Torcedores se unem para combater homofobia no futebol:cassino de neymar

Membros das torcidas Queerlorado e Grêmio Queer (Foto: Adriana Franciosi/Agência RBS)
Legenda da foto, Torcidas têmcassino de neymarcomum forte presença feminina e buscam combater não só a homofobia, mas a discriminação contra mulheres no futebol
  • Author, João Fellet
  • Role, Da BBC Brasil,cassino de neymarBrasília

cassino de neymar No estádiocassino de neymarfutebol lotado, o time da casa marca um gol. Na comemoração, um grupo hasteia uma bandeira com as cores do arco-íris, símbolo universal do movimento gay. A cena, impensável para alguns, vem sendo ensaiada por torcedorescassino de neymarvários clubes brasileiros, que pretendem levar para os camposcassino de neymarfutebol a luta contra a homofobia.

A causa já tem o apoiocassino de neymartorcedorescassino de neymarvários grandes clubes brasileiros, como Atlético-MG, Cruzeiro, Inter-RS, Bahia, Palmeiras, Grêmio, São Paulo, Flamengo e Corinthians.

O movimento começou há pouco maiscassino de neymarum mês, quando uma torcedora do Atlético-MG criou no Facebook a página Galo Queer. O nome une o apelido do time a um termocassino de neymaringlês usado para se referir a gayscassino de neymarforma pejorativa, que, no entanto, acabou sendo apropriado pelo movimento LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros).

A torcedora, uma cientista socialcassino de neymar23 anos que prefere não ser identificada por temer agressões, diz à BBC Brasil que resolveu criar a página ao retornarcassino de neymaruma temporada no exterior. Emcassino de neymarprimeira ida ao estádio depois da volta, ela diz ter ficado "muito incomodada com os gritos homofóbicos da torcida e o fatocassino de neymarparecerem mais importantes que o hino do clube".

Em poucas semanas, a página ganhou maiscassino de neymar5 mil seguidores. Mesmo assim, nos primeiros dias, ela conta que muitos atleticanos enviaram mensagens agressivas à comunidade por discordarem da bandeira ou pensarem que se tratassecassino de neymargrupo criado por cruzeirenses, maior torcida rival, "só para zoar".

Com o tempo, e à medida que ela publicava textoscassino de neymardefesa da causa e do clube, as reações negativas foram sobrepujadas pelas positivas. Animada com a crescente popularidade, ela se prepara para um importante teste no domingo. Pela primeira vez, membros do grupo se reunirão para assistir a um jogo do Atlético – ainda não no estádio, mas num barcassino de neymarBelo Horizonte.

Página Galo Queer, no Facebook, deu início ao movimento
Legenda da foto, Página Galo Queer, no Facebook, deu início ao movimento

"Queremos ver a reação das pessoas, para não deixar o movimento ser só virtual." Se não sofrerem rejeição, pretendem distribuir panfletos e até se identificar nos estádios com bandeiras e outros símbolos.

Presença feminina e divisõescassino de neymargênero

Inspirados pela Galo Queer, outros gruposcassino de neymartorcedores seguem o mesmo caminho. Em comum, quase todos têm importante presença feminina, relacionam-se bem entre si e buscam combater não só a homofobia, mas a discriminação contra mulheres no futebol.

Uma das administradoras da página Grêmio Queer, a socióloga Kátia Azambuja,cassino de neymar25 anos, enumera as agressões sofridas por mulheres que vão ao estádio: "Para ir ao banheiro, sempre rola uma passadacassino de neymarmão, um puxão no cabelo, alguém que fala uma gracinha."

O criador do grupo Bahia EC Livre, um jornalistacassino de neymar29 anos, engrossa o coro: "Por que o futebol só pode ser ambiente hétero e para homens?".

"Quero assistir aos jogos no estádio, quero participar, mas tenho que ficar como um agente duplo: ao mesmo tempo que estou ali, ninguém pode saber que sou gay."

Autorcassino de neymardissertaçãocassino de neymarmestrado sobre o comportamento dos homens nos camposcassino de neymarfutebol, o pedagogo e técnico administrativo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Gustavo Bandeira diz que o estádio influencia e é influenciado por nossa cultura.

"Ali ensinam-se duas coisas muito importantes: quem tem sexualidade legítima e quem não tem. E também que, para que o homem vivacassino de neymarheterossexualidade com êxito, deve pregar o ódio aos homossexuais."

