A ilhabet roletaque todos os habitantes descendembet roletaum único homem:bet roleta
Mar Bravio
Voamosbet roletaLondres, via Los Angeles, para o Taiti. De lá, seguimosbet roletaum pequeno iate.
Depoisbet roletacinco dias velejando, nuvens negras se formam no céu. Começa a chover forte, raios explodindo no mar. A força do vento empurra a vela e o barco tomba 60º para o lado. À mercê dos elementos, somos arrastados pelas águas.
A ilha só pode ser avistada a três quilômetrosbet roletadistância. E quando o tempo está ruim, não dá para vê-la. Ao longo dos anos, dezenas - senão centenas -bet roletabarcos se chocaram contra os recifes que se escondem sob as ondas, deixando muitos marinheiros presos na ilha.
O naufrágio mais recente aconteceu há três anos. O barco ainda pode ser visto, na praia, com um imenso buraco na carcaça. Peças desses navios - motores, madeira, mastros - tudo isso é reaproveitado pelos ilhéus. Nada é desperdiçadobet roletaPalmerston.
Navegarbet roletasegurança por entre as barreiras naturais que cercam a ilha é algo que só se aprende com anosbet roletaprática. Nosso barco, com apenas dez metrosbet roletacomprimento, terábet roletaficar ancorado a 500 metros da praia.
Um pequeno barco vem ao nosso encontro, ziguezagueando para desviar dos recifes, com o motor trabalhando duro.
"Olá, sou seu anfitrião", diz o piloto, Rob Marsters. "Ancorem seu barco aqui, vamos levar vocês para a terra e poderão almoçar. Daquibet roletadiante, eu tomo contabet roletavocês".
Bob é o cabeçabet roletauma das três famílias que vivem na ilha. Elas competem entre si para chegar até os poucos iates que visitam a ilha anualmente. Quem vence a corrida toma conta dos visitantes. Os ilhéus se orgulhambet roletasua hospitalidade e se deliciambet roletater companhia extra.
Essa generosidade, a etiqueta da ilha, seu sistema legal e suas tradições foram passados oralmente entre gerações. E são um legadobet roletaum único homem, nascido no condadobet roletaLeicestershire, na Inglaterra, há maisbet roleta16 mil kmbet roletadistância.
William Marsters foi o primeiro homem a habitar Palmerston permanentemente, 150 anos atrás.
Ele viveu nas Cook Islands a partirbet roleta1850 e, por voltabet roleta1860, foi nomeado o administradorbet roletaPalmerston pelo então dono da ilha, o mercador britânico John Brander. Ele se mudou para a ilhabet roleta1863 acompanhado da esposa e duas primas, todas nativas da Polinésia.
Marsters cobriu a ilhabet roletacoqueiros e, durante os primeiros anos, os naviosbet roletaBrander paravam no local a cada seis meses para coletar o óleobet roletacoco que ele produzia. Aos poucos, as visitas se tornaram mais raras, seis meses se transformarambet roletatrês anos. Até cessarem por completo: John Brander tinha morrido.
A rainha Vitória deu a Marsters a posse da ilha. Ele se casou com as primas da esposa e, juntas, as três famílias tiveram 23 crianças. Antesbet roletamorrer,bet roleta1899, ele dividiu a ilhabet roletatrês partes, uma para cada esposa. Hoje, apenas três dos residentesbet roletaPalmerston não são descendentes diretosbet roletaWilliam Marsters.
O barco Bob Marsters nos leva até a praia. Com suas areias brancas, ela é absurdamente bonita. No mar, centenasbet roletapeixes nadam nas águas límpidas.
"Bemvindos ao meu mundo, uma terrabet roletaareias brancas e coqueiros. Nada dá erradobet roletaPalmerston", diz o anfitrião, ao nos aproximarmosbet roletasua casa com telhadobet roletametal.
"Menino, pega um coco para o pessoal. Bebam, bebam", ele diz, enquanto o filho abre um coco com um facão.
"Eu adoro esse lugar, todas as pessoas fazendo guerras (no mundo) deveriam vir para Palmerston e sair para nadar, ou jogar voleibol", ele diz. "Ninguém briga aqui".
Pop e internet
De repente, o sussurrar do vento nas folhas dos coqueiros é abafado pelo som agressivobet roletauma canção da banda europeia Vengaboys.
