O estupro mora no quarto ao lado:jogos de caça níqueis antigos
- Author, Nana Queiroz*
- Role, Especial para a BBC Brasil
jogos de caça níqueis antigos Desde que iniciei o protesto on-line "Eu não mereço ser estuprada", na noite da última quinta-feira, recebi uma sériejogos de caça níqueis antigosdepoimentosjogos de caça níqueis antigosmulheres, homens e adolescentes que foram vítimasjogos de caça níqueis antigosabuso sexual. É incrível como essas histórias têm força, muito mais força que os números. E o que vi é que o estupro geralmente não ocorre à noite, num beco escuro. Ele ocorre, principalmente,jogos de caça níqueis antigossituações mais cinzentas.
No Distrito Federal, onde vivo, uma pesquisa publicada no ano passado, por exemplo, indicou que 85,2% dos estupros acontecem dentro da casa da vítima ou do agressor. Os números são chocantes, e me sinto na obrigaçãojogos de caça níqueis antigoscontar sobre alguns rostos por trás das estatísticas.
Todos os nomes a seguir são fictícios.
Joana foi abusada sexualmente pelo pai durante toda a infância. O mais curioso é que ela só percebeu ter sido vítimajogos de caça níqueis antigosabuso na vida adulta - e o pai dela não percebeu até hoje. Sabe por quê? Porque ele nunca a penetrou. Enfiava a mão por dentrojogos de caça níqueis antigossua calcinha, acariciava seus seios mas, para ele, abuso sexual é penetração.
No entanto, segundo a Lei Ordinária Federal nº 12.015,jogos de caça níqueis antigos2009, que alterou o Código Penal Brasileiro, o crimejogos de caça níqueis antigosestupro não se refere somente à penetração, mas a qualquer atojogos de caça níqueis antigos"conjunção carnal ou outro ato libidinoso com alguém, mediante fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestaçãojogos de caça níqueis antigosvontade da vítima".
Outra história. Certa noite, Maria estava entediada. Foi à casajogos de caça níqueis antigosum amigojogos de caça níqueis antigosquem confiava muito para ouvir música e beber até cair. Temerosajogos de caça níqueis antigosdirigir para casa embriagada, ela pediu para dormirjogos de caça níqueis antigosseu sofá até que o efeito do álcool se dissipasse. Acordou algumas horas depois com a bruta inserçãojogos de caça níqueis antigosum pênis emjogos de caça níqueis antigosvagina. Ela gritou, protestou, exigiu que parasse. Ele prosseguiu até não conseguir mais lutar contra ela. Argumentou que a culpa era dela por ter dormido na casa dele.
Nesse caso, vale um raciocínio básico: na dúvida, é estupro. Não tem certeza se ela está suficientemente consciente? É estupro. Não sabe se álcool ou drogas afetaramjogos de caça níqueis antigoscapacidadejogos de caça níqueis antigosjulgamento? É estupro. Ela está semiacordada? É estupro. Devíamos nos concentrarjogos de caça níqueis antigosexplicar aos homens como não estuprar, e nãojogos de caça níqueis antigosdizer às mulheres como não serem estupradas.
Marco foi estuprado aos cinco anos pelo irmão. Na vida adulta, ele teve coragemjogos de caça níqueis antigoscontar aos pais. Pressionado para dar explicações, o abusador, que era bem mais velho que Marco, afirmou: "Eu já havia percebido que ele era gay, imaginei que ele iria gostar, e ele gostou".
Mas crianças não podem "gostar" ou nãojogos de caça níqueis antigossexo. Elas ainda não têm a maturidade e os critérios para definir se desejam ou não uma relação sexual. A ONG Childhood, que trabalha com vítimasjogos de caça níqueis antigospedofilia, explica que "a natureza sexuada, inerente a qualquer criança, não pode ser entendida no sentido genital, mas sim no contextojogos de caça níqueis antigosuma sériejogos de caça níqueis antigosexperiências psicológicas e físicas que vão, aos poucos, dando forma a seu pensamento e a seu corpo, ao que ela pensa sobre seu corpo e como o sente".
Mais: vocês sabiam que maisjogos de caça níqueis antigosum terço dos abusadoresjogos de caça níqueis antigoscrianças são também menoresjogos de caça níqueis antigosidade? Ou seja, você que forçou seu primo ou prima mais nova a ter envolvimento sexual com você também cometeu um abuso, mesmo sendo menorjogos de caça níqueis antigosidade. Este é o casojogos de caça níqueis antigosMarcelo, um belo homem que foi abusado constantemente por um primo cinco anos mais velho durante a infância. Quando enfrentou o abusador, apoiado pela família, na vida adulta, o abusador alegou: "Eu também era menorjogos de caça níqueis antigosidade, portanto, não sou culpado". É, sim. Mas, claro, deve ser tratado como um menor ofensor, que não tinha seu caráter ainda completamente formado.
Finalmente, gostariajogos de caça níqueis antigosdizer que tenho recebido e-mailsjogos de caça níqueis antigospessoas que sugerem castração e penajogos de caça níqueis antigosmorte para abusadores. Não creio que a solução esteja por aí. A lei brasileira já protege amplamente o abusado. Temos que pedir que ela seja aplicada e não que endureça. O trabalho deve se concentrarjogos de caça níqueis antigoseducar os homens para que não estuprem, as mulheres para que denunciem, os policiais para que não culpem as vítimas e os familiares para que não acobertem os casosjogos de caça níqueis antigosabuso intrafamiliares.
O primeiro passo para evitar mais histórias como asjogos de caça níqueis antigosMarco, Marcelo, Maria e Joana é a mudança do discurso. Diga às suas filhas que elas são dignas e que seu corpo é só delas. Ensine seus filhos a respeitar as mulheres e buscar o sexo como uma experiência mágica a dois. Não deixemos esse movimento morrer. Eu lancei a pergunta, agora, a resposta é com vocês!
Nana Queiroz, 28 anos, é autora do movimento "Eu não mereço ser estuprada", criado no Facebook na última quinta-feirajogos de caça níqueis antigosresposta ao resultadojogos de caça níqueis antigosuma pesquisa do Ipea (Institutojogos de caça níqueis antigosPesquisa Econômica Aplicada) segundo a qual 65% dos brasileiros acham que mulheres com roupas curtas merecem ser atacadas. O movimento ganhou a adesãojogos de caça níqueis antigos44 mil pessoas e repercutiujogos de caça níqueis antigosvários países. Jornalista formada pela USP, Queiroz estuda desde 2009 o sistema carcerário feminino do Brasil. A pesquisa dará origem ao livro "Presos que Menstruam", a ser publicado até o fimjogos de caça níqueis antigos2014.