Após ação afirmativa, negros enfrentam preconceito na universidade e no trabalho:sportingbet con
Choque
Mas se o ingresso na universidade já era uma grande conquista, para alguns o mais difícil ainda estava por vir. Vindos emsportingbet conmaioria da Baixada Fluminense ousportingbet conbairros do subúrbio, esses alunos sofreram com dificuldades para se deslocar até o campus da PUC, que fica na Gávea, zona sul do Rio, alémsportingbet conterem que driblar resistências sociais e econômicas.
"Eu achava que era o fimsportingbet conmeu drama, mas era só o começo", conta Luciana Barreto, uma das primeiras alunas a ingressar no cursosportingbet conjornalismo como parte do programasportingbet conação afirmativa.
Moradora da cidadesportingbet conNova Iguaçu, Luciana trabalha desde os 15 anossportingbet conidade. Após ser reprovada no primeiro vestibular que prestou, ela pediu a seus pais para ficar um ano apenas estudando para tentar assim realizar o sonhosportingbet coningressar na faculdadesportingbet conjornalismo.
A estratégia deu certo. Após mesessportingbet conestudos, Luciana foi aprovada nos vestibulares das principais universidades do Rio. Decidiu cursar jornalismo na PUC e História na UFRJ.
"Foi um choque muito grande. Aquele mundo era muito diferente. Eu fui durante um bom tempo a única negra do cursosportingbet conjornalismo. Então aquilo era um choque visual, um choque cultural, um choque econômico", disse a jornalista à BBC Brasil.
"Você imagina que eu precisava acordar às 3h30 da manhã. Eu pegava o ônibussportingbet con4h20 para pegar a aula das 8h."
Mas o choque não se restringiu aos alunos que estavam ingressando na universidade. O pesquisador Reinaldo Guimarães, ele próprio negro, ex-aluno da PUC-Rio e origináriosportingbet conuma comunidade carente, conta que parte da comunidade acadêmica também teve resistência ao que chamasportingbet connovos "filhos da PUC".
"É uma resistência a esse novo público, que teoricamente tem menos capital cultural, alémsportingbet conocuparem um espaço que teoricamente não deviam estar ocupando", diz Guimarães.
Doutorsportingbet conserviço social pela PUC-Rio e mestresportingbet consociologia pelo Iuperj, Guimarães conta ter ouvido relatossportingbet conparticipantes do programa que, ao levantarem as mãos para fazer perguntas durante as aulas, eram ignorados por professores.
"Na mente deles, esse aluno não vai fazer uma pergunta relevante, porque ele já tem um ‘pré-conceito’ sobre que tiposportingbet conestudante ele recebeu a partir das bolsas, um estudante vindo das camadas mais pobres, a grande maioria negra, moradores do subúrbio, da Baixada Fluminense"
Adivinhação
Formadasportingbet conhistória nos anos 1980, quando decidiu cursar Direito na PUC, Miracema Alves dos Santos já dava aulassportingbet conuma universidade e na rede pública estadual. Embora pagasse regularmente as mensalidades no início do curso, após perder doissportingbet conseus três empregos ela foi incluída no programasportingbet conbolsas para alunos negros e carentes.
Dedicada, ela conta que costumava ter um bom desempenho nas provas, embora fizesse uma jornada dupla, estudando pela manhã e trabalhando à noite. Mesmo assim, ela diz que,sportingbet conalgumas situações, recebeu um tratamento diferente por partesportingbet conprofessores.
"Uma vez fiz uma prova, tirei nota boa, mas aí eu notei que o professor não tinha considerado uma questão que eu sabia que estava certa", conta. Quando questionou o fato, Miracema conta que o professor perguntou como ela havia "adivinhado" a resposta. "Eu respondi que não havia adivinhado, tinha estudado."
Perguntada se ela atribui a atitude do professor ao fatosportingbet conela ser negra, Miracema explica que atitudes racistas ou preconceituosas poucas vezes são claras.
"Essa questão do preconceito é muito difícil. Quando não é uma coisa muito direta, fica sempre uma dúvida. O brasileiro criou formassportingbet conser preconceituoso sem demonstrar completamente", diz.
"Às vezes eu converso com meus colegas brancos sobre situações que eu passo e eles dizem: 'ah, mas pode não ter sido preconceito'. É, realmente pode não ter sido, mas quando você é negro, você sente a diferença, porque é com você."
Mercado
Mas é no mercadosportingbet contrabalho que algumas situações ficam mais evidentes.
De acordo com uma pesquisa realizadasportingbet con2010 pelo Instituto Ethos e pelo Ibope, os negros ocupam 25,6% dos cargossportingbet consupervisão, 13,2% dos cargossportingbet congerência e 5,3% dos cargos executivos nas empresas brasileiras, embora, segundo o IBGE, 50,7% dos brasileiros sejam pretos e pardos (categorias usadas pelo próprio IBGE).
"Nos espaçossportingbet conpoder e visibilidade é onde você encontra menos negros, mesmo os que já estão qualificados" diz Guimarães.
"Em condições idênticas, o negro vai ser sempre preterido,sportingbet confunção das razões históricas,sportingbet conmemória,sportingbet consubalternidade que foram impostas ao negro no Brasil. O negro sempre é o subalterno, não o principal".
Para além das estatísticas, essas situações se refletem no dia a diasportingbet conalguns dos egressos do programasportingbet conação afirmativa da PUC-Rio.
Atualmente âncora da emissora pública TV Brasil, Luciana Barreto conta que ao longosportingbet consua carreira já enfrentou questionamentos a cercasportingbet consuas qualificações para estarsportingbet confrente às câmeras.
"(As pessoas dizem) ‘ah, você está no vídeo porque é negra, porque eles precisamsportingbet conalguém negro’. Você nunca está no vídeo porque é competente" diz.
Em um dos seus trabalhos anteriores, a jornalista afirma que foi diversas vezes confundida com maquiadora nos bastidores. "Eu costumava descansar na salasportingbet conmaquiagem no intervalo do telejornal. Sempre que entrava alguém assim, para algum programa especial, principalmente esses programassportingbet conentretenimento, olhavam e pediam para mim: ‘você pode fazer minha maquiagem, por favor’".
No casosportingbet conMiracema, ela continua dando aulassportingbet conhistória, mas atua esporadicamente como advogada. Ela conta que, durante uma audiência, já se encontrou com um juiz que era seu ex-professor, mas que, mesmo assim, ficou surpreso com o fatosportingbet conela ter se formadosportingbet conuma instituiçãosportingbet conelite como a PUC.
"Imagina (que ele) ia achar que essa neguinha que está fazendo audiênciasportingbet conum juizado especial na zona norte tenha estudado na PUC", diz."Quantas abolições a gente vai precisar ter no Brasil para que um negro ocupe um espaço nessa sociedade?"