Na Argentina, educadores vãoportaporta para reverter o abandono escolar:

Educadores do programa 'Vuelva a estudiar' (GovernoSanta Fé)

Crédito, GovernoSanta Fe

Legenda da foto, Desde que foi criado no ano passado, o programa já fez com que 1.600 alunos voltassem a estudar
  • Author, Marcia Carmo
  • Role, Para a BBC Brasil,Buenos Aires

O governo socialista da provínciaSanta Fé, na Argentina, criou um programaque profissionais que batem à porta dos adolescentes que abandonaram os estudos.

O objetivo do "Vuelva a estudiar" (volte a estudar,espanhol) é detectar por que eles desistiram da salaaula e convencê-losque vale a pena voltar à salaaula, como contou à BBC Brasil a secretáriaEducação, Claudia Balagué.

"É uma tarefa artesanal, árdua eequipe, com os profissionais treinados batendo,surpresa, na casacada aluno que deixou os estudos. Desenvolvemos uma estratégia personalizada para cada um que deixou a escola", contou Balagué.

A provínciaSanta Fé tem 850 mil alunos. O abandono ocorre principalmente entre os alunos mais velhos, assim como no restante da Argentina, onde quase 16% dos alunos do nível secundário, que têm entre 12 e 18 anos, deixam os estudos.

Em Santa fé, o índiceabandono chega a 18% no nível secundário, bem acima do 1% registrado entre alunos do primário, que têm até 12 anos.

Segundo dados oficiais, cerca1.600 alunos voltaram a estudarSanta Fé desde o início do programa, no ano passado.

Causas

Educadores do programa 'Vuelva a estudiar' (GovernoSanta Fé)

Crédito, GovernoSanta Fe

Legenda da foto, Trabalho é árduo e individualizado, segundo a secretáriaEducação Claudia Balagué

Foram detectadas ao menos três causas para o abandono da escola entre jovens com idades entre 12 e 20 anos.

"No caso dos que têm 18 anos ou mais, um dos principais motivos é porque têmtrabalhar para ajudar à família. Eles também parampor causauma gravidez na adolescência e por não se sentirem identificados com seus colegas e professores. Este último motivo nos surpreendeu", afirmou.

"Eles não se sentem confortáveis no grupo e desistem dos estudos."

O desinteresse foi o que fez a estudante Marisol Sanchez,16 anos, abandonar os estudos enquanto estava no primeiro ano do nível secundário,2011.

Em 2007, o secundário passou a ser obrigatório na Argentina e, desde então, Santa Fé busca alternativas para aumentar a inclusão escolar e a frequência dos alunos deste nível, como foi o casoMarisol.

"Achava tudo muito chato. Mas já estava pensandovoltar quando vieram aquicasa", diz ela. "Disseram que devia voltar porque seria melhor para minha vida. Minhas amigas já vinham me dizendo a mesma coisa."

Depoisdois anos longe da salaaula, ela voltou a estudar no ano passado.

Estratégias

Educadores do programa 'Vuelva a estudiar' (GovernoSanta Fé)

Crédito, GovernoSanta Fe

Legenda da foto, Diálogo com pais e alunos é uma das principais armas dos educadores para reverter o abandono escolar

A secretáriaEducaçãoSanta Fé afirma que a busca pelos alunos é possível porque o governo local fez um cadastro onlinetodos.

A direçãocada escola avisa quando eles deixam os estudos. “Esse registro nos permite saber onde eles moram e ir à casa deles”, afirmou.

A estratégia para que eles voltem a estudar começa com uma primeira abordagem dos profissionais.

Depois, psicólogos, pedagogos e diretores da escola ouvem os argumentos do aluno e, numa espécieterapiagrupo, tentam encontrar uma saída para manter o aluno na mesma escola ou designar uma nova, noutro bairro.

O trabalho ainda inclui conselheiros juvenis, estudantes que conversam com os colegas que deixaram a escola e com os professores e diretores.

Os profissionais da equipecombate à deserção escolar recebem treinamento especial para os casosalunas que deixaram os estudos ao engravidar.

“Se for o caso, podem estudarcasa, pela internet. Também convidamos a participar do debate sobre as melhores alternativas para que concluam os estudos”, diz Balagué.

Ouvidos pela imprensa local, especialistaseducação apoiaram a iniciativa.

“A deserção escolar no nível secundário é um problema sério que está ligado ao contexto social e econômico do aluno, mas também com a própria escola, que deve pensar como atender a este estudante através do ensino”, disse ao Clarín Graciela Morgade, reitora da FaculdadeFilosofia e Letras,Buenos Aires.