A nova ofensivaPutin contra a comunidade LGBT da Rússia:
A nova lei proíbe a chamada "propagandarelações sexuais não tradicionais" entre todas as faixas etárias. Qualquer um pego cometendo essa "infração" pode ser multadoaté 400 mil rublos (cercaR$ 30 mil), com multas bem mais altas para organizações ou jornalistas.
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Desde que a lei foi aprovada, Danya decidiu deixar a Rússia e se mudar para a França. Ele diz que viverum país onde é ilegal "ser você mesmo" o deixa com medo.
"Minhas mãos estão atadas. Simplesmente não tenho mais escolha. Ou saio do país ou fico aqui e espero que piore ainda mais. O que está acontecendo agora — é muito assustador."
O projetolei começoujornada pelo sistema legislativo russo no verão passado, pouco depoisMoscou lançarchamada "operação militar especial".
E não foi por acaso: Vladimir Putin diz que a Rússia não está apenas lutando contra a Ucrânia no campobatalha, mas também contra os valores "ocidentais".
Durante um discurso no Kremlin para marcar a anexação ilegalquatro regiões ucranianas, o presidente atacou o Ocidente e os direitos LGBT, chamando-os"puro satanismo".
O ativista LGBT Piotr Voznesensky afirma que a relação com a guerra na Ucrânia é "óbvia". Em seu apartamento no centroSão Petersburgo, ele me mostra as peçasseu efêmero museu LGBT — o primeiro da Rússia. Ele abriu a exposição ao públicosetembro do ano passado, mas teve que fechá-la novamente com a aprovação da nova lei.
Para ele, a lei é uma tentativa do Kremlindesviar a atenção do público dos reveses no campobatalha.
"A guerra está perdida, a economia está destruída, e as autoridades precisam mostrar às pessoas pelo que elas arriscaram suas vidas", avalia Piotr.
"E a melhor ideia que eles tiveram é encontrar um novo bode expiatório — a comunidade LGBT".
Esta não é a primeira lei a impor restrições à comunidade queer da Rússia. Dez anos atrás, foi aprovado um projetolei proibindo a chamada "propaganda gay"relação às crianças. Gruposdireitos humanos afirmam que a mesma foi seguida pelo aumentoataques homofóbicos violentos na Rússia.
Olga Baranova, do Centro ComunitárioMoscou para Iniciativas LGBT+, acredita que a nova lei vai estigmatizar ainda mais as pessoas LGBT.
"Vamos entrar totalmente na clandestinidade, haverá casamentos fictícios, famílias fictícias. Os privilegiados vão deixar o país. Aqueles que não podem sair do país vão passar à clandestinidade e procurar parceirosalguma forma — usando canais fechados."
A preocupação agora entre a comunidade LGBT é como, quando e contra quem a lei será aplicada. A legislação russa é notoriamente vaga, dando às autoridades um instrumento contundente que pode ser usado arbitrariamente.
Mas o medo gerado pela legislação já está levando à censura: plataformas online excluíram filmes e sériesTV com temática LGBT e editaram cenas gays. Em um episódio da aclamada série The White Lotus, da HBO, um serviçostreaming russo mudou a palavra "gay" para "homem", incluiu uma toalha nas costasum personagem masculino nu e excluiu uma cenasexo gay, poucos dias após a lei ser adotada.
Os livros também estão sendo censurados. Lojastodo o país retiraramvenda títulos com temas e personagens LGBT. Em uma livrariaSão Petersburgo, encontro um título lançado recentemente, Shattered — um romance entre dois homens. Como o livro está lacrado com um plástico, preciso comprar para ver o interior. O texto foi censurado, com seções inteiras substituídas por tarjas pretas.
Um dos coautores da lei, um nacionalista abertamente homofóbico chamado Vitaly Milonov, concordafalar comigo por chamadavídeo. Ele está supostamente na cidadeHorlivka, no leste da Ucrânia ocupada, tendo viajado para a linhafrente da guerra como combatente voluntário. Ele rejeita as acusaçõesque a lei é discriminatória, dizendo que a vida privada das pessoas será respeitada.
Numa épocaque milharespessoas estão morrendo na Ucrânia, a Rússia está isolada internacionalmente, e as pessoas estão fugindo do país, pergunto a ele se é apropriado focaruma lei LGBT.
"A Rússia não está isolada, temos um conflito com o mundo ocidental!", diz Milonov.
"Por que você deveria indicar que nós que temos a ideologia errada? Acho que é nosso direito soberano ter uma legislação que gostamoster."
De volta ao apartamentoDanya, ele me mostra algumas das roupas que desenhou com carinho paraperformance como drag. Segundo ele, o público dos clubesSão Petersburgo adoraapresentação alternativa. Ele não quer sair do país.
"Em que tipoRússia você consegue imaginar querer viver?", pergunto a ele.
"Uma Rússia livre", ele me diz, pensando cuidadosamente sobre a questão.
"Uma (Rússia) que não comprometa os direitos humanos mais básicos que toda pessoa deveria ter. Porque acho que minha orientação é meu direito desde o nascimento e ninguém tem o direitocancelar, proibir ou me processar por isso."
* Com produçãoLiza Shuvalova