Por que economia dos EUA pode estar à beirauma recessão:
A economia dos Estados Unidos encolheu pelo segundo trimestre seguido, atingindo um marco quemuitos países seria considerado indíciouma recessão econômica.
A recessão ainda não é oficialmente uma realidade nos EUA, que usa dados adicionais para anunciar a chegada a tal patamar.
Mas a contração da economia, a uma taxa0,9% no 2º trimestre2022, atraiu grande atenção e disparou alertastodo o mundo.
O preço médio dos alimentos, gasolina e outros itens básicos no país está subindoum ritmo que já é o mais rápido desde 1981.
À medida que o Federal Reserve, o banco central dos EUA, eleva a taxa básicajuros para tentar esfriar a economia e aliviar a pressão sobre os preços, aumentam os temoresque uma recessão esteja chegando - se é que já não começou oficialmente.
Diante da queda da confiança do público, o presidente dos EUA, Joe Biden, tentou argumentar que a economia permanece sólida, observando que a taxadesemprego permanece3,6% e as contratações seguemalta.
Esta semana, antes da divulgação dos dados sobre o PIB pelo DepartamentoComércio, ele disse a repórteres que a economia "não entrariarecessão".
A declaração levou seus rivais do Partido Republicano a acusar a Casa Brancatentar redefinir o termo.
"Um 'rebrand' da recessão pela Casa Branca não reduzirá o sofrimento dos americanos", disseram.
Nos primeiros três meses do ano, a economia dos EUA encolheu a uma taxa anual1,6%. Na época, os economistas atribuíram o declínio do PIB a "peculiaridades" nos dados comerciais.
Mas os novos números divulgados nesta quinta-feira (28/7) mostraram uma desaceleração mais acentuada, com o crescimento pressionado por quedas no mercado imobiliário, investimento empresarial e gastos do governo.
Os gastos do consumidor cresceram a uma taxa anual mais lenta1%, já que as pessoas gastaram maissaúde, acomodação e alimentação foracasa, mas reduziram as comprasbens e mantimentos.
"Saindo do crescimento econômico histórico do ano passado - e recuperando todos os empregos no setor privado perdidos durante a crise da pandemia - não é surpresa que a economia esteja desacelerando enquanto o Federal Reserve age para reduzir a inflação", disse Biden.
"Mas, mesmo enfrentando desafios globais históricos, estamos no caminho certo e sairemos dessa transição mais fortes e seguros."
Jeffrey Frankel, professorHarvard, atuou anteriormente no comitê do National Bureau of Economic Research, o grupoacadêmicos encarregadofazer a declaração oficialrecessão. Ele disse não acreditar que o país passava por uma recessão no início do ano, observando o forte crescimento do emprego. Mas depois desse período ficou menos confiante.
"As coisas já desaceleraram, então não estou dizendo que tudo está ótimo", disse ele. "As chancesuma recessão daqui para frente são substancialmente maiores do queum ano qualquer."
A inflação nos EUA atingiu 9,1%junho, o ritmo mais rápidovalorizaçãopreçosmaisquatro décadas.
Na quarta-feira, o banco central dos EUA respondeu ao problema com outro aumento incomumente grande emtaxajuros, seu segundo aumento0,75 ponto percentual desde que começou a elevar as taxasmarço.
Ao tornar os custos dos empréstimos mais caros, o Federal Reserve espera reduzir os gastos com itens como casas e carros,teoria aliviando algumas das pressões que elevam os preços. Mas a menor demanda também significa um declínio na atividade econômica.
Relatórios recentes mostraram que a confiança do consumidor está caindo, o mercado imobiliário está desacelerando e o país registrou a primeira contração na atividade empresarial desde 2020.
O mercadoações dos EUA despencou desde o início do ano e empresas como a gigante Meta, proprietária do Facebook e Instagram, e a montadora General Motors disseram que planejam desacelerar as contratações. Algumas outras empresas, especialmente do setor imobiliário, anunciaram cortesvagas.
Uma economia frágil?
Sasan Kasravi perdeu seu empregojunho. Ele trabalhava como professororatória na região da baíaSão Francisco, na Califórnia.
Aos 31 anos, ele disse que não está pessoalmente preocupado com enfrentar um longo períododesemprego. Mas suas visões sobre a economia americana são pessimistas, consistentes com pesquisas que mostram que menos15% dos americanos descrevem as condições econômicas nos EUA como boas.
"Acho que todo mundo está meio que esperando que a pandemia passe, que a guerra na Ucrânia se acalme, mas isso não vai resolver nenhuma das falhas sistêmicas inerentes", diz ele, citando altos custosmoradia, dívidas estudantis e bolhas especulativassetores como o das criptomoedas.
"[A economia] parece estar sendo sustentada por algo frágil e todos nós ficamos nos questionando se é isso que tem feito ela despencar."
O presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, disse nesta semana que não acredita que a economia dos EUA estejarecessão, mas disse que há desaceleração e que é provável que seja necessário mais para que a inflação volte a níveis normais.
O quão severa será a desaceleração prevista ainda é tópicodebates acalorados.
"A última vez que vimos uma inflação tão alta, na década1980, tivemos uma recessão bastante profunda", disse Laura Veldkamp, professorafinanças da Universidade Columbia. Segundo ela, os formuladorespolíticas públicas aprenderam com essa experiência, aumentando as esperançasuma desaceleração mais branda.
Mas as desacelerações na China e na Europa, que foram mais afetadas pelo aumento nos preços da energia causados pela guerra na Ucrânia, aumentam os riscos exteriores. Os EUA também não estão sozinhos no aumento das taxasjuros.
"Muitos outros países têm problemas mais sérios... e muito provavelmente serão atingidos e isso pode se espalhar até nós", diz Frankel.
Segundo o professorHarvard, é importante considerar fatores como o mercadotrabalho para determinar o iníciouma recessão.
Ele nota que algumas das desacelerações registradas no passado - como o estouro da bolha das empresasinternet2001 - não se qualificariam como recessões segundo a regra que considera tal cenário apenascasodois trimestres seguidoscontração, apesar dos muitos empregos perdidos na época.
As estimativasprodução na economia americana geralmente são atualizadas significativamente à medida que mais dados são contabilizados. Mesmo no Reino Unido, há casosrecessões sendo revistas.
A política, acrescentou Frankel, não tem nada a ver com isso, pelo menos historicamente.
"Todo macroeconomista experiente sabe que a recessão nos EUA não é definida por uma regra mecânica", disse Frankel. "Mas, dada a polarização da política, há pessoas que serão cínicas e imaginarão o pior."
- Este texto foi publicadohttp://vesser.net/internacional-62339917
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