O homem que viveu 12 anos com lobos:bets esporte net
- Author, Laura Plitt
- Role, Galícia, Espanha, para a BBC Mundo
bets esporte net Um espanhol da região da Galícia, no noroeste do país, alega ter vivido por 12 anos, durante a infância, com lobos e outros animais nas florestas.
Marcos Rodríguez Pantoja afirma que só voltou a ter contato com a civilizaçãobets esporte net1965, quando já estava com 19 anos.
O espanhol conta que quando "tinha uns seis ou sete anos", o pai, que tinha se casado pela segunda vez, o "vendeu" para um pastorbets esporte netcabras, que o levou até Sierra Morena, um lugar remoto no sul da Espanha,bets esporte netdifícil acesso.
Pantoja iria ajudar o velho pastor a cuidar do rebanho, mas o pastor morreu pouco tempo depois e ele sofreu maus-tratos da madrasta. Assustado, o menino se isolou nas florestas.
Em 1965, ele foi encontrado por um membro da Guarda Civil que o levou à forçabets esporte netvolta à pequena cidadebets esporte netFuentecaliente, aos pés da Sierra Morena.
E, mesmo depoisbets esporte net50 anos, Pantoja ainda se lembra dos 12 anosbets esporte netisolamento na serra e do impacto que sofreu ao voltar a ter contato com outras pessoas.
"No começo fiquei muito mal. Não sabia o que comer, tinha medo dos animais e do velho (pastor). Mas, depois ficamos amigos e (fiquei amigo) dos bichos também. E assim comecei a me sentir muito bem", disse Pantoja à BBC Mundo.
Caçadas
Antesbets esporte netmorrer, o pastor ensinou a Pantoja meiosbets esporte netse alimentar. Ele aprendeu a caçar coelhos com armadilhas e a tirar o couro dos animais, para aproveitar a carne e a pele.
"Para comer, me guiava pelos bichos. O que eles comiam, eu também comia. Os javalis comiam umas batatas que estavam enterradas. Eles as encontram farejando. Quando iam desenterrá-las, eu atirava uma pedra e roubava as batatas", contou.
Pantoja afirma que desenvolveu uma relação especial com os animais.
"Um dia cheguei a um lugar onde havia lobos para brincar com os filhotes que viviam ali e acabei dormindo. Quando acordei, a loba estava cortando carnebets esporte netcervo para os filhotes. Logo tentei pegar um pedaço, pois também tinha fome."
"Quando (a loba) acaboubets esporte netalimentar seus filhotes, me olhou e me jogou um pedaçobets esporte netcarne. Eu não queria tocá-lo, pois pensei que ela iria me atacar, mas ela foi empurrando (o pedaçobets esporte netcarne) com o focinho. Peguei (o pedaço), comi e ela se aproximou. Pensei que iria me morder, mas ela começou a me lamber. Depois disso, eu já era mais um na família, íamos para todos os lados juntos", disse.
Pantoja também contou que tinha uma serpente como amiga.
"Vivia comigobets esporte netuma cavernabets esporte netuma mina abandonada. A criei desde pequena. Juntei uns galhos para fazer um ninho e dava a ela leite das cabras. Me seguia para todo canto, me protegia."
Sem palavras
Depoisbets esporte netum tempo na floresta, Pantoja paroubets esporte netfalar. Atualmente, ele fala muito e se destaca como um grande contadorbets esporte nethistórias.
Mas, para especialistas, a história do espanhol, com lobos "amigos" e cobras "protetoras", pode ser apenas uma versão fantasiosa dos fatos.
"O que acontece é que Marcos (Pantoja) não conta o que aconteceu, mas o que ele acredita ter acontecido", afirmou Gabriel Janer Manila, escritor e antropólogo da Universidade das Ilhas Baleares, na Espanha, que fezbets esporte nettese sobre o casobets esporte netPantoja e escreveu um livro sobre a vida dele.
"Isso é o que todos nós fazemos: apresentamos nossa visão dos fatos", acrescentou.
"Quando Marcos vê uma serpente e dá leite a ela (...), ele diz que ela ébets esporte netamiga. A cobra não é amiga. Vai porque ele deu leite. Ele diz que ela o protege porque está contando o que acredita que aconteceu."
Para o antropólogo, foi graças a esta formabets esporte netinterpretar os fatos, à imaginação e à inteligência, que Pantoja sobreviveu aos 12 anosbets esporte netisolamento.
