A ilhasporting brasil betque todos os habitantes descendemsporting brasil betum único homem:sporting brasil bet

ilhasporting brasil betPalmerston
Legenda da foto, Todos os 62 habitantessporting brasil betilha remota no Pacífico descendemsporting brasil betum único homem
  • Author, Thomas Martienssen
  • Role, BBC Radio 4

sporting brasil bet A ilhasporting brasil betPalmerston, situada no Oceano Pacífico, abriga uma das comunidades mais isoladas do planeta. Visitada por um naviosporting brasil betsuprimentos duas vezes ao ano - quando muito -, ela fica tão longesporting brasil betoutras regiões habitadas do mundo que apenas os mais intrépidos aventureiros conseguem pisarsporting brasil betseu solo. Curiosamente, a maioria dos seus 62 habitantes descendesporting brasil betum único homem: um inglês que se instalou ali há 150 anos.

Palmerston pertence a um gruposporting brasil betilhas conhecidas como Cook Islands, conectadas por um recifesporting brasil betcorais que circunda as águas calmassporting brasil betuma lagoa central.

Os recifes, no entanto, são altos demais, impedindo que hidroaviões pousem na lagoa. Do ladosporting brasil betfora, as águas muito agitadas também dificultam o pousosporting brasil betaeronaves. A ilha é distante demaissporting brasil betoutros pontos habitados, o que também impossibilita o acesso por helicópteros convencionais.

Portanto, só se pode chegar a Palmerston pelo mar. E são nove dias, por barco, da terra habitada mais próxima.

Mar Bravio

Voamossporting brasil betLondres, via Los Angeles, para o Taiti. De lá, seguimossporting brasil betum pequeno iate.

Depoissporting brasil betcinco dias velejando, nuvens negras se formam no céu. Começa a chover forte, raios explodindo no mar. A força do vento empurra a vela e o barco tomba 60º para o lado. À mercê dos elementos, somos arrastados pelas águas.

A ilha só pode ser avistada a três quilômetrossporting brasil betdistância. E quando o tempo está ruim, não dá para vê-la. Ao longo dos anos, dezenas - senão centenas -sporting brasil betbarcos se chocaram contra os recifes que se escondem sob as ondas, deixando muitos marinheiros presos na ilha.

O naufrágio mais recente aconteceu há três anos. O barco ainda pode ser visto, na praia, com um imenso buraco na carcaça. Peças desses navios - motores, madeira, mastros - tudo isso é reaproveitado pelos ilhéus. Nada é desperdiçadosporting brasil betPalmerston.

Navegarsporting brasil betsegurança por entre as barreiras naturais que cercam a ilha é algo que só se aprende com anossporting brasil betprática. Nosso barco, com apenas dez metrossporting brasil betcomprimento, terásporting brasil betficar ancorado a 500 metros da praia.

Um pequeno barco vem ao nosso encontro, ziguezagueando para desviar dos recifes, com o motor trabalhando duro.

"Olá, sou seu anfitrião", diz o piloto, Rob Marsters. "Ancorem seu barco aqui, vamos levar vocês para a terra e poderão almoçar. Daquisporting brasil betdiante, eu tomo contasporting brasil betvocês".

Bob é o cabeçasporting brasil betuma das três famílias que vivem na ilha. Elas competem entre si para chegar até os poucos iates que visitam a ilha anualmente. Quem vence a corrida toma conta dos visitantes. Os ilhéus se orgulhamsporting brasil betsua hospitalidade e se deliciamsporting brasil better companhia extra.

Essa generosidade, a etiqueta da ilha, seu sistema legal e suas tradições foram passados oralmente entre gerações. E são um legadosporting brasil betum único homem, nascido no condadosporting brasil betLeicestershire, na Inglaterra, há maissporting brasil bet16 mil kmsporting brasil betdistância.

William Marsters foi o primeiro homem a habitar Palmerston permanentemente, 150 anos atrás.

