Chile: 40 anos após golpe militar país vive criserobo pixbetmaturidade:robo pixbet
- Author, Roberto Brodsky (*)
- Role, Especial para a BBC Mundo
robo pixbet Quarenta anos após o golperobo pixbetEstado querobo pixbet1973 derrubou o governo socialistarobo pixbetSalvador Allende e deu início a um governo militarrobo pixbetquase duas décadas, o Chile vive o que um psicoterapeuta poderia descrever como uma criserobo pixbetmaturidade.
Os sintomas são visíveis.
No país, não há certeza quanto aos caminhos tomados, o desapego ante as instituições permanece e a classe política está desacreditada depoisrobo pixbet20 anosrobo pixbetadministração abusiva do modelo neoliberal.
Nas ruas se discute o futuro como algo disperso. As decisões tomadas no passado são vistas com suspeita, às vezes com receio. O presente ainda traz marcasrobo pixbetvelhas feridas e traumas não resolvidos. Até o censo nacional foi anulado após sérias deficiências emrobo pixbetrealização terem sido constatadas. Os chilenos não sabem quantos sãorobo pixbetnúmero, não têm uma referência atualizadarobo pixbetsuas conquistas, nem tampouco sabem o que consomem nem até onde se dirigem.
Talvez por isso reclamar voltou a ser uma prática cotidiana.
Até mesmo pequenos povoados como Tocopilla, no norte, ou Aysén, no sul, lembram Fuenteovejuna (obra do dramaturgo espanhol Lope da Vega). A população reivindica um Estado responsável, no qual os benefícios do crescimento econômico cheguem a todo o país.
robo pixbet Fim do consenso
Após a revoltarobo pixbet2011, quando milharesrobo pixbetestudantes saíram às ruas exigindo o fim do lucro na educação, o consenso que havia regido o Chile desde o retorno à democraciarobo pixbet1990 terminou.
O mesmo consenso que a classe política tinha usado como desculpa e escudo para justificar muitasrobo pixbetsuas decisões. Ninguém mais parece disposto a reduzir suas demandas para salvá-lo.
Se a nível regional o Chile se destacava como um modelo a seguir quanto à estabilidade política, força econômica, disciplina fiscal, ampliaçãorobo pixbetoportunidades e crescimento das classes médias, hoje o país mostra seus limites, contradições e pressupostosrobo pixbetsustentabilidade.
"Os movimentos sociaisrobo pixbet2011 acabaram com a estrutura transicional, porque tiraram delerobo pixbetpremissa: a política deveria serrobo pixbetbaixa intensidade para ser suportada pelas instituições pós-ditatoriais", assegura o sociólogo e acadêmico Alberto Mayol, colunista do siterobo pixbetnotícias El Mostrador.
Criserobo pixbetdisciplina
Surpreendentemente, tudo isso coincide com uma data matricial na história da pátria: os 40 anos do golperobo pixbetEstadorobo pixbet11robo pixbetsetembrorobo pixbet1973.
Quarenta anos é, com efeito, um número redondo para a crise. Há quatro décadas, um pai disciplinador decidiu acabar com a velha ordem republicana e aplicar uma políticarobo pixbetchoque neoliberal para recriar o país econômica e institucionalmente. Sua premissarobo pixbetêxito então era uma só: disciplina, uma palavra perante a qual, atualmente, ninguém está disposto a dobrar-se.
Pelo contrário.
Não érobo pixbetestranhar então querobo pixbetmeio à faltarobo pixbetconsenso a memória bata recordesrobo pixbetaudiência na TV aberta. O programa Imagens Proibidas, no qual se apresentam a cada quarta-feira as desaparecimentos, mortes e torturas ocorridas sob o regimerobo pixbetPinochet, ganhourobo pixbetaudiência da série Solteira outra vez, que até então era imbatível na preferência dos espectadores.
Há duas semanas, o programarobo pixbetTV El Informante colocou o ex-comandante militar Juan Emilio Cheyre dianterobo pixbetuma vítimarobo pixbetsérias violaçõesrobo pixbetdireitos humanos, Ernesto Lejderman, que aos dois anosrobo pixbetidade perdeu seus pais, fuzilados por uma patrulha militar sumariamente, após o golperobo pixbetEstado.
No momento da transmissão do programa, Cheyre trabalhava como diretor do Serviço Eleitoral. No dia seguinte, teverobo pixbetrenunciar ao cargo após acusaçõesrobo pixbetcumplicidade, encobrimento e por ter mentidorobo pixbetum episódio do qual foi testemunha direta, já que ele mesmo foi entregar o menino órfão, Ernesto Lejderman, hoje com 42 anos, a um conventorobo pixbetfreiras para seu cuidado.
O impacto do programa foi viral, como se os chilenos pela primeira vez tivessem se permitido chorar, arrepender-se, sentir raiva ou pedir perdão.
Dias depois, o senador Hermán Larraín, do partidorobo pixbetextrema-direita UDI, apoiador do regime militar, se arrependeu publicamenterobo pixbetter ignorado as denúnciasrobo pixbetfamiliares e vítimas da repressão.
