Por que tantos alemães estão migrando para o Paraguai:brazino777 site
A maioria dos que chegam vem da Alemanha, mas também há austríacos e russos.
Segundo dados fornecidos à BBC Mundo pela Direção Geralbrazino777 siteMigração do Paraguai, entre junhobrazino777 site2021 e fevereirobrazino777 site2022, foram emitidas 1.324 permissõesbrazino777 siteresidência para cidadãos alemães.
Eles representam a segunda nacionalidade com maior númerobrazino777 sitepermissõesbrazino777 siteresidência emitida nesse período, atrás apenas dos brasileiros.
Mas outras fontes nos disseram quebrazino777 sitejunho a fevereiro deste ano, milharesbrazino777 sitealemães desembarcaram no Paraguai para se estabelecer no país. E nem todos eles passaram pelos registrosbrazino777 siteimigração.
A BBC Mundo viajou ao Paraguaibrazino777 sitefevereiro para entender as razões e consequências do fenômeno.
'Willkommen'
Embora também tenham se estabelecidobrazino777 siteoutras partes do país, boa parte dos novos imigrantes opta por se estabelecer nas Colônias Unidas. E não é difícil entender o porquê.
As Colônias Unidas foram fundadas por colonosbrazino777 siteorigem alemã quando Wilhem (Guillermo) Closs, um descendentebrazino777 sitealemães nascido no Brasil, e um punhadobrazino777 siteoutras famílias alemãs estabeleceram a primeira delas, Hohenau,brazino777 site1900.
Desde então, tanto a cultura quanto a língua alemã permaneceram presentes: existem escolas alemãs, igrejas alemãs luteranas e evangélicas, e muitos dos moradores falam alemão.
Na entrada da cidadebrazino777 siteObligado há uma placa que diz "Fuhl dich wie zu Hause" (Sinta-sebrazino777 sitecasa). Em Bella Vista, a tradicional mensagembrazino777 siteboas-vindasbrazino777 siteespanhol é acompanhada por um "Willkommen" (Bem-vindo).
"Temos um grande númerobrazino777 sitedescendentesbrazino777 siteeuropeus e acho que essa nova ondabrazino777 siteimigrantes é porque eles se sentem à vontade aqui, as pessoas os tratam bem,brazino777 sitemaneira amigável, e eles podem falar alemão confortavelmente, eles se sentembrazino777 sitecasa", diz Enrique Hahn, prefeitobrazino777 siteHohenau e também descendentebrazino777 sitealemães.
Antes das Colônias Unidas, já existiam outras colônias alemãs no Paraguai como San Bernardino e Nueva Germania, fundadas pela irmã do filósofo Friedrich Nietzsche, Elisabeth Nietzsche, e seu marido, Bernhard Förster, na tentativabrazino777 sitecriar uma comunidadebrazino777 siteraça ariana fora da Alemanha.
Os primeiros a chegar buscavam novas terras para trabalhar e oportunidadesbrazino777 siteum país que tentava se recuperar da devastadora Guerra da Tríplice Aliança (1864-1870) com uma políticabrazino777 siteimigração aberta.
Desde abrazino777 sitefundação, as três "colônias" receberam um fluxo regularbrazino777 siteimigrantes da Europa, principalmente durante e após a Segunda Guerra Mundial.
Primeiro chegaram aqueles que fugiam da instabilidade e da violência. Após a derrota da Alemanha Nazista, alguns membros ou simpatizantes do partido nazista também começaram a chegar.
Entre eles destaca-se o nomebrazino777 siteJosef Mengele.
Conhecido como o "Anjo da Morte", o ex-médicobrazino777 siteAuschwitz viveu um tempo escondidobrazino777 siteHohenau, quando era um dos criminososbrazino777 siteguerra mais procurados do mundo.
A história não é discutida abertamente na região. O mesmo não acontece, porém, quando o assunto é a chegadabrazino777 sitenovos imigrantes.
"Temos muito interesse que eles venham porque trazem tecnologia, progresso e desenvolvimento e as pessoas aqui estão muito agradecidas pelo avanço que tivemos com a chegada dos imigrantes europeus", destaca o prefeito.
