Com escassez, carros usados saem mais caros que novos na Venezuela:eo brazino
- Author, Abraham Zamorano
- Role, Da BBC Mundoeo brazinoCaracas
eo brazino Comprar um carro novo na loja, estreá-lo e castigá-lo pelas ruas esburacadas da cidade para aumentar seu valoreo brazinono mínimo 50% não só é possível, mas também algo normal na Venezuela.
Em um país onde os automóveis não perdem valor com o uso, onde a gasolina é muito barata e onde o controle do câmbio dificulta a importação, o comércio automotivo se estabeleceeo brazinoum ambienteeo brazinoalta demanda eeo brazinoinflação desenfreada. Tudo amplificado, sobretudo, pela escassez geraleo brazinocarros.
Para comprar um veículo novo, na melhor das hipóteses, o venezuelano tem que enfrentar uma lista intermináveleo brazinoespera que facilmente supera um ano.
No casoeo brazinoalgumas marcas, isso sequer acontece. A resposta da concessionária é simplesmente "existe muita gente esperando e os carros não chegam".
O melhor negócio, então, é comprar um carro novo para vendê-lo como usado no dia seguinte, pelo dobro do valor. O cenário é perfeito para o surgimentoeo brazinomáfias dedicadas a cobrar comissões ilegais.
Como consequência, os motoristas venezuelanos têm um mercado "dinâmico" e inflacionadoeo brazinoveículos usados: mal se anuncia uma venda, o carro "some" das mãoeo brazinoseu dono.
Basta passar na frenteeo brazinouma concessionária qualquer para comprovar uma realidade desoladora: estão vazias. Os veículos que aparecem já estão reservados e vendidos, só aguardando a chegadaeo brazinoseu dono.
Como esse panorama, os preços disparam. Os carros se tornaram um meio para o venezuelano proteger seu dinheiroeo brazinouma inflação altíssima: 40% ao ano.
Chineses e iranianos
Em junho, a associação da indústria automobilística da Venezuela (Cavenez) anunciou pouco maiseo brazino120 mil unidades vendidas, no quinto ano consecutivoeo brazinoquedaeo brazinovendas.
O número é 3,6% menor do que o mesmo período do ano anterior e do quase meio milhãoeo brazinounidades vendidaseo brazino2007.
Também é menor que os 128 mil do complicado anoeo brazino2002, ou dos 157 mileo brazino2001, anos anteriores ao estabelecimento do controleeo brazinocâmbio.
Atualmente, algumas marcas afirmam que tudo o que vendem é produzido na Venezuela, já que não conseguem as licenças para importação.
Os fabricantes se queixameo brazinoque, por causa do rígido sistemaeo brazinocontrole cambial do país, o governo não entrega quantidades suficienteseo brazinomoeda para possibilitar a importaçãoeo brazinopeças destinadas à montagem dos carros, algo que limita a produção.
Já o presidente Nicolás Maduro culpa a especulação das concessionárias, montadoras e importadores e tenta copiar a iniciativa do ex-presidente Hugo Chávez para o frango, leite e papel higiênico, quando estes começaram a desaparecer das prateleiras dos supermercados: o controleeo brazinopreços por forçaeo brazinolei.
Outra ideiaeo brazinoMaduro está na "produção própria": modeloseo brazinoorigem chinesa e iraniana montadoseo brazinoterritório venezuelano e vendidos pelo governo a "preços solidários".
O ministro da indústria, Ricardo Meléndez, anunciou recentemente que o banco estatal avaliará milhareseo brazinosolicitaçõeseo brazinofinanciamentoeo brazinocompraeo brazinoautomóveis chineses da marca Chery ou da iraniana Venirauto.
Entretanto, a emissãoeo brazinocréditos está muito aquém da demanda. Durante o primeiro mêseo brazinofuncionamento do programa estatal, o númeroeo brazinocarros distribuídos foieo brazinoapenas 300.
Paciência
Ironicamente, comprar um carro novo é a opçãoeo brazinovenezuelanos que não podem pagar pelo alto preço do usado. Os que decidem esperar um ano para a chegada do carro da fábrica o fazem, supostamente, para evitar o custo da entrega imediata que, juntamente com a faltaeo brazinooferta, faz multiplicar o preço dos carroseo brazinosegunda mão.
