'Fui obrigada a rezar para tirar o demônio': o duro relatoestrelabet roletatransexual submetida à 'cura gay':estrelabet roleta

Danne Aro Belmont

Crédito, Danne Aro Belmont

Legenda da foto, Danne Aro Belmont passou por procedimentos traumáticos porque pais não aceitavamestrelabet roletasexualidade

"Eu só sabia que gostavaestrelabet roletaoutros garotos e que queria coisas diferentes daquelas que meus irmãos queriam", dizestrelabet roletaentrevista à BBC Mundo (serviçoestrelabet roletaespanhol da BBC).

"Eles ouviram uma conversa que eu tive com um amigo, nos interromperam e logo começaram a fazer muitas perguntas", completa.

Ao confirmar que o filho era homossexual, os paisestrelabet roletaDanne começaram uma busca por informações sobre o tema e consultaram vários especialistas.

"Diziam para eles que a minha carga hormonal estava muito baixa e me fizeram tomar pílulas para aumentar meu nívelestrelabet roletatestosterona, ou diziam que era assim porque a minha mãe me mimava muito ou que talvez tivessem me estuprado, embora isso nunca tenha acontecido", diz.

Após descartar diversas hipóteses, os pais dela aplicaram uma sérieestrelabet roleta"processosestrelabet roletacorreção sexual" por meio da religião e da espiritualidade.

Uma psicóloga cristã foi a responsável por fornecer as informações iniciais sobre o tema aos paisestrelabet roletaDanne.

Danne Aro Belmont

Crédito, Danne Aro Belmont

Legenda da foto, Danne não sabia que havia sido submetida a uma terapiaestrelabet roletaconversão até começar a pesquisar sobre o tema

Eles não entendiam muito bemestrelabet roletaque consistiam os tratamentos, mas aceitaram a "ajuda" e foi aí que começou o martírioestrelabet roletaDanne, que tinha 16 anos na época.

Ela é uma das muitas pessoas da comunidade LGBTQIA+ que foram forçadas a participar da chamada terapiaestrelabet roletaconversão, que ainda é realizadaestrelabet roletamuitos países, inclusive naqueles onde foi proibida.

No Brasil, há proibições dessa prática quando é relacionada à psicologia. A "cura gay", como é conhecida por aqui, é proibida pelo Conselho Federalestrelabet roletaPsicologia desde 1999. Em 2020, o Supremo Tribunalestrelabet roletaJustiça (STF) suspendeu uma decisão judicial que abria brecha para permitir que psicólogos praticassem esse tipoestrelabet roletaintervenção.

A primeira terapia

Certa vez, diz Danne, os pais a chamaram para acompanhá-losestrelabet roletaalgumas tarefasestrelabet roletarotina. Ela ficou surpresa quando eles foram a uma igreja, poisestrelabet roletafamília "nunca foi muito católica".

"Os pastores já sabiam tudo sobre mim. Eles me levaram ao púlpito e começaram a orar por mim e por outras pessoas que estavam lá", conta.

"Eu vi como os outros tocavam suas cabeças e as levavam para trás. Logo agarraram a minha cabeça também e tentaram puxá-la para trás, mas eu não tinha vontadeestrelabet roletair a nenhum lado. Foi muito estranho", se recorda.

"Então eles me perguntaram se eu ainda era gay e se o espírito havia deixado meu corpo".

Essa primeira "terapia" durou pouco maisestrelabet roletauma hora.

Ela lembra que a sessão a deixou muito cansada e que lhe explicaram que isso ocorreu porque "os espíritos haviam curado seu corpo e eliminaram os demônios".

"É como uma lavagem cerebral. No final você acaba acreditando que há algo ruim dentroestrelabet roletavocê e que estão limpando vocêestrelabet roletaalguma coisa", explica.

Ela decidiu dizer a eles que não era mais gay.

"Eu menti para sairestrelabet roletalá. Eu sabia que, se dissesse que ainda era gay, o martírio duraria muito mais", conta. Ela afirma que o nervosismo, a ansiedade e a pressão causados pelas pessoas que rezavam ao seu redor não deixaram outra opção.

Ela garante que naquela época não sabia nada sobre direitos humanos, na escola não tinha o apoioestrelabet roletanenhum professor e não tinha as ferramentas para dizer aos pais que o que estavam fazendo era errado.