Esta é uma das áreas mais férteis do país, onde prosperaram fazendas agroindustriais dedicadas à soja e à erva-mate.
No entanto, muitos dos imigrantes do século 21 não parecem chegar motivados por razões econômicas.
'A gota que encheu o copo'
A família Hausen, composta por Stephan, Theresa e Ella,brazino777 site2 anos, deixoubrazino777 sitecasabrazino777 siteNurembergbrazino777 sitenovembro e nos recebeu embrazino777 sitenova casa nas Colônias Unidas.
"Durante anos, a política na Alemanha foibrazino777 siteuma direção, e só nos foi permitido pensar na direção que o governo nos diz", disse Theresa, que é fisioterapeuta, à BBC Mundo.
"Acho que há muito a dizer... desde a educação nas escolas, o que nossos filhos aprendem, até o que acontece com a nossa saúde, esses são os dois principais problemas. Nos dizem explicitamente o que fazer!" .
Mas para eles, o verdadeiro pontobrazino777 sitevirada foi a pandemiabrazino777 sitecoronavírus e o que eles veem como uma má gestão da crise pelo governo alemão.
"Inicialmente apoiamos as medidas contra a covid", diz Stephan, que espera continuar trabalhando como carpinteiro no Paraguai.
"Mas as restrições contínuas nos deixaram sem ideias. Esse foi o momentobrazino777 siteque nos perguntamos para onde esses bloqueios estavam nos levando", acrescenta.
"Decidimos sair muito antes, mas esta foi a gota d'água que encheu o copo".
Contra a vacinação
Assim como os Hausens, muitos dos alemães que chegaram ao Paraguai nos últimos meses acreditam quebrazino777 siteseu país não há liberdade para tomar as próprias decisões e referem-se,brazino777 siteparticular, à campanhabrazino777 sitevacinação.
Theresa e Stephan afirmam estar vacinados, mas o professor e editorbrazino777 sitecinema Florentin Stemmer, que chegou a Hohenaubrazino777 sitedezembro, não está.
Stemmer acredita que a decisãobrazino777 sitese vacinar deve ser pessoal e não governamental, e afirma que a covid dividiu a Alemanha.
"Perdemos tudo por causa da decisãobrazino777 sitenão nos vacinarmos", diz.
"Imagine alguém tentando forçá-lo a fazer algo que você não quer fazer. Obrigá-lo com as redes sociais e até ameaçar fazê-lo à força", diz ele.
No momento, a vacinação não é obrigatória na Alemanha — embora o tema esteja sendo debatido —, mas os não vacinados têm acesso restrito a restaurantes, lojas e estabelecimentosbrazino777 sitelazer e arte.
Desde o início da pandemia, inúmeros protestos contra as restrições e contra a vacinação têm sido realizados nas ruas alemãs, nos quais a palavra "Freiheit" (liberdade) e as teorias da conspiração têm sido uma constante.
Movimento e desafios econômicos
No Paraguai, a chegadabrazino777 sitenovos imigrantes causou reações mistas.
Por um lado, nas Colônias Unidas destacam-se os benefícios econômicos que os recém-chegados trouxeram.
"No meio da pandemia tivemos um movimento econômico bastante interessante, considerando que os moradoresbrazino777 siteHohenau conseguiram vender suas terras e isso lhes deu segurança e chancebrazino777 sitesobreviver a essa pandemia que tivemos que viver", conta Noemi Jara, que no momento da entrevista trabalhava no Centro Histórico Cultural Edwing Krug como Secretáriabrazino777 siteCultura.
O setor da construção é um dos grandes beneficiados, como pode ser observado nas lojasbrazino777 sitemateriaisbrazino777 siteconstrução escolhidas pelas famílias alemãs.
Edifícios pontilham os campos verdes nos arredoresbrazino777 sitecada uma das cidades. São,brazino777 sitegeral, casas grandes e cercadas por extensos terrenos.
Mas tudo isso também traz desafios para o município.