Oficialmente, Palmerston é um protetorado da Nova Zelândia e dela depende para muitos dos confortos tidos como banaisbet roletaoutros lugares. Moradia, energia e internet (durante duas horas por dia) e, para alguns mais sortudos, sinalbet roletatelefone celular.
Mas não existem lojas na ilha. Há apenas dois banheiros. Os ilhéus bebem água da chuva. E dinheiro é usado apenas para comprar suprimentos do mundo exterior, nunca entre os moradores.
"Trabalhamos juntos, amamos uns aos outros e compartilhamos tudo", diz Bob.
"Por exemplo, se fico sem arroz ou farinha, bato na porta ao lado. Se eles têm, me dão".
"Acho bom que as pessoas não vendam coisas aqui. O naviobet roletasuprimentos não vem há seis meses mas não choramos por causa do arroz ou da carne. Nós nos viramos com coco e peixe. Agora, quando o navio chega, é como se fosse Natal!", ele ri.
Bob é o prefeitobet roletaPalmerston e morabet roletauma das extremidades da rua principal. É uma faixabet roletaterra com menosbet roletacem metrosbet roletacomprimento e abriga meia dúziabet roletaprédios.
Em um dos lados da rua está a igreja. Ela é central para a vida da comunidade. Também é uma das construções mais novas - e mais robustas - da ilha. O sino pintadobet roletabranco é tudo o que resta da igreja anterior.
Sem qualquer outra terra por perto, Palmerston recebe a força totalbet roletaqualquer tempestade. Então, os moradores amarram as construções às árvores. Em 1926, um tufão atingiu a ilha, arrancando a antiga igreja do solo.
"As ondas vieram quebrar sobre as casas aqui", explica Bob, apontando para a antiga casabet roletaWilliam Marsters, com maisbet roletaseis metrosbet roletaaltura.
"A igreja foi arrastada 200m para dentro da ilha. Nossos pais e mães a trouxerambet roletavolta, empurrando-a por sobre troncosbet roletacoqueiro."
Aos domingos, o sino toca às dez da manhã, chamando a comunidade para a missa. Nesse dia, não se trabalha nem se brinca até as 2h da tarde.
Depois da missa, é horabet roletacomer. Como convidado, tenho uma mesa só para mim. Quatro panelas estão alinhadas à minha frente com peixe, arroz, frango e pão doce. Os quatro filhosbet roletaBob têm os olhos fixos na direção da minha mesa. A família inteira tembet roletaesperar até que eu me sirva.
Comida é parte fundamental da vida na ilha. Para a maioria dos palmerstonianos, a pesca toma grande parte do dia. Como visitante, é impossível eu sairbet roletacasa sem receber convites para quatro almoços diferentes.
O irmãobet roletaBob, Bill, é pescador.
"O peixe está diminuindo", ele diz. "Antes, os cardumes continham centenasbet roletapeixes, hoje não".
Em pé no seu pequeno barcobet roletaalumínio que já recebeu vários remendos, Bill navega para além dos recifes, onde as ondas são gigantes,bet roletabuscabet roletaoutras variedadesbet roletapeixe. Os bolsosbet roletasuas calças estão cheiosbet roletalinha e iscas.
Depoisbet roletaduas horas usando quatro anzóis longos, só conseguimos pescar dois peixes - entre eles, uma barracuda.
O peixe preferido dos ilhéus é o Calotomus zonarchus, conhecido popularmente como parrotfish (ou peixe-papagaio).
"Na décadabet roleta90, os membros do conselho proibiram a pesca do peixe-papagaio por dois anos", ele conta. "Seis meses depois, alguém disse que precisávamosbet roletadinheiro para o Natal e pronto, o assunto foi esquecido".
"Não podemos fazer nada. Qualquer coisa que a gente diga, vão simplesmente ignorar".
O peixe é o alimento principalbet roletaPalmerston e também é o único produtobet roletaexportação da ilha. Entre uma e duas toneladasbet roletapeixe-papagaio são congeladas e coletadas pelo naviobet roletasuprimentos que, duas vezes por ano, vem trazer produtos básicos, como arroz e combustível.
Bem, pelo menos, essa é a teoria. Às vezes, o navio simplesmente não vem. Dois anos atrás, ele ficou sem aparecer durante 18 meses.
Casamentos consanguíneos
A localização remota da ilha também cria outros desafios. Ir ao dentista, por exemplo, torna-se uma grande empreendimento. Quando a moradora mais idosa da ilha, Mama Aka, com 92 anos, foi receber tratamento dentáriobet roletaRarotonga, capital das Cook Islands, levou quatro dias para ela chegar lá. Mas após a consulta, que foi rápida, ela tevebet roletaesperar seis meses por um navio que a trouxessebet roletavolta.
