3 fatores por trás da desaceleração da China, que deve registrar menor crescimentoapostas net30 anos:apostas net
O desempenho é resultadoapostas netuma combinaçãoapostas netfatoresapostas netcurto e longo prazo, conforme os especialistas ouvidos pela BBC News Brasil. Uma mistura que inclui desde mudanças profundas no modeloapostas netcrescimento chinês, que dá sinaisapostas netque está entrandoapostas netum novo ciclo, até episódios recentes e mais pontuais, como a políticaapostas netcovid zero.
Sintetizamos esses elementosapostas nettrês pontos, listados a seguir.
1. A crise na construção: imóveis caros, cidades fantasmas e empresas endividadas
O setor imobiliário eapostas netconstrução vem sendo o principal motor do crescimento espetacular da economia chinesa há décadas. Responde por cercaapostas net15% do PIB e por quase o dobro disso se contabilizada toda a cadeia, que inclui segmentos como oapostas netaço, cimento eapostas netmobiliário.
Há alguns anos, contudo, o setor vem dando sinaisapostas netesgotamento. Alguns deles bastante claros, como as "cidades-fantasma" que se espalharam pelo país nos últimos anos: grandes empreendimentos que, devido à baixa demanda, permanecem vazios ou inacabados.
Além disso, mesmo com a ampla oferta, os preços têm se curvado à especulação imobiliária e seguemapostas netuma crescente, deixando os imóveis cada vez menos acessíveis para alguns chineses - ainda que o país tenha um nível elevado da população com casa própria.
Entre as 10 cidades com os maiores preços médios no mundo, 3 estão na China, conforme a pesquisa anual feita pela consultoria americana CBRE, especializada no setor imobiliário. São elas Xangai, Pequim e Shenzhen, hoje um grande hubapostas nettecnologia.
"O processoapostas neturbanização, que foi um dos grandes motores desse boom na construção que se estendeu pelos últimos 25 anos, desacelerou consideravelmente", pontua Mark Williams, economista-chefe para a Ásia da consultoria britânica Capital Economics.
"As taxasapostas netnatalidade vêm despencando, reduzindo a expectativaapostas netdemanda no mercado imobiliário no futuro. E essa não é uma história só para 2022, é uma história para os anos 2020 e além", completa.
Outro sinalapostas netalerta vem das próprias empresasapostas netconstrução.
Após anos crescendoapostas netforma agressiva com um modelo baseado no endividamento, algumas companhias começaram a enfrentar dificuldade para pagar os credores e chegaram a ameaçar dar calote - incluindo a gigante Evergrande, que no ano passado levantou temoresapostas netque uma crise maior pudesse estar se desenhando.
Um relatório divulgadoapostas netoutubro pela agênciaapostas netrating S&P apontou que, no cenário mais pessimista, até 37% das companhias do setor poderiam enfrentar problemasapostas netliquidez (ou seja, dificuldade para pagar dívidas)apostas net2022.
"A probabilidade é que a necessidadeapostas netimóveis novos caia consideravelmente na China até o fim da década, o que colocaapostas netquestão todo o modeloapostas netnegócio dessas empreiteiras, que ficam pegando dinheiro emprestado para construir mais e mais a cada ano que passa", ressalta Williams.
O governo, que há anos reconhece que há profundos desequilíbrios do setor, vem tentando consertá-losapostas netforma mais ativa só recentemente. Desde 2020, por exemplo, tem implementado uma sérieapostas netcontroles regulatórios, batizadosapostas net"três linhas vermelhas", para tentar conter o endividamento desordenado.
Essas medidas são apontadas como uma das razões por trás das dificuldades que algumas empresas têm atravessado.
Nesse sentido, diz Williams, parte da crise atual é "contratada", ou seja, o próprio governo sabia que as medidas levariam a uma desaceleração do principal dínamo da economia - mas não teve muita alternativa diante da realidade, que, na avaliação do economista, acabou se impondo.
"Parte das chamadas crises ouapostas netalguma instabilidade que se criou na economia chinesa ano passado foram na verdade induzidas por políticas", concordaapostas netparte a diplomata Tatiana Rosito, que viveapostas netXangai e é senior fellow do Centro Brasileiroapostas netRelações Internacionais (CEBRI).
Emapostas netvisão, as razões que levaram o presidente Xi Jinping e o Partido Comunista Chinês ao aperto regulatório justamente neste momento, quando há muito tempo o governo admite a necessidadeapostas netreformar a economia, é um campo aberto a especulações.
A movimentação, contudo, sinaliza uma mudança importante: uma disposição mais clara da liderança chinesaapostas netpersistir no combate aos desequilíbrios, tendo como efeito colateral a produçãoapostas nettaxasapostas netcrescimento menores.
"Há uma passagemapostas netum focoapostas netquantidade para um focoapostas netqualidade, para uma economia baseadaapostas netinovação. E, nesse sentido, eles estãoapostas netbusca dos novos drivers [impulsionadores]apostas netdesenvolvimento", acrescenta a economista, que já foi representante-chefe da Petrobras na China.
