Padres e freiras dos EUA criam grupo contra abuso sexual na Igreja:brabet com

Igrejabrabet comBoston | Foto: AFP
Legenda da foto, Igreja foi acusadabrabet comacobertar casosbrabet comabuso sexual

"Muitosbrabet comnós relatamos casosbrabet comabuso sexual para autoridades civis ou da Igreja, e todos nós lutamos para expor o acobertamento dos abusos por parte da liderança da Igreja. Nós sabemos como é difícil falar sobre essa questão e nós nos apoiamos uns aos outros nesse esforço", diz o site do grupo.

No mês passado, eles enviaram uma carta ao papa Francisco com seis recomendações para "restaurar a confiança dos fiéis", entre elas "tolerância zero" para membros do clero que tenham cometido abusos sexuais; a criaçãobrabet comum grupo internacionalbrabet comsobreviventesbrabet comabuso e profissionais laicos e religiosos, que facilite o diálogo entre a igreja e as vítimas, e a divulgação públicabrabet comtodos os documentos relacionados ao problema.

Pedem também que líderes da Igreja sejam obrigados a fornecer explicações públicas sobre qualquer casobrabet comabuso sexual e que aqueles que facilitem abusos ou tentem obstruir investigações sejam afastados.

Isolamento

Bruce Teague | Foto: Arquivo pessoal
Legenda da foto, Padre criou grupobrabet comcatólicos para denunciar abusos

O casobrabet comTeague, ocorrido nos anos 1950, é semelhante aobrabet commilharesbrabet comoutros relatados por vítimasbrabet comabuso sexual cometido na Igreja Católica americana.

Os abusos ocorriam na sacristia e se prolongaram por cercabrabet comseis meses, até que o paibrabet comum dos coroinhas denunciou o padre, que foi afastado da paróquia.

"Eu não entendia o que estava acontecendo. Crescibrabet comuma família católicabrabet comorigem irlandesabrabet comque nunca se falava sobre sexo", disse Teague à BBC Brasil.

"Meu pai estava viajando a serviço da Marinha, meu avô havia acabadobrabet commorrer, e minha mãe tinha dois bebês pequenos para cuidar", relembra, ao comentar que via o padre como uma figura paterna.

"Ainda hoje, olho para trás e me pergunto se não era apenas uma figura paterna tentando expressar afeto. Mas na verdade o que ele estava fazendo era satisfazer suas próprias necessidades."

Foi apenas na décadabrabet com1990 que Teague rompeu o isolamento e tornou público seu segredo.

"Na época eu já era padre, fui ordenadobrabet com1980. Eu contei minha história e me dediquei a ajudar outros sobreviventesbrabet comabuso sexual", afirma Teague, que diz ser fã do arcebispo brasileiro Dom Hélder Câmara ebrabet comsua atuação junto aos necessitados.

"Esse tipobrabet comabuso é uma forma espiritualbrabet comincesto. As pessoas confiam no padre. É quase como ser abusado por um membrobrabet comsua família."

Escândalos

Thomas Doyle | Foto: Arquivo pessoal
Legenda da foto, Thomas Doyle diz ter se tornado 'ovelha negra' após denúncias

Estima-se que maisbrabet com6 mil membros do clero na Igreja Católica dos EUA já tenham sido acusadosbrabet comabuso sexual. Na décadabrabet com2000, diversos escândalos vieram à tona e a Igreja foi acusadabrabet comacobertar os casos.

Relatosbrabet comvítimas publicados pela imprensa revelaram que,brabet comalguns casos, religiosos acusadosbrabet comabuso acabavam apenas transferidos para outras paróquias ou internados para tratamento. Outros chegaram a deixar o país, evitando processos judiciais.

Desde aquela época, diversas medidas foram tomadas para erradicar o problema. No entanto, novos escândalos continuam a surgir.

Em um dos mais recentes, um padrebrabet comNewark, no Estadobrabet comNova Jersey, foi preso por violar a ordem judicial que o proibiabrabet commanter contato com menores. Mesmo já tendo sido condenado por agressão sexual, ele continuava a trabalhar com crianças na paróquiabrabet comque atuava.

"A Igreja continua protegendo os que cometem abusos", disse à BBC Brasil o padre Thomas Doyle, que há maisbrabet com30 anos tem sido um dos mais vocais membros do clero americano contra abusos na Igreja e também integra os Catholic Whistleblowers.

"Se um padre ou uma freira vier a público denunciar abusos e seu superior não concordar, o delator corre o riscobrabet comser suspenso,brabet comperder benefícios, salário,brabet comnunca mais conseguir atuarbrabet comnenhuma paróquia", diz Doyle.

"Sei disso porque aconteceu comigo. No início, perdi meu emprego na Embaixada do Vaticano (em Washington). Ao longo dos anos, me envolvi mais e mais nas denúncias e no apoio às vítimas. Como resultado, sou uma ovelha negra na Igreja Católica. Legalmente, ainda sou padre, mas nenhum bispo vai me deixar trabalhar", relata.

Vítimas

Kenneth Lasch | Foto: Arquivo pessoal
Legenda da foto, Padre Kenneth Lasch se dedica a ajudar sobreviventesbrabet comabuso por parte do clero

Ao longobrabet comtrês décadas, Doyle deu depoimentos sobre centenasbrabet comcasosbrabet comabuso sexual na Igreja Católicabrabet comtribunais nos EUA ebrabet compaíses, como Canadá, Irlanda e Austrália. Ele diz ter entradobrabet comcontato com milharesbrabet comvítimas.

Um dos objetivos dos Catholic Whistleblowers é dar apoio às vítimas que, muitas vezes, enfrentam dificuldades para levar seus casos adiante.

"Algumas dioceses tratam as vítimas muito mal, como se fossem o criminoso", disse à BBC Brasil o padre Kenneth Lasch, que desde os anos 1980 se dedica a ajudar sobreviventesbrabet comabuso por parte do clero.

"Acabam sendo vítimas duplamente quando vão à Igreja denunciar seus casos. Muitas vezes têmbrabet comtestemunhar diantebrabet comum conselho, que acaba descartando seus relatos e colocandobrabet comdúvidabrabet comcredibilidade. São intimidadas pela Igreja", afirma.

Lasch,brabet com76 anos, diz que as décadasbrabet comconvivência com as vítimas deixaram marcas. Apesarbrabet comnão ter sido prejudicado profissionalmente por denunciar casosbrabet comabuso, ele sofrebrabet comestresse pós-traumático há sete anos.

"Quando eu era mais jovem, conseguia estabelecer limites claros entre as pessoas que precisavambrabet comajuda e minhas próprias emoções. Mas quando os escândalos começaram a surgir, comecei a absorver muito a dor dos indivíduos. E, ironicamente, também absorvo a vergonha pelos que cometeram esses crimes", afirma.