Porvavelmente não será o último a fazê-lo. Atualmente, o país vive a recuperação da memória coletiva e nacional atravésrobo pixbetlivros, novelas, documentários da época, mostrasrobo pixbetfotografia e pintura, exposições (uma delas tem como título Livros queimados, escondidos e recuperados a 40 anos do Golpe), seminários acadêmicos e colóquios internacionais que começam a acontecerrobo pixbetSantiago a partirrobo pixbetsetembro.
"Vontaderobo pixbetfuturo"
"Quando o futuro é opaco ou sem esperança –robo pixbetque nada pode mudar - o passado reaparecerobo pixbetsurdina. Foi o que ocorreurobo pixbetmaneira predominante nos anos da transição. Então quase se deixourobo pixbetrespirar para que nada se alterasse", escreveu sobre o tema Carlos Peña, reitor da Universidade Diego Portales e habitual polemista na imprensa nacional.
"Quando o futuro se agita – e as pessoas se dão contarobo pixbetque as coisas podem ser diferentes, como está ocorrendo agora – o passado retorna com brios e tudo o que aconteceu e que parecia ter ficado para trás exige ser levadorobo pixbetconta, explicado ou justificado", sustentou o advogado, para quem a recuperação da memória se explica pela "vontaderobo pixbetfuturo que surgiu no país".
Todos querem estarrobo pixbetsintonia com uma sociedade que disse não estar disposta a seguir por rotas que assegura não ter escolhido.
Porque é disso que trata a criserobo pixbetmaturidade, justamente, reivindicar ideais perdidos.
E não há momento melhor do que os 40 anos para se tomar um ar, outorgar-se licenças, olhar o passado, reconsiderar conquistas. A história recente do país é prova disso.
Foi no Chile que ocorreu a revolução do presidente Eduardo Frei Montalva, a via para o socialismo, que fez Allende passar à história como o primeiro líder marxista eleito por voto popular, e depois, já com os militares, onde se deu o primeiro plebiscito convocado por uma ditadura militar para derrubar o mesmíssimo Pinochet, questão que surpreendeu o mundorobo pixbetoutubrorobo pixbet1988.
A raridade do presente
Uma raridade só comparável ao atual estado das coisas, onde os principais aspirantes à Presidência nas eleições do próximo 17robo pixbetnovembro são duas mulheresrobo pixbettelenovela: a direitista Evelyn Matthei e a ex-presidente Michelle Bachelet.
A raridade não guarda relação com os dramalhões da TV. O lugar comum, por incrível que pareça é a família militar. Ambas são filhasrobo pixbetgenerais e ambos os generais pertenciam à Força Aérearobo pixbet1973.
A diferença é que então um deles servia como diretor da Academiarobo pixbetGuerra Aérea (Fernando Matthei) e o outro como prisioneiro, detido nos porões da mesma academia (Alberto Bachelet). Ou seja, um era o carcereiro apoiador do golperobo pixbetPinochet e o outro, um alto oficial encarcerado porrobo pixbetlealdade a Allende.
O primeiro chegou a ser comandante-em-chefe e membro da Junta Militarrobo pixbet1976, enquanto Bachelet faleceurobo pixbetconsequência das torturas aplicadas por seus companheirosrobo pixbetarmas durante os primeiros mesesrobo pixbetterror do novo regime.
Inclusive há um processo aberto pelo advogado Eduardo Contreras contra o primeiro pela suposta responsabilidade na morte do segundo, algo sobre o qual, porém, nenhuma das filhas-herdeiras-candidatas quis explorar.
Certamente um roteirista seria demitido por criar semelhante enredo para uma novelarobo pixbetTV, mas o laboratório que sempre tem sido o Chile permite que a realidade supere não só a ficção como também a memória.
Esse é o novo experimentorobo pixbetvigor nessas eleições. Independentemente do programarobo pixbetreforma profunda que oferece a candidaturarobo pixbetBachelet ourobo pixbetpreservação do modelo que propõe Evelyn Matthei, o certo é que nessas eleições "o poder se move até seu último bastião", como disse Mayol emrobo pixbetanálise.
Seja quem for a futura presidente, o que o laboratório do Chile exporá ao mundo será o fimrobo pixbetum ciclo e uma épocarobo pixbetque as defesas institucionais dominaram a reconstrução da cidadaniarobo pixbetdemocracia.
Da mesma forma, este será o triunfo do mal-estar e da crise, nãorobo pixbetum programa coerente ao qual já deram seu respaldo, por distintas conveniências, desde neoliberais até comunistas.
Sabe-se que as crisesrobo pixbetmaturidade têm desvios diferentes segundo as personalidades.
Uns se jogam embaixorobo pixbetum trem porque consideram perdidos seus ideais, enquanto outros fecham os olhos para submergir por completo na corrupção desses mesmos ideais. Os mais serenos cuidam do que conquistaram e constroem bases para abrir caminho aos jovens, os menos endividados com todo esse passadorobo pixbetfumaça e fúria que hoje volta para cobrar o que, assegura, todos lhe devem.
(*) Roberto Brodsky é um jornalista e escritor chileno, professor visitante na Universidaderobo pixbetGeorgetown, Washington DC.