Eleição na Colômbia: por que tem sido tão difícil para a esquerda chegar ao poder na Colômbia:betboo 361

A Colômbia nunca foi liderada por revolucionários como o México ou a Bolívia, ou por movimentos populares como o peronismo na Argentina, ou por um socialista, como Salvador Allende no Chile.

Os políticos reformistasbetboo 361esquerda que chegaram perto do poder foram assassinados. E seus assassinatos desencadearam ondasbetboo 361violência.

Embora o país tenha tido uma democracia e uma economia estáveis ​​da América Latina por décadas, uma parcela crescente da população desenvolveu uma antipatia pela classe dominante, a quem culpa por repetidos conflitos armados e por uma das sociedades mais desiguais do mundo.

Após dois momentosbetboo 361convulsão socialbetboo 3612019 e 2021, uma pandemia que exacerbou a pobreza e a desigualdade, e um governobetboo 361direita que registra os maiores númerosbetboo 361reprovação da história recente, a população estar fartabetboo 361tudo. E a esquerda quer tirar vantagem disso.

Mas por que até agora na Colômbia tenha sido tão difícil para a esquerda chegar ao poder?

Perseguida e clandestina

Vamos primeiro fazer uma breve revisão da história da esquerda na Colômbia.

Emborabetboo 361um século 19 cheiobetboo 361guerras civis houvesse expressões socialistas, somente na décadabetboo 3611930 que se pode falarbetboo 361movimentos sociais com agenda esquerdista, argumenta Mauricio Archila, historiador especialista no assunto.

O chamado "Massacre das Bananeiras", ocorrido durante uma greve dos trabalhadores da United Fruit Company nos Estados Unidosbetboo 3611928, foi um precursor do que viria depois.

Dentro da estrutura bipartidária tradicional, o Partido Liberal — oposto ao Conservador — representava as demandas associadas à esquerda. Mas a distância entre as bases e as lideranças, que pertenciam à aristocracia urbana, quase sempre impediu a consolidaçãobetboo 361propostasbetboo 361fato populares.

Nos anos 1930 e 1940, a Colômbia teve seu presidente mais progressista da história: Alfonso López Pumarejo, do Partido Liberal, que abriu espaço para sindicatos no governo e lançou as bases para uma reforma agrária.

Seu projeto, inspirado no New Deal americano após a crise financeirabetboo 3611929, foi chamadobetboo 361Revoluçãobetboo 361Movimento. Mas a revolução nunca veio.

A direita reagiu rapidamente, o Partido Liberal se dividiu e no final prevaleceu a preocupação com a propriedade privada, a ascensão comunista e o medobetboo 361um "salto no vazio".

Nesse contexto, ocorreu o primeiro picobetboo 361violência. Camponeses foram perseguidos por grupos paramilitares chamadosbetboo 361"os pássaros".

Durante a décadabetboo 3611940, figuras populares como Juan Domingo Perón na Argentina e Getúlio Vargas no Brasil governaram países vizinhos. Na Colômbia, surgiu Jorge Eliécer Gaitán, um orador carismático, filhobetboo 361uma professora ebetboo 361um livreiro que fez carreira dentro do Partido Liberal, mas sempre foi rotuladobetboo 361dissidente.

Em 9betboo 361abrilbetboo 3611948, quando um grande movimento popular o levou à Presidência, ele foi assassinado (até hoje não se sabe por quem), e outra ondabetboo 361violência foi desencadeada.

Uma situação mais caótica foi remediada com um pactobetboo 361alternânciabetboo 361poder entre os dois partidos tradicionais firmado,betboo 3611958. Foi criada a Frente Nacional, que trouxe certa estabilidade e excluiu do sistema qualquer movimentobetboo 361fora do establishment.

No auge da revolução cubana, milharesbetboo 361colombianos pegarambetboo 361armas contra o que consideravam uma "ditadura perfeita". Seis guerrilhas surgiram, mas nenhuma conseguiu derrubar o poder.

Alguns entregaram suas armas e criaram partidos políticos, mas seus líderes e militantes foram perseguidos e mortos. O caso mais citado, classificado como "genocídio", é o da União Patriótica: 5.733 militantes foram mortos entre 1984 e 2016, segundo dados oficiais. Entre eles, dois candidatos presidenciais: Jaime Pardo Leal e Bernardo Jaramillo Ossa.

A Frente Nacional acabou na décadabetboo 3611970, masbetboo 361lógica foi mantida e os governos subsequentes não fizeram mudanças drásticas para manter a calma política e econômica.

Houve projetos democratizantes como a Constituiçãobetboo 3611991 e diversos processosbetboo 361paz foram assinados com as guerrilhas que abriram o espectro político. Um outsider da elite rural também chegou ao poderbetboo 3612002, Álvaro Uribe, que quebrou o sistema bipartidário.

Mas, na prática, a classe dominante não passou por mudanças drásticas. Na verdade, ela foi ainda mais para a direita.

Entre 1995 e 2012, um novo picobetboo 361violência tornou impossível discutir reformas. Os presidentes foram eleitos porbetboo 361posição sobre a guerra rural. Os movimentos sindicais, camponeses e estudantis continuaram a ser perseguidos. Qualquer agenda progressista, se é que ela existia, foi perdida.

Desde 2005, a esquerda democrática vem criando uma estrutura externa ao Partido Liberal, que apoia a direita há décadas. Petro, figura chave neste processo, é o resultadobetboo 361duas décadasbetboo 361trabalho.

Uma esquerda "guerrilheira" ou dividida

Uma primeira razão que explica a crise incessante da esquerda colombiana é que ter uma agenda progressistabetboo 361meio à guerrilha é, no mínimo, uma imensa desvantagem.