E se, para alguns, o isolamento é o grande atrativo da vidabet roletaPalmerston, para outros, ele pode ser uma ameaça. Particularmente porque, com exceçãobet roletadois professores e uma enfermeira, todos na ilha são parentes.
Bill teve seis filhos combet roletaprimeira esposa, uma mulher que ele pensava serbet roletaprimabet roletasegundo grau.
Mas quando ela era muito nova, tinha sido entregue a outra família pelos pais - prática comum na ilha. Na verdade, Bill e a esposa eram primosbet roletaprimeiro grau.
"Tinha ouvido dizer que, se você se casa com um primo, isso pode ter um efeito sobre o bebê", diz Bill. "Mas não acreditei até o nascimento do nosso segundo filho. Ele era um bebê normal até os seus seis mesesbet roletaidade, mas ficou doente. Fomos procurar tratamento na Nova Zelândia, mas não havia nada a fazer".
"Não tem ninguém (que não seja da família)bet roletaPalmerston, por isso os casamentos (consanguíneos) acontecem".
O isolamento leva muitos a deixar a ilha. Entre 1950 e 1970, a populaçãobet roletaPalmerston chegou a 300.
Um terço da população são crianças, todos parecem saudáveis e felizes ao participar das aulas na escola da ilha.
Mas muitos esperam partir para as cidades a centenasbet roletaquilômetrosbet roletadistância. Eles sonham com mais conforto, melhores salários e, quem sabe, um marido ou uma esposa.
"Pouquíssimos deles voltam. E não ficambet roletacontato com as famílias", disse Mama Aka.
Educação
Shekinah Marsters tem 16 anos e quer ser advogada. Se isso acontecer, ela será a primeira aluna da escolabet roletaPalmerston ir para a Universidade.
Atualmente, ela estuda inglês, matemática, história americana e a vidabet roletaCristo na escola da ilha.
Shekinah já estudou na Nova Zelândia. "Você tem muito mais oportunidades lá, mais coisas para fazer, mais amigos."
"Não fico entediada aqui, mas fico desmotivada. Nado, pesco, toco violão, converso - nada mais".
Nem todos escolhem visitar Palmerston. Na décadabet roleta1950, o barco do tenente Victor Clark naufragou nas imediações da ilha e ele tevebet roletaviver no local durante nove meses. Anos mais tarde, a filhabet roletaClark, Rose, veio à ilha trazer as cinzas do pai, que tinha morrido aos 92 anosbet roletaidade.
"Foi o período favorito da vida dele", conta Rose, que ébet roletaDevon, na Inglaterra. Rosa pretendia fazer uma visita curta, mas um ano após chegar, continua na ilha. Ela é professora especializadabet roletacrianças com necessidades especiais e cuidabet roletaum menino que não consegue frequentar a escola da ilha.
"São uma comunidade muito focada na família, é muito bonito", ela diz. "Aprendi muito observando a maneira como eles são próximos uns dos outros".
Quando não está dando aula, Rose se junta às outras mulheres para fazer chapéus e cestas com folhasbet roletacoqueiro.
O delicado trabalho manual, que as mulheres aprenderam com suas mães, não está sendo transmitido para a próxima geração, já que não existem jovens adultos na ilha.
Mas com frequência, o grupo pode ser ouvido rindo e cantando. Ebet roletamaneira geral, os palmerstonianos têm uma boa vida.
Os dias são longos e a jornadabet roletatrabalho é curta.
À tardinha, as crianças nadam ou jogam vôlei. Alguns dos homens se reúnembet roletatorno da única TV da ilha para assistir aos melhores momentos do rúgbi. As mulheres relaxam na rede, rindo e conversando.
Nossa temporadabet roletaPalmerston chega ao fim.
Enquanto nos preparamos para partir, Bob chega com uma cestabet roletapeixe e nos oferece dois - para a primeira etapa da nossa viagem.
Olhando para a lagoa, ele diz: "Fomos feitos para desfrutar do mundo, do ar fresco, do sol, das coisas que Deus colocou na Terra. Ele não nos colocou aqui para brigar e odiar uns aos outros".
Seguimosbet roletameio aos recifes, uma jornada que muitos jovens habitantes da ilha farão nos próximos anos. Fica a pergunta: quantos vão retornar?