Ucrânia ainda tem solução política, mas o tempo está se esgotando:nbet91 cadastro

Opositores do governo transportam corponbet91 cadastromanifestante morto na Ucrânia (foto: Reuters)

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Alternativa diplomática para solução da crise na Ucrânia é cada vez mais limitada
  • Author, Rafael Gomez*
  • Role, Da BBC Brasilnbet91 cadastroSão Paulo

nbet91 cadastro Em 2001, eu estavanbet91 cadastroKiev fazendo uma sérienbet91 cadastroreportagens para a BBC sobre os dez anos da queda da União Soviétiva. Acompanhadonbet91 cadastroum tradutor, entreinbet91 cadastrouma estaçãonbet91 cadastrometrô não muito longe da Praça da Independência, que hoje é a base dos oposicionistas que obstinadamente enfrentam as forças do presidente Viktor Yanukovych.

Paramos uma pessoa para lhe perguntar sobre o passado - se ela sentia falta da União Soviética, se a vida após a independência era melhor. Meu tradutor já me advertira que havia pessoasnbet91 cadastroKiev que falavam russo, outras, que falavam ucraniano.

Abordamos essa primeira pessoanbet91 cadastrorusso. A conversa transcorreu normalmente. Assim que terminamos a entrevista, porém, uma senhora correunbet91 cadastronossa direção. Ela tinha cercanbet91 cadastro50 anos enbet91 cadastroatitude me lembrou anbet91 cadastrouma severa professoranbet91 cadastroensino fundamental, dando uma broncanbet91 cadastroseus alunos.

"Estamos na Ucrânia. Vocês devem falar ucraniano! A língua russa não pertence a este país", disse ela. O tradutor e ela bateram boca a seguir, e ele não me disse imediatamente o que discutiram.

"Ela vem do oeste", resumiu ele depois, me explicando o que ocorrera. Estava claro para mim um dos mais importantes fatos a respeito do país, anbet91 cadastrofamosa divisão, que hoje está na raiz da violência na ex-república soviética.

Raízes históricas

A divisão, com o oeste mais nacionalista, falando ucraniano, e o leste próximo à fronteira russa, com forte influência dos poderosos vizinhos, se manteve durante toda a era soviética, tendo origem anterior à Revoluçãonbet91 cadastroOutubro.

Até o início do século 20, boa parte do país pertencia à Rússia czarista, enquanto que o leste, incluindo o hoje bastião oposicionistanbet91 cadastroLviv, estava ligado ao Império Áustro-Hungaro.

Mas a ligação dos russos com o território ucraniano vemnbet91 cadastromuito antes. A Ucrânia foi berço da civilização russa, que lá floresceu no século 9 até ser obliterada pelo avanço dos mongóis, no século 13. O renascimento com Ivan, o Terrível (1530-1584), viria com a sede para recuperar os territórios perdidos para Genghis Khan e seus sucessores.

Isso explica parte do interesse histórico da Rússia pela Ucrânia. O legado soviético só acrescenta peso a isso.

A Ucrânia foi um dos signatários originais do fim da URSS. Mas a assinatura,nbet91 cadastro8nbet91 cadastrodezembronbet91 cadastro1991, do tratado que criaria a Comunidadenbet91 cadastroEstados Independentes (CIS) só viria sete dias depoisnbet91 cadastroum referendo na Ucrânia terminar com apoionbet91 cadastro90% da população à independência, refletindo o apelo nacionalistanbet91 cadastrovoga na ocasião.

Mas a separação ucraniana nunca foi bem absorvidanbet91 cadastroMoscou, onde uma influente elite ucraniana tinha podernbet91 cadastrodecisão durante os anos soviéticos e permaneceunbet91 cadastroMoscou mesmo após o surgimento do novo país.

Pactonbet91 cadastroelites

Após a independência, a estabilidade da Ucrânia foi garantida por um pacto das elites. Com o respaldo russo, como nos tempos soviéticos, a Ucrânia permaneceu unida.

Em 2004, o presidente russo, Vladimir Putin, imaginou que a política ucraniana caminharia pelas trilhas tradicionais com o apoionbet91 cadastroMoscou. Viktor Yanukovych – que vem do leste do país - foi eleito presidentenbet91 cadastroeleições contestadas e,nbet91 cadastropouco tempo, a contestação se transformounbet91 cadastroum turbilhão laranja nas ruasnbet91 cadastroKiev.

A Revolução Laranja forçou Putin, pegonbet91 cadastrosurpresa, a aceitar um novo acordo com as elites nacionalistas do oeste, representadas por Yulia Timoshenko e Viktor Yushchenko, que então se tornaria presidente. Viriam anos difíceis nas relações entre os dois países, marcados por disputas no fornecimentonbet91 cadastrogás russo ao país.

Yanukovich finalmente chegaria ao podernbet91 cadastro2010,nbet91 cadastroum momentonbet91 cadastroenfraquecimento da oposição nacionalista. De volta à Presidência russanbet91 cadastro2012, Putin avançou com seu plano para restabelecer boa parte da esferanbet91 cadastroinfluência soviética.

O lançamentonbet91 cadastrouma União Aduaneira unindo Belarus, Rússia e Cazaquistão,nbet91 cadastro2010, e da proposta para uma União Econômica Euroasiática com esses e outros países, surgiram como antagonistasnbet91 cadastrouma possível ampliação da União Europeia rumo à Ucrânia, vista por Moscou como candidata natural a integrar essas organizações.