"Já não temos listas (de espera). São tão poucos os carros que chegam da montadora que não podemos nos comprometer com algo que não vamos cumprir nemeo brazinodez anos. Se tenho maiseo brazinomil pessoas esperando, para que vou agregar mais alguém?", comenta à BBC Mundo um funcionárioeo brazinouma concessionária da Toyota.
A loja exibia um Corolla, o modelo mais cobiçado do país: "Esse já éeo brazinouma embaixada", explicou o funcionário.
No primeiro semestre do ano,eo brazinoacordo com a Cavenez, foram montados no país 37 mil veículos, 37% menos que no ano anterior. Mas a demanda, estimam especialistas, éeo brazino300 mil carros por ano.
Em uma concessionária da Chevrolet, um jornalista, que preferiu não divulgar o nome, diz queeo brazinomãe tem visitado semanalmente o lugar, há três meses, para perguntar se o carro dele já chegou.
A concessionária prometeu o carroeo brazinocinco meses e exigiu que o cliente solicitasse crédito para o carro, que na época da primeira negociação custava 230 mil bolívares (quase R$ 83,5 mil).
Quando chegar, o carro provavelmente custará mais caro. O mesmo modelo usado, ano 2012, raramente custa menoseo brazino400 mil bolívares (R$ 145 mil).
Mas a linhaeo brazinocrédito obtida, válida por três meses, está prestes a vencer. Com isso, o cliente teráeo brazinopedir novo empréstimo se não quiser perder o lugar na listaeo brazinoespera.
Para outros compradores, a situação é ainda pior. Um homem que pediu anonimato à BBC Mundo contou que, mesmo com suas economiaseo brazinodólares fora do país, não conseguiu aprovaçãoeo brazinoseu crédito para comprar um carro.
E na Venezuela, mesmo com dinheiro para pagar à vista, a pessoa só pode ter o nome incluído na listaeo brazinoespera das concessionárias se pedir um empréstimo.
'Vendedores ambulantes'
Quem não tem tempo e paciênciaeo brazinoesperar nas lojas volta-se ao mercadoeo brazinousados, onde também não há oferta suficiente e os preços podem ser mais do que o dobro do que oeo brazinoum modelo novo.
O "comércio informal" opera com os chamados "buhoneros" (vendedores ambulantes). Um deles é Pedro, que, com oito anoseo brazinoexperiência nesse mercado, oferta seis carroseo brazinouma praçaeo brazinoCaracas. Tenta vender uma caminhonete 2005 por 350 mil bolívares (ou R$ 127 mil) e um utilitário semidestruído por 80 mil bolívares (ou R$ 29 mil).
"Esse está fino, até ar-condicionado tem. Dê uma arrancada pra você ouvir", disse a um curioso que perguntava pelo carro mais desgastado dos que estavam expostos na rua.
Segundo Pedro, além da pouca oferta, os preços são distorcidos porque "há um boatoeo brazinoque o dólar vai subir" e porque o mercado funciona segundo o dólar paralelo, cuja cotação é estimadaeo brazinocinco vezes acima da taxa oficial.
O motorista Nelson, por exemplo, diz que comprou seu carro usado, um modelo japonês,eo brazino2009 por 50 mil bolívares e acha que vale hoje 280 mil bolívares.
Internet
A internet também é um fértil mercado para classificadoseo brazinocarros.
Um ávido usuário é Daniel, taxista que trocaeo brazinocarro quase anualmente. No finaleo brazinojunho, ele vendeu o seu um dia depoiseo brazinotê-lo anunciado na web, por 130 mil bolívares.
Para substituí-lo, comprou um por 100 mil bolívares (R$ 37 mil), mas "o barato saiu caro" — ele não conseguiu repor o ar-condicionado do carro nem "consertar seus barulhos".
Acabou decidindo vendê-lo por 130 mil bolívares (R$ 47,5 mil) , algo que conseguiueo brazinodois dias. Agora, aguarda a chegadaeo brazinoseu próximo carro, comprado também pela internet, poucas horas após ter sido anunciado e também por mais do que ele acha que o veículo valeeo brazinoverdade.