Ele viveu nas Cook Islands a partirsporting brasil bet1850 e, por voltasporting brasil bet1860, foi nomeado o administradorsporting brasil betPalmerston pelo então dono da ilha, o mercador britânico John Brander. Ele se mudou para a ilhasporting brasil bet1863 acompanhado da esposa e duas primas, todas nativas da Polinésia.

Marsters cobriu a ilhasporting brasil betcoqueiros e, durante os primeiros anos, os naviossporting brasil betBrander paravam no local a cada seis meses para coletar o óleosporting brasil betcoco que ele produzia. Aos poucos, as visitas se tornaram mais raras, seis meses se transformaramsporting brasil bettrês anos. Até cessarem por completo: John Brander tinha morrido.

A rainha Vitória deu a Marsters a posse da ilha. Ele se casou com as primas da esposa e, juntas, as três famílias tiveram 23 crianças. Antessporting brasil betmorrer,sporting brasil bet1899, ele dividiu a ilhasporting brasil bettrês partes, uma para cada esposa. Hoje, apenas três dos residentessporting brasil betPalmerston não são descendentes diretossporting brasil betWilliam Marsters.

O barco Bob Marsters nos leva até a praia. Com suas areias brancas, ela é absurdamente bonita. No mar, centenassporting brasil betpeixes nadam nas águas límpidas.

"Bemvindos ao meu mundo, uma terrasporting brasil betareias brancas e coqueiros. Nada dá erradosporting brasil betPalmerston", diz o anfitrião, ao nos aproximarmossporting brasil betsua casa com telhadosporting brasil betmetal.

"Menino, pega um coco para o pessoal. Bebam, bebam", ele diz, enquanto o filho abre um coco com um facão.

"Eu adoro esse lugar, todas as pessoas fazendo guerras (no mundo) deveriam vir para Palmerston e sair para nadar, ou jogar voleibol", ele diz. "Ninguém briga aqui".

ilhasporting brasil betPalmerston
Legenda da foto, Palmerston é um protetorado da Nova Zelândia

Pop e internet

De repente, o sussurrar do vento nas folhas dos coqueiros é abafado pelo som agressivosporting brasil betuma canção da banda europeia Vengaboys.

Oficialmente, Palmerston é um protetorado da Nova Zelândia e dela depende para muitos dos confortos tidos como banaissporting brasil betoutros lugares. Moradia, energia e internet (durante duas horas por dia) e, para alguns mais sortudos, sinalsporting brasil bettelefone celular.

Mas não existem lojas na ilha. Há apenas dois banheiros. Os ilhéus bebem água da chuva. E dinheiro é usado apenas para comprar suprimentos do mundo exterior, nunca entre os moradores.

"Trabalhamos juntos, amamos uns aos outros e compartilhamos tudo", diz Bob.

"Por exemplo, se fico sem arroz ou farinha, bato na porta ao lado. Se eles têm, me dão".

"Acho bom que as pessoas não vendam coisas aqui. O naviosporting brasil betsuprimentos não vem há seis meses mas não choramos por causa do arroz ou da carne. Nós nos viramos com coco e peixe. Agora, quando o navio chega, é como se fosse Natal!", ele ri.

Bob é o prefeitosporting brasil betPalmerston e morasporting brasil betuma das extremidades da rua principal. É uma faixasporting brasil betterra com menossporting brasil betcem metrossporting brasil betcomprimento e abriga meia dúziasporting brasil betprédios.

Em um dos lados da rua está a igreja. Ela é central para a vida da comunidade. Também é uma das construções mais novas - e mais robustas - da ilha. O sino pintadosporting brasil betbranco é tudo o que resta da igreja anterior.

Sem qualquer outra terra por perto, Palmerston recebe a força totalsporting brasil betqualquer tempestade. Então, os moradores amarram as construções às árvores. Em 1926, um tufão atingiu a ilha, arrancando a antiga igreja do solo.