Tudo isso desencadeou nela sintomas depressivos e várias tentativasestrelabet roletasuicídio.

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"Terapiaestrelabet roletaconversão" é um termo que descreve práticas pseudocientíficas usadas para tentar alterar a expressãoestrelabet roletagênero, identidadeestrelabet roletagênero ou orientação sexualestrelabet roletauma pessoa, variandoestrelabet roletamedicamentos prescritos a eletrochoques, internamento forçadoestrelabet roleta"clínicas" e exorcismos.

Uma pesquisa da Universidadeestrelabet roletaCoventry, no Reino Unido, publicada no ano passado, entrevistou dezenasestrelabet roletapessoas que haviam sido submetidas a essas "terapiasestrelabet roletaconversão" e não encontrou nenhuma evidênciaestrelabet roletaque elas funcionem. Esse estudo apontou que isso pode ter um impacto negativo para a saúde mental das pessoas que passam por essas intervenções.

Mulher com a cara pintada com as cores da bandeira LGBT

Crédito, Getty Images

Um relatório elaboradoestrelabet roleta2020 pelo Instituto Williams, da Faculdadeestrelabet roletaDireito da Universidade da Califórnia, apontou que homossexuais ou bissexuais - o levantamento não incluiu pessoas trans - que são submetidos a esse tipoestrelabet roletaterapiaestrelabet roletaconversão têm quase o dobroestrelabet roletaprobabilidadeestrelabet roletatentar ou pensarestrelabet roletasuicídioestrelabet roletacomparação com pessoas que não passaram por isso.

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"Exorcismos"

Vários meses depois dessa primeira terapia, a colombiana que hoje se identifica como transexual foi submetida a uma segunda, ainda mais traumática, organizada pela mesma igreja onde foi batizada e seus pais se casaram.

"A minha irmã me acompanhou e disseram que seria um encontroestrelabet roletajovens, o que não me pareceu estranho porque eu já tinha ido a alguns encontros nas empresasestrelabet roletaque os meus pais trabalhavam".

Elas foram colocadasestrelabet roletaum ônibus com outras famílias e, sem explicação, foram levadas a uma fazenda remota nos arredoresestrelabet roletaBogotá.

O encontro tinha regras rígidas. Durante os "intermináveis" seis dias, ela repetia a mesma rotina: acordava muito cedo e logo mandavam rezar antes do café da manhã. "Depois tinha que ficar rezando o dia todo para tirar o 'demônio'estrelabet roletamim e se não obedecesse não conseguia comer nem dormir", lembra ela.

"Eles fizeram exorcismos jogando água bentaestrelabet roletamim. Eles colocaram velasestrelabet roletatodos os lugares, fizeram cruzes com cinzasestrelabet roletamim e falaram sobre o que haviaestrelabet roletaerrado comigo e a minha orientação sexual."

À medida que as pessoas "se arrependiamestrelabet roletaseus pecados", elas tinham que falar sobre outras pessoas com quem haviam cometido o "pecado" para identificá-las.

Para poder ir para a cama, era necessário dizer primeiro que se sentia "livreestrelabet roletaespíritos".

Todos iam dormir, menos Danne, que não aceitava mentir novamente e não queria demonstrar arrependimento por ser gay.

Manifestação pelos direitos da população LGBTQIA+

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, No Brasil, procedimento popularmente conhecimento como "cura gay" é proibido pelo Conselho Federalestrelabet roletaPsicologia e STF também já se manifestou contra

Por isso, a colocaram como um exemploestrelabet roletaalgo que "estava errado" e a faziam rezar rosários durante horas.

"Nas últimas noites, a minha irmã me disse que se sentia muito mal e me implorou para mudar. Ela também se sentia rejeitada por ser irmãestrelabet roletaum gay", explica Danne.

'Não queria continuar lutando'

Chegou um momentoestrelabet roletaque ela decidiu ceder e, assim como fez depois da primeira terapia, disse que havia deixadoestrelabet roletaser gay.

No caminho para casa,estrelabet roletafamília perguntou se ela estava bem e se sentia alguma mudança.

"A princípio, disse que havia mudado. Não queria seguir lutando e se eu dissesse que me sentia o mesmoestrelabet roletasempre, as terapias continuariam, o que não era saudável pra mim".

Danne explica que quando saiestrelabet roletauma terapiaestrelabet roletaconversão, você se sente "perdido", porque o que dizem nesses lugares é "muito diferente" do que você realmente sente. "Você quer mudar e ser 'normal', porque te fazem acreditar que é errado ser você", reflete.