"Somos uma cidadebrazino777 siteaproximadamente 16.000 habitantes e o fatobrazino777 site1.000, ou 2.000, ou 3.000 habitantes chegarembrazino777 site4 ou 5 meses, sobrecarrega um pouco e isso implica muito planejamento, muita logística para serviços básicos", explica o prefeito Hahn.
Há também outras preocupações.
Para Hahn, um dos maiores problemas é que a maioria dos recém-chegados "não está vacinada" e "é contra a vacinação".
"Gostaríamosbrazino777 siteconviver, trabalhar com eles. Sabemos que são pessoas que têm uma visão mais avançada do que aqui, que podem contribuir muito... mas eles também têm que saber que estãobrazino777 siteum lugar onde há legislação e onde há restrições".
"É uma grande preocupação para os cidadãos ficarem expostos a imigrantes que não estão vacinados. A maioria acredita que as medidas precisam ser cumpridas", destaca Noemi Jara.
"Por que há esse privilégio enquanto para os paraguaios há uma exigência? É uma desigualdade. E esse é um sentimento muito profundo que os paraguaios têmbrazino777 sitegeral, sejam descendentesbrazino777 siteestrangeiros ou nativos", explica.
A vacinação não é obrigatória no Paraguai, mas há uma forte campanha institucional a favor dela, e desde janeiro deste ano é obrigatória a apresentação do certificadobrazino777 sitevacinação para entrar no país.
Mas isso não impediu a chegadabrazino777 siteimigrantes europeus não vacinados.
"Há notíciasbrazino777 sitepessoas que vão para a Bolívia, onde não é necessário o cartãobrazino777 sitevacinação, entram no Paraguai por via terrestre e vêm se estabelecerbrazino777 siteHohenau", conta o próprio prefeito.
Juan (alteramos seu nome por motivosbrazino777 sitesegurança) é um funcionário do governo paraguaio. Ele confirma que milharesbrazino777 sitealemães entraram clandestinamente no Paraguai desde que os regulamentos mudaram.
"Com as novas exigências do Ministério da Saúde do Paraguai introduzidasbrazino777 sitejaneiro, alguns contêineres ficaram nos portos, pois sem a carteirabrazino777 sitevacinação não poderiam circular", diz.
"Esse é o momentobrazino777 siteque eles procuram lugares clandestinos por onde possam entrar, mesmo perdendo tudo o que trouxeram", diz.
Na sequência deste depoimento, solicitamos comentários à Direção-Geral das Migrações, que via e-mail nos informa que não receberam "até ao momento, reclamações relativas à migração irregular massivabrazino777 sitecidadãosbrazino777 sitenacionalidade alemã".
"Embora nosso país tenha vários quilômetrosbrazino777 sitefronteira seca, a imigração irregularbrazino777 sitecidadãos alemães, ainda que não seja impossível, é improvável", acrescentam no comunicado escrito.
Imigrantes fugindo da imigração
No entanto, não é apenas a pandemia que impulsionou essa nova ondabrazino777 siteimigração alemã para o Paraguai.
Praticamente todos os alemães com quem conversamos citaram a chegadabrazino777 siteimigrantes muçulmanos na Alemanha como outra razão pela qual deixaram seu país.
Desde 2015, maisbrazino777 siteum milhãobrazino777 siteimigrantes e refugiados — a maioria fugindobrazino777 siteconflitos no Afeganistão, Iraque e Síria — chegaram à Alemanha graças à políticabrazino777 siteportas abertas da ex-chanceler Angela Merkel.
"Acho que deveríamos ter uma imigração mais regulamentada. Você tem que ter um planejamentobrazino777 sitequantos você deixa entrar. O Estado tem capacidadebrazino777 sitecuidarbrazino777 sitetodas essas pessoas? Precisamos ter uma discussão sobre isso", diz Theresa Hausen.
"Claro que grupos estão se formando. De um lado, os alemães e, do outro, os muçulmanos. Não deveria ser assim, queremos viverbrazino777 sitepaz, mas isso não é possível se tantos entrarem no país", disse.
