Chilena queimada viva por militaresapp casas de apostasPinochet contaapp casas de apostashistória:app casas de apostas

Carmen tinha 18 anos quando foi queimada por militaresapp casas de apostasPinochet.
Legenda da foto, Carmen tinha 18 anos quando foi queimada por militaresapp casas de apostasPinochet.

app casas de apostas A chilena Carmen Glória Quintana sobreviveu após ter o corpo queimado por agentesapp casas de apostassegurança do general Augusto Pinochetapp casas de apostasjulhoapp casas de apostas1986. Nos anos seguintes, tornou-se um símbolo da luta pela democracia e os direitos humanosapp casas de apostasseu país.

Maisapp casas de apostasduas décadas mais tarde, Carmen decidiu contarapp casas de apostashistóriaapp casas de apostasuma entrevista tocante a Mike Lanchin do programa "Witness", da BBC.

Ela diz que o incidente ocorreu quando tinha apenas 18 anos e era estudante universitária. Carmen resolveu participarapp casas de apostasum protesto contra o governo Pinochet junto com a irmã, mas o grupoapp casas de apostasque estavam se deparou com um bloqueio policial comandado pelo então tenente do Exército Pedro Fernández Dittus.

Os estudantes carregavam pneus e combustível com os quais pretendiam erguer barricadas e ao ver os militares fugiram, mas Carmen e o jovem fotógrafo Rodrigo Rojas De Magri foram alcançados.

Segundo a versão do governo Pinochet, quando Quintana e Rojas foram presos, alguns coquetéis molotov que carregavam explodiram acidentalmente. Carmen diz que os militares jogaram gasolina sobre os dois jovens, ateando fogoapp casas de apostasseguida.

Abaixo, veja uma íntegra do depoimento da chilena:

Depoimento - Carmen Glória Quintana:

"Foi decretada uma greve geral para o dia 2app casas de apostasjulho e Pinochet havia ameaçado usar as Forças Armadas para reprimir a manifestação.

Acordei cedo, junto com minha irmã mais velha, Emília. Estava um dia nublado, típico do inverno chileno.

Saímosapp casas de apostascasa por volta das sete e meia da manhã e fomos caminhando para encontrar o grupo com o qual seguiríamosapp casas de apostasmarcha até a Universidadeapp casas de apostasSantiago.

No caminho, juntaram-se a nós alguns vizinhos e encontramos também Rodrigo Rojas e dois outros jovens que eu não conhecia.

Eles se preparavam para erguer uma barricada com pneus para interromper o trânsitoapp casas de apostasuma avenida importante e nos pediram ajuda. Empolgados pela motivação dos protestos, concordamosapp casas de apostasajudá-los.

Quando andávamos fomos cercados por uma caminhonete cheiaapp casas de apostassoldados, todos com os rostos pintados e vestidos com uniformeapp casas de apostascamuflagem.

Sentimos medo, largamos os pneus e corremos, cada um numa direção diferente, mas eles nos perseguiram.

Alcançaram Rodrigo e o derrubaram com chutes e pontapés.

Também me pegaram, me revistaramapp casas de apostascima a baixo e me colocaram virada para a parede. Me perguntaram o que fazia ali e respondi que estava indo para a aula na universidade. Examinaram meus documentos e os apreenderam.

Me xingavam com ofensas, encostavam o cano da metralhadora nas minhas costas e eu chorava, sentindo muito medo.

Pelos seus rádios portáteis, chamaram soldados que tinham saídoapp casas de apostasperseguição aos outros jovens. Eles chegaram carregando os pneus e um frasco com gasolina. "Então é isso que estavam fazendo?", disseram os militares.

O militar que comandava os soldados, o tenente Pedro Fernández Dittus, pegou o frasco com gasolina.

Eu estavaapp casas de apostaspé com o rosto voltado para a parede. O tenente começou a despejar a gasolina sobre a minha cabeça e meu corpo. Rodrigo, que estava caído, sangrando, foi “regado” com gasolina como se fosse uma planta".

Nesse momento, não pensei que pretendiam nos queimar. Pensei apenas que queriam nos humilhar, que nos soltariam e que depois eu poderia tomar um banho.

Sem mais nem menos, jogaram algoapp casas de apostaschamas sobre nós e me converti numa tocha humana. Rodrigo também.

Desesperada, tentei apagar o fogo com minhas mãos, me joguei no chão tentando apagar as chamas, mas não conseguia.

Então senti, que alguém me cobria com um pano e me colocaram na carroceriaapp casas de apostasum caminhão.

Em seguida, desmaiei.

Queimados, andandoapp casas de apostasbuscaapp casas de apostasajuda

Carmen Gloria Quintana antes do ataque.
Legenda da foto, Carmen Gloria Quintana antes do ataque.

Despertei quando me jogaram no leitoapp casas de apostasum riacho seco no meioapp casas de apostasum campo.

Em seguida, jogaram um outro corpo. Estava paralisadaapp casas de apostasmedo. Nos laragaram ali mesmo.

Rodrigo começou a mexerapp casas de apostasmim para que eu acordasse. Nos levantamos e olhei para ele: seu rosto estava completamente negro, tinha perdido metade do cabelo. Olhei para mim e vi que toda minha roupa estava escurecida e minhas mãos totalmente negras. Disse: "Veja como esses desgraçados nos deixaram". Rodrigo permaneceu calado.

