Torcedores se unem para combater homofobia no futebol:cbet and kbet

Membros das torcidas Queerlorado e Grêmio Queer (Foto: Adriana Franciosi/Agência RBS)
Legenda da foto, Torcidas têmcbet and kbetcomum forte presença feminina e buscam combater não só a homofobia, mas a discriminação contra mulheres no futebol

Em poucas semanas, a página ganhou maiscbet and kbet5 mil seguidores. Mesmo assim, nos primeiros dias, ela conta que muitos atleticanos enviaram mensagens agressivas à comunidade por discordarem da bandeira ou pensarem que se tratassecbet and kbetgrupo criado por cruzeirenses, maior torcida rival, "só para zoar".

Com o tempo, e à medida que ela publicava textoscbet and kbetdefesa da causa e do clube, as reações negativas foram sobrepujadas pelas positivas. Animada com a crescente popularidade, ela se prepara para um importante teste no domingo. Pela primeira vez, membros do grupo se reunirão para assistir a um jogo do Atlético – ainda não no estádio, mas num barcbet and kbetBelo Horizonte.

Página Galo Queer, no Facebook, deu início ao movimento
Legenda da foto, Página Galo Queer, no Facebook, deu início ao movimento

"Queremos ver a reação das pessoas, para não deixar o movimento ser só virtual." Se não sofrerem rejeição, pretendem distribuir panfletos e até se identificar nos estádios com bandeiras e outros símbolos.

Presença feminina e divisõescbet and kbetgênero

Inspirados pela Galo Queer, outros gruposcbet and kbettorcedores seguem o mesmo caminho. Em comum, quase todos têm importante presença feminina, relacionam-se bem entre si e buscam combater não só a homofobia, mas a discriminação contra mulheres no futebol.

Uma das administradoras da página Grêmio Queer, a socióloga Kátia Azambuja,cbet and kbet25 anos, enumera as agressões sofridas por mulheres que vão ao estádio: "Para ir ao banheiro, sempre rola uma passadacbet and kbetmão, um puxão no cabelo, alguém que fala uma gracinha."

O criador do grupo Bahia EC Livre, um jornalistacbet and kbet29 anos, engrossa o coro: "Por que o futebol só pode ser ambiente hétero e para homens?".

"Quero assistir aos jogos no estádio, quero participar, mas tenho que ficar como um agente duplo: ao mesmo tempo que estou ali, ninguém pode saber que sou gay."

Autorcbet and kbetdissertaçãocbet and kbetmestrado sobre o comportamento dos homens nos camposcbet and kbetfutebol, o pedagogo e técnico administrativo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Gustavo Bandeira diz que o estádio influencia e é influenciado por nossa cultura.

"Ali ensinam-se duas coisas muito importantes: quem tem sexualidade legítima e quem não tem. E também que, para que o homem vivacbet and kbetheterossexualidade com êxito, deve pregar o ódio aos homossexuais."

Torcida durante partidacbet and kbetBrasília (AFP)
Legenda da foto, Causa tem o apoiocbet and kbetdiversos clubes brasileiros

Bandeira diz que o futebol reforça divisõescbet and kbetgênero ao valorizar características tidas como masculinas, como a virilidade e a disposição para o combate,cbet and kbetoposição a aspectos associados às mulheres, como a delicadeza e a emotividade. Ela cita no estudo uma declaração do técnico Abel Braga sobre Sidnei, ex-jogador do Inter-RS – o atleta, segundo o treinador, "era muito meigo para um zagueiro".

O pesquisador afirma ainda que, embora homofóbicas, as manifestações das torcidas sugerem que apenas os sujeitoscbet and kbetposição passiva no ato homossexual têm a masculinidadecbet and kbetrisco. Um exemplo da postura são os gritos que instam os adversários a praticar sexo oral neles (o popular "chupa!").

Declaraçõescbet and kbetamor

Paradoxalmente, Bandeira também nota que, no mesmo ambientecbet and kbetque se ressalta a virilidade, se permitem afetos nem sempre toleradoscbet and kbetoutros locais, como as declaraçõescbet and kbetamor ao clube e os abraços coletivos após os gols.

Gremista, o pesquisador abordacbet and kbetseu mestrado atitudes racistascbet and kbetapoiadorescbet and kbetseu time voltadas a torcedores rivais, do Inter. Na décadacbet and kbet1940, gremistas passaram a chamar os adversárioscbet and kbet"macacos", referindo-se à presençacbet and kbetnegros na torcida. Cinquenta anos depois, diz, os torcedores rivais adotaram o termo e passaram a promovê-lo como sinal da tolerância do grupo.

"Hoje ninguém (no Brasil) quer ser identificado como racista, mas ninguém ainda se preocupacbet and kbetser identificado como homofóbico", compara. Porém, caso a homofobia nos estádios brasileiros acompanhe a trajetória do racismo, ele avalia que provocações homofóbicas atuais perderão efeito – como referir-se aos são-paulinos como bambis.

Para reverter o estigma associado ao termo, quatro torcedores do São Paulo criaramcbet and kbetabril a comunidade Bambi Tricolor. "Se até agora bambi foi um apelido usado para discriminar, por que não adotá-lo com orgulho e desarmar o preconceito?", questiona o grupo no Facebook.

Mas uma das criadoras conta à BBC Brasil que a comunidade, com quase 900 seguidores, gerou resistências inclusive entrecbet and kbetfamília, formada por "são-paulinos roxos". "Meu avô adorou a ideia, mas meu pai ficou revoltado."

Entre dirigentes são-paulinos, o termo também causa desconforto. Conselheiro do clube, o vereador Marco Aurélio Cunha (PSD) pediucbet and kbet2011 ao apresentador Marcelo Tas que "pensasse melhor nas brincadeiras" que vinha fazendo com o São Paulo.

"Se um cara na rua brinca e me chamacbet and kbetbambi, façocbet and kbetconta que não é comigo. Mas se um sujeito importante faz isso, abre a possibilidadecbet and kbettodos fazerem", ele diz. "Quando se diz que um cara é viado, isso pega. É uma deturpaçãocbet and kbetimagem importante, se ele não é ou não quer que se diga isso."

Torcidas organizadas

Para Cunha, a homofobia é uma das vertentes da violência no futebol, que tem como principal agente as torcidas organizadas. "Com medocbet and kbetmexercbet and kbetvespeiro, o clube fica oprimido, e o silênciocbet and kbettodos é que cria a redecbet and kbetnovos conflitos que vão se dividindocbet and kbetalvos específicos".

Ele diz crer, porém, quecbet and kbetalgumas décadas as piadas homofóbicas perderão efeito. "É uma questãocbet and kbetmaturidade."

Conselheiro e ex-dirigente do Corinthians, Antonio Roque Citadini discorda e cita, como sinal do grande conservadorismo no futebol, a ausênciacbet and kbetjogadores que se assumem gays. "A igreja vai admitir (gays), o Exército, mas o futebol será o último."

Ele afirma, porém, que os times devem condenar posturas homofóbicascbet and kbettorcedores. E diz ainda que, apesarcbet and kbetprovocações homofóbicascbet and kbetalguns dirigentes corintianos a torcedores são-paulinos (que ele considera "deploráveis"), seu clube tem tratado a questãocbet and kbetmaneira avançada.

"O Corinthians é o único clube que concordou que dois jogadores seus posassem nus na G Magazine (revista voltada a homens gays). Isso não hácbet and kbetlugar nenhum, nem no Brasil, nem no resto do mundo."