"As ondas vieram quebrar sobre as casas aqui", explica Bob, apontando para a antiga casasporting brasil betWilliam Marsters, com maissporting brasil betseis metrossporting brasil betaltura.

"A igreja foi arrastada 200m para dentro da ilha. Nossos pais e mães a trouxeramsporting brasil betvolta, empurrando-a por sobre troncossporting brasil betcoqueiro."

Aos domingos, o sino toca às dez da manhã, chamando a comunidade para a missa. Nesse dia, não se trabalha nem se brinca até as 2h da tarde.

Depois da missa, é horasporting brasil betcomer. Como convidado, tenho uma mesa só para mim. Quatro panelas estão alinhadas à minha frente com peixe, arroz, frango e pão doce. Os quatro filhossporting brasil betBob têm os olhos fixos na direção da minha mesa. A família inteira temsporting brasil betesperar até que eu me sirva.

Comida é parte fundamental da vida na ilha. Para a maioria dos palmerstonianos, a pesca toma grande parte do dia. Como visitante, é impossível eu sairsporting brasil betcasa sem receber convites para quatro almoços diferentes.

O irmãosporting brasil betBob, Bill, é pescador.

"O peixe está diminuindo", ele diz. "Antes, os cardumes continham centenassporting brasil betpeixes, hoje não".

Em pé no seu pequeno barcosporting brasil betalumínio que já recebeu vários remendos, Bill navega para além dos recifes, onde as ondas são gigantes,sporting brasil betbuscasporting brasil betoutras variedadessporting brasil betpeixe. Os bolsossporting brasil betsuas calças estão cheiossporting brasil betlinha e iscas.

Depoissporting brasil betduas horas usando quatro anzóis longos, só conseguimos pescar dois peixes - entre eles, uma barracuda.

O peixe preferido dos ilhéus é o Calotomus zonarchus, conhecido popularmente como parrotfish (ou peixe-papagaio).

"Na décadasporting brasil bet90, os membros do conselho proibiram a pesca do peixe-papagaio por dois anos", ele conta. "Seis meses depois, alguém disse que precisávamossporting brasil betdinheiro para o Natal e pronto, o assunto foi esquecido".

"Não podemos fazer nada. Qualquer coisa que a gente diga, vão simplesmente ignorar".

O peixe é o alimento principalsporting brasil betPalmerston e também é o único produtosporting brasil betexportação da ilha. Entre uma e duas toneladassporting brasil betpeixe-papagaio são congeladas e coletadas pelo naviosporting brasil betsuprimentos que, duas vezes por ano, vem trazer produtos básicos, como arroz e combustível.

Bem, pelo menos, essa é a teoria. Às vezes, o navio simplesmente não vem. Dois anos atrás, ele ficou sem aparecer durante 18 meses.

Mama Aka
Legenda da foto, Mama Aka,sporting brasil bet92 anos, a habitante mais idosa da ilha

Casamentos consanguíneos

A localização remota da ilha também cria outros desafios. Ir ao dentista, por exemplo, torna-se uma grande empreendimento. Quando a moradora mais idosa da ilha, Mama Aka, com 92 anos, foi receber tratamento dentáriosporting brasil betRarotonga, capital das Cook Islands, levou quatro dias para ela chegar lá. Mas após a consulta, que foi rápida, ela tevesporting brasil betesperar seis meses por um navio que a trouxessesporting brasil betvolta.

E se, para alguns, o isolamento é o grande atrativo da vidasporting brasil betPalmerston, para outros, ele pode ser uma ameaça. Particularmente porque, com exceçãosporting brasil betdois professores e uma enfermeira, todos na ilha são parentes.

Bill teve seis filhos comsporting brasil betprimeira esposa, uma mulher que ele pensava sersporting brasil betprimasporting brasil betsegundo grau.

Mas quando ela era muito nova, tinha sido entregue a outra família pelos pais - prática comum na ilha. Na verdade, Bill e a esposa eram primossporting brasil betprimeiro grau.

