Em que se diferenciam as violências praticadas por nazistas e por comunistas soviéticos, segundo historiadores:betesporte 91
O outro é o professor britânico Richard J. Evans, que dirigiu o Departamentobetesporte 91História da Universidadebetesporte 91Cambridge, no Reino Unido, e é autorbetesporte 9118 livros sobre história europeia, entre eles a trilogia do Terceiro Reich.
Ambos dizem que a principal diferença entre nazismo e comunismo está no propósito nazistabetesporte 91destruiçãobetesporte 91uma população inteira com base numa ideologiabetesporte 91supremacia racial.
No comunismo da União Soviética, a violência era dirigida contra quem era considerado inimigo do regime, não a um grupo étnico ou racial específico - e tinha um objetivobetesporte 91dominação, não extermínio. Ou seja, para os dois especialistas, os dois regimes não são equiparáveis no tipobetesporte 91violência que perpetraram.
"Os nazistas trataram os judeus com brutalidade e sadismo particulares. Havia um desejobetesporte 91degradação e humilhação que torna a violência nazista particular. No comunismo, a violência não tinha cunho racial. Ela era dirigida contra quem acreditavam ser subversivos e não embutia o mesmo ódio visceral que o nazismo tinha pelos judeus", avalia Richard J Evans, considerado uma das maiores autoridades no estudo da Alemanha nazista.
Mas a discussão é complexa e envolve diferentes fatores. Por isso, a BBC News Brasil reúne aqui as principais diferenças e semelhanças entre nazismo e comunismobetesporte 91três aspectos: ideologia, violência e totalitarismo.
Ideologia
O primeiro passo para analisar a violência praticada pelo nazismo e o comunismo estábetesporte 91verificar se a ideiabetesporte 91destruiçãobetesporte 91grupos está embutida na ideologia dos dois regimes. Primeiro, é importante lembrar que o comunismo não se manifesta da mesma maneirabetesporte 91todos os países, tendo sido muito mais violento na União Soviética durante a ditadurabetesporte 91Josef Stalin, entre 1928 e 1953.
O historiador Richard J. Evans destaca que o nazismo tem como pilar ideológico a ideiabetesporte 91superioridade racial.
Para os nazistas, os alemães seriam os verdadeiros europeus, descendentes diretos dos "árias", uma espéciebetesporte 91tribo europeia original. E o Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães ou Partido Nazista, desde seus primórdios,betesporte 911920, já se referia aos judeus como "inimigos" da nação.
Líder do partido a partirbetesporte 911921, Adolf Hitler manifestoubetesporte 91seu livro autobiográficobetesporte 91dois volumes, Mein Kampf, ódio por marxistas, eslavos e, principalmente, judeus, a quem chamoubetesporte 91"parasitas".
Escritobetesporte 91dois volumes,betesporte 911925 e 1927, Mein Kampf se tornaria o livro norteador do Partido Nazista. E, durante o períodobetesporte 91que esteve no poder, entre 1933 e 1945, Hitler e o partido nazista institucionalizaram o racismo, estabelecendo leis que definiam como cidadãos apenas aqueles com "sangue" alemão, e excluindo dessa categoria judeus, ciganos, negros e eslavos. Houve ainda ordens para executar pessoas com deficiências físicas e mentais.
"Há uma diferença ideológica importante entre comunismo e nazismo que justifica uma rejeição particularmente contundente do nazismo, que é o elemento racista, o fatobetesporte 91ser um regime racista. O nazismo discriminava diferentes minorias étnicas e raciais, como negros, ciganos, eslavos, e, acimabetesporte 91tudo, judeus", ressalta Evans.
"Hitler considerava ser judeu uma raça, não uma religião. E para ele era uma raça, porbetesporte 91própria natureza, subversiva, perigosa e que queria destruir a civilização. Era o que os nazistas classificavam como inimigos do mundo. Com base nisso, estabeleceram o propósitobetesporte 91eliminar todos os judeus."
Já o comunismo tem como propósito construir uma sociedade igualitária, por meio da aboliçãobetesporte 91classes sociais e da propriedade privada. Não há o componentebetesporte 91extermíniobetesporte 91grupos étnicos e a intenção é estender esse projeto para o mundo todo. Mas acreditava-se que o caminho para chegar a essa sociedade igualitária passa por uma lutabetesporte 91classes.
E,betesporte 91fato, a ascensão do regime comunista na União Soviética envolveu conflitos sangrentos, com os assassinatosbetesporte 91opositores do regime,betesporte 91elites e da família inteira do czar russo Nicolau 2º,betesporte 91esposa Alexandra e filhos do casal, que eram crianças e adolescentes.
"O comunismo é uma ideologia que diz que todos devem ser iguais; ter remuneração similar; que a propriedade deve ser do Estado e o Estado deve controlar e administrar negócios e indústrias, porque representa o povo", lembra o historiador Richard Evans.
"A pergunta é como chegar lá. Inicialmente as doutrinas comunistas diziam que isso se alcançava por revolução violenta, como ocorreu na Rússiabetesporte 911917. Mas acho que esse não é o caso mais. Há uma compreensão (por partebetesporte 91adeptos contemporâneos do comunismo) que ele não deve ser alcançado por luta violentabetesporte 91classes."
