Ataques isolados alimentam debate sobre extremismo:

Irmãos Tsarnaev / AP
Legenda da foto, Irmãos Tsarnaev são acusadosatentado a bomba durante a MaratonaBoston
  • Author, Pablo Uchoa
  • Role, Da BBC BrasilWashington

Dois irmãosBoston instalam bombas caseiras que, ao explodir durante uma movimentada maratona, deixam três mortos e cerca260 feridos.

Um mês depois,plena luz do dia, dois homens matam a facadas um soldado britânicoLondres, gritando palavrasódio,um ataque descrito como "bárbaro" pelas autoridades.

Separados por um oceano, os incidentes têmcomum o fatoterem sido praticados por indivíduos sectários, agindonome da "guerra santa" – jihad – mas sem aparente apoio logístico ou materialredes extremistas.

Além disso, tantoBoston comoLondres, os autores dos atentados eram velhos conhecidos dos serviçossegurança dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha, respectivamente, levantando questões sobre por que os ataques não puderam ser evitados.

"A intolerância e a violência desatadas por preconceito, ódio político ou fanatismo religioso são tão antigas quanto a própria humanidade", disse à BBC Brasil Yonah Alexander, diretor do Centro InternationalEstudos sobre o Terrorismo do Potomac Institute, com sedeArlington, no Estado americano da Virgínia.

"Mas estamos lidando com essas pessoasmissões ideológicas, teológicas ou que quer que sejam, sem saber muito bem as regras do jogo no que concerne a eles".

'Guerras assimétricas'

Os incidentes voltaram a lançar uma luz sobre as chamadas 'guerras assimétricas' – como a chamada guerra contra o terror iniciada pelo presidente americano George W. Bush, e modificada e continuada pelo seu sucessor, Barack Obama.

É um debate que não é novo e nem está resolvido, como indicou Obamaum discurso sobre terrorismo na National Defense University,Washington, na quinta-feira.

O presidente fez uma defesa dos polêmicos métodos usado por seu governo, entre eles, o usoaviões não tripuladosataques aéreos e o empregoforça letal contra certos indivíduos consideradosalto risco.

Por bem ou por mal – e por vias legais ou ilegais, já que o debate ainda estáaberto –, o discurso mostrou que os estrategistashoje já são capazesdesmantelar organizações extremistas da mesma forma que os generaisoutrora eram capazesvencer manobrando seus exércitos no campobatalha.

O problema está na lógica dos ataquesBoston e Londres, onde a assimetria é maior – e a previsibilidade, menor.

Em entrevista na quinta-feira ao programa Newsnight, da BBC, Richard Barrett, ex-oficial do MI6, serviço secretointeligência britânico voltado para o exterior, acredita que os autores do ataqueLondres provavelmente não tinham a intençãocometer o crime até recentemente.

"Eu acredito que eles provavelmente façam parteum pequeno grupo que não necessariamente tem conexões com redes extremistas no exterior ou na Grã-Bretanha que despertasse muito a atenção dos serviçossegurança", afirmou Barrett.

"Em que momento uma pessoa que expressa opiniões extremistas e que se une a um grupo radical passa a ser violento?", indaga o ex-agente. "Identificar esses sinais é extremamente difícil", completa.

Para Yonah Alexander, não é possível "eliminarvez esse tipoterrorismo", mas pode-se lidar com os fatores que contribuem para a violência e a radicalização.

"Podemos não saber onde e quando os ataques vão ocorrer, mas podemos ver as tendências; podemos ver os fatores que contribuem para eles, desde divisões étnicas a preconceitos e intolerância religiosa."

Desativando o ódio

Em relatórios passados, seu centroestudos recomenda que os governos invistam não somentesegurança, mas tambémdesenvolvimento econômico para criar empregos e oportunidades, eeducação para reduzir o fanatismo religioso.

E no campo da política externa, o instituto chama atenção para os benefícios da chamada "smart power" – expressão que pode se traduzir como "poder inteligente" –, que combina os aspectos "duros" da influência, como o militarismo, com o seu lado "soft", que inclui a cooperação econômica e a educação.

Woolwich / PA
Legenda da foto, Dois homens foram acusadosmatar um militar no sudesteLondres

Em seu discurso sobre a estratégia do governo contra o terrorismo, Obama afirmou que "a tecnologia e a internet aumentam a frequência e a letalidade (do extremismo)".

"Hoje, uma pessoa pode consumir propaganda fazendo apologia ao ódio, se comprometer com uma agenda violenta e aprender a matar sem saircasa."

Entretanto, o presidente disse que seu governo tem procurado estabelecer parcerias entre a comunidade muçulmana nos EUA – "que tem consistentemente rejeitado o terrorismo" – e a polícia para "identificar os sinaisradicalização" entre os seus indivíduos.

"Essas parcerias só podem funcionar quando reconhecemos que os muçulmanos são parte fundamental da família americana", disse Obama.

Alexander também enfatiza que cabe às sociedades, por meioseus grupos religiosos, educacionais e políticos, e incluindo os meioscomunicação, assumir a "responsabilidadedesativar os elementos que contribuem para o ódio".

"Mas cada situação precisa ser avaliada individualmente", diz o especialista. "Não podemos oferecer soluções muito métricas nem desenhar um grande esquema que se aplique para todas elas."