Obama nega espiar líderes estrangeiros e anuncia mudanças na NSA:

Obamaentrevista coletiva nesta sexta (AFP)

Crédito, AFP

Legenda da foto, 'Países amigos merecem saber que, se eu quiser saber algo, ligarei para eles', disse Obama

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, anunciou nesta sexta-feira limitações ao escopo da Agência NacionalSegurança (NSA), dizendo que não vai espionar líderespaíses amigos.

Seu discurso é uma reação às diversas críticas internas e internacionais feitas à NSA, após o ex-colaborador Edward Snowden ter vazado documentos revelando a espionagemchefesEstadopaíses como Brasil, Alemanha e Israel, entre outros, alémter mostrado que a agência teria acesso a dados privadosempresas e cidadãos comuns.

"À medida que equilibramos segurança e privacidadecasa (nos EUA), nossa liderança global significa que devemos estimular a confiança com líderes globais", disse Obama. "E líderespaíses amigos e aliados merecem saber que, se eu quiser saber o que eles pensamdeterminado assunto, eu pegarei o telefone e ligarei para eles,vezrecorrer à vigilância."

Entre as limitações anunciadas - e que passam a vigorar imediatamente - estão que a NSA só poderá rastrear telefonemas que estejam, com dois grausseparação, associados a um telefone ligado a uma organização extremista. Antes, eram três graus.

Os detalhes dos telefonemas devem ser protegidos por terceiros, e a NSA teráobter autorização judicial para ter acesso a essa informação.

Além disso, o DepartamentoJustiça trabalharáconjunto com a inteligência para garantir que o bancodadostelefones só possa ser acessado "após decisão judicial ouuma emergência".

Revelações recentes dão contaque agências americanas chegam a coletar diariamente 200 milhõesmensagenstexto ao redor do mundo.

O presidente americano disse que a abordagem visa conciliar a necessidadesegurança com o respeito a liberdades civis. Americanos terão, afirmou, "maior confiançaque seus direitos estão sendo protegidos".

Mas, simultaneamente ao discurso, analistas escreviam no Twitter que as propostas não correspondem às expectativas dos que esperavam uma reforma mais ampla.

"A maioria das definiçõesObama são vagas", escreveu Joyce Karam, colunista do jornal árabe Al-Hayat Al-Arabiya. "Quem são 'amigos e aliados', quem são as 'pessoas comuns', quando (ficará claro se) 'a segurança nacional estará ameaçada'?"

Organizaçõesliberdades civis também pleiteavam uma reforma maior, que abolisse a coletadados maciça praticada pela inteligência americana.

'Potencial para abuso'

Obama defendeu a atuação dos serviçosinteligência após os atentados11Setembro, alegando que eles preveniram atentados extremistas nos EUA e no exterior. Também disse que os EUA não estão desrespeitando a privacidadecidadãos estrangeiros ou americanos, mas admitiu que a armazenagemquantidades tão grandesinformações cria "potencial para abuso".

Ao mesmo tempo, acrescentou que muitos dos países que protestaram contra as denúnciasespionagem também buscam dados sobre os EUA. "Não vou pedir desculpas só porque nossos serviços são mais eficientes (na coletadados), mas chefesEstados devem ter a certezaque os trataremos como verdadeiros parceiros."

O presidente prometeu também criar um paineladvogados externos como observadores independentes e pedir ao secretárioJustiça, Eric Holder, e ao diretorinteligência doméstica para instituir reformas na capacidade do governo dos EUAguardar comunicações realizadas entre americanos e cidadãos estrangeiros.

Snowden

As mudanças nas práticasinteligência não ocorrerãoum dia para o outro, afirmou Obama, mas o trabalho já começou eequipe passou "incontáveis horas" avaliando as reformas.

Pela primeira vez, o presidente mencionou publicamente o nomeEdward Snowden. Afirmou que não vai debater suas ações e motivações, mas agregou que o vazamentodados gerou "mais tensão do que luz" e revelou práticasinteligência das quais adversários dos EUA poderão se aproveitar.