2. A 'repressão' à indústriaapostas nettecnologia
Um desses motores é o setorapostas nettecnologia, que, ironicamente, também está na mira do cerco regulatório empreendido pelo governo.
Os novos controles, que se manifestamapostas netáreas desde a cibersegurança até a legislação anti-monopólios, têm feito o setor perder o fôlego que transformou algumas empresasapostas netimpérios nos últimos anos.
Alvo das medidas, grandes multinacionais como Tencent, DiDi (dona da 99 no Brasil) e Alibaba têm registrado crescimento menor e até queda nas receitas nos trimestres mais recentes.
Apesarapostas netse identificar como um país comunista desde 1949, quando uma revolução alçou Mao Tsé-Tung ao poder, a China passou a abrir espaço para empresas privadas, ainda que sob restrições, com a políticaapostas net"reforma e reabertura" inaugurada por Deng Xiaoping no fim dos anos 1970.
Por que então impor restrições mais rigorosas neste momento?
Na avaliaçãoapostas netEvandro Menezesapostas netCarvalho, coordenador do Núcleoapostas netEstudos Brasil-China da FGV Direito Rio, a explicação combina objetivos políticos e econômicos.
"O 'combate' às grandes fortunas ou às grandes empresas seria uma formaapostas neto partido transmitir à população que está comprometido com a promessaapostas netcombate à desigualdade, dentro do discursoapostas net'prosperidade comum'", diz ele, referindo-se ao slogan que tem aparecido com frequência nos últimos discursos do presidente Xi Jinping.
Também seria uma formaapostas netevitar que as grandes fortunas "corrompam" o próprio sistema e coloquem sob ameaça o monopólio do poder exercido pelo Partido Comunista. E, por fim, uma maneiraapostas netreorientar o foco dessa indústria para as áreas que o governo considera estratégicas e importantes. Menos redes sociais e joguinhos e mais chips e semicondutores, por exemplo.
Rosito acrescenta outros três pontos à lista, entre eles o próprio esforço do governo para combater o que enxerga como desequilíbrios da economia. No caso específico do setorapostas nettecnologia, muitas das empresas vinham entrando maciçamente no ramo financeiro e aumentandoapostas netforma expressiva o nívelapostas netendividamento, por exemplo.
Em paralelo, ela cita a visão por parte das lideranças chinesas da necessidadeapostas netse regulamentar uma área considerada sensível e estratégica: "A China hoje vê claramente a questão dos dados como uma questãoapostas netsegurança nacional".
E, finalmente, as transformações no cenárioapostas netsegurança internacional, decorrentesapostas netembates como a guerra comercial entre China e Estados Unidos.
"Quando eles criaram esse slogan da 'circulação dual' [mencionado desde 2020 como uma nova estratégia, que incorpora cada vez mais o consumo doméstico], é pra dizer também: 'Olha, a gente precisa pensar nas cadeias domésticas, na circulação, até para fazer face a restrições", diz a diplomata.
Entre essas "restrições" estariam, por exemplo, as investidas americanas para limitar o acesso chinês a algumas tecnologias fundamentais, como semicondutores.
Williams, da Capital Economics, também chama atenção para o peso do cenário internacional menos favorável, que teria despertado no partido uma espécieapostas netsensoapostas neturgência para que o país se prepare para tempos mais difíceis.
"E isso significa que a China precisaria focar mais seus esforços econômicosapostas netáreas como a indústria, na produçãoapostas netchipsapostas netalta tecnologia, e não tantoapostas netalgoritmos para compartilhar vídeos engraçados", avalia.
"Acho que existe um certo grauapostas netdesconfiançaapostas netrelação a esse tipoapostas nettecnologia, [uma visãoapostas netque seria] algo que não necessariamente fortaleceria a China no longo prazo", completa o economista.
3. Políticaapostas netcovid zero
Em meio a todas essas mudanças estruturais eapostas netlongo prazo, um outro fator, este aparentemente mais circunstancial, também tem contribuído para desacelerar o crescimento chinês: a políticaapostas netcovid zeroapostas netvigor.
Enquanto alguns países têm sinalizado que, quando for possível, devem mudar suas estratégiasapostas netsaúde pública para que possam passar a conviver com o vírus, na China a orientação ainda é tentar mantê-lo fora do território a todo custo.
Isso se traduz, por exemplo, na implementaçãoapostas netrigorosos e amplos lockdowns para tentar conter novos surtos, controleapostas netfronteiras e políticas minuciosasapostas nettestagem - medidas que têm impacto tanto na demandaapostas netconsumidores quanto na produção das empresas.
Em janeiro, por exemplo, a montadora japonesa Toyota informou ter precisado suspender a produção emapostas netjoint-ventureapostas netTianjin por conta das novas rodadasapostas nettestagem que estavam sendo realizadas nos 14 milhõesapostas nethabitantes da cidade para tentar conter a disseminação da variante ômicron.