"Tinha ouvido dizer que, se você se casa com um primo, isso pode ter um efeito sobre o bebê", diz Bill. "Mas não acreditei até o nascimento do nosso segundo filho. Ele era um bebê normal até os seus seis mesessporting brasil betidade, mas ficou doente. Fomos procurar tratamento na Nova Zelândia, mas não havia nada a fazer".

"Não tem ninguém (que não seja da família)sporting brasil betPalmerston, por isso os casamentos (consanguíneos) acontecem".

O isolamento leva muitos a deixar a ilha. Entre 1950 e 1970, a populaçãosporting brasil betPalmerston chegou a 300.

Um terço da população são crianças, todos parecem saudáveis e felizes ao participar das aulas na escola da ilha.

Mas muitos esperam partir para as cidades a centenassporting brasil betquilômetrossporting brasil betdistância. Eles sonham com mais conforto, melhores salários e, quem sabe, um marido ou uma esposa.

"Pouquíssimos deles voltam. E não ficamsporting brasil betcontato com as famílias", disse Mama Aka.

Educação

Shekinah Marsters tem 16 anos e quer ser advogada. Se isso acontecer, ela será a primeira aluna da escolasporting brasil betPalmerston ir para a Universidade.

Atualmente, ela estuda inglês, matemática, história americana e a vidasporting brasil betCristo na escola da ilha.

Shekinah já estudou na Nova Zelândia. "Você tem muito mais oportunidades lá, mais coisas para fazer, mais amigos."

"Não fico entediada aqui, mas fico desmotivada. Nado, pesco, toco violão, converso - nada mais".

Nem todos escolhem visitar Palmerston. Na décadasporting brasil bet1950, o barco do tenente Victor Clark naufragou nas imediações da ilha e ele tevesporting brasil betviver no local durante nove meses. Anos mais tarde, a filhasporting brasil betClark, Rose, veio à ilha trazer as cinzas do pai, que tinha morrido aos 92 anossporting brasil betidade.

"Foi o período favorito da vida dele", conta Rose, que ésporting brasil betDevon, na Inglaterra. Rosa pretendia fazer uma visita curta, mas um ano após chegar, continua na ilha. Ela é professora especializadasporting brasil betcrianças com necessidades especiais e cuidasporting brasil betum menino que não consegue frequentar a escola da ilha.

"São uma comunidade muito focada na família, é muito bonito", ela diz. "Aprendi muito observando a maneira como eles são próximos uns dos outros".

Quando não está dando aula, Rose se junta às outras mulheres para fazer chapéus e cestas com folhassporting brasil betcoqueiro.

O delicado trabalho manual, que as mulheres aprenderam com suas mães, não está sendo transmitido para a próxima geração, já que não existem jovens adultos na ilha.

Mas com frequência, o grupo pode ser ouvido rindo e cantando. Esporting brasil betmaneira geral, os palmerstonianos têm uma boa vida.

Os dias são longos e a jornadasporting brasil bettrabalho é curta.

À tardinha, as crianças nadam ou jogam vôlei. Alguns dos homens se reúnemsporting brasil bettorno da única TV da ilha para assistir aos melhores momentos do rúgbi. As mulheres relaxam na rede, rindo e conversando.

Nossa temporadasporting brasil betPalmerston chega ao fim.

Enquanto nos preparamos para partir, Bob chega com uma cestasporting brasil betpeixe e nos oferece dois - para a primeira etapa da nossa viagem.

Olhando para a lagoa, ele diz: "Fomos feitos para desfrutar do mundo, do ar fresco, do sol, das coisas que Deus colocou na Terra. Ele não nos colocou aqui para brigar e odiar uns aos outros".

Seguimossporting brasil betmeio aos recifes, uma jornada que muitos jovens habitantes da ilha farão nos próximos anos. Fica a pergunta: quantos vão retornar?