
Nesta semana, a revista americana The Hollywood Reporter publicou um artigoque analisa as razões pelas quais a indústria do entretenimento permanece calada sobre o atual conflito entre Israel e o Hamas.
Na reportagem, intitulada "Regra número um: falequalquer assunto políticoHollywood...excetoGaza", a jornalista Tina Daunt escreve que "enquanto o númerovítimas continua a aumentar", há, nas altas esferas da indústria cinematográfica, uma relutância "atípica" para falar sobre o que está acontecendo no Oriente Médio.
Daunt lembra que "a afinidade e apoio político"executivosHollywood – muitos dos quais são judeus – a Israel já ocorre há muitas décadas, mas "no momento" a operação militar israelense não vem gerando o esperado debate público.
Ao mesmo tempo,acordo com a jornalista, esses mesmos executivos acreditam que os poucos artistas que nos últimos dias têm mostrado apoio à causa palestina estão "desinformados".
Divisãoopiniões
Um desses artistas é a cantora pop americana Rihanna, que há poucos dias publicou uma mensagem emconta no Twitter com a hashtag #FreePalestine ("Palestina livre",tradução livre).
Minutos depois, Rihanna apagou a postagem,meio a uma chuvacríticas. A polêmica levou umseus representantes a emitir uma declaração na qual afirmou que a cantora não quis tomar partido e "está apenas a favor da paz".
A cantora hispânica Selena Gomez também foi criticada por postar uma mensagem emconta no Instagram na qual, entre outras coisas, disse: "É uma questãohumanidade. Rezem por Gaza".
No dia seguinte, Gomez postou nova mensagem,que esclareceu que não estava apoiando nenhuma das partes envolvidas no conflito e que rezava pela paz "para o mundo inteiro".
Foram poucos os artistas do showbiz americano que nos últimos dias vêm demonstrado abertamente solidariedade com as vítimas civisGaza. Entre eles, estão o diretorcinema Jonathan Demme, a atriz Mia Farrow e os atores Mark Ruffalo, Javier Bardem e John Cusack.
Bardem, por exemplo, publicou uma carta aberta criticando a posição dos Estados Unidos, a União Europeia e Espanha contra o que ele chamou"guerraocupação eextermínio contra um povo sem meios".
"Hollywood, como indústria, tem uma certa ambivalência ao decidir sobre essas questões. Quando o bom funcionamento do seu negócio depende do sucesso no mercado internacional, é bom não criar polêmicas e Israel é sempre uma questão muito controversa", afirmou a jornalista Danielle Berrin, do jornal The Jewish Journal,Los Angeles.
"Se você é cineasta e quer que seu filme seja visto na Turquia, não é uma boa ideia aparecer como defensorIsrael. É por isso queHollywood normalmente se permanecesilêncio quando se trataassuntos polêmicos", assinalou Berrin.
A jornalista, autora do blog Hollywood Jew,que divulga notícias relacionadas à indústria do entretenimento voltadas para a comunidade judaica, diz que "os executivosgrandes estúdios, ao comandar empresascapital aberto, não acham que devem tomar partidoassuntos tão polêmicos e que dividam o público”.
"No caso das celebridades, tampouco elas ganham alguma coisa ao se posicionarem, uma vez que tudo o que disserem será criticado. Se eles escolherem falarum determinado assunto, por exemplo, muita gente vai pensar 'quem eles pensam que são para opinar', se não dizem nada, vão criticá-los por não usar a fama para uma boa causa".
Berrin garante que, mesmo não se pronunciando a respeito do conflito, muitos famosos estão preocupados com o que está acontecendo e indica que "Hollywood tem uma longa históriaativismo" a favor da causa judaica.
Paródias criticadas
Uma das celebridades que mais tem chamado atenção nos últimos dias por suas posições a respeito do conflitoGaza foi o apresentador do The Daily Show, Jon Stewart, que é judeu.
Stewart foi fortemente criticado por alguns setores da comunidade judaica dos Estados Unidos ao falar sobre as diferenças entre a tecnologia que os israelenses e os palestinos têm para se proteger.
O apresentador brincou que, embora os judeus tenham um aplicativoseus celulares para alertá-los com antecedência sobre onde um foguete vai cair, os palestinos são avisados por bombas lançadas por Israel.
Após a declaração, o comentaristarádio conservador Mark Levin disse que Stewart é um "idiota exaltado" e um "judeu que odeia a si mesmo", enquanto jornalista do The Times of Israel David Horovitz o acusoubanalizar o conflitoGaza com suas paródias.
Poucos dias depois da polêmica, Stewart voltou ao tema, fazendo piada dos ataques que recebeambos os lados sempre que fala sobre Israel ou o Hamas, mas deu a entender – como muitos fazemHollywood – que o melhor teria sido não se pronunciar sobre o assunto.