Torcida durante partidacassino de neymarBrasília (AFP)
Legenda da foto, Causa tem o apoiocassino de neymardiversos clubes brasileiros

Bandeira diz que o futebol reforça divisõescassino de neymargênero ao valorizar características tidas como masculinas, como a virilidade e a disposição para o combate,cassino de neymaroposição a aspectos associados às mulheres, como a delicadeza e a emotividade. Ela cita no estudo uma declaração do técnico Abel Braga sobre Sidnei, ex-jogador do Inter-RS – o atleta, segundo o treinador, "era muito meigo para um zagueiro".

O pesquisador afirma ainda que, embora homofóbicas, as manifestações das torcidas sugerem que apenas os sujeitoscassino de neymarposição passiva no ato homossexual têm a masculinidadecassino de neymarrisco. Um exemplo da postura são os gritos que instam os adversários a praticar sexo oral neles (o popular "chupa!").

Declaraçõescassino de neymaramor

Paradoxalmente, Bandeira também nota que, no mesmo ambientecassino de neymarque se ressalta a virilidade, se permitem afetos nem sempre toleradoscassino de neymaroutros locais, como as declaraçõescassino de neymaramor ao clube e os abraços coletivos após os gols.

Gremista, o pesquisador abordacassino de neymarseu mestrado atitudes racistascassino de neymarapoiadorescassino de neymarseu time voltadas a torcedores rivais, do Inter. Na décadacassino de neymar1940, gremistas passaram a chamar os adversárioscassino de neymar"macacos", referindo-se à presençacassino de neymarnegros na torcida. Cinquenta anos depois, diz, os torcedores rivais adotaram o termo e passaram a promovê-lo como sinal da tolerância do grupo.

"Hoje ninguém (no Brasil) quer ser identificado como racista, mas ninguém ainda se preocupacassino de neymarser identificado como homofóbico", compara. Porém, caso a homofobia nos estádios brasileiros acompanhe a trajetória do racismo, ele avalia que provocações homofóbicas atuais perderão efeito – como referir-se aos são-paulinos como bambis.

Para reverter o estigma associado ao termo, quatro torcedores do São Paulo criaramcassino de neymarabril a comunidade Bambi Tricolor. "Se até agora bambi foi um apelido usado para discriminar, por que não adotá-lo com orgulho e desarmar o preconceito?", questiona o grupo no Facebook.

Mas uma das criadoras conta à BBC Brasil que a comunidade, com quase 900 seguidores, gerou resistências inclusive entrecassino de neymarfamília, formada por "são-paulinos roxos". "Meu avô adorou a ideia, mas meu pai ficou revoltado."

Entre dirigentes são-paulinos, o termo também causa desconforto. Conselheiro do clube, o vereador Marco Aurélio Cunha (PSD) pediucassino de neymar2011 ao apresentador Marcelo Tas que "pensasse melhor nas brincadeiras" que vinha fazendo com o São Paulo.

"Se um cara na rua brinca e me chamacassino de neymarbambi, façocassino de neymarconta que não é comigo. Mas se um sujeito importante faz isso, abre a possibilidadecassino de neymartodos fazerem", ele diz. "Quando se diz que um cara é viado, isso pega. É uma deturpaçãocassino de neymarimagem importante, se ele não é ou não quer que se diga isso."

Torcidas organizadas

Para Cunha, a homofobia é uma das vertentes da violência no futebol, que tem como principal agente as torcidas organizadas. "Com medocassino de neymarmexercassino de neymarvespeiro, o clube fica oprimido, e o silênciocassino de neymartodos é que cria a redecassino de neymarnovos conflitos que vão se dividindocassino de neymaralvos específicos".

Ele diz crer, porém, quecassino de neymaralgumas décadas as piadas homofóbicas perderão efeito. "É uma questãocassino de neymarmaturidade."

Conselheiro e ex-dirigente do Corinthians, Antonio Roque Citadini discorda e cita, como sinal do grande conservadorismo no futebol, a ausênciacassino de neymarjogadores que se assumem gays. "A igreja vai admitir (gays), o Exército, mas o futebol será o último."

Ele afirma, porém, que os times devem condenar posturas homofóbicascassino de neymartorcedores. E diz ainda que, apesarcassino de neymarprovocações homofóbicascassino de neymaralguns dirigentes corintianos a torcedores são-paulinos (que ele considera "deploráveis"), seu clube tem tratado a questãocassino de neymarmaneira avançada.

"O Corinthians é o único clube que concordou que dois jogadores seus posassem nus na G Magazine (revista voltada a homens gays). Isso não hácassino de neymarlugar nenhum, nem no Brasil, nem no resto do mundo."