Finalmente, a frágil estabilidade entre as elites ucranianas foi destruída quando Yanukovych, enfrentando grave crise econômica, tomounbet91 cadastrodecisãonbet91 cadastronão buscar uma maior integração com a União Europeia, desencadeando os protestos que hoje fazem sangrar o país. Em seguida, a Rússia lhe cederia uma ajudanbet91 cadastroUS$ 15 bilhões para salvar a economia.

Cenários

A atual situação da Ucrânia contempla alguns possíveis cenários para a resolução do conflito. Nenhum deles mostra uma saída fácil.

Um cenário é o da diplomacia. Primeiramente, a diplomacia tradicional,nbet91 cadastromediadores e longas conversas. Até agora, a estratégia não se mostrou muito promissora e,nbet91 cadastrouma atmosferanbet91 cadastroânimos exaltados pelas mortes, só tende a se mostrar mais limitada.

Em segundo lugar, a diplomacia dura das sanções, pressionando o governo ucraniano a ceder na marra. A União Européia anunciou sanções nesta quinta-feira, mas – como bem mostra a experiência iraniana – elas podem não ser eficientes. Ainda mais com o governonbet91 cadastroYanukovych recebendo um forte respaldonbet91 cadastroMoscou.

Outro cenário é o estabelecimentonbet91 cadastrouma força-tarefa envolvendo representantes do governo russo, dos EUA, da União Europeia, da oposição e da Presidência ucraniana. A negociação visaria o estabelecimentonbet91 cadastroum novo pacto das elites ucranianas, sendo que as pró-UE esperariam,nbet91 cadastroalguma forma, uma nova promessanbet91 cadastrointegração com o bloco.

Contudo, dificilmente Moscou aceitaria ceder muito a essas elites a favor da integração com o bloco europeu. Também é difícil saber que tiponbet91 cadastroproposta seria aceita pela oposição nesta altura dos acontecimentos. A violência evoluiu a tal ponto que é possível que ela não aceite apenas mais promessas.

Como parte desse pacto, Yanukovich poderia simplesmente ceder, voltando atrás emnbet91 cadastrodecisãonbet91 cadastronão se aproximar da UE. Mas isso pode não ser suficiente, já que a oposição provavelmente também exigirianbet91 cadastrosaída e que fosse julgado pela mortenbet91 cadastromanifestantes.

Uma alternativa semelhante, ainda como parte do pacto, é que a oposição ceda. Nesse caso, seria essencial que União Europeia flexionasse seus músculos e a estimulasse a aceitar isso.

Nesse caso, surgem as seguintes questões: a União Europeia está preparada para abrir mão da Ucrânia? Está preparada para dizer a aqueles que dizem estar lutando pelos valores europeus que devem desistir desses valores? Não seria isso uma perigosa contradição, que enviaria um sinal a Moscounbet91 cadastroque pode fazer o que bem entender?

Guerra civil e divisão

Talvez o cenário mais apocalíptico seja este: Yanukovich mantémnbet91 cadastroatual posição e tenta eliminar a oposição, enquanto que a oposição tenta assumir o controle. Trata-se precisamente do que vem ocorrendo, com uma tendêncianbet91 cadastroescalar para uma guerra civil.

Um conflito generalizado,nbet91 cadastrotodo o país, ainda não está ocorrendo. Por enquanto, a violência se concentranbet91 cadastroKiev, sem sinaisnbet91 cadastroescalada no leste, mas com episódios preocupantesnbet91 cadastropontos do oeste.

Na cidadenbet91 cadastroLutsk, manifestantes armados invadiram o gabinete do governador local, o arrastaram para fora e o algemaram. Centenas acompanharam discursosnbet91 cadastroum palco improvisado,nbet91 cadastromeio a pedidosnbet91 cadastrorenúncia do presidente.

Também há informaçõesnbet91 cadastroque oposicionistas invadiram uma prisãonbet91 cadastroLviv e libertaram todos os detentos – aparentemente sem que a polícia esboçasse reação. Em outra cidade do oeste, Ivano-Frankivsk, manifestantes teriam tomado bases da polícia e das forçasnbet91 cadastrosegurança e da Promotorianbet91 cadastroJustiça.

Daniel Sanford, repórter da BBCnbet91 cadastroKiev, fala que "o apoio silencioso que muitos na Ucrânia Ocidental, particularmentenbet91 cadastroLviv, estão dando à violência (…) significa que uma separação entre Ucrânia Ocidental e Ucrânia Oriental está sendo discutida abertamente, apesarnbet91 cadastropoucas pessoas afirmarem querer isso".

Se o silêncio está se transformandonbet91 cadastroações clarasnbet91 cadastroapoio aos oposicionistas,nbet91 cadastrodesafio ao poder institucionalizado no oeste – como os recentes desdobramentos no oeste sugerem – é sinal que a divisão está sendo levada mais a sério.

Mas é difícil imaginar que uma separação ocorra sem um confronto maior, envolvendo também o ainda mais silencioso leste próximo à fronteira russa – e, possivelmente, a própria Rússia.

*Rafael Gomez é mestrenbet91 cadastroestudos da Rússia e da Europa Oriental pela Universidadenbet91 cadastroBirmingham, Reino Unido