Elazar Barkan, professor da Universidadebetesporte 91Columbia, avalia que o comunismo se aproxima mais do fascismo que do nazismo.
"Claramente, o comunismo é mais comparável ao fascismo, que se manifestabetesporte 91maneiras diferentesbetesporte 91diferentes países e se propõe a eliminar os críticos do regime. O nazismo é um regime único, com um projetobetesporte 91extermíniobetesporte 91populações", disse ele à BBC Brasil.
Barkan lembra ainda que o nazismo foi o único regime a implementar verdadeiros camposbetesporte 91extermínio que resultaram na mortebetesporte 91milhões. No regimebetesporte 91Stalin, havia camposbetesporte 91trabalho forçado e os prisioneiros viviambetesporte 91condições degradantes, mas não havia câmarasbetesporte 91gás e uma políticabetesporte 91extermíniobetesporte 91massa.
"O nazismo é único na perpetuaçãobetesporte 91camposbetesporte 91extermínio. Não eram camposbetesporte 91concentração, erambetesporte 91extermínio. Houve todo um país concentrado e focado no extermíniobetesporte 91judeus. É diferente do que ocorreu no stalinismo. No stalinismo, havia uma ditadura e a violência tinha como objetivo a dominação. Foi um regime muito violento, mas não havia um aspectobetesporte 91extermínio racial", destaca Barkan, que também é fundador do Institutobetesporte 91Justiça Histórica e Reconciliação,betesporte 91Haia, na Holanda.
Genocídio x assassinato
Outro ponto constantemente usadobetesporte 91tentativasbetesporte 91equiparar o comunismo ao nazismo é o elevado númerobetesporte 91mortes provocadas pelos dois regimes.
Robert Conquest, historiador inglês, autorbetesporte 91O Grande Terror e um dos primeiros a jogar luz sobre a extensão da violência do período stalinista, fala que houve pelo menos 20 milhõesbetesporte 91mortos no regime soviético.
Estariam incluídos nessa conta assassinatosbetesporte 91opositores do regime, mortesbetesporte 91camposbetesporte 91trabalho forçado, por inanição na chamada Grande Fome da Rússia,betesporte 911921, e no período conhecido como holodomor ou "morte por inanição", na Ucrânia, entre 1932-1933.
Segundo Timothy Snyder, historiador americano e professor da Universidade Yale, cercabetesporte 913,3 milhõesbetesporte 91pessoas foram mortas na Ucrânia quando o regimebetesporte 91Stlin levou o país à grande fome com o objetivobetesporte 91forçar camponeses rebeldes (os kulaks) a ampliar a produção agrícola e trabalharbetesporte 91fazendas coletivas.
O Kremlin requisitava mais grãos do que os agricultores ucranianos podiam fornecer. E quando eles resistiram às demandas crescentes, brigadas do Partido Comunista varreram as aldeias e levaram tudo o que era comestível. Muitos sobreviventes contam que as fronteiras chegaram a ser fechadas para evitar que as pessoas buscassem comidabetesporte 91países vizinhos.
Ucranianos costumam comparar o holodomor ao holocausto, que matou cercabetesporte 916 milhõesbetesporte 91judeus. Mas, Elazar Barkan e Richard J. Evans afirmam que, embora a violência soviética precise ser repudiada e reconhecida, ela não constitui tecnicamente um genocídio. Isso porque o objetivo das mortes, afirmam, não era o extermíniobetesporte 91um grupo pelabetesporte 91raça, mas sim a dominação e a expansão das políticas comunistas.
"Na minha visão, a mortebetesporte 91milhõesbetesporte 91ucranianos na fome induzida pelo Estado, no início da décadabetesporte 911930, foi deliberada, mas não ocorreu porque eram ucranianos, mas porque eram fazendeiros que poderiam resistir à políticabetesporte 91coletivização da agricultura. Era uma política assassina, mas não baseadabetesporte 91raça", avalia Evans.
"Mas dizer que não é genocídio não quer dizer que é melhor ou minimizaria o que ocorreu. Estou destacando que os objetivosbetesporte 91Hitler e Stalin eram diferentes."
Do pontobetesporte 91vista legal, o holocausto é considerado genocídio porque possui tanto o que a Convenção sobre Genocídio da ONU chamabetesporte 91"elemento mental" ("intençãobetesporte 91destruir, no todo oubetesporte 91parte, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso, enquanto tal") quanto o "elemento físico". Este inclui cinco atos, que são:
• Matar membros do grupo
• Causar danos físicos ou mentais graves a membros do grupo
• Infligir deliberadamente ao grupo condiçõesbetesporte 91vida calculadas para provocarbetesporte 91destruição física total ou parcial
• Impor medidas destinadas a prevenir nascimentos dentro do grupo
• Transferir à força crianças do grupo para outro grupo
Quem considera o holodomor como genocídio acredita que muitos desses atos foram praticados pelo regime stalinista contra os ucranianos. No caso do nazismo, todos os atos listados acima foram praticados contra judeus no períodobetesporte 91que Hitler esteve no poder.