E também o fatobets esporte netque ele conhecia muito bem a região e seus recursos.
Ingenuidade
Janer Manila ficou sabendo da históriabets esporte netPantoja por acaso, e o entrevistou dez anos depoisbets esporte netele ter voltado para a civilização. O que se vê nos filmes gravados pelo antropólogo é um homem jovem descrevendo suas aventuras com ingenuidade.
"Minha primeira impressão foibets esporte netassombro. Era um jovem agradável que queria se comunicar, apesarbets esporte netsuas limitações. Tinha começado a se decepcionar com as pessoas e a descobrir que muitas não eram inocentes", lembra.
"Mas, inicialmente, eu não acreditava. Pensava: 'não pode ser'. Mas o relato era tão coerente e bem contado, e, além disso, cada vez que voltava a contar, usava as mesmas palavras."
Depoisbets esporte netfinalizar as gravações com Pantoja, o antropólogo foi aos lugares descritos pelo espanhol e conversou com pessoas que o conheciam.
Nem todos queriam falar, muitos temendo ser ligados às históriasbets esporte netmaus tratos sofridos por Pantoja. Outros ofereceram depoimentos importantes que corroboraram a história.
"Falei com pessoas que trataram dele quando ele foi encontrado, pessoas que o acolherambets esporte netcasa, com a empregada que deu o primeiro banho, com o seminarista que cuidou dele. Todas estas pessoas me descreveram seu jeitobets esporte netser, destacaram seu caráter selvagem,bets esporte netignorância do mundo social (...). Os relatos coincidiam com osbets esporte netMarcos", disse.
"E quando o vi contandobets esporte nethistória depois, ele não mudou o relato", afirma o antropólogo fazendo referência ao documentário Entrelobos, dirigidobets esporte net2010 por Gerardo Olivares, inspirado embets esporte nethistória.
Medo e adaptação
Pantoja descreve o momentobets esporte netsua volta à sociedade como o mais assustadorbets esporte netsua vida.
"Não sabia para onde ir, só queria voltar para a montanha."
Na primeira vez que foi ao barbeiro, ele pensou que seria degolado. No convento onde foi acolhido, não conseguia dormirbets esporte netuma cama e,bets esporte netseu apartamento, não tinha móveis, apenas mantas e folhasbets esporte netjornal e revista espalhadas pelo chão. O barulho da cidade também o assustava.
"Não aguentava tanto barulho. Pessoas para cá, pessoas para lá, como formigas!"
O reencontro com o pai, encontrado pela Guarda Civil quase cego, foi marcado pela indiferença.
"Quando o vi, não senti nada."
Ele conta que as freirasbets esporte netum conventobets esporte netMadri o ensinaram a comer, a se comportarbets esporte netuma mesa, a andar com a postura correta. Ele teve que andarbets esporte netcadeirabets esporte netrodas por um tempo, depois da retiradabets esporte netgrandes calosbets esporte netseus pés.
Sua voz denota um sentimentobets esporte netraiva quando conta que foi obrigado a fazer a primeira comunhão e o serviço militar.
"Por que me obrigaram a fazer a primeira comunhão e o serviço militar? Para que disparar tiros e matar pessoas?"
Ele passou por várias cidades e empregos e, por causabets esporte netsua ingenuidade, acabou vivendobets esporte netcondiçõesbets esporte netmisériabets esporte netMálaga, até que um policial aposentado o levou para Rante, uma pequena cidade na Galícia, onde vive há 15 anos.
Sua casa tem o pé direito baixo e um piano na sala, que Pantoja aprendeu a tocarbets esporte netouvido.
O espanhol conta que já teve namoradas, mas hoje está sozinho. No entanto, tem muitos amigos que o ajudam.
Ele se aposentou depoisbets esporte netum acidentebets esporte nettrabalho na construção civil, mas sempre ajuda no bar da cidade.
"Marcos é uma pessoa muito boa, um pouco infantil, mas um menino muito bom", disse Maite, dona do bar.
O espanhol conta que já pensoubets esporte netvoltar para a floresta.
"Pensei várias vezes, mas já estava nesta vida e vi que muitas coisas não existiam lá, como a música e as mulheres. (...) Agora estou acostumado a isto e fico aqui", afirmou.