"Eles fazem você sentir que se você é gay,estrelabet roletaúnica opção na vida é ser cabeleireiro ou prostituta e eu não queria isso, queria estudar astronomia".

Após essas experiências, Danne começou a investigar o que havia acontecido com ela e o que significava ser gay.

Pouco depois, muito mais informada, Danne se abriu para os pais.

Ela confirmou que continuava sendo gay, falou para eles sobre os direitos humanos, decidiu se envolver no ativismo LGBTQIA+ e começou a participarestrelabet roletamanifestações e eventos sobre a temática.

Na escola, ela começou a falar sobre diversidade e foi expulsa por isso.

Anos depois, seus pais se desculparam, agora a apoiam e a acompanham nas passeatas do orgulho gay.

Hoje, Danne trabalha como diretora da Fundação Gaat, um grupoestrelabet roletaação e apoio à comunidade trans, que denuncia que "as terapiasestrelabet roletaconversão continuam sendo muito comuns" tanto na Colômbia como no resto da América Latina e que o problema é "normalizado e internalizado".

Danne Aro Belmont

Crédito, Danne Aro Belmont

Legenda da foto, Atualmente, Danne trabalha como diretoraestrelabet roletafundaçãoestrelabet roletaapoio para a população trans na Colômbia

"Eu não sabia que havia passado por terapiaestrelabet roletaconversão até começar a investigar o que era isso", diz ela.

"Eu só dizia na escolaestrelabet roletatomestrelabet roletabrincadeira que haviam feito exorcismoestrelabet roletamim, que não havia funcionado e eu continuava sendo gay".

Após as terapias às quais foi submetida, Danne passou por um processoestrelabet roletaautoconhecimento como pessoa trans que ela classifica como longo e permeado por muitas "práticas e reavaliações" sobre o que sentia.

Um tema 'complexo'

Andrés Forero, gerenteestrelabet roletacampanha do All Out, um movimento globalestrelabet roletadireitos LGBTQIA+, diz que há muito pouca informação sobre essas terapias que prometem a cura gay.

"A questão na América Latina é complexa porque não tem sido prioritária e as leis variam muito", diz à BBC Mundo.

Em alguns países, como aqui no Brasil, existem proibições que impedem os psicólogosestrelabet roletafazer terapiaestrelabet roletaconversão, mas é uma medida "que não é muito útil", segundo Forero.

Isso porque "não são os psicólogos que mais fazem essas práticas, geralmente são organizações religiosas", argumenta.

Ele diz que "infelizmente" as terapiasestrelabet roletaconversão são "bastante normalizadas" na cultura latino-americana.

"Quando eu disse ao meu pai que eu era gay,estrelabet roletaprimeira reação foi dizer: 'Bem, vamos ver se há algum tipoestrelabet roletaterapia ou algo que possamos fazer para curá-lo", conta Forero.

Remédios jogadosestrelabet roletauma cama

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Estudo apontou que terapia contra a orientação sexualestrelabet roletauma pessoa pode causar traumas e aumenta as chancesestrelabet roletasuicídio entre as pessoas que são submetidas a isso

Vazio na legislação

No século 20, não era incomum que alguns terapeutas propusessem a mudançaestrelabet roletaorientação sexual por meioestrelabet roletapsicanálise intensa e,estrelabet roletaalguns casos, terapiaestrelabet roletaeletrochoque.

Masestrelabet roleta1973, a Associaçãoestrelabet roletaPsicologia dos Estados Unidos deixouestrelabet roletaconsiderar a homossexualidade como um transtorno. Em 1990, também foi retirada da Classificação Internacionalestrelabet roletaDoenças da Organização Mundialestrelabet roletaSaúde (OMS).

A OMS e outras organizações médicasestrelabet roletatodo o mundo alertam que todas as formasestrelabet roletaterapiaestrelabet roletaconversão são antiéticas e potencialmente prejudiciais.

Até o inícioestrelabet roleta2022, cinco países latino-americanos proibiam explicitamente essa prática: Argentina, Brasil, Equador, Uruguai e Porto Rico, embora na maioria dos casos as leis não abranjam o temaestrelabet roletamaneira suficientemente ampla. No restante da América Latina, há um vazio na legislação sobre o tema.

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