Alguns se questionam até que ponto a estratégia chinesa é sustentável, diante da alta transmissibilidade da ômicron. Até o momento, contudo, o governo não sinalizou uma mudança significativa no combate à pandemia.
O custo econômico da políticaapostas nettolerância zero à covid levou instituições como o banco Goldman Sachs a reduzirapostas netprojeção para o crescimento da economia chinesaapostas net2022apostas net4,8% para 4,3% recentemente.
Evandro Menezesapostas netCarvalho, da FGV Direito Rio, chama atenção para o fatoapostas netque a abordagem chinesa, queapostas netcerta forma deixa o país mais fechado para o mundo, converge com alguns dos interesses das lideranças. Entre eles, a própria estratégiaapostas net"circulação dual", que passa a olhar cada vez mais para o mercado doméstico, e a visãoapostas netque o país precisa se preparar para cenários mais críticos com relação aos Estados Unidos, por exemplo.
"Talvez haja uma políticaapostas netconveniência", ele avalia.
Na visão do especialista, contudo, "não há interesseapostas netum fechamento total". "Existe uma preocupaçãoapostas netcontinuar atraindo investimento estrangeiro e manter as portas abertas para o mercado internacional."
Como tudo isso pode impactar o Brasil?
O diplomata Marcos Caramuru, embaixador do Brasil na China entre 2016 e 2018, lembra que 2022 é um ano sensível para o país asiático também no campo político.
No segundo semestre ocorre o 20º Congresso do Partido Comunista Chinês, o evento político mais importante do calendário. Realizado a cada 5 anos, é geralmente o momentoapostas netque se formalizam as trocasapostas netlideranças. Neste ano especificamente, Xi Jinping também deve buscar um inédito terceiro mandato como presidente.
"A questão que todo mundo se pergunta é qual vai ser o equilíbrio entre reformas e crescimento", ele acrescenta.
A depender da calibragem, a economia brasileira pode sentir mais ou menos os efeitos, avalia Caramuru. A China é hoje o principal parceiro comercial do Brasil, destinoapostas net31,3%apostas nettodas as exportações do país. A pauta é bastante concentradaapostas netcommodities, especialmente soja, petróleo e minérioapostas netferro - um item que seria diretamente impactado pela crise na construção e no mercado imobiliário, por exemplo.
"Se houver uma desaceleração forte na China, nós vamos sofrer - alguns produtos mais que outros. Mas tudo leva a crer que o governo vai tentar encontrar um equilíbrio. Não vejo um cenário que, para nós, possa subitamente criar uma situaçãoapostas netconstrangimento pesado", pontua.
Tatiana Rosito também não enxerga um choque negativoapostas netgrandes proporções no curto prazo. Ela aponta, contudo, que há riscos relevantes para o médio e longo prazo, parte deles decorrente da própria concentração da pautaapostas netexportações brasileira.
Se o perfil da economia da Chinaapostas netfato mudar e ela deixarapostas netser um grande centro manufatureiro (a "fábrica do mundo") para se tornar uma economia baseadaapostas netinovação, o que isso significa para os países que abasteceram os chinesesapostas netcommodities nas últimas duas décadas?
"A Chinaapostas netalguma forma moldou o mundo dos últimos 20 anos, através daapostas netenorme demanda por commodities, que beneficiou muitos países, através daapostas netproduçãoapostas netbens, que permitiu que o mundo crescesse sem inflação, através do seu papel importante como hubapostas netcadeias produtivas, sobretudo no setor eletroeletrônico… Da mesma forma que ela,apostas netconjunto com os Estados Unidos, moldou bastante o mundo nos últimos 20 anos, isso pode continuar e até se intensificar - agora sob novas bases", avalia a economista.
"A China está olhando cada vez mais para fontes renováveis - e menos para petróleo e gás -, mais para veículos elétricos, para hidrogênio…", completa.
Nesse sentido, ela acredita que o Brasil preciseapostas netuma estratégia, construída "a várias mãos" pelo governo com a sociedade civil, para fazer frente a essas transformações e conseguir extrair os benefícios possíveis para a economia brasileira.
Uma possibilidade seria procurar exportar produtosapostas netmaior valor agregado dentro do próprio segmento alimentício -apostas netvezapostas netembarcar apenas a soja e o milho que vão virar carne na China, vender produtos que possam ir direto para as gôndolas dos supermercados.
"Os consumidores chineses não se lembram do Brasil como um grande fornecedor agrícola. Como nós vendemos commodities, a média das pessoas não reconhece marcas brasileiras, né? Então eu acho que a gente precisa olhar para esse potencial da China, um paísapostas netque a classe média deve dobrarapostas nettamanho até 2035,apostas net400 milhões para 800 milhõesapostas netpessoas."
No próximo dia 15apostas netfevereiro, a especialista apresenta algumasapostas netsuas ideiasapostas netum evento da universidade britânica King's College intitulado Brazil-China trade: In search of a strategy ("Comércio Brasil-China: Em buscaapostas netuma estratégia",apostas nettradução literal).
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