O estupro mora no quarto ao lado:dicas para bet

Nana Queiroz iniciou campanha online contra a ideiadicas para betatribuir culpa do estupro à vítima

Crédito, Joao Fellet

Legenda da foto, Nana Queiroz iniciou campanha online contra a ideiadicas para betatribuir culpa do estupro à vítima

No entanto, segundo a Lei Ordinária Federal nº 12.015,dicas para bet2009, que alterou o Código Penal Brasileiro, o crimedicas para betestupro não se refere somente à penetração, mas a qualquer atodicas para bet"conjunção carnal ou outro ato libidinoso com alguém, mediante fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestaçãodicas para betvontade da vítima".

Outra história. Certa noite, Maria estava entediada. Foi à casadicas para betum amigodicas para betquem confiava muito para ouvir música e beber até cair. Temerosadicas para betdirigir para casa embriagada, ela pediu para dormirdicas para betseu sofá até que o efeito do álcool se dissipasse. Acordou algumas horas depois com a bruta inserçãodicas para betum pênis emdicas para betvagina. Ela gritou, protestou, exigiu que parasse. Ele prosseguiu até não conseguir mais lutar contra ela. Argumentou que a culpa era dela por ter dormido na casa dele.

Nesse caso, vale um raciocínio básico: na dúvida, é estupro. Não tem certeza se ela está suficientemente consciente? É estupro. Não sabe se álcool ou drogas afetaramdicas para betcapacidadedicas para betjulgamento? É estupro. Ela está semiacordada? É estupro. Devíamos nos concentrardicas para betexplicar aos homens como não estuprar, e nãodicas para betdizer às mulheres como não serem estupradas.

Marco foi estuprado aos cinco anos pelo irmão. Na vida adulta, ele teve coragemdicas para betcontar aos pais. Pressionado para dar explicações, o abusador, que era bem mais velho que Marco, afirmou: "Eu já havia percebido que ele era gay, imaginei que ele iria gostar, e ele gostou".

Mas crianças não podem "gostar" ou nãodicas para betsexo. Elas ainda não têm a maturidade e os critérios para definir se desejam ou não uma relação sexual. A ONG Childhood, que trabalha com vítimasdicas para betpedofilia, explica que "a natureza sexuada, inerente a qualquer criança, não pode ser entendida no sentido genital, mas sim no contextodicas para betuma sériedicas para betexperiências psicológicas e físicas que vão, aos poucos, dando forma a seu pensamento e a seu corpo, ao que ela pensa sobre seu corpo e como o sente".

Mais: vocês sabiam que maisdicas para betum terço dos abusadoresdicas para betcrianças são também menoresdicas para betidade? Ou seja, você que forçou seu primo ou prima mais nova a ter envolvimento sexual com você também cometeu um abuso, mesmo sendo menordicas para betidade. Este é o casodicas para betMarcelo, um belo homem que foi abusado constantemente por um primo cinco anos mais velho durante a infância. Quando enfrentou o abusador, apoiado pela família, na vida adulta, o abusador alegou: "Eu também era menordicas para betidade, portanto, não sou culpado". É, sim. Mas, claro, deve ser tratado como um menor ofensor, que não tinha seu caráter ainda completamente formado.

Finalmente, gostariadicas para betdizer que tenho recebido e-mailsdicas para betpessoas que sugerem castração e penadicas para betmorte para abusadores. Não creio que a solução esteja por aí. A lei brasileira já protege amplamente o abusado. Temos que pedir que ela seja aplicada e não que endureça. O trabalho deve se concentrardicas para beteducar os homens para que não estuprem, as mulheres para que denunciem, os policiais para que não culpem as vítimas e os familiares para que não acobertem os casosdicas para betabuso intrafamiliares.

O primeiro passo para evitar mais histórias como asdicas para betMarco, Marcelo, Maria e Joana é a mudança do discurso. Diga às suas filhas que elas são dignas e que seu corpo é só delas. Ensine seus filhos a respeitar as mulheres e buscar o sexo como uma experiência mágica a dois. Não deixemos esse movimento morrer. Eu lancei a pergunta, agora, a resposta é com vocês!

Nana Queiroz, 28 anos, é autora do movimento "Eu não mereço ser estuprada", criado no Facebook na última quinta-feiradicas para betresposta ao resultadodicas para betuma pesquisa do Ipea (Institutodicas para betPesquisa Econômica Aplicada) segundo a qual 65% dos brasileiros acham que mulheres com roupas curtas merecem ser atacadas. O movimento ganhou a adesãodicas para bet44 mil pessoas e repercutiudicas para betvários países. Jornalista formada pela USP, Queiroz estuda desde 2009 o sistema carcerário feminino do Brasil. A pesquisa dará origem ao livro "Presos que Menstruam", a ser publicado até o fimdicas para bet2014.