Toquerecolher na Colômbia desafia tentativadar fim a organização criminosa:

Soldados pertocaminhão queimado parado no acostamentouma estrada

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Um caminhão queimado durante toquerecolher na Colômbia

Em 5maio, a AGC fez circular um panfleto no qual decretou "4 diasparalisação armada", não sendo possível "abrir negóciosqualquer natureza" e "se movimentar atravésqualquer tipotransporte". Aqueles que descumprissem as ordens passariam por "consequências desfavoráveis".

RetratoDairo Antonio Úsuga no telão

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Dairo Antonio Úsuga foi extraditado na semana passada

Pelo menos 74 comunidades11 Departamentos (Estados) ficaram confinadas, quase 200 veículos foram queimados e pelo menos oito pessoas foram mortas — algumas por descumprimento das ordens do grupo criminoso e outrasconfrontos com forças policiais.

Na segunda-feira (9/5), um suposto comunicado da AGC anunciou o fim do toquerecolher. Depois, outra suposta comunicação do grupo desmentiu a anterior. Ainda não se sabe com precisão se as atividades nestes locais voltaram à normalidade.

Duque, porvez, viajou a Urabá, berço do grupo criminoso, para visitar empresas e anunciar novas extradições e ofensivas contra lideranças do Clã. Ele anunciou que 300 prisões já haviam sido feitas e que 60 toneladascocaína foram apreendidas.

Poder da organização criminosa é amplo e ramificado, explicam especialistas

Mas a Fundação Ideias para a Paz (FIP), dedicada aos estudos sobre a violência no país, afirmouum relatório que a posição do governoque a capturaOtoniel constituiria o fim da AGC é "apressada e distante da realidade".

De acordo com a fundação, a AGC mantém seu poder sem Otoniel por quatro motivos: a organização criminosa continua controlando parteUrabá; não perdeu conflitos por território ou renda com outros grupos armados; expandiu-se para regiões distantesseu território núcleo; e consolidou uma estruturafuncionamento heterogênea, conseguindo atuardiferentes áreas ao mesmo tempo.

Por isso, os especialistas da FIP avaliaram que "os efeitos da capturaOtoniel no mercadodrogas podem ser leves e limitados, mas as repercussõestermosviolência — massacres, deslocamentos, confinamentos, recrutamentomenores ou violência sexual — podem apresentar mudanças importantes".

O Urabá é uma região próspera para a agricultura e pecuária, fica próximo à fronteira com o Panamá e tem acesso ao Oceano Pacífico. É um ponto estratégico para qualquer atividade comercial, e na Colômbia, o é também para o tráficodrogas e armas.

A região foi dominada na década1990 pelos guerrilheiros do Exército PopularLibertação (EPL) e das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC). Depois, vieram as Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC), o exército paramilitar que enfrentava a insurgência.

Duas jovenscostas e com mochilas passam por pichação no muro, escrito "AGC"

Crédito, RAUL ARBOLEDA

Legenda da foto, As iniciais AGC marcam a presença do cartel na Colômbia

O EPL e a AUC marcaram a origem da AGC, já que ex-membrosambos os lados,teoria opostos e desmobilizados, se uniram no que acabou por se tornar um grupo mais voltado a atividades criminosas do que políticas. O próprio Dairo Antonio Úsuga, extraditado na semana passada, fez parte do EPL.

"O Clã do Golfo é uma organização sofisticada que tem uma estrutura estável, uma âncoranegócios legais como a pecuária e um amplo portfólioatividades criminosas que incluem extorsão e venda coercitivaserviços", explica Víctor Barrera, pesquisador do CentroPesquisa e Educação Popular (CINEP),Bogotá.

Mas especialistas alertam que há muito desconhecimento sobre esse grupo. A multiplicidadegrupos armados associados a eletodo o país — alguns permanentes e outros contratados, alguns autônomos e outros não — impossibilita conhecer a extensãoseu poder.

Há estimativas que falam3 mil membros da AGC; outras chegam a 13 mil, número semelhante ao das FARC, o maior grupo guerrilheiro do país,seu auge. Inclusive, Duque já afirmou que, ao lidar com a AGC, insistiriauma estratégia do governoÁlvaro Uribe contra as FARC: derrubar os principais líderes.

Mas, segundo Mauricio Romero, assessor da Fundação Paz e Reconciliação, a perseguição por si só não é uma solução: "É preciso termente que essas organizações criam empregos, oferecem renda e mantêm a economia das regiões onde atuam."

"Para acabar com eles, devemos gerar economias regionais vinculadas a negócios legais."

E a Colômbia, apesar dos esforços para transformar suas atividades, continua sendo o maior exportador mundialcocaína.

*Colaborou Andrea Díaz

Línea

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