'Se tivesse ficado no Irã, não teria futuro', diz iraniana que mora no Brasil e fugiuquero jogarperseguição:quero jogar

Pessoas protestam contra a mortequero jogarAminiquero jogarIstambul, Turquia

Crédito, EPA

Legenda da foto, Manifestantes protestam contra mortequero jogarMahsa Aminiquero jogarIstambul, Turquia

"Não sou muçulmana e professo a fé bahá'í (religião monoteísta que enfatiza a união espiritualquero jogartoda a humanidade). Sempre fomos perseguidos, mas depois da Revolução Islâmica, essa perseguição foi institucionalizada", diz ela por telefone à BBC News Brasilquero jogaralusão ao regime dos aiatolás, no poder desde 1979.

"Os bahá'ís passaram a ser perseguidos, presos e mortos. Tomaram nossa casa e nossos bens. Éramos tratados como seres inferiores. Não tínhamos os mesmos direitos. Não podíamos estudar, por exemplo, e minha mãe perdeu a aposentadoria. Vivíamos escondidos. Se ficássemos lá, não teríamos futuro", conta.

Em agosto deste ano, especialistas da ONU pediram às autoridades iranianas que parem "com a perseguição e o assédio às minorias religiosas" e que deixemquero jogarusar a religião como pretexto para "restringir o exercício dos direitos fundamentais".

"Estamos profundamente preocupados com as crescentes prisões arbitrárias e,quero jogaralgumas ocasiões, desaparecimentos forçadosquero jogarmembros da fé Bahá'í e a destruição ou confiscoquero jogarsuas propriedades, o que traz todos os sinaisquero jogaruma políticaquero jogarperseguição sistemática", disseram.

Eles afirmaram que os atos "não são isolados", mas fazem parte "de uma política mais ampla para atingir qualquer crença ou prática religiosa dissidente, incluindo cristãos convertidos, dervixes gonabadi e ateus".

Segundo o Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH), a "comunidade bahá'í está entre as minorias religiosas mais severamente perseguidas no Irã", com um aumento acentuado nas prisões neste ano.

Em buscaquero jogarum futuro melhor

Imani fala rápido equero jogarportuguês fluente com pouco sotaque. Foiquero jogarbuscaquero jogarum futuro melhor que ela chegou à capital amazonensequero jogar1986, após um breve período como refugiada no Paquistão.

"Deixamos o Irã sem nada, só com a roupa do corpo e uma mala com nossos pertences", lembra.

Imani,quero jogarirmã e o cunhado foram ajudados pela Organização das Nações Unidas (ONU), e a opção por Manaus se deu pelos laços com a comunidade bahá'í, já estabelecida na cidade e envolvida na agricultura. O Brasil passou então a serquero jogarnova casa equero jogaroutras 200 famílias iranianas bahá'ís.

"A adaptação não foi tão difícil. Eu não sabia falar uma palavra sequerquero jogarportuguês. Não tenho facilidade para outros idiomas, mas eu era adolescente e tinha aquela energia típica da idade, então, foi uma aventura para mim. Os brasileiros e iranianos têm muitoquero jogarcomum, somos muito hospitaleiros e alegres", diz.

"Apesar disso, quando você está no seu país, você conhece como tudo funciona. Aqui no Brasil, eu não sabia nada. Por exemplo, sempre tive uma habilidade mais técnica, mas não sabia sobre a escola técnica profissionalizante. E acho que isso acabou impactando o meu futuro profissional."

Parnaz e o filho Samyr, emquero jogarformatura

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Parnaz e o filho Samyr, emquero jogarformatura

No Brasil, Imani estudou Química, Processamentoquero jogarDados, formou-sequero jogarAdministração, casou, teve um filho — agora com 28 anos e formado — e se divorciou. Ela trabalha como funcionária pública.

Mas, apesarquero jogarcontabilizar mais tempoquero jogarvida no Brasil do quequero jogarseu país natal, não poupa críticas ao autoritarismo do governo iraniano,quero jogarque religião e política se misturam.

"No Irã, as pessoas não têm liberdade para fazer suas próprias escolhas. Defendo uma sociedadequero jogarque as pessoas sejam livres para fazer o que querem — e sejam, portanto, responsáveis por essas ações. Mas isso não é o que acontece por lá", opina.

"Além disso, desde a Revolução Islâmica, o desejo do governo é que a mulher case e fiquequero jogarcasa. A grande maioria das mulheres tem nível universitário, mas poucas conseguem entrar no mercadoquero jogartrabalho. Você não pode decidir qual roupa quer usar. E qualquer movimentação para romper com as tradições é punida com veemência", conta.

