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Os refugiados que escaparam da guerra no Afeganistão e enfrentam outra na Ucrânia:
"A situação no Afeganistão, quando o Talebã tomou o poder, era melhor do que a que estou vendo aqui na Ucrânia. Nós estamos fugindonovo, mas desta vez para um destino desconhecido", diz Haidar Seddiqi, um oficial militar afegão36 anos que acabou na Ucrânia depois que o grupo fundamentalista tomou a capital afegã, seis meses atrás. "Eu escapeiCabul para a Ucrânia para salvar minha vida e encontrar paz. Eu nunca nem imaginei que isso [guerra] poderia me seguir até aqui. Somos uma nação desesperada."
Depois15 anos servindo as Forças Armadas do Afeganistão, Seddiqi foi para a Ucrânia com apenas um paruniformes. Ele não teve nem tempo para fazer uma mala. Ele afirma que parece que "você está fugindo para buscar refúgio do vento, erepente uma tempestade te atinge".
Seddiqi tinha apenas três anosidade quando a invasão soviética do Afeganistão chegou ao fim. Sua geração cresceuum paísguerra: a primeira vez que o Talebã tomou o poder, a invasão americana e recentemente a volta do Talebã ao controle,agosto2021. Ele diz que tem convivido com guerras e buscado refúgio por todavida.
Agora na Ucrânia, ele está chocado sobre como "a história se repete" para ele e agora tem dúvidas se a guerra um dia vai parar"persegui-lo".
Estima-se que cerca5.000 afegãos vivam na Ucrânia, incluindo 370 retiradosagosto2021, quando o Talebã retomou o controle do país. Enquanto o território ucraniano se transformaum campobatalha, diversos países tentam evacuar seus cidadãos e levá-los a um lugar seguro, mas os afegãos acreditam terem sido "abandonados e esquecidos".
'Porconta'
Na manhã da quinta-feira, 24fevereiro, a população ucraniana acordou com o forte somsirenes e explosões, quando a Rússia iniciavainvasãolarga escala do país.
Muitos afegãos que haviam fugido para a Ucrânia recentementebuscapaz — incluindo Seddiqi — ficaram surpresos com um ataque militar no lugar que eles "menos esperavam".
Ele descreve como viu seu camporefugiadosmeio a um caos quando acordou paraoração matinal. "Estava no noticiário. As pessoas começaram a gritar, até que as autoridades no campo abriram as portas e disseram para fugirmos."
Seddiqi afirma que cerca250 refugiadosdiferentes países viram-se "no meio do nada" — eles foram simplesmente informadosque deveriam salvar suas vidas. Ele estima estar a 47 quilômetrosdistância da estrada principal mais próxima e que o grupo terácaminhar o trecho todo, porque seu pedido por transporte foi negado.
"Oficiais do campo nos disseram que, a partiragora, 'vocês estão porconta'", afirma Seddiqi.
Vídeos produzidos no local mostram famílias carregando seus pertencessacolas plásticas, caminhando numa área rural, cercadosárvores sem folhas, próximo à cidadeChernihiv.
A maior parte dos refugiados está tentando alcançar a parte oeste da Ucrânia. Aqueles jácidades desse lado estão fugindodireção às fronteiras, enquanto o país inteiro é alvoataques.
'Achávamos que estaríamos seguros aqui'
Fazila Haidari,26 anos, também acordou na manhã da quinta-feira, dia 24, com o son das sirenes. "É como quando o Talebã atacou Cabul. Eu me lembro que as pessoas estavam desesperadas, e havia caos. Agora estou vendo pessoas fugindo e tentando deixar a Ucrânia. Eu não consigo acreditar que isto esteja acontecendo", Haidari disse à BBC por meiomensagens no WhatsApp.
Ela estava escrevendo a partirum pequeno apartamento que ela compartilha comirmã Shogufa,24 anos,Lviv, na parte ocidental da Ucrânia. As irmãs trabalhavam como comissáriasbordo e deixaram o Afeganistão para a Ucrânia durante a tomada do poder pelo Talebã.
"Minha irmã não falou nada desde a manhã. Nós duas estamoschoque. Nós simplesmente não sabemos o que fazer e para onde fugir."
Haidari eirmã estavam aguardando na Ucrânia até serem reacomodadasum outro país. Agora, tem buscado ajuda, desesperadamente, contatando qualquer pessoa que elas conheçam.
"Nós achamos que seria seguro aqui, mas veja a situação. Nós temos ligado para a Acnur [agência da ONU para refugiados] e outras organizações, mas ninguém atende nossas ligações."
Metadesua família ainda está no Afeganistão, vivendo com medo sob o Talebã, e agora se preocupa com a segurançasuas filhas.
"Nós ainda estávamoschoque por causa do que aconteceuCabul, preocupadas com nossa família. Agora a Ucrânia está sob ataque, e a minha família está preocupada com a gente. Eu estava feliz por ter sobrevivido ao Talebã, mas agora eu estou imaginando se sairCabul foi a decisão certa, porque estou no meiouma outra guerra."
'Não sei para onde mais fugir'
"Eu realmente me sinto arrasado, me sinto sem casa e me sinto realmente pobre", disse Ahmad Sajad (nome fictício) à BBC.
Ele era um alto oficial do governo afegão, no augesua carreiraCabul seis meses atrás, quando o Talebã tomou o poder. Ele disse que na quinta-feira, dia 24, não podia acreditarseus olhos quando viu um míssil cair pertoseu apartamento.
"Nós viemos aqui para viverpaz. Nós nunca esperávamos que o horror fosse se repetir. EstouKiev agora, e as pessoas estão correndoqualquer direção", disse Sajad. "Há longas filas pertosupermercados, postoscombustíveis e caixas eletrônicos. Isso é exatamente o que vimosCabul apenas alguns meses atrás."
Sajad e outros que chegaram à Ucrânia vindos do Afeganistão há seis meses sentem-se agora perdidos. "Não falamos a língua, nossos passaportes estão com o governo, e não podemos ir para nenhum lugar. Mesmo se quisermos ir embora, eu não sei para onde fugir."
Afegãosredes sociais reagiram rapidamente aos acontecimentos na Ucrânia por causa da recente tomada do país pelo Talebã e também porque invasão russa traz memórias da ocupação soviética do Afeganistão1979, que deixou centenasmilharesvítimas e um êxodomilhõespessoas.
"O problema agora é que ninguém está aqui para nos ouvir ou cuidarnós. Eu me sinto arrasado, não temos embaixada ou um governo ou mesmo uma identidade. Não temos ninguém do nosso lado."
'Verei meus filhosnovo?'
Haidar Seddiqi e seus colegascampo, incluindo uma famíliaseis pessoas, com três crianças, estão exaustos devido acaminhadabuscasegurança. Eles andaram mais75 quilômetros durante a noite e haviam acabadochegar ao centroChernihiv, que agora é uma zonaconflito.
Na manhãsexta-feira, dia 25, ele enviou uma mensagemvoz dizendo que eles estavam caminhandogrupos pequenos para garantir que não se tornem alvosbombardeios. Ele pedia que a comunidade internacional e as Nações Unidas não se esqueçampessoas como ele.
"E se houver um ataque aqui ou algo acontecer com a gente? O que aconteceria com a minha família no Afeganistão? E se eu morrer, quem diria a eles se eu estou vivo ou morto? Será que eu verei meus filhosnovo?"
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