Os Hausens dizem que se sentem muito bem-vindos no Paraguai, mas acreditam que as coisas não podem funcionar da mesma forma na Alemanhabrazino777 siterelação aos imigrantes muçulmanos. O problema, eles apontam, é a diferença cultural.
"Em nossa experiência, o Paraguai é um país muito cristão e viemosbrazino777 siteuma cultura cristã. Conhecemos muitas pessoas aqui e estamos na mesma página", diz Stephan.
No entanto, para outro imigrante alemão, o problema não é a diferença cultural.
"Na Alemanha, sempre tivemos outras culturas, mas quando esses imigrantes chegaram, ficou muito perigoso para nós ficar", Hana (nome fictício) nos conta.
Hana está aposentada. Ela chegou ao Paraguai com o marido há quatro anos, porque diz que, apesarbrazino777 siteter trabalhado muito durante toda a vida,brazino777 siteaposentadoria estava ficando cada vez menor. Agora ela ajuda alguns dos recém-chegados a se estabelecerem no país sul-americano.
"A Alemanha não era mais nosso país", disse ela à BBC Mundo.
Assim como ela, outros alemães com quem conversamos associaram a chegadabrazino777 siterefugiados e imigrantes muçulmanos ao aumento da criminalidade, argumento também usado pelo partidobrazino777 siteextrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD).
"Eles não se sentem seguros, temem por suas mulheres e meninas", diz Hana, referindo-se aos motivos apresentados pelos recém-chegados.
Alguns ataquesbrazino777 siteimigrantes alimentaram a retórica anti-imigrante e xenófoba na Alemanha, como a sériebrazino777 siteagressões sexuais na vésperabrazino777 siteAno Novobrazino777 site2016 na cidadebrazino777 siteColônia, atribuídas principalmente a imigrantesbrazino777 siteorigem árabe ou norte-africana.
Mas o que dizem os números?
O Escritório Federalbrazino777 siteInvestigação Criminal da Alemanha registrou entre 2014 e 2016 um aumento geral no númerobrazino777 sitecrimes, assassinatos e estupros.
Segundo dados da mesma agência, a porcentagembrazino777 siteimigrantes considerados culpadosbrazino777 sitecrimes violentos também aumentoubrazino777 site2015 e 2016. No entanto, a maioria desses crimes ocorreu dentrobrazino777 siteabrigosbrazino777 siterefugiados.
Desde 2017, o número totalbrazino777 sitecrimes registrados tem diminuído constantemente, assim como a porcentagembrazino777 sitecrimes cometidos por imigrantes.
Hana diz que na Alemanha há uma campanha da mídia para difamar os alemães que se instalam no Paraguai, que são descritos como antivacinas e racistas.
"Não importa se você é preto, branco, vermelho, rico ou pobre, é a mesma coisa... A única coisa que importa é que o coração respeite qualquer cultura", responde à pergunta sobre o que diria a pessoas que pensam que seus argumentos são racistas.
No entanto, quando questionada sobre os imigrantes alemães que atravessaram por terra para o Paraguai para evitar os controles que exigem a entrada no país com certificadobrazino777 sitevacinação, ela responde que isso não é correto e que não existe tal imigração ilegal.
"Os alemães não têm medobrazino777 sitevacinas, eles nos vacinam quando crianças, nos vacinam contra tudo. Alguns têm poucas dúvidas sobre a nova vacina."
Ela então reconhece que alguns estão burlando os controlesbrazino777 sitefronteira: "Está acontecendo, sim, está acontecendo. Mas não são todos eles!"
A realidade é que esse fato incomoda alguns setores da sociedade paraguaia.
"Aqui estamos tentando cuidar uns dos outros, nos vacinar, vacinar até as crianças, e eles chegam sem querer ser vacinados, e entram no nosso país e o vírus estábrazino777 sitetodo lugar. E isso tem um grande impacto para nós paraguaio", diz João.
"Espero que o controle seja rígido para todos. Sabemos que eles vêm para investirbrazino777 sitenosso país, mas têm que cumprir as obrigações que temos aqui também."
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