Líderes do Irã ‘buscam calma’ ao afastar candidatos à Presidência; entenda:

Iranianos com bandeira e fotoAli Khamenei (Reuters)
Legenda da foto, Autoridades esperam que eleiçãojunho sejam mais calmas que as2009

Com a aproximação das eleições presidenciais14junho no Irã, as autoridades querem garantir que o pleito transcorra com calma, sem o riscoque se repita no país a ondamanifestações populares que se seguiram à polêmica eleição anterior,2009,que o atual presidente, Mahmoud Ahmadinejad, foi reconduzido ao poder.

Essa é a principal avaliação dos especialistasrelação à decisão tomada nesta terça-feira pelo Conselho dos Guardiães da Revolução, que deu sinal verde para que apenas oito dos 686 pré-candidatos à presidência pudessem continuar suas campanhas.

Alguns dos candidatos rejeitados eram consideradosoposição à vertente política apoiada pelo líder supremo do país, aiatolá Ali Khamenei. É o casoEsfandiar Rahim Mashaei, um aliadoAhmadinejad, e o ex-presidente Akbar Hashemi Rafsanjani (1989-1997).

Para ajudar você a entender o complicado processo eleitoral no Irã e as eleiçõesjunho, a BBC preparou uma sérieperguntas e respostas sobre o tema.

Como os candidatos são escolhidos?

O modelo político no Irã éuma teocracia muçulmana.

O ConselhoGuardiães do país (cuja função é zelar para que as leis aprovadas no Parlamento estejamacordo com a Constituição e com a lei islâmica, a sharia) tem o podervetar candidatos às eleições por motivos variados, como a faltaidoneidade para ocupar o postopresidente, por exemplo.

Na prática, explica o correspondente da BBC no Irã, Jayme Reynolds, o órgão tem o podertirar da corrida presidencial qualquer candidato por "qualquer razão".

Isso porque o Conselho não temdar explicações sobre por que rejeitou determinado aspirante ao cargo.

O órgão é formado or seis especialistas na lei islâmica nomeados pelo líder supremo (o aiatolá Khamenei) e seis juristas, especializadosoutras áreas, escolhidos pela máxima autoridade do poder judicial. Esta, porvez, é indicada pelo líder supremo.

No Irã, o aiatolá é o chefeEstado do país (função desempenhada por reismonarquias constitucionais ou por presidentesalgumas repúblicas, como é o caso do Brasil, onde o líder também é chefegoverno).

Quem está concorrendo à Presidência?

Os candidatos, da linha superior à direita,sentido horário: Qarazi, Rezaei, Ghalibaf, Adel, Jalili, Velayati, Reza Aref e Rohani
Legenda da foto, Entre os candidatos selecionados há seis conservadores e dois moderados

O Conselho dos Guardiães aceitou a candidaturaoito iranianos, entre os quais seis conservadores, próximos ao líder supremo, e dois que se apresentaram como independentes.

Entre os conservadores, se destaca Said Jalili, secretário do Conselho SupremoSegurança Nacional e o principal negociador internacional do Irã na área nuclear.

Além disso, concorrem à vaga pela ala tradicionalista Mohammad Bagher Ghalibaf, prefeitoTeerã; Gholam-Ali Haddad-Adel, político e ex-presidente do Parlamento; Ali Akbar Velayati, assessor do líder supremo e ex-ministroRelações Exteriores; Mohsen Rezaei, ex-comandante do Corpo dos Guardiães da Revolução Islâmica e atual secretário do ConselhoDiscernimento do Interesse Superior do Regime, e Mohamad Qarazi, ex-ministro das Telecomunicações.

A facção dos conservadores controla a maioria das instituições estatais e constitui a ala mais poderosa entre as classes dirigentes do país, assinala Rana Rahimpour, do serviço persa da BBC.

Até dois anos atrás, o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, pertencia a este grupo, mas se desligou da facção após divergências com o líder supremo.

Os outros candidatos, Hasan Rohani e Mohamad Reza Aref, considerados reformistas moderados, se apresentam como independentes.

Dessa forma, afirma o correspondente da BBC para o Irã, James Reynolds, está claro que o aiatolá buscou deixar a eleição nas mãos dos conservadores, leais aos seus interesses.

Quem são os principais candidatos vetados?

Rafsanjani e Mashaei / AFP
Legenda da foto, Opositores ao aiatolá Khamenei, Rafsanjani e Mashaei foram desclassificados da disputa

Hashemi Rafsanjani é considerado um reformista moderado, enquando que Mashaei tem um perfil nacionalista conservador, mas liberarquestões sociais.

A desclassificaçãoambos, explica Rana Rahimpour, do serviço persa da BBC, revela que o líder supremo escolheu ter uma eleição tranquila ao convertê-lauma disputa "amistosa" entre seis conservadores e dois centristas.

Rafsanjani era visto como um candidato que poderia ter ganhado o apoio dos reformistas e centristas, cujos dois líderes na eleição passada estãoprisão domiciliar.

Milhõesiranianos foram às ruas após as eleições2009, no que ficou conhecido como a "Revolução Verde",protesto contra um suposta fraude eleitoral.

"É provável que todos os que sentiam representados por ele (Rafsanjani) nesta eleição saiam do processo e o boicotem", prevê Saeed Barzin, analista do serviço persa da BBC.

Já o veto a Mashaei é visto como uma prova adicional do ocaso da influênciaAhmadinejad, que, no cargo desde 2005, é proibidoconcorrer a um terceiro mandato.

"A divisão (entre Ahmadinejad e o aiatolá) é séria. Politicamente (Ahmadinejad) não vem obedecendo ao líder supremo", explica Barzin.

O presidente, considerado por alguns setores como um populista com ideias radicais, começou a se distanciar do aiatolá após tentar demitir um dos ministros nomeados pelo líder religioso.

Seu aliado Mashaei foi denunciado por clérigos linha-dura como integranteuma corrente política que busca abalar as bases do sistema político iraniano.

O que se pode esperar das eleições?

Em meio aos problemas econômicos decorrentes das sanções ocidentais, motivadas pelo controverso programa nuclear iraniano que Teerã diz ter fins pacíficos, as próximas eleições aparecem como cruciais para a definição do futuro do país.

Há três elementos importantesjogo, diz Barzin.

Em primeiro lugar, será importante conferir a participação da população nas eleições, que será um indicador do apoio ao regime.

Outra questão que ainda aguarda definição é como se construirá a política externa do novo governo. "O sistema poderá pender mais à direita", prevê.

Por último, há dúvidas sobre como será a política doméstica do futuro presidente, já que a questão passa por conhecer como será o equilíbriopoder e a margemmanobra e reação dos reformistas.