"O Holodomor foi partebetesporte 91uma violênciabetesporte 91outra natureza, que não era direcionada a um grupo como raça, mas a fazendeiros. Foi muito violento e muitas pessoas foram mortas e a fome foi horrível. Mas a ideologia não consistiabetesporte 91exterminar ucranianos. Havia diferentes grupos sofrendo e o objetivo ideológico não era matar ucranianos, mas transformar a União Soviética", diz Elazar Barkan.
"Não acho que podemos negar às pessoas o reconhecimento que elas fazem do próprio sofrimento. Eu não acho que o Holodomor foi um genocídio. Mas se ucranianos acham que foi, a perspectiva deles é legitima", completa.
Comparação do holocausto com outros genocídios
Barkan observa que o fatobetesporte 91sibetesporte 91o holocausto ser usado pelos ucranianos e por vítimasbetesporte 91violênciabetesporte 91todo o mundo para efeitobetesporte 91comparação evidencia que ele é visto globalmente como a pior das atrocidades cometidas na história moderna.
"Nós privilegiamos a perspectiva das vítimas. Não dizemos a vítimas: 'o seu sofrimento não é importante'. O genocídio é visto como o maior dos crimes. Dizer a pessoas que elas não sofreram genocídio é deslegitimar o seu sofrimento. E então vem a questãobetesporte 91saber qual foi o genocídio mais violento", diz.
"Acredito que o nazismo é único por dois aspectos: um deles foi o propósitobetesporte 91destruição, ou seja, o esforçobetesporte 91exterminar e erradicar uma população; e segundo pelo fatobetesporte 91todas as vítimasbetesporte 91genocídio compararem seu sofrimento ao nazismo para expressar que estão padecendo da maior atrocidade possível."
Já Evans cita a extrema crueldade dos nazistas com os judeus como elemento que diferencia o regimebetesporte 91Hitler do stalinismo.
"Os nazistas trataram os judeus com brutalidade e sadismo particulares. Havia um desejobetesporte 91degradação e desumanização que torna a violência nazista particular. No comunismo, a violência não tinha cunho racial. Ela era dirigida contra quem acreditavam ser subversivos e não embutia o mesmo ódio visceral que o nazismo tinha pelos judeus", avalia.
Totalitarismo
Em alguns aspectos, no entanto, o nazismobetesporte 91Hitler e o comunismo da União Soviética se assemelham, dizem Evans e Barkan.
Ambos foram regimes totalitários, com centralizaçãobetesporte 91poder nas mãosbetesporte 91um líder (Hitler e Stalin), alto graubetesporte 91controle do Estado sobre a vida pública e particular dos cidadãos e repressão violenta a opositores.
"Se procurarmos semelhanças, podemos dizer que ambos foram regimes ditatoriais que não permitiam oposição, não permitiam liberdadebetesporte 91expressão, organizavam eleiçõesbetesporte 91maneira a garantir 99%betesporte 91apoio", diz o historiador britânico Richard Evans, da Universidadebetesporte 91Cambridge.
"Portanto,betesporte 91ambos, havia uma misturabetesporte 91manipulação, intimidação, censura e supressão da oposição."
Stalin comandou a União Soviética por 29 anos,betesporte 911924 até abetesporte 91mortebetesporte 911953. Adolf Hitler liderou a Alemanha por 12 anos, entre 1933 e 1945.
Comparar nazismo com comunismo é trivializar o holocausto?
Uma discussão que sempre vem à tona quando são feitas comparações entre nazismo e comunismo é se esse exercício pode induzir a uma "trivialização do holocausto".
Para Elazar Barkan,"há duas motivaçõesbetesporte 91comparar o holocausto a outras catástrofes".
"Uma é minimizar o holocausto e isso não é legítimo. A outra é evidenciar outros atosbetesporte 91extrema violência. E isso é legítimo. (A legitimidade) depende do que está sendo comparado ebetesporte 91quem está comparando", disse à BBC News Brasil.
Segundo Barkan, quando uma vítimabetesporte 91genocídio usa o holocausto como comparação para dar a dimensãobetesporte 91seu sofrimento, isso não pode ser repreendido. Mas há casosbetesporte 91que a comparação serve a uma tentativabetesporte 91minimizar o holocausto.
"Assim como há pessoas que querem compararbetesporte 91situação com o holocausto, há quem queira negar o holocausto. A comparaçãobetesporte 91alguns casos embute uma negação do holocausto", diz.
"Na minha visão, a pergunta deve ser: qual é o objetivo da comparação? Se a comparação serve a minimizar o nazismo, obviamente isso não é aceitável." Segundo o professor da Universidadebetesporte 91Columbia, o riscobetesporte 91trivializar o holocausto é um aumento do antissemitismo e da violência contra judeus.
Isso porque, quando o sofrimentobetesporte 91um povo não é reconhecido e relembradobetesporte 91toda abetesporte 91dimensão, a ideologia que o provocou pode se restabelecer e se difundir progressivamente.
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