Parnaz Imani

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Iraniana Parnaz Imani vive no Brasil desde 1986

Foi o que aconteceu com Mahsa Amini, que foi presa pela polícia da moralidadequero jogarTeerã. Houve relatosquero jogarque os policiais bateram na cabeça dela com um cassetete. A polícia disse que ela sofreu um ataque cardíaco.

Para sustentar esse argumento, as autoridades divulgaram imagensquero jogarAmini desmaiandoquero jogaruma delegaciaquero jogarpolícia, mas a gravação — junto com imagens delaquero jogarcoma — enfureceu os iranianos.

Os primeiros protestos ocorreram após o funeralquero jogarAmini na cidade ocidentalquero jogarSaqqez, quando mulheres arrancaram,quero jogarum atoquero jogarsolidariedade, os lenços que usam para cobrir suas cabeças.

Parnaz Imani quando criança

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Legenda da foto, Parnaz Imani quando criança no Irãquero jogarseu primeiro diaquero jogaraula, dois anos antes da Revolução Islâmica
Parnaz Imani e suas amigas

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Legenda da foto, Parnaz Imani (segunda da esq. para a dir.) adolescente com suas amigas

Desde então, os protestos aumentaram, com demandasquero jogarmais liberdades à derrubada do Estado, e se espalharam ao redor do mundo, com muitas mulheres cortando o cabelo e queimando o véu para demonstrar apoio.

No Irã, as mulheres não podem mostrar seu cabelo (são obrigadas a usar o véu islâmico), cantar e dançarquero jogarpúblico, andarquero jogarbicicleta, assistir a um jogoquero jogarfutebol, viajar sem o consentimentoquero jogarseus maridos ou usar maquiagem e esmalte nas escolas.

"Foi o estopim. Não se trata maisquero jogarum protestoquero jogarmulheres para mulheres. Os iranianos estão insatisfeitos com a faltaquero jogarliberdade e querem mudança", opina.

Desde que emigrou para o Brasil ainda adolescente, Imani já voltou ao Irã algumas vezes. Em uma delas, conta ter vivido na pele a repressão do regime,quero jogarsuas palavras, "autoritário" — e que muitos iranianos que participam dos protestos vêm sofrendo atualmente.

"Viajei ao Irã com minha irmã e meu sobrinho, que é brasileiro. Estávamosquero jogarTeerã e nos vimosquero jogarmeio a um protesto estudantil. Não sabíamos do que se tratava e nem estávamos ali para aderir à manifestação. Mesmo assim, fomos agredidos pela Guarda Revolucionária."

Parnaz Imani (de rosa, à direita) equero jogarirmãquero jogarvisita ao Irã

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Parnaz Imani (de rosa, à direita) equero jogarirmãquero jogarvisita ao Irã

"Havia policiais dos dois lados da rua e uma espéciequero jogar'corredor polonês'. Meu sobrinho, que nunca tinha passado por situação semelhante, ficou sem entender nada. Batiamquero jogarnossas coxas equero jogarnossas pernas com cassetetes. Estávamos ali na hora errada".

"A questão da democracia no Irã nunca foi muito liberal, no sentidoquero jogarpoder discordar do governo e dizer o que pensam. Mas, após a Revolução, nos foi tirada a liberdadequero jogarpoder viver e ter sonhos".

"Ou seja, poder ter no horizonte algum futuro promissor. Infelizmente, no Irãquero jogaragora, esse tipoquero jogarpensamento não é mais possível. Principalmente, para os bahá'í. Os bahá'í sobrevivem".

"A vidaquero jogartodos fica comprometida. Você vive sem perspectivas".

E ela conclui a entrevistaquero jogartom emocionado.

Conta que, após tantos anos vivendoquero jogarterritório brasileiro, já se acostumou à vida do Brasil, com exceção do "verão amazônico" ("Dentroquero jogarcasa, às vezes, a temperatura chega a 37ºC"), mas sente muita falta "da convivência familiar".

"A convivência é do que mais sinto falta. Uma parte do conhecimento equero jogarsabedoria da vida, você aprende não nos livros, mas na convivência. Então, muita coisa que vivo, penso, analiso e reflito, aprendi com meus pais. E meus pais aprenderam com os pais deles. Ou com seus tios ou avós. E tudo isso é transmitido pela convivência. E fico muito tristequero jogarsaber que meu filho não teve esse privilégio. Porque é algo que não tem volta."

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