Após a queda da União Soviéticabetboo 3611989 e a consolidação do capitalismo como modelo dominante, todas as esquerdas da região sofreram um golpebetboo 361prestígio.

Mas, diferentementebetboo 361outros países da região, na Colômbia a insurgência se manteve viva por muitos anos — e continua assim. Sua crescente proximidade com o tráficobetboo 361drogas desde a décadabetboo 3611990 e os ataques simbólicos que deixaram milharesbetboo 361civis mortos diminuírambetboo 361popularidade.

O M19, do qual Petro pertenceu e que se desmobilizoubetboo 3611989, obteve 12% e 30% dos votosbetboo 361duas eleições (seu candidato presidencialbetboo 3611990, Carlos Pizarro, foi assassinado), enquanto as FARC, que assinaram a pazbetboo 3612016, não conseguem mais que 1%betboo 361apoio do eleitorado.

"As folhasbetboo 361petição dos guerrilheiros poderiam ser a plataformabetboo 361um partido oubetboo 361um sindicato, mas por estarem armados, eles se radicalizaram e tiraram legitimidade dessa agenda", explica Gonzalo Sánchez, historiador especialistabetboo 361conflitos.

"Em um país tão fechado, qualquer demanda democrática se tornava subversiva", acrescenta.

A guerrilha não afetou apenas o discurso e a reputação da esquerda política, masbetboo 361própria formação, que nunca esteve isentabetboo 361divisões e dogmas.

A resposta da direita

Uma segunda causa da fraqueza da esquerda é, segundo os especialistas, o poder da direita.

Desde o século 19, o establishment conservador gozavabetboo 361uma estrutura política e social, ancorada no clientelismo, que lhe permitia se manter no poder.

"A influência da Igreja no Estado e no sistema educacional, uma Força Armada sem autonomia e sem renovação e dependente dos partidos tradicionais e um sistema eleitoral que privilegiava o abstencionismo gerou uma matriz autoritária que se manteve no poder sem muito contrapeso" diz a historiadora Mary Emma Wills.

Entre 1949 e 1991, o Estadobetboo 361Sítio, mecanismo constitucional que conferia poderes extraordinários ao presidente, vigorou por um totalbetboo 36130 anosbetboo 361diferentes períodos. Ou seja, 70% do tempo.

O medo da chamada ameaça comunista — tão perigosa para o principal aliado da Colômbia, os Estados Unidos— se traduziubetboo 361decretos e regimes criminais que restringiam direitos sociais e políticos a movimentosbetboo 361esquerda, aponta Willsbetboo 361diversos trabalhos acadêmicos.

Mas o Estado também se envolveubetboo 361práticas ilegais para deter a insurgência e qualquer correntebetboo 361esquerda.

Dezenasbetboo 361investigações, incluindo algumas realizadas pelo Estado, provaram que o paramilitarismo, o movimento armado que mais deixou mortos durante o conflito, surgiubetboo 361parte graças àbetboo 361aliança com as elites regionais e militares.

Leopoldo Fergusson, economista que estuda o conflito, constatou que a vitóriabetboo 361liderançasbetboo 361esquerda nas eleições locais entre 1988 e 2014 gerou, estatisticamente, um aumento da violência paramilitar naquelas regiões.

"É uma reação das elites tradicionais para compensar o aumento do acessobetboo 361outsiders ao poder político formal", argumenta o economista.

Culturalmente conservadores

A abstençãobetboo 361votos na Colômbia sempre foi alta. Há milhõesbetboo 361pessoas que, há décadas, se recusam a participar do sistema eleitoral.

Por isso que o padre e defensor dos direitos humanos Javier Giraldo chama a Colômbiabetboo 361"democracia genocida".

No entanto, a classe dominante muitas vezes se orgulhabetboo 361ter uma das democracias mais estáveis ​​da região. Porque, assim como não houve revoluções nem socialismos, também não houve regimes autoritários que restringissem o voto.

Os colombianos que votaram quase sempre escolheram os nomes do establishment.

Isso se deve, segundo especialistas, ao fatobetboo 361que a cultura colombiana foi, pelo menos até o final do século 20, muito conservadora.

Eles atribuem isso a três coisas: uma economia cautelosa sem grandes saltos no consumo, crescimento ou abertura; a influência da Igreja na educação e no Estado, que só se declarou laico até 1991; e a ausênciabetboo 361migração externa.

"A Colômbia se modernizou e se abriu ao mundo tarde demais, e isso permitiu que a matriz autoritária tivesse um efeito enorme na cultura", diz Wills.

No mar da informalidade que é o mercadobetboo 361trabalho colombiano, aliado à estrutura oligárquicabetboo 361poder, a única formabetboo 361ascender socialmente, diz Sánchez, foi através da ilegalidade.

"Se antes a única maneirabetboo 361ascender socialmente na Colômbia era casar com alguém da oligarquia, nos últimos 40 anos foi a violência e o tráficobetboo 361drogas que permitiram o acesso a uma vida mais cosmopolita", diz o historiador.

Tudo, no entanto, está mudando. As regiões se articularam, o país se conectou com o mundo —betboo 361parte pela emigração herdada da violência — e os acordosbetboo 361paz abriram um novo lequebetboo 361preocupaçõesbetboo 361questões sociais e culturais.

Além disso, nos últimos 20 anos a esquerda conseguiu, lenta e tortuosamente, unificar e criar uma certa base eleitoral.

Gustavo Petro, desdebetboo 361passagem pelo Congresso até agora, foi um dos principais artífices dessa reconstrução eleitoral. Agora ele é o favorito para ser presidente.

A história faz muitos até pensarem na possibilidadebetboo 361um novo assassinato ou um golpe. Outros acreditam que muitos anos se passaram: que a Colômbia, o país onde a esquerda nunca governou, mudou.

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