Nos deixaramapp casas de apostasuma estradaapp casas de apostasterra, bem afastada. Tivemosapp casas de apostascaminhar.

Chegamos a uma rodovia e nos demos contaapp casas de apostasque estávamos perto do aeroporto. Tentávamos parar os carros, mas acho que os motoristas se assustavam ao ver nossa imagemapp casas de apostaszumbis.

Um pouco depois, chegou uma patrulha da polícia e Rodrigo me disse para não dizer nada, porque poderiam desaparecer com a gente.

A polícia nos perguntou o que tinha acontecido e não respondemos nada, ficamosapp casas de apostassilêncio.

Perto dali havia uma construção e pedreiros trabalhando. A polícia chamou uma ambulância, mas a ambulância nunca chegava. Os pedreiros nos fizeram uma camaapp casas de apostasladrilhos e me deitei ali.

Eu tinha tanta raiva que disse aos policiais: “Me dê um tiro, por favor, para acabar com esse sofrimento”.

Ficamos ali uns 30 minutos, acho. Não sei ao certo.

Ao ouvir minhas palavras, a polícia reagiu. Pararam um veículo civil e nos levaram a uma clínica nas imediações.

Lá, a enfermeira instruiu os policiais a irem embora. Muito gentil, me perguntou o que tinham feito comigo e eu disse a verdade. Ela então avisou minha família e nos transportaram para um grande pronto-socorro. Depois disso, perdi a consciência e não sei mais o que aconteceu comigo.

Sei que estiveapp casas de apostascoma, que me fizeram muitas operaçõesapp casas de apostastransplanteapp casas de apostaspele e doaçõesapp casas de apostassangue.

Trata-seapp casas de apostasum período muito obscuro para mim, como se eu tivesse morrido durante todo esse tempo.

Mais tarde, reconstruí a história com base no que meus pais e amigos me contaram.

Atentado a Pinochet

Quando comecei a recuperar a consciência, me dei conta que todo o meu corpo estava enfaixado, porque tinham feito enxertosapp casas de apostaspeleapp casas de apostasmim. Era muito doloroso, porque cada vez que trocavam os curativos, eles grudavam.

Eu também usava um aparelhoapp casas de apostasrespiração artificial, não conseguia respirar sozinha.

Rodrigo Rojas não conseguiu sobreviver. Teve 70% da superfícieapp casas de apostasseu corpo queimada e morreu quatro dias depois.

Eu tive 65% do meu corpo queimado, sofri queimadurasapp casas de apostassegundo e terceiro grau.

Fiquei dois meses e meio no hospital chileno (antesapp casas de apostasviajar ao Canadá, onde lhe ofereceram mais tratamentos).

Lembro do choque que senti ao ver minha mãe pela primeira vez. Ela tinha perdido 15 quilos.

Tinha muito sentimentoapp casas de apostasculpa, porque quando me viu queimada pela primeira vez pensou que era melhor que eu morresse, para não sofrer.

Minha irmã Emília, que tinha saídoapp casas de apostascasa comigo no dia do protesto, foi me visitar, vestidaapp casas de apostasnoiva, com seu marido.

Também me lembroapp casas de apostaso médico Jorge Villegas, o cirurgião plástico que cuidava do meu caso, me contar que tinham feito um atentado contra Pinochetapp casas de apostassetembro. Isso me alegrou muito.

Ficaram muito preocupados, porque pensaram que poderia haver represálias e que poderiam me assassinar. Toda a minha família ficou no hospital nesse dia.

Porta-voz

Quando cheguei ao Canadá, comecei a ver pela primeira vez o estado do meu corpo. Foi chocante.

No princípio, resisti. Ia tomar banho e não me olhava no espelho.

Não conseguia caminhar nem usar as mãos. Tiveapp casas de apostasfortalecer os músculos nas minhas pernas para poder voltar a andar.

Nos primeiros anos, fui submetida a cercaapp casas de apostas40 operações.

Alémapp casas de apostascirurgias para recuperar os movimentos das mãos, tiveapp casas de apostasfazer sessõesapp casas de apostascinesioterapia todos os dias. Não podia segurar lápis, canetas ou pinças.

Isso eu recuperei, mas ainda tenho dificuldade para fazer alguns movimentos. Sou desajeitada com as mãos e os pés, não posso fazer coisas delicadas.

Minha boca ficou muito atrofiada e tiveapp casas de apostasme submeter a várias operações para poder abri-la.

Voltei ao Chile no anoapp casas de apostas1988, acho que ainda fui operada mais duas vezes, mas fiquei com fobia da dor da anestesia. Disse que já bastava, não queria mais nada.

Passei a contar o que tinha acontecido comigo e viajei a muitos países denunciando as violações aos direitos humanos cometidas no Chile.

Fui aos Estados Unidos, Alemanha, França, Bélgica, Suíça, Suécia, Austrália e alguns países latino-americanos.

A raivaapp casas de apostassaber que tantos morreram sem voz para denunciar o que lhes ocorreu me deu forças.

Sentia que falava por toda essa gente.”