Guerra na Ucrânia: as mortes misteriosasgenerais russoscombate:
'Piloto com P maiúsculo'
O major-general Kanamat Botashev era um piloto russo altamente qualificado e respeitado e, apesarsua patente, idade avançada e statusaposentado, ele estavavolta aos céus naquele dia fatídico.
A BBC conversou com trêsseus ex-subordinados que disseram que ele "não conseguia ficar longe" da "operação militar especial" — termo que a Rússia usa para a invasão da Ucrânia.
"Ele era um piloto com P maiúsculo", disse um dos ex-colegasBotashev à BBC. "Há poucas pessoas na Terra tão obcecadas com os céus quanto ele era."
"Sempre terei orgulhoter servido com ele", disse outro ex-colega.
Mas o fatoque Botashev estava participando dos combates na Ucrânia não faz sentido — e não apenas por causasua idade.
O major-general Kanamat Botashev nem sequer estava na ativa das forças armadas russas. Ele havia sido demitido havia uma década.
Generais mortos
Botashev é um dos vários generais russos que foram mortos no conflito e, embora o número exato seja muito contestado, perder até mesmo um único general é altamente incomumuma guerra moderna.
Por exemplo, quando o major-general norte-americano Harold Greene foi morto por um soldado do Afeganistãoum ataque2014,morte marcou a primeira vezmais40 anos que um general havia sido mortocombate.
A Ucrânia chegou a dizer que até onze generais russos foram mortos no conflito até agora, embora alguns desses relatos tenham se provado falsos. Três dos homens que teriam sido mortos segundo a Ucrânia publicaram vídeos na internetque negam ter morrido.
Atualmente, há relatosoito generais russos mortos nos combates — quatro deles confirmados e outros quatro não confirmados (mas suas mortes também não foram negadas).
AlémBotashev, as outras três mortes confirmadas são:
O major-general Andrey Sukhovetsky foi registrado como morto1ºmarço. Um oficial militar russo aposentado tuitou que Sukhovetsky foi baleado por um atirador ucraniano na áreaHostomel, não muito longe da capital Kiev.
O major-general Vladimir Frolov foi morto pelo Exército ucraniano16abril. Isso foi confirmado quando um aviso sobre seu funeral foi publicadoSão Petersburgo. Detalhessua morte não foram divulgados.
Mais recentemente,5junho, um jornalista da imprensa estatal russa postou no Telegram que o major-general Roman Kutuzov havia sido morto liderando um ataque às forças ucranianasDonbas.
Por que não sabemos quantos generais russos foram mortos?
A resposta simples é que os ucranianos não têm certeza dos números e os russos não confirmam relatos.
Para a Rússia, as mortes militares são consideradas segredosEstado mesmotempospaz. As baixasoficiais russos na Ucrânia não têm sido atualizadas desde 25março, quando houve confirmação1.351 soldados russos mortos no primeiro mês da guerra.
Em um projetoinvestigação contínuo, usando fontes abertas e dadosfamíliassoldados russos, a BBC compilou uma listamais3,5 mil vítimas, com seus nomes e patentes, indicando que o número real é provavelmente muito maior do que o oficial.
Nossa pesquisa também mostra que um quinto dos soldados russos mortos são oficiaispatente média ou alta.
O que isso revela?
A proporçãobaixasoficiaisalto escalão é impressionante, mas o Exército russo tem um número muito grandeoficiais superiores — cerca1,3 mil com patentegeneral no total, embora muitos desses não estejam presentes no campobatalha.
Mas alguns deles não tiveram essa sorte — e um número significativogenerais acabou presente no lugar errado na hora errada.
Isso pode acontecer porque oficiais russosalta patente realizam tarefas e tomam decisões que geralmente cabem a oficiaisbaixo escalãooutros exércitos, o que faz com que muitos deles estejam próximos da linhafrente.
Autoridades dos EUA e Europa dizem que o baixo moral entre as tropas russas forçou o Exército a colocar oficiais mais graduadosação.
A faltaequipamentoscomunicação também foi responsabilizada por contribuir para o perigo que esses militares enfrentam, supostamente os forçando a usar telefones tradicionais que comprometem a segurança operacional.
Relatos da imprensa dos EUA dizem que os oficiaisinteligência militar ucranianos estão deliberadamente atacando esses oficiais da Rússia com franco-atiradores e artilharia, e que os EUA forneceram inteligência à Ucrânia sobre seu paradeiro.
Voos não autorizados
Mas tudo isso seria puramente teórico para Botashev se ele tivesse seguido aposentado. Então, por que ele se encontrou no campobatalha novamente?
A carreiraBotashev não foi direta:2012 ele foi demitido do Exército depoisbater um avião que não deveria estar pilotando.
Ele havia assumido o controle da "joia da coroa" da tecnologia militar russa: um sofisticado caça Su-27.
Nas forças armadas russas, a autorização para pilotar um determinado tipojato é obtida depoismuitas horastreinamento especial.
Botashev não estava autorizado a pilotar o Su-27, masalguma forma conseguiu acesso a ele. Ele perdeu o controle da aeronave no meio do voo, mas ele e um colega conseguiram se ejetar. Ele sobreviveu à 'desventura', mas sabia que teriapagar um preço por isso.
Não foi a primeira vez que ele pegara uma aeronave que não deveria estar pilotando — o que serviuagravante.
Em 2011, ele havia entrado na cabineum Su-34, outro jato russo avançado para o qual não tinha licença e o levou para um passeio ilegal.
Pagando dívidas
Em 2012, um tribunal decidiu que Botashev tinha que pagar uma multacercaUS$ 75 mil (R$ 380 mil) pelos danos do acidente, apesaro avião valer milhõesdólares. Quando morreu no mês passado, ele ainda devia mais da metade desse valor,acordo com um bancodados estadualcódigo aberto.
Botashev foi demitidoseu cargo e passou a trabalhar para a DOSAAF, uma organização estadualvoluntários, que remonta à década1950, e que tem ligações com o Exército e a Marinha russos.
Sua pensão do Exército eracercaUS$ 360 (R$ 1800) e seu salário não deveria ser muito mais do que isso.
Com essa renda, ele tentava pagar a quantia significativa que devia ao Estado russo, e foi dito que, no momentosua morte, Botashev estava trabalhando para uma empresa militar privada.
As autoridades russas negam que essas empresas privadas tenham qualquer ligação com o Estado russo.
'Este texto foi originalmente publicadohttp://vesser.net/internacional-61864603'
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